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30 de julho de 2013

Sugestões de Leitura (Bel CLIc nº 004 de 30/07/2013)

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Sonia Salim - Fahrenheit 451


"Indico Fahrenheit 451 – a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima. Obra de ficção científica norte-americana lançada em 1953 que consagrou mundialmente o escritor Ray Bradbury e 13 anos depois chegou ao cinema pelas lentes de François Truffaut. Num regime totalitário, o bombeiro Guy Montag vivia com a sua mulher numa sociedade em que o seu trabalho era queimar livros já que as casas eram à prova de fogo. As mulheres eram débeis e fúteis, dependentes de ansiolíticos e o suicídio era algo normal. A leitura era crime e os que não podiam viver sem ela teriam a marginalidade a seu dispor. Os foragidos decoravam os livros e eram conhecidos pelos títulos para preservar a cultura. O livro é muito mais do que isso, mas como resumo, vale".


Rita Magnago - Tuareg

"Indico Tuareg (nome dado ao grupo étnico nômade que habita o deserto do Saara). É um livro que surpreende e nos leva a muitos questionamentos sobre nossos códigos de conduta, não escritos, mas tão presentes e determinantes em nossas vidas, para o bem ou para o mal. Excelente para reflexão, é ainda emocionante, tem um ritmo frenético e nos aproxima de uma realidade distante, abrindo horizontes. É uma viagem ao exterior e ao interior, muito bom mesmo.

Cito abaixo um trecho da opinião de outra leitora, que li no blog da LP&M:

Tuareg é um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. E prende como um oásis. "

29 de julho de 2013

O transeunte: William Lial



Eu o vi caminhar sozinho,
transeunte monótono,
ignoto aos olhos vizinhos.
Caminhando como um turista
recém chegado a um lugar
que não conhece.

Eu o vi sorrir para as nuvens
e abraçar o vento.
Eu o vi sentar no banco
e conversar com seus sonhos,
parolar com seus fantasmas,
debochar de ridículas brincadeiras
e se despedir como num breve adeus.

Eu o vi saudar jovens senhoras
que ele não conhecia
e que se esquivavam de sua loucura,
eu o vi agradecer aos xingamentos
que recebia
como se recebesse ricas ovações,
eu o vi levar suas costas embora
a conversar e gesticular com todos
os seres que eu não podia ver.

Eu o vi descer a ladeira
para nunca mais voltar.



Poema extraído do meu livro Noturno, publicado em 2003.
Imagem:  Moshe Shai, Homeless man reading books, 1977.

24 de julho de 2013

Poesia ao tempo

By: Rose Timpone



Nuvens chumbo pairam sobre o mar
na linha do horizonte
o cinza mais pesado
o negro que vem esmaecendo
vento polar, conheço a tua origem
sinto o trovão nos meus pés
o ralhar do céu, a força da tempestade,
gosto do cair da tarde, assim,
de mansinho
luzes da noite acendendo
as do céu, as da rua
sons de folhas de árvores a conversar
rodas de carros no asfalto molhado
gaivotas apressadas no céu.
Depois que a noite cai
o que vejo é o branco balançar
cortina de voile que se movimenta
toque do vento.


20 de julho de 2013

Sobre o livro "A Dupla Face do Baralho"

(por: W.B.)

"Estou aqui sentado na cadeira de balanço em frente à minha casa, nesta cidade de Santo Antônio do Salgueiro, esperando a morte." Assim começam as revelações de Félix Gurgel, criação do escritor Raimundo Carrero na novela "A Dupla Face do Baralho". Tal personagem narrador, aposentado, sozinho, esquecido por todos faz um balanço de sua vida.

A novela acaba sendo também uma dissertação sobre culpa, não só em seu aspecto religioso, mas também no social e político. Na juventude, Félix Gurgel foi levado a roubar e matar. Remorso e agonia o consomem não só no presente, mas também na é poca em que cometera os crimes. Tornando-se comissário de polícia, desenvolveu um lado cruel em sua personalidade, espancando, humilhando, subjugando as pessoas.

Gurgel, ao relembrar toda a sua triste existência, tece uma narrativa em que os acontecimentos não seguem a ordem cronológica: uma lembrança atrai outra, e os fatos – muitas vezes – começam a ser contados e, antes da conclusão do episódio, se passa para outro fato, podendo depois retornar um acontecimento inicial ou um terceiro. Aos poucos vai se formando o ambiente, a história, os personagens, a cidadezinha de Santo Antônio do Salgueiro, os pensamentos sobre castigo e culpa.

No fim, quando se sente o quadro completo, a agonia da culpa, o peso dos pecados, o destino, tudo isso impulsionando o texto ao ápice da dramaticidade, a novela chega a seu desfecho com chave de ouro.

A DUPLA FACE DO BARALHO (CONFISSÕES DO COMISSÁRIO FÉLIX GURGEL), novela de Raimundo Carrero, 117 páginas. Editora Francisco Alves. Disponível em sebos.

(RAIMUNDO CARRERO AINDA NÃO FOI DEBATIDO NO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ)

14 de julho de 2013

Participe dos Rumos do CLIc

Você que participa de nossas reuniões mensais e/ou comenta os livros escolhidos pelo Clube está convidado também a dar sua opinião sobre algumas questões que sempre suscitam polêmicas.

Para votar:
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Rumos do CLIc

Deixe sua opinião sobre questões importantes para a escolha dos livros lidos pelo CLIc. Agradecemos sua participação.
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10 de julho de 2013

Crônica - O saci: Carlos Benites




  • Você revisa o texto que vai enviar para a EdUFF uma, duas, três ... seis vezes. Olha todas as páginas, pois a gente sempre esquece de incluir uma vírgula ou coloca outra desnecessariamente. Ou então pode ter um verbo mal colocado, ter que acertar uma coesão, cortar uma parte pequena, trocar uma frase, diminuir aqui e ali, pois eles pedem que o texto tenha quatro páginas no máximo. Daí lembra que precisa ainda incluir a numeração das páginas e então corta mais um pouquinho. Revisa mais três vezes por conta das alterações. O total de revisões do texto inteiro deve ter ido a mais de dez. Aí você fica feliz por completar o trabalho perfeito e o envelopa e deixa na editora, com o sentimento de dever cumprido.

    Dia seguinte liga para o amigo, conta sobre o texto e aproveita para abrir o arquivo. Aí você, com cinco segundos após ter aberto o texto, logo dá de cara com aquele errinho NO PRIMEIRO PARÁGRAFO. Logo o primeiro parágrafo que foi o que você mais mexeu e cortou. Estava lá desde o princípio e não o encontrei no meio das revisões. Então lembro da imagem feita por Monteiro Lobato, que dizia que depois de enviar o livro para a editora o errinho aparece na figura de um saci, que fica acenando para você, sorrindo com ar de deboche.



5 de julho de 2013

Letras rebeldes, fluidos insensatos e Uma pena, uma saudade, no Clube de Leitura Icaraí



Um é a coletânea de contos críticos Letras rebeldes, fluidos insensatos, do jornalista Newton Novaes Barra, o outro é o infanto-juvenil Uma pena, uma saudade, de Francisca Nóbrega, sobre a inusitada amizade entre uma menina e um pássaro. Esses dois livros entram em debate no Clube de Leitura Icaraí, no dia 5 de julho, das 19h às 21h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias 9, em Niterói). A entrada é gratuita.

Em seu livro de ficção, novaes/, como Newton assina, busca fazer uma critica à sociedade contemporânea, mostrando uma visão de mundo não conformista. São 17 contos, cada um com sua história, mas todos em narração ágil e inventiva que ganha o interesse do leitor rapidamente. Como protagonistas, o autor elege bandidos, operários, famintos, pintores, diaristas, gandulas e cozinheiros, personagens com os quais o público é levado a compartilhar emoções e ideias.



Sobre o autor – Jornalista há mais de 30 anos, Newton Novaes Barra é poeta e contista. Em 2011, venceu o V Prêmio UFF de Literatura, no gênero Contos, com a história “A viagem do filho querido”, encenada no Teatro Municipal de Niterói (RJ). No ano seguinte, classificou-se entre os finalistas no mesmo certame com o conto “As histórias que contam”, ambos publicados nas respectivas antologias do prêmio.




O infanto-juvenil de Francisca Nóbrega conta a história de Carolina e do colibri que sempre aparece pontualmente em sua janela, buscando a mesma flor. Dividindo sonhos, a menina e o passarinho tornam-se amigos inseparáveis. Quando partem, um para cada lado, o que resta é saudade. Para destacar o incomum nessa narrativa tão comum, a autora utiliza grande emoção poética e joga com a linguagem. Como criança, é necessário que o leitor se deixe levar pela magia das palavras e pela sensibilidade, para entender a mensagem contida no texto.


Sobre a autora – Francisca Maria do Nascimento Nóbrega, fluminense de Macaé (1925 - 2006), se doutorou em ciência da literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a tese O pássaro da infância: voo semiológico, repouso poético, ensaio de literatura infantil, em 1984. Foi professora de Letras da UFRJ, sempre trabalhando para que a literatura infantil ocupasse lugar de destaque nos meios acadêmicos. E o fez de forma apaixonada, poética e encantadora. Moradora de Niterói desde a juventude, recebeu em 8 de outubro de 1986, da Câmara Municipal, a Medalha Escritor José Cândido de Carvalho por sua produção no campo da literatura infantil.


4 de julho de 2013

Trevas de novaes/ segundo William Lial


http://www.alemdaimaginacao.com/
PRIMEIRO PARÁGRAFO:
A CONFIGURAÇÃO DO MEIO!

Não me é fácil falar. Vinha pela rua escura, cabisbaixa, pensativa, sob o peso da noite, da minha vida à meia-luz, nada é claro[1], claro, apenas minha angústia perene[2], sei lá de quando ela vem, houve um dia em que a vida parou, partiu-se em duas metades – uma verde, brilhante, esperançosa e sorridente, que ficou para trás, outra cinzenta, turva, disforme[3], essa metade em que vivo agora, vida pelo meio[4], pisando em chãos inseguros, em superfícies suspensas, cambaleantes, que não me permitem nada mais além desse andar vacilante[5]. Apesar de todas as dúvidas em meu pensamento absorto, eu mantinha um passo que se tentava firme[6] naquela noite, naquela rua deserta, mais por medo do que por decisão[7].
[1] Tons de sombra, escuridão que revela tristeza.
[2] Concretude da tristeza intermitente.
[3] Oposto do verde esperança, citado no mesmo pensamento.
[4] Meio, meia-luz, turvo (nem claro nem completamente escuro; manchado o claro pelo escuro, ou seja, meio-claro, meio-escuro), indefinido, como ocorre ainda nos exemplos [5], [6], [7].
Dessa forma, tudo é meio alguma coisa, mais especificamente, vacilante, frágil.
SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS: A VERBORRAGIA DA SOMBRA INTERIOR – quanto ao ex-marido.

Pensei em Alberto. Não sei por que esse marido, na verdade ex, diria ex...tinto[8] se pudesse, surgiu em minha vida e por que fez o que fez, sua covardia, seu medo, sua fraqueza. Se o desgraçado não estava preparado para um filho, para um filho com problemas, se o babaca não estava ciente do que é ser companheiro e do que é ser pai, por que diabos se apresentou à minha pessoa? Pelos meus belos olhos? Meu par de coxas? Minha bunda? Puta que pariu! Avisasse de seus limites e nós poderíamos ter feito uma troca mais justa, sexo por sexo, prazer por prazer – e ponto final. Sem devaneios de casamento, de filhos, de responsabilidades. Mas o energúmeno teve medo de que eu não quisesse essa troca simples, desejo puro, coisa de homens, ele deve ter pensado. Enredado nessa e noutras neuras masculinas, nutriu fantasias e se fez casar. E teve filho comigo talvez pensando em me fazer mãe, na acepção caseira da palavra, mulher comportada, atarefada com filho, para me ter em casa, “trabalhadora da família”, essa categoria ainda não classificada no Ministério do Trabalho, mas muito bem definida em mentes masculinas medíocres.
[8] A expressão tanto pode significar ex-algo (como ex-marido), como também antes o marido possuía cor, vermelha do vinho feito paixão, força, vitalidade amorosa, um significado de romance do casal, agora acabado, ex...tinto.

As demais palavras e frases em negrito são a expressão do que é o ex-marido. Nesse parágrafo, as palavras e frases que marquei falam do caráter do marido, da sua fraqueza moral, o que intensifica a representação do por que da revolta da mulher.
SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS: A VERBORRAGIA DA SOMBRA INTERIOR – quanto ao vazio e afastamento da protagonista.

Pensava eu nesse estrupício de homem e concluí pelo despropósito de nosso casamento, faz tempo terminado – ele fugiu, como fogem os ratos. Entre uma passada e outra, no breu da rua sem vida, enxerguei que sempre estive , sobretudo casada, pois aquela companhia foi apenas ilusão, não era nada, era pior que nada. Era muito pior que nada: me fez perder tempo, nem que fosse um tempo precioso comigo mesma. E fechou-me para um amor de verdade, usando uma chave de papel: aquela certidão de casamento. Não consigo explicar agora por que o papel, tão frágil, tão rasgável, tem esse poder todo que lhe damos. Até as minhas lágrimas poderiam ter desfigurado, destruído facilmente aquele papel, bastaria que caíssem, não dos olhos para o meu peito, que se manchava de dor, mas sobre aquele papel infeliz, que ali estava quase me dizendo: “eu não valho nada, chore em mim, cuspa em mim, ponha-me no meu lugar, picote-me!” – eu é que não ouvia, não traduzia suas palavras, pensando que aquele era um papel indestrutível, ou deveria ser. Eu sim, que me destruísse em pedacinhos, meu Deus, como foi fácil me destruir, me amassar, rasgar, cuspir em mim, enquanto aquele papel me parecia mais valioso do que eu mesma, do que a minha felicidade. Seria ele a me fazer feliz, eu pensava, e no dia em que tudo acabou, ah, naquele dia aquela certidão – deveria chamá-la de “erratidão”? – estava lá, olhava para mim e não dizia nada. Nada. Nem mais o que nela jazia escrito fazia mais sentido, se é que fez algum dia. Nem uma verdade factual aquilo não era mais. Um tempo depois, naquele mesmo papel, um carimbo no verso dizia-me divorciada. Quer dizer, virou um papel esquizofrênico, que pela frente diz uma coisa e por trás diz o oposto. Que papel é esse que me deram, meu Deus? Certamente ele sempre disse outra coisa por trás, em tinta invisível, mas indelével.
As palavras e orações em negrito dão o tom do vazio, do afastamento, da derrota e da fragilidade em que vivia a relação do casal e que sobrepujou a esposa, agora abandonada pela vida, mas do que pelo marido.
Além disso, todo o texto segue num fluxo de consciência que se derrama continuamente nos parágrafos, porém, nestes dois, o fluxo é mais representativo, mais intermitente – longo e com pausas de vírgulas, ou mesmo pontos, que quase nada dizem, num vômito de palavras e consciência, numa corrida para não perder nada do que é ruminado no instante, o que reproduz o estado de ânimo da protagonista.

TERCEIRO PARÁGRAFO: O RECONHECIMENTO DA TREVA QUE PENETRA

É. As trevas, pelo visto, não estavam apenas naquela rua sombria, naquela noite sem lua, estavam um pouco dentro de mim. Um negrume pegajoso, que deixei grudar na alma, e agora não consigo separar os fatos dos pensamentos, as dores dos medos, o passado do futuro. Mas eu preciso separá-los. Preciso trazer de volta a minha alma limpa. A minha beleza radiante.
E aqui se passa do meio-tom, do cinza, para a escuridão, “Um negrume pegajoso”. A representação da alma, do sentimento da ex-esposa agora se expõe frustrado, acachapado, negro.
O parágrafo anterior não chegou a ser um mediador propriamente dito do meio-tom para a escuridão, mas, de certa forma, assim funcionou para expor motivos dessa mudança de tom, mostrando o que levou a cor a mudar, o tinto do vinho esmaecer e o que já era cinza enegrecer.
Até aqui, tudo é em volta do relacionamento.

O MOMENTO DO EMBATE COM A VIDA E COMSIGO MESMA

Pensava nessas coisas, caminhando pela rua vazia, pela noite calada, quando me apareceu aquele sujeito. Não sei de onde ele tirou um fiapo de luz, mas foi o brilho que me fez ver a faca. Colocou-me contra a parede, num canto perdido, e exigiu silêncio e sexo. Veio das trevas, pensei. Ele repetia: silêncio e sexo, rápido, na escuridão sem sentido, em palavras descabidas que não ouso reproduzir. Aqueles segundos pareceram uma eternidade, uma viagem no tempo, silêncio e sexo, silêncio e sexo, rápido, como pode isso?, tudo o que Alberto sempre reivindicara, sutilmente, agora aquele homem colérico, agressivo, também queria, exigia, tentava impor desesperado[9] valendo-se da lâmina brilhante. De minha parte, eu mais me surpreendia do que temia. Como era possível que as trevas me viessem assim, que insistissem em permanecer emaranhadas à minha vida, grudadas na minha alma, eu que acabara de decidir-me pela luz, pela integridade radiante do meu ser?
Incrível, controverso no clima da personagem é que tudo o que disse até aqui foi relacionado com a bruma, com o turvo até chegar à escuridão; mas ao ser abordada por um marginal, esse encontro traz como uma nova leitura da própria situação amorosa em que vive, ou viveu, a protagonista: primeiro ela ver um fiapo de luz – o que podemos encarar como o meio-tom em que estava o casamento, antes do fim –, e depois o brilho [da faca], e não o breu, causando um choque com  o andamento do texto; ou seja, no momento em que tem a luz (na forma do brilho), essa é má, e não salvadora, a luz que brilha também é treva, e aquilo que, segundo ela, poderia ter sido acordado com o seu marido, no começo do relacionamento, um envolvimento baseado apenas em sexo, é o que terá agora, contudo, em mais uma inversão, sem que ela deseje[9].
O sexo era o que seu ex-marido queria, porém, o que está prestes a ganhar, é ainda mais cru, ainda mais distante de qualquer sonho romântico.

O ABISMO TRANSFORMADO EM FORÇA: DIANTE O NADA, NADA A PERDER

A premência do sujeito, aquelas ordens que lhe saíam violentas pela boca como se fossem a energia nervosa de seu próprio sêmen, uma ansiedade expressa pela saliva que espirrava gotas em meu rosto[10], fazendo-me sentir aquela urgência fluidal antes mesmo de qualquer ato sexual, tudo isso mais me paralisava, como se fosse um contraponto, uma resistência pela imobilidade. O sujeito nada entendeu quando larguei-lhe na cara uma risada nervosa, que logo interrompi, ainda mais apreensiva. Eu não disse a ele, mas é que pensei naquele momento que o meu contraponto precisava ser, naquela situação, um “contrapinto”, o que me fez rir absurda, numa hora impossível, e senti-me ridiculamente alheia àquele drama, como se dramas não mais me ferissem, tão acostumada eu estava com as trevas de minha vida cinzenta[11]. Antes que o sujeito, que obviamente não estava achando graça, saísse de seus poucos segundos de estranhamento e desse cabo de sua raiva usando aquela faca que ele não parava de agitar, fingi que meu riso despropositado fazia parte da minha intenção de entregar-me àquele pretenso garanhão. Voltei a sorrir e encarei-o com desejo. Abri dois botões de cima da minha blusa. Dei um passo em sua direção, mirando-o. Sexo e silêncio? Só se for nas minhas condições, pensei. Avancei, com volúpia e decisão, fazendo-o vacilar. Quando, por cima de sua calça, cravei a mão firme sobre seu sexo e o encarei com a vontade mais determinada que consegui, ele fugiu, assustado e apressado como se tivesse visto o próprio demônio[12].
[10] A urgência do estuprador, nesse trecho, lembra a sua urgência, a velocidade e violência dos pensamentos da protagonista sobre seu casamento e sua vida, como vimos há pouco.
[11] E aqui, uma curva para o abismo de Nietzsche em Genealogia da moral (foi o que me veio à mente de imediato): “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, o que se conclui no exemplo a seguir.
[12] A conclusão do abismo de antes. Aqui, contudo, não se trata expressamente de a protagonista agora transformar-se num monstro, mas de encarar seus medos e usar do abismo em que se encontrava para enfrentar o próprio abismo, um instante do monstro de Nietzsche, “o próprio demônio”; em outras palavras, diante o abismo em que vivia, o estuprador, que também podemos ver como uma representação do abismo, olha de volta para ela, e ela, olhando para ele, revida com o seu abismo somado na alma.

Outro ponto interessante aqui, no exemplo [12], é a fuga do marginal; essa fuga do pretenso estuprador pode ser comparada à fuga do marido que também partiu, segundo ela, por medo.

O RECONHECIMENTO FINAL DO EU, FRUTO DO QUE SOFREU

Olhei para a noite deserta. Pensei em Alberto. Pensei nas trevas. Pensei em mim.
No final, depois das ruminações, da verborragia intempestiva sobre sua vida, depois do abismo – fora e dentro de si –, alimentado no último ato de revolta e resposta ao estuprador, depois da agressão e da sua resposta na forma da lei de Hamurabi, “olho por olho...”, ela se vê desamparada diante do breu (noite), do vazio e da solidão (deserto). Daí, pensa, lembra das trevas. E nesse momento, a narração a coloca no mesmo nível das trevas. Nesse momento, protagonista, ex-marido e treva são a mesma coisa escura e abismal: “Pensei em Alberto. Pensei nas trevas”, diz ela, e a seguir, “Pensei em mim”, logo: EU+Alberto = Trevas. E Alberto, nome que antecede o nome trevas, pode ser lido como o que produz a treva; por conseguinte, mim, pronome de identificação da protagonista, pode ser lido como a consequência da treva, a vítima de Alberto e das trevas.

Concluindo, o conto traz uma mulher fragilizada, vítima da derrota amorosa, do abandono, perdida, vagando, tanto quanto os seus pensamentos, na rua, onde é abordada, atacada e submetida aos desejos de um criminoso que, assim como a vida e os sofrimentos que vivencia, a quer submeter a ele, dominá-la para servi-lo como a “mulher comportada”, “trabalhadora da família”, feita para servir; salva no instante crucial de sua inferioridade pela fúria silenciosa que lhe emana de dentro, do medo, e mais do que tudo, do nada, como um nada a perder. E o marginal foge, como fugiu seu marido, assustado com a força e imposição da mulher (como já tivemos notícias de outros casos semelhantes em que os estupradores desistem de estuprar se a vítima permitir consensualmente o ato).

Enfim, o conto nos traz alguém que, subjugada pela vida que não esperava e que a maltratava e sucumbia na escuridão, acabou por se tornar a própria escuridão. Escuridão do abandono do outro, da vida e, por fim, de si mesma. E talvez daí – agora fazendo uma projeção não para a personagem do conto em si, tendo em vista que esta se nos desaparece aqui, ao fim da leitura; mas projetando para além, para outras mulheres em situações semelhantes –, talvez daí, eu dizia, essa mulher possa se libertar e acreditar que, para não mais ser subjugada pela vida e pelas suas forças contrárias, é preciso, e talvez seja o bastante, enfrentá-la de peito aberto como no enfrentamento com o marginal (“Abri dois botões de cima da minha blusa. Dei um passo em sua direção, mirando-o. [...] Avancei, com volúpia e decisão”), e partir para a vida sem dúvida, sem nada mais do meio-tom do início do texto.


"Trevas" integra o livro de contos "letras rebeldes, fluidos insensatos" que será debatido esta semana no nosso clube de leitura


William Lial é escritor (poeta, cronista, contista, romancista de um romance ainda não publicado), ensaísta literário, e mestre em Literatura Comparada. Autor de três livros de poemas, Sombras (2001), Noturno (2003) e O mundo de vidro (2005). Além de colaborar com jornais e revistas do país. Para saber mais sobre o autor e seus livros basta acessar e/ou seguir seu blog: http://williamlial.blogspot.com/, curtir sua página no Facebook: https://www.facebook.com/WilliamLialEscritor ou contatá-lo por e-mail: wlial1208@gmail.com.



3 de julho de 2013

Conto integrante do livro do mês "letras rebeldes, fluidos insensatos"

TREVAS: novaes/


Não me é fácil falar. Vinha pela rua escura, cabisbaixa, pensativa, sob o peso da noite, da minha vida à meia-luz, nada é claro, claro, apenas minha angústia perene, sei lá de quando ela vem, houve um dia em que a vida parou, partiu-se em duas metades – uma verde, brilhante, esperançosa e sorridente, que ficou para trás, outra cinzenta, turva, disforme, essa metade em que vivo agora, vida pelo meio, pisando em chãos inseguros, em superfícies suspensas, cambaleantes, que não me permitem nada mais além desse andar vacilante. Apesar de todas as dúvidas em meu pensamento absorto, eu mantinha um passo que se tentava firme naquela noite, naquela rua deserta, mais por medo do que por decisão.
Pensei em Alberto. Não sei por que esse marido, na verdade ex, diria ex...tinto se pudesse, surgiu em minha vida e por que fez o que fez, sua covardia, seu medo, sua fraqueza. Se o desgraçado não estava preparado para um filho, para um filho com problemas, se o babaca não estava ciente do que é ser companheiro e do que é ser pai, por que diabos se apresentou à minha pessoa? Pelos meus belos olhos? Meu par de coxas? Minha bunda? Puta que pariu! Avisasse de seus limites e nós poderíamos ter feito uma troca mais justa, sexo por sexo, prazer por prazer – e ponto final. Sem devaneios de casamento, de filhos, de responsabilidades. Mas o energúmeno teve medo de que eu não quisesse essa troca simples, desejo puro, coisa de homens, ele deve ter pensado. Enredado nessa e noutras neuras masculinas, nutriu fantasias e se fez casar. E teve filho comigo talvez pensando em me fazer mãe, na acepção caseira da palavra, mulher comportada, atarefada com filho, para me ter em casa, “trabalhadora da família”, essa categoria ainda não classificada no Ministério do Trabalho, mas muito bem definida em mentes masculinas medíocres.
Pensava eu nesse estrupício de homem e concluí pelo despropósito de nosso casamento, faz tempo terminado – ele fugiu, como fogem os ratos. Entre uma passada e outra, no breu da rua sem vida, enxerguei que sempre estive só, sobretudo casada, pois aquela companhia foi apenas ilusão, não era nada, era pior que nada. Era muito pior que nada: me fez perder tempo, nem que fosse um tempo precioso comigo mesma. E fechou-me para um amor de verdade, usando uma chave de papel: aquela certidão de casamento. Não consigo explicar agora por que o papel, tão frágil, tão rasgável, tem esse poder todo que lhe damos. Até as minhas lágrimas poderiam ter desfigurado, destruído facilmente aquele papel, bastaria que caíssem, não dos olhos para o meu peito, que se manchava de dor, mas sobre aquele papel infeliz, que ali estava quase me dizendo: “eu não valho nada, chore em mim, cuspa em mim, ponha-me no meu lugar, picote-me!” – eu é que não ouvia, não traduzia suas palavras, pensando que aquele era um papel indestrutível, ou deveria ser. Eu sim, que me destruísse em pedacinhos, meu Deus, como foi fácil me destruir, me amassar, rasgar, cuspir em mim, enquanto aquele papel me parecia mais valioso do que eu mesma, do que a minha felicidade. Seria ele a me fazer feliz, eu pensava, e no dia em que tudo acabou, ah, naquele dia aquela certidão – deveria chamá-la de “erratidão”? – estava lá, olhava para mim e não dizia nada. Nada. Nem mais o que nela jazia escrito fazia mais sentido, se é que fez algum dia. Nem uma verdade factual aquilo não era mais. Um tempo depois, naquele mesmo papel, um carimbo no verso dizia-me divorciada. Quer dizer, virou um papel esquizofrênico, que pela frente diz uma coisa e por trás diz o oposto. Que papel é esse que me deram, meu Deus? Certamente ele sempre disse outra coisa por trás, em tinta invisível, mas indelével.
É. As trevas, pelo visto, não estavam apenas naquela rua sombria, naquela noite sem lua, estavam um pouco dentro de mim. Um negrume pegajoso, que deixei grudar na alma, e agora não consigo separar os fatos dos pensamentos, as dores dos medos, o passado do futuro. Mas eu preciso separá-los. Preciso trazer de volta a minha alma limpa. A minha beleza radiante.
Pensava nessas coisas, caminhando pela rua vazia, pela noite calada, quando me apareceu aquele sujeito. Não sei de onde ele tirou um fiapo de luz, mas foi o brilho que me fez ver a faca. Colocou-me contra a parede, num canto perdido, e exigiu silêncio e sexo. Veio das trevas, pensei. Ele repetia: silêncio e sexo, rápido, na escuridão sem sentido, em palavras descabidas que não ouso reproduzir. Aqueles segundos pareceram uma eternidade, uma viagem no tempo, silêncio e sexo, silêncio e sexo, rápido, como pode isso?, tudo o que Alberto sempre reivindicara, sutilmente, agora aquele homem colérico, agressivo, também queria, exigia, tentava impor desesperado valendo-se da lâmina brilhante. De minha parte, eu mais me surpreendia do que temia. Como era possível que as trevas me viessem assim, que insistissem em permanecer emaranhadas à minha vida, grudadas na minha alma, eu que acabara de decidir-me pela luz, pela integridade radiante do meu ser?
A premência do sujeito, aquelas ordens que lhe saíam violentas pela boca como se fossem a energia nervosa de seu próprio sêmen, uma ansiedade expressa pela saliva que espirrava gotas em meu rosto, fazendo-me sentir aquela urgência fluidal antes mesmo de qualquer ato sexual, tudo isso mais me paralisava, como se fosse um contraponto, uma resistência pela imobilidade. O sujeito nada entendeu quando larguei-lhe na cara uma risada nervosa, que logo interrompi, ainda mais apreensiva. Eu não disse a ele, mas é que pensei naquele momento que o meu contraponto precisava ser, naquela situação, um “contrapinto”, o que me fez rir absurda, numa hora impossível, e senti-me ridiculamente alheia àquele drama, como se dramas não mais me ferissem, tão acostumada eu estava com as trevas de minha vida cinzenta. Antes que o sujeito, que obviamente não estava achando graça, saísse de seus poucos segundos de estranhamento e desse cabo de sua raiva usando aquela faca que ele não parava de agitar, fingi que meu riso despropositado fazia parte da minha intenção de entregar-me àquele pretenso garanhão. Voltei a sorrir e encarei-o com desejo. Abri dois botões de cima da minha blusa. Dei um passo em sua direção, mirando-o. Sexo e silêncio? Só se for nas minhas condições, pensei. Avancei, com volúpia e decisão, fazendo-o vacilar. Quando, por cima de sua calça, cravei a mão firme sobre seu sexo e o encarei com a vontade mais determinada que consegui, ele fugiu, assustado e apressado como se tivesse visto o próprio demônio.

       Olhei para a noite deserta. Pensei em Alberto. Pensei nas trevas. Pensei em mim.


1 de julho de 2013

Kafka: Cyana Leahy



Acaba de passar pela sala uma barata. O que dizer da dona desta casa? Onde seu capricho, seus panos e vassouras, esfregões e químicas, se ela permite uma barata a correr pela sala?

A visita descomposta logo parte, levando a público a imagem da barata em linha reta, íntima, rente ao tapete, correndo definidamente. Logo todos falarão da barata. E nem o consolo de ter sido uma barata alada ou uma kafkiana humabarata. Ou colorida. Ou lenta. A incomensurável humilhação da corrida da barata pela sala, na presença da visita, beirando o tapete português.

Saída a visita, ombros caídos, é deixar livros e papéis de lado e lembrar, como os sábios, da obrigação antes da devoção: vassouras duas, panos alguns, um espano, três produtos de limpeza de cheiro acre e efeito garantido contra visitas. Afastar móveis, desalojar teias de aranha, limpar altos e baixos, esfregando com força, socando almofadas com o ódio retido pela própria condição. Antes de poetar há que limpar e cozinhar. Porque há um homem lá fora, no mundo, a trabalhar arduamente para trazer para casa o pão suado - tão melhor seria uma pizza quentinha – e aqui dentro temos o ócio instalado.

Correr, bater com a vassoura na visita, espanar a visita para fora, limpar com panos e químicos os resíduos no chão. Esfregar-se pelo chão. Recolher tudo à vagina murcha de culpa e, escondido, voltar a escrever.

(in PERPLEXIDADES & SIMILITUDES, CL Edições - no prelo)


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CYANA M. LEAHY-DIOS é professora (UFF), escritora, tradutora, pianista. Licenciada em Letras (UFF), Mestra em Educação (UFF), PhD/doutora em Educação Literária (London University). Escreve ensaios, ficção, poesia. É autora de 16 obras publicadas por várias editoras, sendo 06 e poesia, 03 de literatura juvenil, 02 de contos, 05 de pesquisa acadêmica e artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior. 
Traduziu, dentre outros, Solstício de Inverno, de Rosamund Pilcher (Ed. Bertrand), Sexo e Negócios, de Shere Hite (Ed. Bertrand), Queima roupa, de Annie Proulx (Ed. Bertrand). Verteu para o inglês Cultura do Papel (Casa da Palavra), HIstória dos grandes personagens do cinema brasileiro (Ed. Fraiha), Coleção do Artista:  Amador Peres (Ed. Fraiha).
Obra poética: Biombo (Ed. Cromos), Íntima Paisagem (Ed. Sette Letras), Livro das Horas do Meio (Ed. Sette Letras), Poemas dos Tempos-Duetos (c/ Fred Schneiter, CL Edições), Seminovos em Bom Estado (CL Edições),(Re)confesso Poesia (Ed. 7 Letras).
Obra de pesquisa acadêmica: Educação Literária como Metáfora Social (Ed. Martins Fontes), Palavra Impressa (Ed. Casa da Palavra), Língua e Literatura: uma questão de Educação? (Ed. Papirus), A Leitura e o Leitor integral(Ed. Autêntica), Espaços e Tempos de Educação (co-autoria, CL Edições), Docência da Lìngua Portuguesa: experiências contemporâneas (co-autoria, CL Edições).
Prosa literária: Todos os Sentidos: contos eróticos de mulheres (co-autoria, CL Edições), premiado como 'Melhor Livro de Contos de 2004, pela União Brasileira de Escritores; Contos Tradicionais Irlandeses (Franco Editora, Prêmio Ireland Literary Exchange 2005, em Dublin), Uma História de Criança e de Futuro  (Franco Editora), Carteira de Identidade (Franco Editora/CL Edições). 
Estão no prelo Perplexidades & SiImilitudes, prefaciado por Moacyr SCLIAR (contos), Mitos e Medos: diálogo entre Saúde e Educação (pesquisa acadêmica), Mulheres na Literatura: a invisibilidade oficial (pesquisa acadêmica), sobre os quais já escreveu vários artigos publicados em 'Leitura: Teoria e Prática', dentre outras publicações.
O artigo 'Cyana Leahy-Dios', publicado por Kátia BEZERRA em Literatura e Afrodescendência no Brasil: uma antologia crítica (org. Eduardo de Assis DUARTE, pp.395-407, Editora UFMG).  
Opiniões sobre a autora: 

'Gosto do equilíbrio quando Cyana usa uma força subterrânea com um cotidiano explícito. Esta poesia é boa, tem manha, curva, elipse, paradoxos, sensualidade... (Fabrício CARPINEJAR)

'Fico feliz em saber que existem em nosso país pessoas como você, capazes de escrever com tanta sensibilidade'. (Rose Marie MURARO)

'Cyana Leahy faz poesia de fato. amorosa. Contundente.' (Maria Regina MOURA)

'Cyana Leahy, cigana esteta, produz um canto amadurecido e definitivo, impondo-se pela beleza plástica de seus versos e pelo sentido ontológico de sua essência.' (Angelo LONGO)  

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(trechos do  PREFÁCIO, por Moacyr Scliar)

Cyana Maria Leahy-Dios é o legítimo talento polivalente. Em matéria de textos faz tudo o que se pode imaginar. Cyana Leahy nos dá este Perplexidades e Similitudes, e de novo nos mostra sua maestria no conto, gênero difícil; ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a brevidade não facilita, dificulta. É um desafio ao poder de síntese. (...) Suas histórias são um prodígio de síntese. Não há uma palavra sobrando ou fora do lugar. Poucas linhas resumem de forma completa uma situação-limite, aquelas situações em que a condição humana se revela por completo, sem máscaras. Mas, importante, não faltam a estes textos humor, ironia, imaginação. Ou seja: o prazer do texto.  (...) Em suma, este livro é um convite à Literatura com L maiúsculo, a grande literatura. Cyana Leahy é uma escritora completa, uma escritora cuja obra Clarice Lispector, por exemplo, aplaudiria.  Benvindos ao verdadeiro banquete literário que está nas páginas deste livro.

                                                Moacyr SCLIAR