Fundado em 28 de Setembro de 1998

30 de novembro de 2015

Copacabana - conto escrito por Hélio Penna, participante virtual do CLIc

COPACABANA

Hélio Penna


            O pedreiro José procurava um banco na Avenida Atlântica para sentar-se e descansar um pouco do trabalho de reforma de um apartamento, ali em frente. Acomodou-se ao lado da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, num pedacinho de sombra que o bardo generosamente lhe ofertava, num dia muito quente. Ajeitou o boné surrado que usava para protegê-lo na obra. Pensou até em deitar-se ali. Mas não ficava bem esticar-se num banco em Copacabana. E do jeito que estava vestido e sujo, podiam tomá-lo como um mendigo.
Olhou para a escultura, e pensou que um homem assim, de modos tão finos, não podia aguentar o trabalho em obra.  Não durava um dia. Ainda mais com aquela patroa que não prestava. A dona do apartamento era conhecida artista de TV. Famosa pelos papéis de mocinha nas novelas, a patroa era mão-de-vaca, rude e preconceituosa na vida real.
            José distraiu-se com uma jovem volumosa e bela que acenou para a estátua de bronze e seguiu feliz em sua vistosa bicicleta. Enquanto o seu olhar tímido seguia a formosura, uma senhora fazia gestos ríspidos em sua direção:
            - Chega pra lá! Quero tirar foto do meu filho!
            Ele afastou-se, com os olhos na madame corpulenta, vermelha, imponente. Um chapéu largo projetava uma sombra austera no seu rosto. O menino, rechonchudinho, estava de uniforme colegial, lembrando uma farda militar e uma boina na cabeça, fazendo-o parecer um soldadinho roliço.
            - Sorri! - ordenou a mãe.
            A criança sentou-se de má vontade ao lado da escultura e, aborrecida, não sorriu.  A máquina fez o registro fotográfico, e os dois se afastaram. A mulher ainda olhou o pedreiro com repulsa.
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O pedreiro não aprendeu a ler nem escrever, mas seus filhos completaram o ensino fundamental na escola pública. E um deles, o mais velho, era muito apegado à leitura. “Seu filho tem um dom. Não o deixe abandonar os estudos.” Recomendou-lhe um dia a professora. Mas o pedreiro se viu obrigado a deixar o local pobre em busca da vida nova na Capital.  Aqui, o primogênito trocou o ensino pelo balcão de uma padaria, para contribuir com o sustento dos seus cinco irmãos.
            A moça ondulante retorna em sua bicicleta. Novo adeusinho para a estátua do poeta. Deteve-se logo adiante para atender ao telefone. O pedreiro a admirava discretamente. Na ligação, lhe perguntaram onde ela se encontrava. “Na Atlântica... perto da estátua do velhinho.”, respondeu e seguiu em frente.
 José aproxima-se novamente da efígie. Intrigado, olha-a detidamente. Tira o boné, e coça os ralos cabelos crespos e embranquecidos: do quê aquele homem se ocupara? Pergunta-se em vão. E desconhecendo que aquele poeta mergulhou nos seus sonhos, ele se levanta, e retorna ao seu cotidiano intenso.. 

25 de novembro de 2015

Niterói de todas as tribos



1. O Clube de Leitura de Icaraí nasceu como uma reunião de amigos, certo? Ainda hoje há esse clima intimista nos encontros?


Correto, Pamella.  Começamos de forma bastante informal com um grupo de amigos que decidiu ler o mesmo livro e se encontrar para conversar sobre ele, revezando o local da reunião entre as casas dos participantes. Hoje somos um grupo aberto a toda comunidade Niteroiense, o que não significa que tenhamos perdido o espírito amistoso e festivo original, porque é ótimo fazer novas amizades em torno de algo tão enriquecedor como o livro.


2. Por que criar um espaço como esse de leitura em Niterói?


A criação do Clube de Leitura não foi premeditada, aconteceu espontaneamente. A gente percebeu que este era um anseio de muita gente que foi aderindo ao grupo inicial, até que recebemos o convite de uma Livraria do bairro para que abríssemos o movimento para mais pessoas. Foi uma oportunidade muito feliz criar esse espaço para mais pessoas participarem.


3. Quais temas vocês costumam abordar nos encontros?


Os temas são a literatura, as leituras realizadas, os escritores, o amor pelo livro, a amizade e tudo o que diz respeito a um ambiente em que estas coisas são vivenciadas com respeito à diversidade de opinião e fundamentadas na experiência de vida dos participantes. É uma oportunidade ímpar que coloca lado a lado pessoas das mais diferentes formações profissionais: psicólogos, engenheiros, donas de casa, estudantes, etc.


4. Qual é a importância que o Clube de Leitura traz para a cidade de Niterói e seu cenário literário?


Niterói é uma cidade eminentemente cultural e com grande produção literária. E cultura é como fogo, se intensifica e se alastra quanto mais gente culta e oportunidades de se encontrarem existirem. Um clube de leitura possibilita esse encontro, além de atrair grandes nomes da literatura brasileira para debater suas obras in loco. Já compareceram a debates na Livraria Icaraí nomes como, Rubens Figueiredo, Godofredo de Oliveira Neto, Silviano Santiago, Gustavo Bernardo, etc., e, também, autores locais, como Gracinda Rosa, Novaes Barra, Carlos Rosa, Dília Gouveia, entre outros.


5. Como surgiu a ideia de criar um novo clube que fosse direcionado para o público mais jovem? Qual é o propósito?


A ideia partiu da própria Editora da UFF quando percebeu que havia um gênero literário a ser explorado pelo clube de leitura, que funcionasse como porta de entrada na formação de um público leitor quando adulto. Uma livraria universitária como a Icaraí é a agente ideal para essa formação, porque dá a liberdade de escolha necessária para a formação de um leitor culto e crítico em relação à sociedade que o rodeia.
 


6. Acredita que os dois clubes de leitura já fazem parte da própria história da cidade? Qual é o significado disso?


O Clube de Leitura Icaraí já existe há dezessete anos e tem uma belíssima história que foi retratada no livro “Clube de Leitura Icaraí - 15 anos entre livros” publicado pela própria Editora da UFF por ocasião dos quinze anos do Clube. O Clube Jovem tem apenas dois anos e ainda está engatinhando, buscando sua identidade a partir dos interesses de leitura dos jovens que o frequentam. Para nós será uma honra se um dia formos lembrado como contribuintes para a bela história que tem a nossa cidade.


7. Afinal, literatura e Niterói se complementam? O que há de comum entre os dois?


A Arte, a grande Arte, porque Niterói é uma das cidades mais bela do mundo, e tanta beleza não deixa indiferente seus moradores, que encontram na Literatura a forma ideal de expressão do que vivem e sentem pela Cidade. O clube de leitura é certamente um lugar onde essa complementaridade acontece de forma prazerosa.


8. Acha que ainda faltam espaços para a literatura na cidade ou isso vem crescendo cada vez mais?

Existem diversos movimentos literários na cidade dialogando com espaços de leituras, música, filosofia, e diversas manifestações artísticas. A cidade de Niterói fervilha de eventos culturais em cafés concertos, associações e academias literárias, lançamentos de livros, clubes culturais, terapias com livros, corujões poéticos, etc. E que cresçam cada vez mais esses espaços, por toda cidade, nunca é demais.


21 de novembro de 2015

Uma homenagem a Zumbi dos Palmares




O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro como forma de homenagem a Zumbi dos Palmares, um dos maiores heróis da história do Brasil. A data marca o dia de sua morte, ocorrida no ano de 1695, por ocasião da guerra travada entre o governo brasileiro e os negros inseridos no Quilombo dos Palmares.

A comemoração do 20 de Novembro como Dia Nacional da Consciência Negra surgiu na segunda metade dos anos 1970, no contexto das lutas dos movimentos sociais contra o racismo. E o ano de 2011 foi instituído pela ONU como Ano Internacional dos Afrodescendentes, para fortalecer o compromisso político de erradicar a discriminação a descendentes de africanos.

Quilombos eram locais de refúgio para escravos no Brasil. Geralmente eram estabelecidos em locais de difícil acesso, embrenhados em matas, florestas ou montanhas. O mais famoso dos quilombos foi o de Palmares - localizado na Serra da Barriga, região pertencente ao atual estado de Alagoas -, criado no início do século 17.

Os relatos históricos existentes são muito controversos e pouca certeza há na origem de Zumbi. Isso se deve ao fato de que os relatos acerca de sua vida foram feitos por seus inimigos: os colonos e portugueses que se puseram a combatê-lo, pagos por senhores escravagistas. Entre as diversas versões, conta-se que era um chefe africano trazido à força para ser escravo, ou um homem livre que nasceu em Palmares, ou ainda um filho de escravos que foi criado por um padre até os 15 anos, tendo aprendido a ler, a falar e a escrever em português e em latim.

O que se sabe com mais certeza é que Zumbi foi o grande líder do Quilombo dos Palmares. Sua lendária imagem o apresenta como um homem forte, orgulhoso e inconformado com sua condição social, que resolveu enfrentar aqueles que torturavam seu povo.

Palmares, durante quase todo o século 17, foi alvo de mais de 40 incursões militares, que buscavam terminar com o quilombo. Afinal, a autonomia dos negros ameaçava a hegemonia dos senhores de engenho, pois seguidamente seus escravos fugiam para a Serra da Barriga, ou eram libertos por guerreiros quilombolas, em expedições ocasionais.

Durante o tempo em que liderou seu povo contra a ganância e o ódio dos escravagistas, Zumbi organizou uma resistência poderosa, que conseguiu manter a estabilidade do quilombo por muitos anos. Em 1694 e 1695, ocorreu uma verdadeira cruzada contra Palmares. O drama finalmente terminou quando o mulato Antônio Soares (ex-companheiro de Zumbi que foi capturado e torturado pelos expedicionários paulistas), atraiu o grande líder para uma emboscada e apunhalou-o no estômago, dando sinal para os paulistas avançarem. Zumbi lutou até o fim.

Depois disso, muito da história se perdeu, mas a história legendária de Zumbi permaneceria. Foi citado pelos abolicionistas, no século 19, como grande herói e mártir.

A partir da década de 1980 novos estudos buscaram traçar a real identidade de Zumbi e dos quilombolas e, em 1995, a data da morte do maior herói negro e símbolo da liberdade foi adotada como o Dia da Consciência Negra.


(Texto enviado ao CLIc por Daniel Chutorianscy)

11 de novembro de 2015

Dicas da Elizabeth para escolha do livro do mês



Tudo que é explora o curso de uma vida num mundo em transformação. Depois de participar da Segunda Guerra Mundial como soldado no Japão, Philip Bowman retorna aos Estados Unidos para recomeçar a vida. Pelas décadas seguintes, acompanhamos sua carreira, seu casamento e divórcio. Novas relações amorosas aparecem sendo a mais significativa delas marcada por uma traição que Bowman vinga de forma particularmente cruel. Este não é um livro de grandes mistérios ou acontecimentos marcantes. É uma história sobre as pequenas coisas da vida e um teste para qualquer grande escritor. Depois de 35 anos sem publicar um romance, Salter mostra por que é considerado um dos maiores nomes da literatura americana atual.









Em seu castelo na Hungria, na região dos Cárpatos, um velho general do Império austro-húngaro é visitado por um homem de quem foi amigo inseparável na infância e na juventude. Não se vêem desde 1899, há quarenta e um anos, quando um dia o amigo desapareceu inexplicavelmente. 'As Brasas' é um romance sobre a amizade, a paixão amorosa e a honra. Também procura ser uma representação da vida da aristrocacia no Império austro-húngaro.


As brasas já foi lido no Clube de Leitura e debatido em 24/08/2002




Neste livro, o autor traça uma história afetiva de sua cidade e revela os personagens, as ruas e os becos, os grandes e os pequenos acontecimentos que definiram sua vida. O centro de tudo é o Edifício Pamuk, construção que no início da década de 50 abrigava, espalhada em seus andares, toda a família do autor. Circulando pelos corredores do edifício, o pequeno Orhan tenta dar sentido a coisas que vê, mas não entende por completo - as ausências do pai, as fotografias espalhadas pela avó, o indefectível piano que todos seus parentes têm nas casas, mas que nunca tocam. Conforme cresce, ele ganha as ruas, em longos e solitários passeios, e começa a se impregnar dessa tristeza coletiva que assombra a cidade. Mas, ao mesmo tempo em que de certo modo o oprime, Istambul fornece um repertório de imagens - as casas na beira do Bósforo, os incêndios das mansões dos paxás, as enciclopédias de curiosidades compradas em sebos. Pamuk tira da cidade a experiência que o conduziu à arte.






O universo do samba, as culturas africana e brasileira, as tradições populares. Nei Lopes, pesquisador, compositor, escritor e cantor, transita por esses temas com a mesma naturalidade com que passeia por diferentes tipos de linguagem e registros sociais. Em 'Contos e crônicas para ler na escola', o autor, que usa suas próprias memórias e experiências para inventar saborosas histórias, resgata personagens e reescreve eventos do passado mantendo um olhar atento para o futuro. Sua escrita é, nesse sentido, extremamente moderna e atual. Ao circular entre o universo popular e o erudito, o escritor rompe barreiras sociais e aborda a realidade cultural brasileira de um jeito singular. Em sala de aula, o professor pode aproveitar diversos aspectos de seus textos para trabalhar as diferenças entre linguagem informal e formal, e ainda mostrar como as palavras podem mudar de significado e uso com o passar do tempo e de acordo com as transformações sociais e culturais do ambiente em que estão inseridas. Os contos e as crônicas reunidos no livro são breves, precisos e asseguram, invariavelmente, boas risadas no final. Inteligentes, bem-humorados, os textos Nei Lopes acolhem um sem números de adjetivos, mas que podem ser resumidos a uma só palavra - imperdíveis.







Tendo como ponto de partida a intersecção entre uma espiral e um quadrado, nos quais se inscreve uma curiosa frase em latim, o romance cria uma trama de texto e mundo, em que a imagem dos nomes sobrepõe-se à imagem dos seres e das coisas, compondo um terceiro destino que cabe necessariamente ao homem decifrar. 'Avalovara' intercala oito temas narrativos que atravessam tempos e espaços distintos, de Amsterdã a Recife, do Recife à Roma Antiga, daí a São Paulo e vice-versa, numa narrativa notável, que ambiciona abarcar o mundo e a linguagem em sua totalidade.









Uma Luanda dos anos 1980 com professores cubanos, escolas entoando hinos matinais e jovens de classe média é o cenário de 'Bom dia, camaradas'. Do universo do romance também fazem parte as lembranças dos cartões de abastecimento, as desigualdades sociais e os conflitos entre modernidade e tradição. Através do olhar lírico de um garoto, o leitor é levado a uma Angola que acabou de se tornar independente e é obrigada a repensar as regras sociais e a questionar as causas da desigualdade. Ondjaki nos conduz aos pequenos acontecimentos do cotidiano que mostram como é preciso mais que um decreto para que as mudanças de fato aconteçam. Assim como em outros livros de Ondjaki, o mundo dos jovens e a descoberta da vida adulta e seus conflitos são retratados sem o tom irritadiço das militâncias nem a condescendência do lirismo excessivo.



7 de novembro de 2015

O menino do pijama listrado: John Boyne



"O trabalho liberta"

A menina que dançou para o anjo da morte
KCTV5



Usando a roupa certa, você se sente como a pessoa que está fingindo ser.

O amigo imaginário

"Em um dos maiores conflitos da história, senão o maior, John Boyne mostra a visão de um menino alemão, filho de um oficial do exército nazista e admirado pelo Fúria, sobre o campo de concentração. No início, tudo é muito chato e ele não entende, só quer voltar para casa. Seu sonho de ser explorador, porém, muda tudo. Bruno conhece Shmuel, um judeu de nove anos que foi para o campo com toda a sua família. Todas as tardes os meninos se encontravam e conversavam sentados separados pela cerca do campo." (fonte)


Haja Vista
O menino do pijama listrado é uma obra infanto-juvenil que se ajusta à alma dos adultos sensíveis. Sua narração retrata a crueza que cerca a execução de judeus durante o nazismo, e a pureza ou ingenuidade de um menino de 9 anos.

Shoah

"Aos nove anos, vivendo numa família rica de Berlim, sua única preocupação é azucrinar a irmã de 12 anos, Gretel. Sua maior ocupação é brincar com os amigos inseparáveis Karl, Daniel e Martin, aliás, dos quais, passados poucos meses, já não consegue lembrar, com segurança, o nome e detalhes, numa mostra incontestável de que as lembranças se esvaem. As cicatrizes ficam: vestígios de dores sofridas ou de amores idealizados. A tranqüilidade da família se esvai com a transferência súbita do pai-militar para uma zona longínqua, desolada e feia, a quem o autor chama de Haja-Vista (no lugar de Auschwitz), do mesmo jeito que troca o odioso Füher por Fúria. Na casa feia, faltam amigos e alegria. A saudade da avó, a quem o nazismo causa náuseas e indignação, lhe tortura. A presença do odioso tenente Kotler lhe apavora, embora, estranhamente, somente o militar traga sorriso aos lábios da mãe.

Sobra a Bruno solidão intangível e indizível, que só encontra eco na compreensão e nos gestos de carinho cuidadosamente emudecidos dos empregados judeus Maria e Pavel (médico a quem é imposto o encargo de cozinheiro). Como únicos vizinhos, estranhos homens, mulheres e crianças, sempre portando pijama e boné, ambos em cinza listrado. Vizinhos inacessíveis, separados por uma cerca. De sua janela, Bruno vislumbra silhuetas frágeis e esqueléticas.

Até que... num belo dia (na verdade, não há dias belos naquela região marcadamente longínqua, desolada e feia), um ponto se converte numa mancha pequena, que se converte num “borrão”, que se converte numa figura, que se converte num menino...

Bruno descobre o pequeno Shmuel. Incrível coincidência: dois meninos e uma mesma data de nascimento (15 de abril de 1934); dois meninos e destinos tão diversos, que eles não conseguem entender o que lhes separa tão profundamente. Desde o primeiro encontro, afora os dias chuvosos e impiedosos, as crianças conversam todos os dias. Nada compreendem. Daí, a idéia “mágica”: providenciar um pijama de listra para que Bruno conheça o outro lado... Eis traçado o destino fatal da criança. Em meio à multidão de pijamas listrados, é empurrado para a morte junto com o amigo Shmuel. Não há escapatória. Tarde demais, descobre o trabalho do pai e as atrocidades cometidas em nome da grandeza de uma pátria pura... Tarde demais, descobre a indignação da avó falecida..."

* Maria das Graças TARGINO é jornalista e pós-doutora em jornalismo pela Universidad de Salamanca / Instituto Interuniversitario de Iberoamérica.