Fundado em 28 de Setembro de 1998

28 de novembro de 2019

Clube de Leitura Icaraí no 1º Salão do Leitor



















📚✍ I Salão do Leitor 😍
📆 21 a 24 de novembro
🏡 Solar do Jambeiro - Niterói
📍 R. Pres. Domiciano, 195, Ingá
👉 PROGRAMAÇÃO bit.ly/salaoleitor
👉 INSCRIÇÕES bit.ly/vemprosalao
VAGAS LIMITADAS



O CLIc no 1° Salão do Leitor
👏🙋 Você está convidadX para o I Salão do Leitor!

De 21 a 24 de novembro, no histórico Solar do Jambeiro, bairro do Ingá, Niterói.

💬 O evento reúne importantes autores, artistas e pensadores brasileiros, nomes como Paulo Lins, Roberto DaMatta, Claudia Nina e Cristiane Costa (21/11); Laura Carvalho, Marcelo Moutinho,  Luiz Ruffato, Ana Maria Gonçalves, Cristian Brayner, Samuel Abrantes e Flávia Oliveira (22/11); Marco Lucchesi, Ricardo Aleixo e Claufe Rodrigues (23/11); Rosane Svartman, Eliana Alves Cruz e Luciana Bezerra (24/11)

📣 Paralelos aos encontros, teremos Fóruns das Festas Literárias e Clubes de Leitura, palco aberto, batalhas poéticas em rodas de rima e Slams de poesia, Sarau com Rodrigo Santos, feira de HQs, oficinas da escola de desenho Animator Studio e atividades para todas as idades.

😂 Também confirmadas na Ocupação Biblioteca Parque de Niterói, a participação dos “Cassetas” Beto Silva (lançando o livro o livro "Estão Matando os Humoristas" no dia 21/11, com mesa de autógrafos) e Hélio de La Peña (24/11).




Eduardo no 1° Salão do Leitor de Niterói
VAGAS LIMITADAS - Participe se inscrevendo no em bit.ly/vemprosalao 🤑 Todas as atividades do Salão são GRATUITAS.

O I Salão do Leitor - Niterói Cult é uma realização da Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria Municipal das Culturas e da Fundação de Arte de Niterói, com curadoria do Instituto Zuzu Angel. Saiba + na página do evento: bit.ly/salaoleitor #SalaoDoLeitor


24/11/2019 - 🕑 14h - 📚 Fórum de Clubes de Leitura

No século XVII, o filósofo francês Descartes referiu-se à leitura “como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados”. No século XVIII, o autor romântico alemão Jean-Paul recordou que “livros são cartas dirigidas a amigos, apenas mais longas”. Em pleno século XXI, os Clubes de Leitura atualizam essa potência da leitura literária, permitindo formas novas de apropriação da tradição.




Eduardo no Solar do Jambeiro

💬 Clube de Leitura Icaraí, Clube de Leitura Palavra Mágica, Clube de Leitura da Blooks, Clube de Leitura Papa Livros


Inscrição 24/11

10h - Cinema: Releituras | Luciana Bezerra e Rosane Svartman

16h - Futuro do público leitor | Eliana Alves Cruz





18 de novembro de 2019

Livro: A filha perdida, de Elena Ferrante

Olá queridos!

Segue o post que fiz no meu blog Mar de Variedade sobre esse livro, que li recentemente no Clube Leia Mulheres Niterói, e que será o livro de Fevereiro/2020 do CLIc.

Já desejávamos ler algum livro da Elena Ferrante, que é uma das autoras mais comentadas do momento. Ela utiliza esse pseudônimo, mas não divulga a sua identidade. Até pode ser um homem.
Bem, escolhemos esse livro, pois não queríamos ler um livro que fizesse parte de uma série, como é o caso de A amiga genial.

Então, escolhemos esse que é avulso, embora tenha um infantil (Uma noite na praia), que é meio como uma continuação desse. 

Sinopse da Amazon: "Da autora de A amiga genial e História do novo sobrenome, um romance feminino e arrebatador.

“As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender.” Com essa afirmação ao mesmo tempo simples e desconcertante Elena Ferrante logo alerta os leitores: preparem-se, pois verdades dolorosas estão prestes a ser reveladas.

Lançado originalmente em 2006 e ainda inédito no Brasil, o terceiro romance da autora que se consagrou por sua série napolitana acompanha os sentimentos conflitantes de uma professora universitária de meia-idade, Leda, que, aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias na praia, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida — e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.

No estilo inconfundível que a tornou conhecida no mundo todo, Elena Ferrante parte de elementos simples para construir uma narrativa poderosa sobre a maternidade e as consequências que a família pode ter na vida de diferentes gerações de mulheres.

Elena Ferrante se tornou especialmente conhecida pela série napolitana, cujos dois primeiros volumes, A amiga genial e História do novo sobrenome, já foram publicados com grande sucesso no Brasil.

Best-seller internacional, Ferrante tem livros lançados em mais de 30 países.

“A prosa de Ferrante é extraordinariamente franca, direta e inesquecível.” Publishers Weekly

“Um romance brutalmente sincero sobre a ambivalência da maternidade. ” The New Yorker

Outro livro da autora: Uma noite na praia."



Já começo dizendo que gostei muita da leitura e da forma fluida como essa autora escreve.
Embora a história pareça simples, pois utiliza o tema maternidade, não tem nada de simples. Rs. Os temas são abordados de forma profunda.

A escrita da autora me lembrou a Clarice Lispector, pois, através de uma determinada situação, a personagem/narradora se lembra de situações do passado e isso desencadeia uma série de atitudes. 
A Leda, nossa personagem principal e narradora, vai passar as férias na praia, no sul da Itália. Suas filhas, já adultas, estão morando com o pai, em Toronto, no Canadá.

A Leda começa a narrar os seus dias na praia e, ao passar a observar uma família napolitana, entre elas uma mãe com sua filha com a boneca e a tia grávida da menina, ela começa a pensar nela como mãe.
O que pode chocar alguns é a coragem da escritora ao abordar a maternidade de uma forma muito sincera pela narradora da história.

A forma da Leda se comportar, sem se preocupar com o que as pessoas à sua volta vão pensar, é muito interessante. Quando pediram para ela mudar de lugar na praia, ela se negou sem qualquer constrangimento.
"A senhora não vai mudar de lugar?-, respondi bruscamente, com uma seriedade hostil: não, estou bem aqui, lamento, mas não estou com vontade nenhuma de mudar de lugar." (trecho do livro)
Ela confessa para essa família em algum momento da história que abandonou as filhas com o pai. Não senti muita culpa nela.

O livro nos faz refletir: por que julgamos esse tipo de atitude? Por que achamos que as mães têm que ser heroínas?

O livro desmistifica um pouco o papel de mãe. Vai mostrar uma mãe com erros e acertos, confessando coisas que muitas mães gostariam de confessar, mas não fazem por medo do julgamento da sociedade. É tapa na cara esse livro!

O tema central é a maternidade, mas o livro aborda outros assuntos, como relacionamento marido/mulher, comportamento, entre outras coisas.

Essa é uma degustação do livro. Ele deve ser lido, pois há muitas questões a serem pensadas e debatidas.

Quero muito ler outros livros dessa excelente autora.


Recomendo!

15 de novembro de 2019

Dramas: Rita Magnago


I

um pai bom, uma mãe temente
vindos de longe
para amaciar a aridez da terra
com seus muitos frutos-filhos
antes da primeira guerra

II

um pai austero, amputado
(pelo serviço militar?)
mães fenecem em tempos distintos
dois meio-irmãos
deficientes de amor

III

uma menina-moça má 
mulher cruel
nem a piedade no caminho
aquieta o coração
somente brota a ira

I, II, III

o irmão bom do pai austero
quer despedir a solidão
mas a mulher cruel não deixa
agride novamente
gravidez dupla
triplo abandono
definham todos os quatro
o novo pai? desconstruído

um chinês americano
traz disfarce e sinceridade
no rabo de cavalo
dedicação e abnegação
com a casa, com os gêmeos
cozinha bem
mas a fome de amor persiste

o que veio de longe
vira amigo e forja
o pai desconstruído
em possibilidade
mas a vida cobra o preço
do atraso na partilha do amor
um descuido, uma rejeição e
sobrevém em um dos filhos
a raiva reveladora sobre a mãe cruel

frente à vida prostituta
o outro filho
vai à guerra
a não-vida fere menos
que a o abandono
que a vergonha
quando não há resiliência

medo e pavor
incompreensão
derrame de emoções
arrependimento
aceitação
perdão (tardio?) 
California dreams
viram dramas
com o poder da escolha
quase tudo pode ser
minha casa, minha cidade, minha vida.
tudo é tão íntimo, tão restrito
e, mesmo assim, tão universal. 



(Inspirado na leitura de "A leste do Éden" de John Steinbeck)


Poeta Rita Magnago



A leste do Eden: John Steinbeck



“E Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim e disse: ‘Gerei um homem com o auxílio do Senhor.’ Em seguida ela deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel era pastor e Caim, lavrador. Passado algum tempo, Caim ofereceu ao Senhor os frutos da terra. E Abel também ofereceu os primogênitos do seu rebanho e as suas gorduras. E o Senhor olhou com agrado para Abel e a sua oferta, mas não olhou para Caim e a sua oferta. E Caim ficou muito irritado e seu semblante se cerrou. E o Senhor disse a Caim: ‘Por que estás zangado? E por que teu semblante está abatido? Se praticares o bem, poderás reabilitar-te. E se procederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te. Mas tu o dominarás.’” “E Caim disse a Abel, seu irmão: ‘Vamos ao campo.’ Logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e o matou. Disse o Senhor a Caim: ‘Onde está Abel, o teu irmão?’ E ele disse: ‘Não sei. Sou porventura o guarda do meu irmão?’ E o Senhor replicou: ‘Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra por mim. De agora em diante serás maldito sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue do teu irmão. Quando a cultivares, ela te negará os seus frutos. E tu serás peregrino e errante sobre a terra.’ E Caim disse ao Senhor: ‘Meu castigo é maior do que posso suportar. Expulsai-me agora desta terra e devo ocultar-me longe da Vossa face, tornando-me um peregrino errante sobre a terra. O primeiro que me encontrar, matar-me-á.’ O Senhor respondeu-lhe: ‘Não, aquele que matar Caim será punido sete vezes mais.’ E o Senhor marcou-o com um sinal, para que, se alguém o encontrasse, não o matasse. Caim retirou-se da presença do Senhor e foi morar na região de Nod, a leste do Éden.”

Caim Mata Abel
Lucas Van Leyden
 gravura a água forte - 114 x 86 cm - 1520 (Rijksmuseum (Amsterdam, Netherlands))



Reconhecer o poder da natureza
A força, a mudança dos rumos 
Saber que devemos sempre observar e observar e observar
Se quando o rio enche é inverno

 - frios corações -

Se debaixo da capa encontra-se um braço-de-mar ou um homem que transpira de medo e angústia
a floresta de sequoia nos lembra que
Imperecíveis deveriam também ser os sentimentos nobres
as boas lembranças e o cheiro das estações

Rita Magnago
(Poema feito após a leitura das primeiras páginas)




"Logo no início da 2ª parte, quando os irmãos Caleb e Aron ainda são crianças, Adam, Sam Hamilton e Lee ... se juntam numa conversa sobre a bíblia. Lee então conta que resolveu pesquisar as versões existentes da bíblia e achou várias traduções que não batiam. Na versão do Rei James, no Genesis, onde Deus conversa com Caim, um versículo diz: “thou shalt rule over him” (como uma promessa, que ele iria dominar o pecado). Já na versão da bíblia americana comum, a frase é “do thou rule over it”, como se fosse uma ordem. Lee então foi procurar este versículo em hebraico, e percebeu que ambas traduções estavam equivocadas. A palavra encontrada em hebraico foi Timshel, que poderia traduzir a expressão como “thou mayest rule over it” (“Poderás”). Portanto, explica Lee, que Timshel significa uma escolha. Poderás OU não. É o que diferencia homens de bichos. Todo homem tem direito a uma escolha, o famoso livre-arbítrio." (Fonte)
...
“And you have your choices, 
and these are what make man great, 
his ladder to the stars”



Acredito que a mente humana possua uma técnica mediante a qual, no seu recesso obscuro, os problemas são examinados, rejeitados ou aceitos. Estas atividades às vezes revelam facetas que um homem desconhece possuir. Quantas vezes vamos dormir preocupados e cheios de dor, sem saber o que causou a aflição, e de manhã acordamos com uma nova direção e clareza, talvez resultante desse raciocínio sombrio. E outras vezes há em que acordamos com o êxtase fervilhando em nosso sangue, o estômago e o peito estão tensos e elétricos de júbilo, e nada em nosso pensamento justifica ou causa esse estado. (pág. 352)





Não existem perguntas feias exceto aquelas vestidas pela condescendência. Não sei por que ser um empregado possa ser uma desonra. É o refúgio de um filósofo, o alimento dos preguiçosos, e, adequadamente executada, é uma posição de poder, até mesmo de amor. Não posso entender por que pessoas mais inteligentes não a escolhem como carreira - aprendem a exercê-la bem e a colher seus benefícios... um bom empregado... pode controlar completamente seu patrão, dizer-lhe o que pensar, como se comportar... (pág. 178)



... Cathy também parecia felina. Tinha o atributo inumano de abandonar o que não conseguia obter e de esperar pelo que podia obter. Estes dois dons lhe davam grandes vantagens. Sua gravidez fora um acidente. Quando sua tentativa de aborto fracassou e o médico a ameaçou, ela desistiu daquele método, o que não quer dizer que tenha se reconciliado com a gravidez. Sentou-se e suportou-a como suportaria uma doença. Seu casamento com Adam fora a mesma coisa. Estava encurralada e escolhera a melhor saída. Não queria vir para a Califórnia também, mas outros planos lhe eram negados por enquanto. Ainda muito criança aprendera a vencer usando o ímpeto do oponente. Era fácil guiar a força de um homem até onde era impossível resistir-lhe. Pouquíssimas pessoas no mundo poderiam saber que Cathy não queria estar onde estava e na condição em que estava. Relaxou e esperou pela oportunidade que sabia que chegaria com o tempo. Cathy possuía aquela qualidade necessária a todo grande criminoso bem sucedido: não confiava em ninguém, não se abria com ninguém. Seu ego era uma ilha. É provável que sequer olhasse para a nova terra de Adam ou para a casa em construção, ou visse os planos imponentes dele se transformando em realidade, porque não tencionava morar ali depois que sua doença tivesse passado, depois que sua armadilha se abrisse. Mas às perguntas dele ela dava respostas adequadas; fazer o contrário seria movimento desperdiçado e energia dissipada, impróprios de um bom felino. (pág. 170-171)



Não era uma fazenda bonita nas proximidades da casa - nunca tinha sido. Havia detritos por ali, estava tudo arruinado, descuidado, fora de ordem; não havia flores, pedaços de papel e lascas de madeira espalhavam-se pelo chão. A casa também não era bonita. Era um barracão bem construído para servir de abrigo e cozinha. Era uma fazenda sinistra e uma casa sinistra, mal amada e sem amor para dar. Não era um lar, não era um lugar ao qual se ansiasse por voltar. Subitamente Adam pensou na madrasta - tão mal amada quanto a fazenda, adequada, limpa, à sua maneira, mas não mais esposa do que a fazenda era um lar.





O rumo de uma grande ação pode mudar a história, mas provavelmente todas as ações produzem o mesmo à sua maneira, desde uma pedra pisada no caminho até a visão de uma bela jovem ou de uma apara de unha no chão do jardim.






Quando dois acontecimentos têm algo em comum, em suas naturezas ou no tempo ou local, nós chegamos rapidamente à conclusão que são similares e, a partir desta tendência, criamos uma magia e a guardamos para contar de novo depois. 







Em torno das pequenas fogueiras onde borbulhava o ensopado comunitário circulava todo tipo de conversa e só os assuntos pessoais não eram mencionados. Adam ouviu falar do surgimento da Central Sindical dos Trabalhadores da Indústria com seus anjos irados. Escutou discussões filosóficas, sobre metafísica, estética e experiência impessoal. Seus companheiros da noite podiam ser um assassino, um padre destituído ou que largou a batina por escolha própria, um professor que deixou um bom emprego numa universidade enfadonha, um homem solitário perseguido pelas lembranças, um anjo caído e um diabo em treinamento, e cada um contribuía com nacos de pensamentos à fogueira assim como contribuía com cenouras, batatas, cebolas e carne para o ensopado. Aprendeu a técnica de fazer a barba com caco de vidro, a estudar uma casa antes de bater para pedir um prato de comida. Aprendeu a evitar ou lidar com policiais hostis e a julgar uma mulher pelo calor do seu coração.





 “O intervalo de tempo é uma questão estranha e contraditória na mente. Seria sensato supor que um tempo de rotina ou um tempo sem acontecimentos pareceria interminável. Deveria ser assim, mas não é. São os tempos monótonos e parados que não têm nenhuma duração. Um tempo salpicado de interesses, marcado pela tragédia, recheado de alegrias — este é o tempo que parece longo na memória. E é assim quando se pensa a respeito. A falta de acontecimentos não tem postes para marcar sua duração. De nada para nada não leva tempo algum.” 

"É basicamente inútil tentar definir em palavras o que é um clássico da literatura – assim como é impossível definir com exatidão o que é um romance. Mas pode-se falar em características. E uma das características que faz um clássico ser um clássico muitas vezes é a capacidade de tocar em temas universais, humanos, que valem para qualquer pessoa independente de época ou cultura.
E esse é o caso de A leste do Éden: a capacidade de falar de questões básicas da existência humana. Questões que fazem parte de todos e que mais cedo ou mais tarde no texto todos irão sentir que sabem do que determinado personagem está falando, ou o que está sentindo." (Fonte)




O pesadelo de ser humano


Tendo sido paga, e adiantadamente, ela se tornava uma mercadoria, e um homem tímido pode ser alegre ou até mesmo brutal com ela. Também, não há nada do horror da possível rejeição que mexe com as entranhas dos homens tímidos.

Eis a única técnica pela qual você consegue sobreviver: nunca se fazer notar, nunca falar a não ser que lhe dirijam a palavra, fazer o que se espera de você e nada mais, e não buscar nenhuma promoção. Tornar-se um soldado mais que raso. É muito mais fácil assim. Recolher-se ao fundo de cena até que mal o consigam ver. 

Algumas vezes você não sabe quem é bom e quem é ruim.


Eu amo mais você. Sempre amei. Pode ser uma coisa ruim de lhe dizer, mas é verdade. Amo você mais do que todos. Se não, por que me daria o trabalho de magoá-lo?




“Quando uma criança descobre pela primeira vez o que são realmente os adultos – quando entra pela primeira vez na sua cabecinha honesta que os adultos não possuem inteligência divina, que seus julgamentos nem sempre são sábios, nem seu pensamento sincero, nem suas frases justas – seu mundo cai num pânico desolador. Os deuses tombaram e toda a segurança se foi. E há algo de certo em relação à queda dos deuses: eles não caem um pouco; eles despencam e se despedaçam ou mergulham fundo no estrume verde. É um trabalho tedioso reconstruí-los; nunca chegam a brilhar mais. E o mundo da criança nunca mais é o mesmo. É uma espécie de crescimento doloroso.”
(John Steinbeck, em A Leste do Éden)