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17 de janeiro de 2014

Caminhada: Cyana Leahy


Haja o que houver, ninguém vai me tirar o cheiro da caramboleira quando caminho de manhã na estrada à beira-mar.

Ninguém me impedirá de respirar a maresia, a seiva da amendoeira, os cheiros amigos ou fáceis.

Pode acontecer de tudo, posso não ter a cara com que sonhei, nem o objeto que desejei ao meu lado.

Mas nada irá me impedir de sentir o dia virando noite, a madrugada se abrindo, as horas se balançando nas ondas e galhos das árvores.

Ainda que eu caia, ou que me levante, de joelhos esgarçados e cotovelos feridos, ainda assim terei na pele o arrepio lento e firme do vento soprando ambíguo em minha nuca desnuda, nos cabelos, na derme, na expectativa.

E se me fecharem as portas, ainda assim terei a lembrança dos cheiros e a lembrança das cores, o sentido das brisas das horas várias desse dia, de cada dia, os sons das folhas nas árvores, os sons das folhas no chão, as ondas batendo humores nas pedras, no cais, na areia: a tudo meus sentidos, meus caros sentidos, atentos permanecerão.

Haja o que houver nesta vida. Neste primeiro dia de março.


in 'Perplexidades & Similitudes'


                                        
cyanaleahy


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