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18 de dezembro de 2018

Conto: A Cidade do Amor (Em homenagem a Niterói e ao CLIc)

Olá queridos!
Estou republicando o conto...
Escrevi esse singelo conto em homenagem a Niterói, que fez aniversário dia 22/11. Também quis homenagear meus amigos do Clube de Leitura Icaraí-CLIc, colocando os nomes de muitos deles em meus personagens do conto.
Segue o conto. Espero que gostem!

A cidade do amor

Imagem da internet

Monique suspirou e até afundou na cadeira. Terminou de comer a pipoca e tomar a coca-cola. Então, apareceram os créditos.
Adorava assistir a comédias românticas, embora não se considerasse assim tão romântica. Sua preferência era pelo Cinema Icaraí, construído em estilo “art déco”. Além de confortável, o cinema era a duas quadras de sua casa.
Costumava ir a esse cinema ao menos uma vez por semana.
Naquela noite, sua amiga Elenir não pôde lhe fazer companhia, o que não a impediu de ir. Conhecia muitas das pessoas que frequentavam aquele cinema. Alguns eram amigos da época do Colégio Abel, outros da época da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Saiu da sala de cinema com os olhos marejados.
- Monique, aconteceu alguma coisa?
- Oi, Léo. Não, está tudo bem. Eu é que sou boba e fiquei emocionada com o final do filme.
- Já vai embora? Vou assistir à próxima sessão e estou sem companhia. Você não quer ficar?
- Que filme vai passar? É bom?
- Eu, Robô. De ficção científica. Achei que minha companhia fosse mais importante que o filme. – brincou Léo.
- Claro. Vamos assistir, embora não seja meu estilo favorito de filme.
- Vou comprar os ingressos.
- Tem visto o pessoal da nossa turma, Léo?
- Do Abel ou da UFF? – E deu um sorriso.
- Da UFF.
- Estou todos os dias com o Antônio, pois estamos trabalhando no escritório de advocacia do Dr. Eduardo.
- Que máximo!
- E você? Tem encontrado com a galera?
- Vez em quando encontro com a Cláudia e com a Mariney. Onde fica o escritório do Dr. Eduardo?
- Na Av. Amaral Peixoto.
- Está sabendo que eu abri meu próprio escritório de advocacia em sociedade com a Rose?
- Alguém já tinha comentado comigo.  Na Rua da Conceição, né?
- Isso mesmo.
- Somos praticamente vizinhos de escritório.
- Verdade.
- Tenho uma novidade pra te contar.
- O quê? Conta logo.
- Você sempre foi curiosa, Monique. – e deu uma risada.
- Ah Léo.
- É que eu e Eloisa terminamos o noivado.
- Como você tá?
- Agora está tudo bem. Já tem um tempinho. Conversamos e chegamos à conclusão de que viramos amigos. Foram muitos anos de convivência. O amor se transformou em amizade.
- Então foi de comum acordo, né?
- Foi sim. Estamos bem. Me fala de você. Ainda está namorando o André?
- Ah não. Já terminamos um tempão.
- Algum caso?
- Não. Tô solteira.
- Vou comprar pipoca pra gente.
Após o cinema, Léo perguntou se Monique estava com pressa e se poderiam estender o programa. Monique concordou.
- Como você assistiu a um filme de ficção científica pra me agradar, agora é minha vez de te levar pra fazer alguma coisa que você goste.
- Posso escolher?
- Não. – Léo deu uma risada.
- Que graça tem isso?
- A graça é que é surpresa.
- Então tá, né? Vou ter que confiar.
- Você vai adorar.
Léo abriu a porta de seu carro para Monique e ele dirigiu até a surpresa, em Charitas.
- Pronto. Chegamos na surpresa.
- Ah o “podrão” do Seu Luiz. Lembra quando a gente estudava no Abel e ficava contando as moedas pra comprar o “podrão”?
- Claro. Por isso te trouxe aqui: para relembrarmos os velhos tempos, com a diferença de que agora não precisamos contar moedas.
- Amei a surpresa!
- Seu Luiz, capricha no cachorro-quente que essa menina está faminta.
- Seu Luiz, quem tá faminto é ele. – e deu um sorriso.
Os dois ficaram ali por um tempo, comendo cachorro-quente, conversando, dando risada e olhando a lua. Era noite de lua cheia, então a lua estava luminosa e emitia seus raios na água do mar.
- Monique, vamos dar uma caminhada na areia?
- Vou tirar a sandália.
Os dois tiraram seus calçados e foram andar na areia, iluminada pelos raios da lua cheia.
- Monique, você sabia que eu gostava de você na época do colégio Abel?
- Nossa! Faz tanto tempo. Você gostava de mim e de todas as meninas da sala, né? – e deu um sorriso.
- Ah não é verdade. Eu gostava só de você.
- Sei...
Léo se aproximou de Monique e lhe deu um beijo apaixonado.
- Monique! Monique! Acorda! – gritou sua mãe.
- O quê? – Monique vira para o lado.
- Acorda, Monique. Você não ouviu o despertador.
Monique desperta, sem saber direito o que era sonho e o que era realidade.
- Mãe, eu fui no cinema ontem à noite?
- Foi sim, com sua amiga Inês. Não está se lembrando?
Monique sentou na cama e começou a se lembrar de tudo que tinha acontecido na noite anterior.
Havia saído com Inês para assistirem a um filme no cinema Icaraí e depois foram tomar um chope em São Francisco.
Ela tinha ficado sabendo por Inês que Léo iria se casar no mês seguinte com Eloisa, com quem ele namorava desde a época do Colégio Abel.
Lembrou-se de parte do sonho com Léo e do beijo apaixonado.
- Nossa! O sonho parecia tão real! – pensou Monique.
- Filha, temos que confirmar nossa presença no casamento do Léo e da Eloisa.






7 de dezembro de 2018

A cidade do amor: Andreia Borges




Monique suspirou e até afundou na cadeira. Terminou de comer a pipoca e tomar a coca-cola. Então, apareceram os créditos.
Adorava assistir a comédias românticas, embora não se considerasse assim tão romântica. Sua preferência era pelo Cinema Icaraí, construído em estilo “art déco”. Além de confortável, o cinema era a duas quadras de sua casa.
Costumava ir a esse cinema ao menos uma vez por semana.
Naquela noite, sua amiga Elenir não pôde lhe fazer companhia, o que não a impediu de ir. Conhecia muitas das pessoas que frequentavam aquele cinema. Alguns eram amigos da época do Colégio Abel, outros da época da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Saiu da sala de cinema com os olhos marejados.
- Monique, aconteceu alguma coisa?
- Oi, Léo. Não, está tudo bem. Eu é que sou boba e fiquei emocionada com o final do filme.
- Já vai embora? Vou assistir à próxima sessão e estou sem companhia. Você não quer ficar?
- Que filme vai passar? É bom?
- Eu, Robô. De ficção científica. Achei que minha companhia fosse mais importante que o filme. – brincou Léo.
- Claro. Vamos assistir, embora não seja meu estilo favorito de filme.
- Vou comprar os ingressos.
- Tem visto o pessoal da nossa turma, Léo?
- Do Abel ou da UFF? – E deu um sorriso.
- Da UFF.
- Estou todos os dias com o Antônio, pois estamos trabalhando no escritório de advocacia do Dr. Evandro.
- Que máximo!
- E você? Tem encontrado com a galera?
- Vez em quando encontro com a Cláudia e com a Mariney. Onde fica o escritório do Dr. Evandro?
- Na Av. Amaral Peixoto.
- Está sabendo que eu abri meu próprio escritório de advocacia em sociedade com a Rose?
- Alguém já tinha comentado comigo.  Na Rua da Conceição, né?
- Isso mesmo.
- Somos praticamente vizinhos de escritório.
- Verdade.
- Tenho uma novidade pra te contar.
- O quê? Conta logo.
- Você sempre foi curiosa, Monique. – e deu uma risada.
- Ah Léo.
- É que eu e Eloisa terminamos o noivado.
- Como você tá?
- Agora está tudo bem. Já tem um tempinho. Conversamos e chegamos à conclusão de que viramos amigos. Foram muitos anos de convivência. O amor se transformou em amizade.
- Então foi de comum acordo, né?
- Foi sim. Estamos bem. Me fala de você. Ainda está namorando o André?
- Ah não. Já terminamos um tempão.
- Algum caso?
- Não. Tô solteira.
- Vou comprar pipoca pra gente.
Após o cinema, Léo perguntou se Monique estava com pressa e se poderiam estender o programa. Monique concordou.
- Como você assistiu a um filme de ficção científica pra me agradar, agora é minha vez de te levar pra fazer alguma coisa que você goste.
- Posso escolher?
- Não. – Léo deu uma risada.
- Que graça tem isso?
- A graça é que é surpresa.
- Então tá, né? Vou ter que confiar.
- Você vai adorar.
Léo abriu a porta de seu carro para Monique e ele dirigiu até a surpresa, em Charitas.
- Pronto. Chegamos na surpresa.
- Ah o “podrão” do Seu Luiz. Lembra quando a gente estudava no Abel e ficava contando as moedas pra comprar o “podrão”?
- Claro. Por isso te trouxe aqui: para relembrarmos os velhos tempos, com a diferença de que agora não precisamos contar moedas.
- Amei a surpresa!
- Seu Luiz, capricha no cachorro-quente que essa menina está faminta.
- Seu Luiz, quem tá faminto é ele. – e deu um sorriso.
Os dois ficaram ali por um tempo, comendo cachorro-quente, conversando, dando risada e olhando a lua. Era noite de lua cheia, então a lua estava luminosa e emitia seus raios na água do mar.
- Monique, vamos dar uma caminhada na areia?
- Vou tirar a sandália.
Os dois tiraram seus calçados e foram andar na areia, iluminada pelos raios da lua cheia.
- Monique, você sabia que eu gostava de você na época do colégio Abel?
- Nossa! Faz tanto tempo. Você gostava de mim e de todas as meninas da sala, né? – e deu um sorriso.
- Ah não é verdade. Eu gostava só de você.
- Sei...
Léo se aproximou de Monique e lhe deu um beijo apaixonado.
- Monique! Monique! Acorda! – gritou sua mãe.
- O quê? – Monique vira para o lado.
- Acorda, Monique. Você não ouviu o despertador.
Monique desperta, sem saber direito o que era sonho e o que era realidade.
- Mãe, eu fui no cinema ontem à noite?
- Foi sim, com sua amiga Inês. Não está se lembrando?
Monique sentou na cama e começou a se lembrar de tudo que tinha acontecido na noite anterior.
Havia saído com Inês para assistirem a um filme no cinema Icaraí e depois foram tomar um chope em São Francisco.
Ela tinha ficado sabendo por Inês que Léo iria se casar no mês seguinte com Eloisa, com quem ele namorava desde a época do Colégio Abel.
Lembrou-se de parte do sonho com Léo e do beijo apaixonado.
- Nossa! O sonho parecia tão real! – pensou Monique.
- Filha, temos que confirmar nossa presença no casamento do Léo e da Eloisa.



A autora em workshop de escritoras



30 de novembro de 2018

Olhos D'água, de Conceição Evaristo, e evento

Olá queridos!
Segue post que fiz no meu blog Mar de Variedade no ano passado.
Em fevereiro, iremos debater sobre esse livro no CLIc.

No dia 17 de maio, participei do Evento Encontros Malê na Travessa - CCBB, com Conceição Evaristo. 
Acabei de ler o seu livro "Olhos D'água" e amei.
O bate-papo foi muito interessante, com participação da plateia. 
A Conceição citou a escritora Carolina Maria de Jesus e falou da importância da sua obra.
Falou também que a vivência de cada autor influencia ao escrever seus livros. 
Ao final do bate-papo, ela autografou seus livros. Foi um evento incrível!






Sinopse: conjunto de contos, onde são abordados temas como: feminismo, preconceito racial, pobreza, vida na comunidade.



Eu amei os contos. Claro que gostei mais de uns que de outros. A escrita da Conceição é muito boa. Cada conto que li, eu mergulhei na história. Ela escreve com tanta sensibilidade e verossimilhança, que não tem como você não ficar totalmente absorto na narrativa.
Lendo a biografia da autora que nasceu em uma favela da zona sul de Belo Horizonte, percebemos o quanto a autora colocou um pouco de sua vivência em cada conto. 
Segue um trecho do primeiro conto, que dá título ao livro:
"Lembro-me que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida." (p. 16)

Muito impactante esse trecho, não? E, apesar de triste, a forma como a autora escreve tem certa poesia.
Pretendo ler outros livros da autora.


Recomendo! 

29 de novembro de 2018

Assim foi o Clube de Leitura, dia 13/02/2015, na Livraria Icaraí


O Bloco CLIc-Folia que se reuniu na Sexta Feira 13 de Carnaval para debater a obra-prima de Lúcio Cardoso

Considero "Crônica da casa assassinada" um dos melhores que já li no CLIC e situo Lúcio Cardoso entre os melhores romancistas, não só da nossa literatura, como da universal. Personagens riquíssimos: Nina; Valdo; o Coronel; Ana; Demétrio; Beth; Timóteo; André; Padre Justino; o Médico; o Farmacêutico; cujos relatos e confissões, nos contam a história da casa dos Menezes, sombria, solitária, e seus habitantes, parecendo fantasmas.  Difícil, certamente, para a exuberante Nina adaptar-se. Com um final excelente e inesperado. Cheguei a pensar que houvera um incesto. 

Interrompi  a leitura para fazer meu Haicai:

Buscou no seu filho
encontrar o pai já morto.
Incesto... Loucura...


Fala de André: 

"Amar, amei outras vezes, mas como se fosse um eco desse primeiro amor. Não são pessoas diferentes as que amamos ao longo da vida, mas a mesma imagem em seres diferentes." 

(Elenir)



18 de novembro de 2018

Leitura em Domicílio


Para todas as pessoas que amam Literatura e gostam de conversar sobre Livros.

Contate-nos (conciergeclic@gmail.com) 

Será um prazer organizarmos um grupo para ler para você.

10 de novembro de 2018

Amerigo Vespucci - Sublinhando um Novo Mundo

Por Wagner Medeiros Junior
Resultado de imagem para Américo Vespúcio

Cosmógrafo, geógrafo, navegador e mercador, Amerigo Vespucci nasceu em Florença, em março de 1454, no centro de uma família de classe alta, que lhe oportunizou uma avultada formação, sob a orientação de seu ilustrado tio, o frade dominicano Giorgio Antonio Vespucci. Seus estudos foram completados na França, onde aprofundou-se em astronomia, cosmologia e geografia. Depois retornou à Florença, quando foi trabalhar na casa bancária dos Médici, firmando grande amizade com ricos comerciantes, banqueiros, embaixadores e membros da casa real.
Em outubro de 1492 foi transferido para Sevilha. Então, cansado das atividades burocráticas, já no remate do século XV, decide-se por aventurar-se ao mar, aproveitando-se de operar no financiamento à navegação, com o propósito do lucrativo comércio das especiarias. A primeira viagem comprovada de Vespucci aconteceu em maio de 1499, na expedição de Alonso de Ojeda, a serviço dos reis católicos de Aragão e Castela. Nessa expedição percorreu o atual mar do Caribe e alcançou a foz do rio Orinoco, na Venezuela, e a Ilha Margueritta, em busca das Índias.
Após retornar a Sevilha Vespucci viajou para Portugal, a convite do rei D. Manuel I, aonde chegou em fevereiro de 1501. Prontamente foi contratado para participar da primeira expedição exploradora que seria enviada ao Brasil, presumivelmente como cosmógrafo ou geógrafo. A expedição, sob o comando de Gaspar de Lemos, partiu de Lisboa em maio de 1501, com o objetivo de conhecer e explorar as riquezas que as terras aportadas por Pedro Álvares Cabral possuíam. Entretanto, só seria encontrado o pau-brasil.
A expedição de Gaspar de Lemos mapeou e nominou os principais acidentes geográficos da costa brasileira, atribuindo nomes do calendário litúrgico e de datas festivas à medida que a expedição avançava. Todavia, deve-se a Amerigo Vespucci o único relato que sobrou da viagem, que é uma carta enviada ao amigo e chefe Lorenzo di Pierfrancesco de Médici logo após a chegada da esquadra, em julho de 1502. Nela, Vespucci descreve a beleza da fauna e da flora e os costumes dos nativos.
Tempo depois a carta recebeu o nome de “Mundus Novus”, quando é publicada na forma de panfleto. Transforma-se, assim, em grande sucesso editorial em toda Europa, não obstante aos exageros que foram acrescidos. Contudo, não se sabe se teve, ou não, a aquiescência de Vespucci em troca de fama e dinheiro.
Amerigo Vespucci tinha pleno conhecimento das pretensões de Cristóvão Colombo e de suas incursões no Atlântico. Somou a isso suas conversas com os navegantes portugueses acerca dos mares por eles alcançados, como o caminho para as Índias. Então, veio-lhe a certeza de que as novas terras desvendadas no ocidente formavam um novo continente, e não região periférica da Ásia, conforme se pensava.
A segunda viagem de Amerigo Vespucci com o pavilhão português aconteceu entre junho de 1503 e junho de 1504, na segunda expedição exploradora, sob o comando de Gonçalo Coelho. A expedição foi organizada com seis caravelas, de modo a atender ao contrato assinado entre o rei D. Manuel I e comerciantes portugueses, liderados por Fernão de Noronha, para exploração do pau-brasil, com encargo de impostos e de construir feitorias.
É no retorno dessa viagem que Vespucci escreveu uma nova carta ao nobre florentino Piero Soderini, seu amigo de infância, relatando a antropofagia do nativo brasileiro. Dois anos depois, em julho de 1506, a carta é publicada com o nome de “Lettera a Soderini”, tornando-se um novo sucesso editorial, com fantástica repercussão. Mas, novamente, o panfleto é marcado por muitas invenções e exageros. Porém, consolida o nome do novo continente, chamado de América, em sua homenagem.
O nome acabou por permanecer no feminino, pois todos os demais continentes conhecidos – Europa, Ásia e África – tinham esse atributo.

21 de outubro de 2018

Fim de Partida: Samuel Beckett





(Voz de narrador) Um gentleman (faz cara de inglês, remoa a sua) reparou na última hora que precisava de calças de riscas para as festas do fim do ano. Correu ao seu alfaiate que lhe tomou as medidas.

(Voz de alfaiate) “Isso basta. Volte em quatro dias e estará pronta.”

Tudo bem. Quatro dias depois.

(Voz de alfaiate) “Sorry, sir, volte em uma semana, cortei errado os fundilhos.”

Tudo bem, essas coisas acontecem, fundilhos bem cortados são difíceis de acertar. Uma semana depois.

(Voz de alfaiate) “Sinto muitíssimo, senhor, volte em dez dias, me enganei no cós.”

Tudo bem, que se há de fazer, o cós é essencial. Dez dias depois.

(Voz de alfaiate) “Minhas mais sinceras desculpas. Volte em quinze dias, fiz uma bagunça na braguilha.”

Tudo bem, uma braguilha em ordem é estratégica.

(Pausa. Voz de narrador) Bom, pra encurtar o caso, as quaresmeiras já floriam e ele estraga as casas dos botões.

(Expressão, depois voz do cliente) “Goddam, sir, não é possível, é um escândalo, um absurdo, não há Cristo que aguente! Em seis dias, ouviu bem, seis dias, nem mais nem menos, só seis dias, Deus fez o mundo. Sim senhor, o mundo, entendeu, o MUNDO! E o senhor não consegue acabar umas reles calças em três meses!”

(Voz de alfaiate, escandalizado) “Mas Milord, Milord, olhe... (gesto de desprezo, com repugnância) ... o mundo... (pausa) ...e olhe... (gesto carinhoso, com orgulho) … minhas CALÇAS!”

(Fim de Partida, Samuel Beckett - 2002, pp.61-62)


20 de outubro de 2018

20 de Outubro: Dia do Poeta



Ponho os pés na terra.
O coração nas estrelas.
Versos no papel.
(Elenir)





Parabéns Poetas do CLIc!

(Adriana, Cláudia, Cristiana, dília, Elenir, Eloisa, Fernando, Gavri, Ilnéa, Inês, Leo, Luzia, Maria Solange, Mariney, Niza, Neide, novaes/, Rita, Sonia, Vera, etc.)



Poeta é alguém que sente sem tocar, 
que enxerga sem ver,
que ouve sem escutar, 
que se faz presente, mesmo estando ausente,
que brilha qual uma estrela,
porque, igual a ela, tem sua própria luz..."

Yvone de Carvalho



Tiro de misericórdia: Flávio Ricardo Vassoler

Os homens não buscam apenas alguém diante de quem se inclinar; é preciso haver alguém a quem culpar. (Parábola do bode expiatório - Sermão da Estepe - O Evangelho segundo Talião)




Luiz Flávio Gomes
Nietzsche disse que a maturidade, no adulto, significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar. Rubem Alves explica o significado dessa frase de Nietzsche (em Lauro Henriques Jr., Palavras de poder: 209): “Essa frase é magnífica! Maturidade é exatamente isso: é você não ser acriançado, é você se envolver de corpo e alma no que faz, é ter a seriedade da criança ao brincar. E o que acontece quando um adulto tem a mesma seriedade de uma criança ao brincar? Ele se torna criança. A atitude de uma criança – que também pode ser a atitude de um adulto – é uma atitude brincante, ela se encanta, se espanta com a vida. A criança vive em estado de encantamento. A nossa capacidade de brincar precisa ser reaprendida. Em vez de sair por aí como adultos “trabalhantes” – ou seja, pessoas ranzinzas, chatas, impacientes -, precisamos recuperar o estado brincante de ser, recuperar a nossa capacidade de rir, de nos maravilhar com a vida. É isso o que faz de você uma pessoa madura, sábia”. Avante!



Que fazer?


16 de outubro de 2018

O Pau-Brasil e a Borduna

Por Wagner Medeiros Junior
Resultado de imagem para indio e a borduna

No período entre a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, em abril de 1500, até a da expedição de Martim Afonso de Souza, ao final de janeiro de 1531, Portugal não demonstrou interesse em colonizar o Brasil. A primeira expedição exploradora, de 1501, sob o comando de Gaspar de Lemos (na companhia do mercador italiano Américo Vespúcio), não encontrara outra fonte de riquezas que não o pau-brasil. Daí que o rei D. Manuel I (1469-1521) tenha achado mais relevante explorar a nova rota das especiarias, mesmo a navegação sendo mais distante e mais perigosa pelo Cabo da Boa Esperança.
Então, a exploração do pau-brasil foi arrendada pela Coroa Portuguesa a um consórcio de comerciantes liderado por Fernão de Noronha, no momento em que a notícia da descoberta do Novo Continente já se espalhara por toda Europa, despertando a curiosidade e a cobiça de todos. Não demorou, portanto, para que entre 1503 e 1504 a França viesse a explorar o pau-brasil na costa brasileira. Tanto a França como a Inglaterra e os Países Baixos não aceitavam a divisão do Novo Mundo entre Portugal e Espanha, da forma como dispusera o Papa Alexandre VI (1431-1503) ao firmar o Tratado de Tordesilhas.
A exploração do pau-brasil pelos portugueses e franceses, e esporadicamente também pelos espanhóis, obteve a ajuda direta do índio. O principal atrativo para a aproximação foram as quinquilharias europeias, que de imediato despertavam neles verdadeiros fascínios.  Depois foram introduzidos objetos de ferro, como o machado, a tesoura, a faca e o anzol, que lhes reduzia acentuadamente o trabalho, principalmente na abertura de novas lavouras.
O pau-brasil extraído pelos franceses do litoral brasileiro era bastante lucrativo, uma vez que usado como corante pelas indústrias de tecido da Normandia. Com o excedente, os franceses faziam forte concorrência aos portugueses no mercado europeu.
Contudo, a principal aliança para fazer frente às necessidades de mão-de-obra e ao enfrentamento de tribos hostis se dava pela “oferta matrimonial”, como explica o sociólogo Jorge Caldeira, em seu livro “História da Riqueza do Brasil”, quando diz que “a aceitação de um estrangeiro se fazia, ... , por um ato muito simples: o casamento de aliança com uma filha do chefe. E esse ato, num grupo em que, pelos costumes, os homens vinham de fora e as mulheres eram educadas para receber em casa os homens de fora, era bem mais simples de ser arranjado quando envolvia indivíduos de plagas remotas”. 
Com este ato firmava-se um pacto entre os povos, que determinava uma forte relação de amizade que deveria estender-se aos tempos de guerra. E é justamente nas guerras em que eram capturados os inimigos que seriam subjugados como escravos ou submetidos à antropofagia, pela coragem demonstrada na lide. Em seus banquetes rituais de antropofagia os indígenas acreditavam que ingerindo a carne dos prisioneiros de guerra incorporavam toda coragem e força espiritual do vencido. Era justamente esse ritual o que mais temia e apavorava o europeu.
O ritual da antropofagia era uma prática comum utilizada pelos principais grupos tribais do Brasil, tanto no litoral como no interior. Deve-se ponderar que a organização social das tribos não se dissociava das guerras, haja vista que a própria estratificação social baseava-se fundamentalmente na capacidade de perseguir e matar o maior número de inimigos. Quanto mais valente o guerreiro mais consolidado ficava seu valor diante da tribo. Não por acaso, cabia ao guerreiro que capturava o prisioneiro o derradeiro forte golpe de borduna. 
Conforme relatam inúmeros cronistas da época, não foram poucos os viajantes que em suas viagens em busca do pau-brasil acabaram por sucumbir nos rituais da antropofagia. Todavia, as circunstâncias sempre foram determinantes, haja vista que o índio tanto podia manifestar os mais profundos gestos de admiração e amizade, como também hostilidade. Tudo dependia da maneira como tratados.


13 de outubro de 2018

Esperança & Porto Seguro: Riva Silveira

Esperança

Tantos desencontros
Tantos enganos
Tantos confrontos
Tanto sofrimento
Que a gente se esquece
Que vai surgir um momento
De paz na alma
De sentimento que acalma
Como do céu estrelado
Caindo no ar
Tão de repente
E a gente nem sente
Surge uma Estrela Cadente
Que nos faz acreditar
Que maravilhas também há
E que eu também  posso encontrar.


Fonte

Porto Seguro

Finalmente
Encontrei um lugar Pro meu barco ancorar
Depois de muitas ondas 
Em alto mar.
Estava cansado de enfrentar
Sozinho navegando 
Me perdi sonhando
Fui parar no oceano
Sem terra para repousar.
Na certeza que no caminho
O bem ia me alcançar 
Fiz loucuras
Me lancei sem pensar
Abracei sem frescuras 
Mirando o horizonte
Muito longe
Fui em frente
Sem pra dentro olhar.
Quando tão de repente
Vi tudo afundar
Sem saber como me salvar.
Mas não perdendo a esperança 
Reencontrei o meu pensar.
Sabia que podia de novo recomeçar 
O leme do barco comandar
E um porto seguro pro meu coração ancorar.



Em Junho de 2015, no CLIc-Rio - O jogo da amarelinha: Julio Cortázar

"Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar" 



Foto: Rose T

 Enfim leremos "O jogo da amarelinha" de Julio Cortázar, mas será no CLIc-Rio. 




 Amarelinha

Vejo sulcos na calçada...
Eles me fazem lembrar
a amarelinha da infância,
a casquinha de banana
caminhando à minha frente
e eu feito um saci branquinho
saltando em uma perna só.
Equilibrista, então era,
cheia de graça a pular,
e a gurizada gritando:
"Cuidado que vai pisar!"

Trago sulcos na minha alma...
Estes não pude evitar!
Pisei em todas as linhas
que encontrei ao caminhar.
Já não mais tinha equilíbrio
para delas me afastar,
e nem havia guris
gritando pra me alertar!

Beijos.

Elenir


12 de outubro de 2018

12 do Outubro: Dia da Criança


"Cuide da criança! Nela, se encontram as raízes do adulto."
Maria Montessori



Fonte


Nós, adultos, somos os guias que as fazem descobrir tudo de que são capazes. Cada criança tem seus tempos e suas próprias necessidades, trata-se apenas de ser respeitoso e intuitivo para que o desenvolvimento dela seja harmonioso e acima de tudo feliz.


8 de outubro de 2018

Livro: Um chapéu para viagem, de Zélia Gattai

Olá queridos!
Reproduzo o post do meu blog Mar de Variedade. 

Terminei com certo atraso o livro de setembro do Clube de Leitura Icaraí.
Sempre tive muita vontade de ler algo da Zélia, por ser fã do seu marido Jorge Amado. E agora me tornei fã dela também. 

Sinopse do site Saraiva: " Em 'Um Chapéu para Viagem', Zélia Gattai conta um pouco mais sobre sua vida, tendo como pontos de referência dois chapéus que possuiu: o primeiro chapéu marcou sua mudança de São Paulo para a antiga Capital Federal; o segundo, a ida para a Europa dos exilados. O final da Segunda Guerra Mundial, a queda da ditadura de Vargas, a anistia aos presos políticos, a redemocratização do país formam o cenário destes relatos da consagrada escritora, Imortal da Academia Brasileira de Letras."



A Zélia se consagrou como grande memorialista. 
Esse livro é um livro de memórias, onde ela conta desde quando conhecia o Jorge Amado de longe, e era grande admiradora dele, lia seus livros, até muito tempo depois, com a vida de casados. 
Certo dia, acabou indo trabalhar com ele. Jorge passou a admirá-la também e, em pouco tempo, a pediu em casamento, o que ela aceitou, claro.
 Não acho que Zélia vivia à margem de Jorge, pelo contrário, ele dava desafios a ela ( para incentivá-la a crescer), que Zélia não se julgava capaz, como entrevistar uma jornalista importante, da qual ficou amiga. A Zélia teve oportunidade de morar fora do país e aproveitou para fazer vários cursos (investiu nela). Ela pôde conhecer grandes escritores, dos quais era fã, e ficar amiga, por intermédio de Jorge. Acho que houve uma boa parceria entre eles.
Fiquei encantada com a força da Zélia. Ela permeava entre a cozinha, com os belos jantares, e os grandes negócios, como conseguir achar apartamento em Copacabana e conquistar o habite-se, cuidar do sítio, até enfrentar a ditadura, além de ter sabedoria para lidar com Lalu, serenidade para ajudar Jorge com os problemas políticos ( foi para a maternidade com sua ajudante sem avisar a Jorge para não atrapalhá-lo). Que mulher fantástica!
É um livro gostoso de se ler, onde podemos conhecer um pouco da intimidade do casal, dos  pais de Jorge, principalmente Lalu, a mãe, que era uma "figura", muito engraçada, e que adotou Zélia como filha, pois as duas se deram muito bem. 
Temos também um pouco da visão da ditadura pelo olhar de quem passou por isso. O Jorge teve que morar fora, exilado por alguns anos. 
Outro ponto interessante é a descrição de alguns lugares do Rio de Janeiro, que eram pontos de encontro de escritores e personalidades de nossa História.
Além disso, a Zélia dá indicações de bons livros. 
Enfim, um excelente livro!
Recomendo!

5 de outubro de 2018

Ele voltou no Clube de Leitura Jovem - O Apanhador no Campo de Centeio: J. D. Salinger

26/06/2014
Quinta feira
18:00h

Livraria Icaraí





  • Holden Caulfield fica imaginando uma porção de garotinhos brincando num campo de centeio que tem um precipício e só ele por perto pra tomar conta e não deixar as crianças caírem. Assim como Holden, tem alguma maluquice parecida que você gostaria de fazer?
  • A turma jovem está gostando de escolher livros em que o protagonista sofre um breakdown nervoso. A exemplo de "as vantagens de ser invisível", o protagonista acaba sendo internado numa clínica de assistência psicológica. No livro anterior, o trauma de Charlie parece ter sido um abuso sexual por parte da própria tia e no caso de Holden, em o apanhador no campo de centeio, o trauma pode ter vindo da morte prematura de seu irmão Allie com apenas 11 anos de idade. 
  • Se a garota pede pra você parar, como podemos saber se ela quer mesmo que a gente pare ou se ela está com medo das consequências e que, no fundo, o que ela quer é apenas que fique claro que a responsabilidade do que acontecer é toda nossa? 
  • O eixo da história de Holden se forma através dos personagens Allie, Phoebe e as crianças do campo de centeio. Ele não pôde fazer nada por Allie, mas ele não abandonará Phoebe e não quer que nenhum mal aconteça às crianças que brincam no campo de centeio. 



O Apanhador no Campo de Centeio (releitura), de Jerome David Salinger. A reunião ocorreu no dia 06/08/2010.

Que leitura boa o Apanhador no Campo de Centeio! É de um humor juvenil revigorante. Como são belos os jovens revoltados! Uma viagem no tempo... Ah, se eu tivesse lido este livro aos 16 anos! Em vez de “le concierge”, hoje eu seria “le syndic” do Clube de Leitura! 

Na Sexta do Apanhador houve ótimas surpresas, mostrando como o vigor desse livro o mantém atual até os dias de hoje. Ou seja, a obra de Salinger é, definitivamente, um clássico. Mas o vocabulário da tradução, como bem observou o exegeta do clube, é datado. Foi feito um apanhado de todas as gírias usadas no livro e se nota claramente a influência das gírias nacionais na tradução da obra. 
 
O livro mostra que o fenômeno do bullying não é um fenômeno recente nas escolas. Ora, pois, se não for bullying o que a gang de Phil Stabile faz com James Castle no capítulo 22, levando-o a se lançar da janela para a morte. Eu também testemunhei bullying desde que entrei no jardim de infância, lá nos idos de 60! Tinha sempre um valentão na sala que tentava impor sua “lei”. 
 
Meu Deus, que temeridade esses jovens feito folha seca ao vento! Ainda bem que eles têm em si uma força e uma convicção originais que nos escapam a compreensão e que contamos que lhes sejam útil em última instância. Que façam bom uso dela, é o que podemos torcer, e orientar quando possível. A gente tem que confiar um pouco na educação que lhes demos. 
 
What's the size of your mind?” Esqueci de perguntar aos presente como isso foi traduzido, mas é uma questão interessante que é levantado n'O Apanhador ... Cada um dá a sua resposta, mas só de pensar sobre o assunto nos ajuda a nos conhecer melhor. 

Divulgação da EdUFF para a reunião de agosto.
Pelo visto na reunião, teve gente que sabia para onde vão os patos (selvagens) no inverno. Isso para não falar nas referências metonímicas.  

Mr. Antolini, era gay, pedófilo ou agiu paternalmente com Hölden? Seus conselhos me pareceram bons. A gente nunca sabe com certeza o que vai acontecer até que aconteça! Esse tema taboo foi tratado com reserva nas discussões.

Até breve, folks.