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12 de março de 2023

Terráqueos

https://www.theguardian.com/world/2018/aug/08/tokyo-medical-school-admits-changing-results-to-exclude-women

Minha cidade era uma enorme fileira de ninhos e uma fábrica de fazer humanos. Ali, eu era uma ferramenta em dois sentidos.
Primeiro, tinha de me esforçar nos estudos, para me tornar uma boa ferramenta de trabalho.
Segundo, tinha de me esforçar como menina, para poder me tornar um bom órgão reprodutivo da cidade.
Eu desconfiava que fracassaria em ambos. (p. 52)
Eu queria estudar muito e me tornar o tipo de criança que deixava os adultos bem satisfeitos. Assim, talvez eu não corresse o risco de ser expulsa de casa, mesmo sendo um artigo defeituoso. (p. 57)
Sempre que minha mãe estava mal-humorada, me dava uma bronca. Então esses sermões não deviam ser para o meu próprio bem, mas só porque ela precisava de um saco de pancadas. Bater em mim com as palavras, em vez de usar as mãos, permitia que ela recobrasse o equilíbrio. (p. 59 e 60)
Todas as pessoas acreditavam na Fábrica. Tinham passado pela lavagem cerebral e a obedeciam. Usavam todos os órgãos de seus corpos para a Fábrica, trabalhavam para a Fábrica. (p. 126)
As meninas adoravam falar sobre romance e meninos, e ficavam incomodadas com a presença de alguém que nunca falava sobre o assunto. (p. 196)
Eu não conseguia compreender por que deveria correr atrás de uma coisa que eu não desejava. (p. 201)

Carta a um forasteiro das galáxias infiltrado no CAEL*

Caríssimas Almas,



Estou compartilhando o texto com todas as almas porque acredito ser de interesse de todos. 

Caro Evandro, desconfio de que você é uma alma de outras galáxias que está por aqui só de passagem coletando informações científicas sobre os terráqueos, e que por isso está sempre infiltrado em grupos pequenos, pois deve ser melhor para espreitar seus objetos de estudo. Sei disso depois de ler a parte daquele texto em que vejo um item familiar na secção " Anamnese para identificação de ETs e clones: ", trata-se do ítem "6. Quantas certidões de nascimento você tem?", e faz parte do formulário para o "reconhecimento de um extraterrestre ou do clone de alguém que foi substituído pelos ETs da destruição." Acho inclusive que você já esteve em terras cearenses no início do anos 80 à bordo de algum estranho objeto de voar, o que teria feito com que as rádios espalhassem a notícia de que objetos estranhos estariam sobrevoando nosso céu do norte cearense, o que me fazia desembestar em carreiras desesperadas, pela grande estrada reta que passava em frente a casa de meus avós, quando a noite estava por chegar. É possível que todos nós já estivéssemos sendo observados há tempos, e esse encontro nosso já estivesse planejado desde sempre. Basta tomar conhecimento da fantástica história de vida de cada um dos membros do CAEL e das circunstâncias inusitadas que nos trouxeram até aqui. É um clube basicamente de estrangeiros! Mas será por acaso? É claro que a alma #1 já se revelou no CAEL contando um pouquinho de sua história, e de como chegou aqui à bordo de um disco voador, mas nada disse sobre suas intenções neste planeta decadente.



I(E)van(dro), o Terrível. Saudações, alma criativa número #1.


P.S. O texto a que me refiro é "Abismo", e pode ser lido na secção "Um Clube que se lê", no blog do CLIc. A autoria é um mistério, parece coisa de outro planeta, "periférico" ao nosso. 

Alma clonada número #3 e com dupla Certidão de Nascimento,

Antonio R


* Clube das Almas Elegantes

8 de março de 2023

Revivendo leituras passadas: Snow Flower and the Secret Fan: Lisa See

雪花與秘扇



After discussing the beauty from the viewpoints of Dorian Gray and Aschenbach, from "Death in Venice", through the ideas of Albert Camus in "Le Premier Homme" who refers to the beauty in a much less obsessive way than Oscar Wilde and Thomas Mann, we find a perception of beauty quite different in "Snow Flower and the Secret Fan", which is that it is only achieved through pain.

"Uma dama de verdade não deixa entrar nenhuma indignidade em sua vida. Só através da dor é que você conseguirá a beleza. Só através do sofrimento é que encontrará a paz. Eu enrolo, eu amarro, mas você receberá a recompensa."

However, I am a poor concierge of a book club that does not see any beauty in such monstrosities. Check it out.

"A bandagem alterou não apenas os meus pés, mas todo o meu caráter, estranhamente, sinto como se esse processo continuasse por toda a minha vida, transformando-me de criança submissa em moça determinada, e depois em jovem mulher, que obedecia sem questionamento a tudo que os sogros ordenavam, em mulher da categoria mais elevada da região, que impingiu regras e costumes severos à aldeia."

Pés de lótus:Viemos em busca das mulheres dos pés enfaixados. Poucas sobreviventes dos tempos em que se provocava uma deformidade física nas mulheres porque os homens achavam sedutor. Só as famílias que tinham algum recurso submetiam as filhas à atrofia dos pés. A tortura começava quando a menina chegava aos quatro anos. Atrofiar os pés era tarefa de profissionais, que, com faixas de algodão, forçavam os dedos das meninas para debaixo da sola.


Com o tempo as juntas se desfaziam, o osso do peito atrofiava e o pé virava um arremedo de apoio. Quando adultas, apresentavam os pés só um pouco maiores que o calcanhar – os chamados pés de lótus, que por mais de mil anos foram um símbolo carregado de erotismo na cultura chinesa. Só as mulheres dos pés atrofiados eram consideradas adequadas para se casarem com os filhos de proprietários de terra ou altos funcionários públicos. Como as filhas de agricultores não eram consideradas à altura desses casamentos e precisavam dos pés firmes para trabalhar na lavoura, eram poupadas. Mas em vez de aliviadas, se sentiam diminuídas, humilhadas. Os pés saudáveis eram um atestado de inferioridade social.
(...)
-Que seu marido seja sempre forte e viril. Que você tenha muitos filhos homens. Que seja sempre bonita e saudável. Que seu patrão lhe dê uma promoção e aumento de salário. Que tenha sempre muito arroz na sua mesa. Que seus filhos lhe dêem muitos netos...


A lista de bons desejos ainda ecoa em meus ouvidos. Mas o que me intriga é pensar como, ainda hoje, submetemos nossos pés aos saltos altos em nome de um fetiche sexual.
(Laowai - Sônia Bridi)


“O mundo está sempre mudando. Temos que olhar para o passado para encontrar o que não muda. Seu nome era Flor da Neve. Ela tinha uma laotong chamada Lírio, sua irmã por uma vida...”

"Eu soube que existe uma menina de bom caráter e versada em conhecimentos femininos na sua casa. Você e eu somos do mesmo ano e do mesmo dia. Não podemos ser iguais juntas?"

'Flor da Neve e o Leque Secreto' nos leva de volta ao passado, na China de meados do século XIX, onde o as mulheres viviam isoladas do mundo, tendo como principais "virtudes", a dedicação, a obediência e a capacidade de gerar filhos homens.

"Ouvi os homens falarem de impostos, secas e levantes, mas esses assuntos estão muito distantes da minha vida. O que conheço é bordado, costura, cozinha, a família de meu marido, meus filhos, meus netos, meus bisnetos e nu shu."

Nesta viagem acompanhamos Lírio ao longo de aproximadamente 80 anos, compartilhando seus dias de Cabelo Preso, de Sentar e Cantar no Aposento do Andar de Cima, de Tristeza e Preocupação, de Brincar e Fazer Barulho no Aposento Nupcial, de Arroz-e-Sal (como esposa e mãe), até seus Dias de Sentar Calmamente (como viúva). Com ela Tomamos Brisa Fresca, Espantamos os Pássaros, Saboreamos e Arrancamos Doença do Coração.

Do terceiro ano do reinado do imperador Daoguang, quando Lírio nasceu, em1823, até o reinado de, Guangxu, no início do século XX, a história da China nos é direta ou indiretamente apresentada, seja através do consumo e dependência de ópio por grande número de chineses, resultado da abertura da China ao comércio estrangeiro e da entrada ilegal de ópio produzido pela Índia (na época, colônia britânica), tendo como conseqüência as duas Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860). Seja através da Rebelião Taiping (1851-1864), um dos piores conflitos militares da história mundial, que ocorreu no sul da China, onde rebeldes (trabalhadores pertencentes à maioria da população chinesa, de etnia Han) lutaram contra a Dinastia Qing (de etnia Manchu) em busca do fim de um sistema visto como corrupto e ineficiente. Finalmente, somos apresentados ao nu shu, a escrita secreta das mulheres, desenvolvida há mil anos em uma área remota da província de Hunan, na região sudoeste da China.

'Flor da Neve e o Leque Secreto' é uma belíssima estória, que nos é apresentada numa escrita inteligente, envolvente, instrutiva e extremamente delicada. A autora nos apresenta uma realidade de alegrias e agruras do povo chinês sem vulgarizar costumes, muito particulares de uma época e região, que em certos aspectos podem nos parecer bastante estranhos.

"Muito do que aconteceu me fez lembrar da história educativa que titia costumava recitar sobre a menina que tinha três irmãos. Agora entendo que aprendemos aquelas canções e histórias não só para saber como nos comportar, mas porque viveríamos variações delas várias vezes durante a vida"

O livro, entretanto, é acima de tudo uma estória sobre amizade feminina, “sobre os laços que mantêm duas amigas unidas, sobre etapas e experiências pelas quais passam juntas, como se apóiam, e também como às vezes falham umas com as outras. Tudo incluso numa linguagem secreta da mulher, que pode ser interpretada literalmente como a linguagem secreta nu shu, mas também a linguagem secreta que existem entre amigas verdadeiras.”



"All writers are told to write what they know. My family is what I know. And what I don’t know – nu shu, for example – I love to find out whatever I can and then bring my sensibility to the subject. I guess what I’m trying to say is that in many ways I straddle two cultures. I try to bring what I know from both cultures into my work. The American side of me tries to open a window into China and things Chinese for non-Chinese, while the Chinese side of me makes sure that what I’m writing is true to the Chinese culture without making it seem too “exotic” or “foreign.” What I want people to get from my books is that all people on the planet share common life experiences – falling in love, getting married, having children, dying – and share common emotions – love, hate, greed, jealousy. These are the universals; the differences are in the particulars of customs and culture."







Sisters for ten thousand years. Coming this August at Icarai Book Club. Don't miss!

For movies fans, see the trailer, plus an interview with Lisa See and Wayne Wang, Li Bing Bing and Lisa discussing Snow Flower...





Recomendadíssimo!!

6 de março de 2023

Sobre "O Senhor dos Sonhos" de Raimundo Carrero


(por: W. B.)


O romance "O Senhor dos Sonhos" do escritor pernambucano Raimundo Carrero é um livro cheio de humanidade, para aqueles que gostam da verdadeira literatura. Nele, um senhor caridoso resolve construir um abrigo para velhas indigentes, desamparadas. Acaba entrando em conflito com a sociedade, com a polícia e, principalmente, com o poder político. Os problemas se dão porque - como é época de eleição - o prefeito pretende demonstrar ao povo que o abrigo da prefeitura já é suficiente para amparar as idosas.

O romance, publicado pela Atual Editora, tem 98 páginas, é dividido em 23 capítulos curtos, narrado em 3ª pessoa, sem flasbacks, com acontecimentos seguindo a ordem cronológica. Vale destacar, como pontos altos da narrativa, os capítulos em que o personagem principal dialoga em sonho (ou imaginariamente) com a mãe muda.

Um livro cheio de sonho e esperança, em oposição à realidade dura e cruel. Realidade esta que, mesmo vencendo, não pode impedir que se sonhe.

(RAIMUNDO CARRERO AINDA NÃO FOI DEBATIDO NO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ)

5 de março de 2023

O estrangeiro

Por que as obras de Albert Camus impressionam tanto 
seus leitores? Por que, mesmo com o passar do tempo, 
elas são fontes de pesquisa para tantos estudiosos? Quan-
do respondemos a essas perguntas, estamos também jus-
tificando a escolha de L´étranger como centro desta obra. 
E as razões são inúmeras. Não somente porque Camus 
desperta até hoje o interesse da crítica literária por seu es-
tilo simples e genial, mas também porque soube contribuir 
grandemente para o homem do seu tempo defendendo a 
liberdade individual e uma vida sem mentiras e de ajuda 
mútua.

O autor de L´étranger sempre recusou a violência 
e o ódio, era apegado à sua terra natal, acreditava no ho-
mem e deixou uma lição profunda em suas obras: mesmo 
que o mundo seja um lugar incompreensível, a natureza, 
o sol e o mar valem o esforço de não desistir da vida.

2 de março de 2023

Livros lidos em 2005

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