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30 de setembro de 2013

Guarde seus manuscritos longe dos cachorros (Bel-CLIc nº 006 de 01/10/2013)

O conselho poderia ter sido dado a John Steinbeck, autor de Ratos e Homens. Parte importante de seu manuscrito foi literalmente comido por Toby, seu cachorro, em uma noite em que Steinbeck o deixou sozinho em casa. Em telefonema a seu agente o escritor disse: “Eu fiquei bem irritado, mas o pobrezinho deve ter feito isso em um momento crítico".



Se você conhece alguma curiosidade literária interessante, compartilhe com a gente escrevendo-a no campo "Comentários".

O que leem outros Clubes de Leitura? (Bel-CLIc nº 006 de 01/10/2013)

Abaixo a relação de livros lidos este ano pelo Clube da Travessa (7 de Setembro)

  • Flores Azuis: Carola Saavedra - 29/01/2013
  • O Professor do Desejo: Philip Roth - 26/2/2013
  • O Jantar Errado: Ismail Kadaré - 26/3/2013
  • Se um viajante numa noite de inverno: Italo Calvino - 30/04/2013
  • Uma solidão ruidosa: Bohumil Hrabal - 28/05/2013
  • Hotel mundo: 25/6/2013
  • Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra: Mia Couto - 30/07/2013
  • Alta Fidelidade: Nick Hornby – 27/08/2013
  • O amante do vulcão: Susan Sontag – 24/09/2013
Se você já leu algum destes livros, dê sua opinião no campo "comentários"

24 de setembro de 2013

Ah, você numa tarde em Itapuã...: Carlos Rosa Moreira


Itapuã Beach by Anna Brazão

           O calção de banho não era velho, foi presente seu, mas a conversa dos coqueiros era macia, lembra? Acho que não lembra, não é chegada a essas recordações, pensa que isso é nostalgia. Não é não, boba, sinto dor não, nem saudade; sinto felicidade por ter visto você naquela praia longa e deserta, numa tarde perdida de nossas vidas. Você caminhava pela areia seca e às vezes deixava as águas tépidas do mar de Itapuã molharem seus pés. Eu vigiava você com seu biquíni azul-marinho à procura de búzios na areia. Os mesmos búzios com os quais os babalorixás consultam seus deuses e que também enfeitavam seu biquíni. Todo homem deveria apreciar a amada vindo de longe, imersa em distrações, sem se perceber observada. Mas tem de ser a mulher amada, aquela amada pra valer, à qual dedicamos todos os tempos e espaços, pelo menos naquele instante da vida. Era assim que você vinha, com suas distrações, solta, livre, tornando-se para sempre uma doçura em minhas lembranças. Eu a olhava embevecido, orgulhoso por tê-la, cheio de intenções por sabê-la minha. Meu olhar a atraiu, você sorriu e eu vi seus dentes pequenos e perfeitos, e desejei que voltasse logo para perto de mim, para abraçá-la e sentir seus dentes em minha boca. À noite, em nossa casinha de pano, falávamos de amor enquanto ouvíamos os coqueiros dizerem coisas entre si, e eu cuidava de sua pele branca de carcamana que ardeu ao sol de Itapuã. Cedinho, você sempre dormia. Eu caminhava até a água, bem ali, a poucos passos da nossa casa. Recebia aquele afago morno das ondas mansas, depois me sentava na areia, diante do mar que inaugurava um verde novinho todas as manhãs. E me sentia um rei só por ter você, e, sem saber, por não ter passado. Tínhamos apenas o desconhecido. Você logo acordaria para viver junto comigo esse desconhecido, tão sem tamanho quanto o mar de Itapuã.

            Hoje, sou um homem feio, cheio de cicatrizes que desfiguram minha face. Aquela jovem de corpo perfeito e olhos brilhantes não olharia para mim. Tenho um passado e espero por algum futuro, mais um pouco pelo menos. Disseram-me que já não existem os serenos coqueirais nos longos espaços da praia de Itapuã. E a igrejinha da Praça Caymmi, referência naqueles tempos, é hoje humilde alegoria do passado. O desconhecido tornou-se conhecido. Mas isso não importa, também não ligo se me considera um nostálgico e não dê importância a essas lembranças. Saiba que ainda percebo o arrepio em nossa pele queimada pelo sol daquelas tardes, pois havia sempre um friozinho gostoso trazido pelo vento do mar. Do mar que Vinícius cantou e contou que se encontrava com o céu, onde até hoje meus olhos se esquecem, e se lembram de que a Terra toda rodava enquanto eu adormecia em seus braços, sob a Lua morena de Itapuã.

Carlos Rosa Moreira é autor de "A montanha, o mar, a cidade", 
livro debatido no clube de leitura Icaraí em 4/11/2011

À venda na Estante do Concierge:



(peça o seu volume ou a coletânea no campo de comentários ou pelo conciergeclic@gmail.com)

20 de setembro de 2013

Entrevista em dose dupla: Elenir Teixeira & Sonia Salim

Escritoras de várias antologias poéticas, Elenir e Sonia, ambas integrantes do Clic, nos brindaram com uma entrevista-desafio. As perguntas foram formuladas por elas próprias, sendo que a entrevistadora também tinha que responder à própria pergunta e à da colega. Vejam o resultado e deem continuidade à entrevista utilizando o campo “Comentários”.


 
                               Elenir Teixeira                                                            Sonia Salim

Que emoção você gostaria de despertar em um leitor de seus textos? 

Elenir: Que eu despertasse nele as mesmas emoções e sentimentos que me levaram a escrever. Se eu trouxer lembranças  de minha infância, que ele consiga, também, trazer as suas ao presente. Se houver carência e angústia no meu texto, que ele, igualmente, as sinta comigo. Se eu falar de amor, que ele se lembre dos amores vividos. Que ele sinta em seus cabelos a carícia da brisa, se ela afagar os meus no meu verso. Esta é a relação idealizada por mim entre  autor e  leitor.

Sonia: Quando eu escrevo, pretendo levar o leitor a uma cadência nas palavras fazendo com que ele entre nas emoções contidas no poema de maneira dançante, onde as letras e palavras brincam.



Como ou em quê, você se inspira para escrever seus poemas, haicais, trovas? 

Elenir:  Quando faço  Haicais, inspiro-me na natureza. As paisagens, as flores, os rios, o mar, as montanhas, me extasiam. Ando, sempre, com um caderninho e sob o efeito desse arrebatamento escrevo meu HAICAI.  Há textos que trazem aos meus olhos  lindas paisagens, descritas  com muita sensibilidade, como os da grande escritora Virgínia Woolf, inspirando-me um Haicai. Mas, algumas vezes, faço-os sentimentais. Como os dedicados à minha bisnetinha ao saber que estava a caminho. Quanto aos poemas e trovas, são, geralmente, inspirados na própria vida; no meu quotidiano; nas minhas memórias, nas minhas leituras.

Sonia: Às vezes me inspiro em conversas com amigos, outras em fotos ou imagens que vejo pelas redes sociais. Também me inspiro nas leituras diárias, alguns personagens tocam a minha alma  e impulsionam a imaginação. Sem contar dos momentos em que preciso sair correndo para escrever as palavras que fluem e já está pronto o poema, é só fazer pequenos acertos.



O que desencadeou ou concorreu para que você entrasse pelo caminho da poesia?

Elenir: Sempre gostei de poesia. Quando menina, gostava de recitar versos nas festinhas familiares e na escola. E, como todo jovem. rabiscava minhas poesias. Mas, se as palavras me eram apaixonantes, os números e as contas também me atraiam.  Assim, a vida me levou para esse lado. Trabalhei com cálculos e cifras por mais de quarenta anos. Ao aposentar-me, dediquei-me à antiga  paixão. Fiz várias Oficinas de Literatura, dinamizadas pelos grandes escritores e amigos Wanderlino T. Leite Netto e Lena de Jesus Ponte. Com ela, também, um Curso de Haicais, na Estação das Letras. Fiz o Curso de Arte de Dizer, "Via Látea", com Marly Prates. Dessa forma, novamente seduzida pela palavra, rendi-me de vez à poesia. 

Sonia: Eu já havia iniciado um blog, mas estava meio paralisado até que um dia eu fiz uma conta no Twitter e conheci muitos amigos. Meu primeiro poema "insensatez", surgiu em conversa com um deles, desse dia em diante fui registrando tudo que eu escrevia no blog que tornou-se mais e mais visitado. Então, eu diria que fui impulsionada para o mundo da poesia através da interação com as pessoas. 



Quais são seus autores preferidos? Nacionais e estrangeiros?

Elenir: São tantos que me é difícil relacioná-los. Vou fazê-lo por gêneros.
Poesia: Cecília Meirelles; Carlos Drummond de Andrade; Adélia Prado; Mário Quintana; Fernando Pessoa. Haicais: Luiz Antônio Pimentel e Lena de Jesus Ponte.
Contos e Crónicas: Clarice Lispector; Machado de Assis; Chico Lopes; Eduardo Galeano; Rubem Fonseca; Ondjaki; Rubem Braga...
Romances: Machado de Assis; Graciliano Ramos; Guimarães Rosa; Milton Hatoum; José Saramago; Mia Couto;  Camus, Dostoiévski...

SoniaEu caminhei pouco no mundo da literatura e penso que não dê para falar muito. Acho importante ser sincera porque os amigos ao tomarem conhecimento poderão ajudar nas indicações do que eu preciso ler, do que é imprescindível para o conhecimento. Deixarei alguns nomes, sem fazer distinção: Rubem Alves, Mario Sergio Cortella, Mario Vargas Llosa, Arthur Schopenhauer, Dostoiévski, Mia Couto, Eduardo Galeano.






16 de setembro de 2013

O que é viver bem, segundo Cora Coralina?




“Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo pra você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando velha. Eu não digo.
 
Eu não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a
vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.
 
O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre:estou ótima.
 
Eu nunca digo que estou cansada. Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros.
 
Então silêncio! Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades,
mas não sei se sou velha não. Você acha que eu sou?
 
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias
minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é
velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e
determina os fortes.
 
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço,com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”


6 de setembro de 2013

CLIc e ANE marcam presença na 16ª Bienal do Livro (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)

Um ônibus com integrantes do Clube de Leitura Icaraí (Dília, Cristiana, Gracinda, Elenir, Adelina, Niza, Carmen Sá, Sissa e Cyana) e da Associação Niteroiense de Escritores, atualmente presidida por Sissa Schultz, também do CLIc, partiu de Niterói às 13 h de ontem, 5 de setembro, em direção ao Riocentro.

No cardápio, um dia de celebração aos autores brasileiros, como nos conta Dília Gouvea, uma das idealizadoras do tour literário:

“Planejamos ir na segunda semana e em dia útil para fugir um pouco do tumulto, e acabou sendo maravilhoso porque pudemos assistir ao debate sobre Clarice Linspector, no Mulher e ponto, às 17:30h. A Beth Goulart, que faz a peça “Simplesmente Clarice” estava lá, junto com a Teresa Montero, que é uma biógrafa da escritora e a mediadora foi a jornalista da Globo News Bianca Ramoneda. Excelente. Ainda deu para participar do sarau de poesias no Café Literário às 20h, com a Viviane Mosé, Alberto Pucheu, Antonio Calloni e Paulo Britto, mediados pelo Ítalo Moriconi. Só faltou mesmo o painel sobre o Leminski, que infelizmente era no mesmo horário do da Clarice”.



Sissa também destacou a qualidade da palestra sobre Clarice, mas lamentou a organização da festa literária e o excesso de barulho de crianças e adolescentes, muitos em turmas escolares. Esse, aliás, foi também um ponto negativo destacado por Eloisa Helena, que esteve na Bienal antes, no sábado, 31 de agosto:

O que mais me surpreendeu foram os gritos de adolescentes e sua alegria com a presença de seus ídolos atuais. Livros não combinam com gritos, mas o que me encantou foi encontrar, na Companhia das Letras, a luxuosa presença de todos os livros de Philip Roth. Isso me fez acariciar, mais uma vez, o sonho de ler esse autor completamente. Comprei e vi livros que paquero faz tempo: segui uma recomendação do Alfredo Monte e adquiri A verdadeira vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nobokov - pelo que já folheei e li, vou amar; adquiri Memória de elefante, António Lobo Antunes; como assisti ao filme O Clube de Leitura de Jane Austen, resolvi comprar Persuasão. Guiada ainda por um comentário antigo de Graciliano Ramos, que considerava Tolstói o maior escritor do mundo, comprei A Morte de Ivan Ilitch. Mais um de Dostoiévski ....Mais Graciliano. Quase comprei A Marca Humana, de Phlip Roth, mas estava já com a sacola cheia, mas alisei, alisei, rsrs. Em breve vou adquirir mais esse”.


E você também foi à Bienal? O que achou? O que comprou? Pegou autógrafo? Compartilha com a gente através do campo "Comentários"

Vale-cultura poderá ser usado para livros (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)

Vem aí o vale-cultura, benefício no valor de R$ 50,00 com uso polêmico: de livros a festas populares, passando por cinema, CDs, DVDs, cursos de arte, exposições, etc, etc, etc. A portaria que estabelece as condições de uso será publicada hoje, 6 de setembro, pelo Ministério da Cultura e, a princípio, o vale será concedido por todas as estatais.

Ainda em setembro terá início uma campanha visando estimular as empresas a aderir, com o incentivo de deduzir até 1% no seu IR. O que você acha deste programa? Dê sua opinião no campo "Comentários".


Aluguel de livros, você já experimentou? (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)


Além das tradicionais livrarias e dos sebos, físicos ou virtuais, e do gostoso empréstimo entre amigos, outra forma de ler livros, especialmente útil para quem lê muito, é o aluguel. 

No Rio e em Niterói há lojas especializadas na modalidade, algumas funcionam com uma mensalidade e a pessoa lê quantos livros conseguir, sendo um por vez; outras cobram um valor por livro, dando o prazo de uma a duas semanas, dependendo do nº de páginas do exemplar. Em geral há também opção de entrega. 

Se você se interessou, é só pesquisar as lojas na internet. Depois de usar, conta pra gente o que achou através do campo "Comentários".

Momento poético: Helene Camille

 

Platão, o Amor, o Êxtase e os Cavalos Alados 

 

Dois são os cavalos

que deveriam nos conduzir

ao êxtase supremo.
Um dos cavalos nos impele aos céus
o outro a fincar-se à Terra
O embate é ferrenho,
a alma se divide e titubeia
ante que direção tomar
nessa incrível disputa.
Corpo e alma
e uma única dúvida:
seguir o puro sangue
ou o cavalo mestiço?
A batalha dura
uma eternidade.
Defesas caídas,
o mestiço assume o controle
Já não ouço mais o puro.
Deixo o mestiço conduzir-me.
A luta agora é outra.
Apelos incontroláveis e
um só desejo: pequenas mortes
Corpo exausto,
abrupto silêncio,
o coração ainda bate forte
depois... paz.