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23 de maio de 2015

Maria Teresinha recomenda - O reencontro: Carlos Rosa Moreira



Carlos Rosa Moreira

No restaurante da sobreloja do shopping, o movimento não era grande. Apenas algumas mesas estavam ocupadas naquele canto do corredor. Por isto, foi o ponto escolhido para o reencontro.

‒ Nós não devíamos estar aqui ‒ disse ela.

‒ Por que não? O que tem se nos virem? Somos dois amigos que se encontraram casualmente na hora do almoço.

‒ Muita gente nos conhece, e ele morre de ciúme de você.

‒ E eu tenho muito mais do que ciúmes; tenho uma saudade infinita de nós dois.

‒ Se fosse verdade, teria ficado comigo.

‒ Já conversamos tantas vezes sobre isso...

‒ É, você não quis deixar sua família, prefere “ser infeliz dentro de casa”. Sabe de uma coisa? Você não é infeliz, muito pelo contrário, gosta da vida que tem.

‒ Eu não quis arriscar a paz e a felicidade dos meus filhos. Você é que não teve paciência para esperar.

‒ Esperar... Até seus filhos ficarem independentes? Acha que nasci pra amante?

‒ Nunca pensei em fazer de você minha amante. Eu me envolvi seriamente. Mas nós só provávamos o lado adocicado da vida; eram passeios, jantares, tardes maravilhosas e a cama desprovida de amarguras, cobranças e preocupações. Não sabemos como poderia ser o dia a dia: você nunca me viu acordar e eu não conheço suas manias.

‒ Quem ama não pensa nisso.

‒ Olhe, não foi por isso que a chamei, já discutimos tanto sobre esse assunto... 

Eu quero dar uma coisa a você.

‒ É? Finalmente.

‒ Você me ajudou muito. Naquela época de horror, se não fosse você, não sei o que teria acontecido.

‒ Fui uma boa amante, não?

‒ Não, foi minha amiga, meu amor. Não consegue entender, não é?

‒ Claro que não. Se eu era o seu amor, como pôde ficar com ela?

‒ É a minha família! Não entende?

‒ Não!

‒ Não adianta essa conversa. Você me ajudou, conseguiu aquele emprego com seu pai quando eu já tinha perdido tudo, foi o que me salvou.

‒ Não poderia imaginar que estava ajudando sua mulher... Ela deveria me agradecer, sabia?

‒ Isso não interessa, o que interessa é que eu ganhei as ações na justiça e recuperei tudo. Foi por isto que a chamei. Lembra-se de quando recebi o primeiro ordenado no emprego com seu pai? Você disse: Quero um presente! Pois aqui está.

Ele escorregou a mão fechada sobre a toalha da mesa e colocou algo na mão dela.

‒ O que é isso, um cheque? É um cheque! Dez mil reais! Você está me dando essa grana?

‒ Estou. E se pudesse daria mais, você merece tudo.

‒ Não sei o que dizer... estou boba ‒ disse ela enquanto admirava o cheque esticado entre os dedos.

‒ Compre um carro, viaje, mesmo com aquele chato, ficarei feliz por você.

‒ Meu Deus...

‒ Morro de saudade de você...

Ele entrelaçou seus dedos aos dela. Ela olhou as mãos unidas e acariciou, com o polegar, o dorso da mão dele.

‒ Eu também sinto...

‒ Vamos ficar juntos, uma vez que seja, agora!

‒ Não, eu não posso fazer isso. Faz dois anos que estou casada, e você tem a sua mulherzinha.

‒ Nada tem a ver com eles. Antes do seu marido nós já existíamos, e quando você o namorava ainda estávamos juntos. Temos nossa relação no tempo, é uma coisa que pertence a nós!

‒ Vocês homens são engraçados... Para mim isso se chama traição!

Ela se desvencilhou da mão dele.

‒ Eu estava casado e fiquei com você, por que agora não fica comigo? Isso se chama falta de amor!

‒ Gostaria que sua mulher o traísse?

‒ Lembra-se dos nossos momentos, nossas brincadeiras? Era tão bom... Lembra quando te paguei?

Ele sorriu, esticou o braço e pegou a mão dela. Ela também sorriu, olhando-o carinhosamente de baixo para cima.

‒ Lembro... até isso eu fiz.

‒ Estava linda naquele vestido vermelho: as unhas pintadas, o batom carmim...

‒ Parecia uma puta.

‒ E era. Era a minha puta.

Ela sorria parecendo envergonhada, desenhava na toalha com a unha.

‒ O que a gente não faz... Cento e cinquenta reais pra ser puta...

Ele não respondeu, perdeu-se na face dela. Deixou-se transportar para o quarto de motel, sempre o mesmo nos seus encontros. Ela estava deitada de bruços completamente nua. As três notas de cinquenta dobradinhas sobre a mesinha. Beijou-a dos dedos dos pés aos cabelos. Percorreu com a ponta da língua as pétalas úmidas, desabrochadas, tocando-a no ponto mais sensível para que explodisse num gozo louco. Ele se viu em riste, admirando as pernas longas afastadas, deixando entrever os pêlos castanho-claros. Ela esticou os braços para trás e, com as pontas dos dedos, abriu as nádegas alvas e arredondadas oferecendo-lhe o que tanto desejava. O contraste das unhas longas, vermelhas, com a brancura da pele, as carnes íntimas, tão róseas, o oferecimento...

‒ Daria qualquer coisa para ter de novo aquele instante. Vamos ficar juntos agora, por que não? Eu sei que você quer...

Ela abaixou os olhos e movimentou negativamente a cabeça.

‒ Eu pago qualquer coisa. Por favor, mostre que é verdade quando dizia que me amava, eu preciso ter certeza!

‒ Paga?

‒ Pago. Pago dez mil!

‒ Mais dez?

‒ Isso. Eu amo você de verdade, quero vê-la feliz, nunca vou deixar de amá-la.

Ela olhou para ele, depois se virou e olhou à volta, puxou os cabelos loiros para trás com as duas mãos, prendendo-os com um estilete de madeira trabalhada. Apertou a mão dele que jazia sobre a mesa.

‒ Vamos, disse ela.



Conheça mais sobre a leitora CLIc Maria Teresinha que indicou este Conto de Carlos Rosa


Clube Jovem - A letra escarlate: Nathaniel Hawthorne



Participantes do Clube Jovem, fora a letra A

A humanidade tem uma propensão de denunciar o pior de si mesma quando esse pior está personificado em outra pessoa. 


Considerado um dos maiores romances da literatura norte-americana, A letra escarlate, de Nathaniel Hawthorne, é o tema do debate da edição de maio do Clube de Leitura Jovem. O evento acontece na quinta-feira, dia 21, a partir das 18h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói). A entrada é gratuita.
Lançada em 1850, a obra explora questões como o preconceito, a intolerância e o moralismo. A história se passa em Boston, no século XVII, em uma comunidade puritana e tem como foco a narrativa de Hester Prynne. Enquanto seu marido estava desaparecido, Hester engravida e tem uma filha ilegítima, Pearl. Pelo relacionamento extraconjugal, ela é julgada e condenada por todos na cidade, que passam a desprezá-la. Como forma de marcá-la por sua traição, ela é obrigada a usar sempre a letra A, bordada em escarlate em suas roupas, para que todos a identifiquem como adúltera.
Apesar de ser questionada diversas vezes sobre o pai da criança, Hester não revela quem é o homem com o qual teve um relacionamento. Após o julgamento, seu marido reaparece na cidade e assume uma nova identidade, como Roger Chillingworth, para não ser associado ao adultério da esposa. No entanto, Roger não perdoa a traição de Hester, e busca descobrir quem é seu ex-amante e se vingar dele.


Que direito tem um fraco de se sobrecarregar com um crime? O crime é para os que possuem nervos de aço, para os que podem escolher entre suportar-lhe as consequências ou, se elas lhe pesam demasiado, devotar energias rígidas e bravias a um bom propósito, enxotando assim o remorso.





A indizível desventura numa vida falsa como a sua é que ela rouba a seiva e a substância das realidades que nos cercam, e o Céu destinou à alegria e à nutrição do espírito. Para o homem insincero, todo o universo é abstrato - é impalpável -, míngua-lhe nas mãos até desaparecer. E ele próprio - à medida que se mostra por esse prisma mentiroso - torna-se sombra, ou mesmo, deixa de existir. Os únicos elementos que continuavam lhe proporcionando uma existência real neste mundo eram a angústia do mais fundo da sua alma e o seu indisfarçável reflexo no organismo físico. 


Num campo severo
imenso
negro e triste
gravada a vermelho
a letra A subsiste!





O ambiente não deixava de refletir o respeito que sempre envolve o espetáculo da culpa e da degradação de um semelhante, enquanto a sociedade não estiver bastante corrupta para sorrir em vez de tremer diante dele. 






“Sem dúvida, alguns desses austeros e carrancudos puritanos devem ter pensado que seria mais que suficiente castigo de seus pecados que, com o rodar dos anos, o velho tronco da árvore familiar, coberto de respeitável camada de musgo, houvesse de produzir, na extremidade do seu ramo mais elevado, um preguiçoso como eu. Nenhuma das aspirações, que eu tenha acariciado, eles a teriam reconhecidas como digna de louvor. Nenhum êxito da minha existência - se, além do campo doméstico, ela algum dia brilhou num sucesso - seria por eles considerados senão como desprezível ou mesmo positivamente vergonhoso. 'Quem é ele?' - murmura uma sombra cinzenta de antepassado para a outra. 'Um escritor de novelas! Que espécie de ocupação na vida, que maneira será essa de glorificar Deus, ou de ser útil à humanidade dos seus dias e de sua geração?'"





RECOMENDAÇÃO PEDAGÓGICA

"Os brinquedos devem ser proibidos em todas as suas modalidades. As crianças devem ser doutrinadas neste assunto de tal maneira que se lhes mostre o que todos os divertimentos representam como perda de tempo e futilidade. Devem ser levadas a ver que os brinquedos distrairão de Deus os seus corações e as suas almas e não farão mais do que prejudicar a sua vida espiritual".






Nas ruas relvadas ou nas portas das casas, encontrava as crianças da colônia brincando dos brinquedos soturnos que o puritanismo permitia: ir à igreja, flagelar quacres, escalpar índios em combates simulados, ou apavorarem-se mutuamente imitando esgares de feitiçaria. 




Na rígida comunidade puritana de Boston do século XVII, a jovem Hester Prynne tem uma relação adúltera que termina com o nascimento de uma criança ilegítima. Desonrada e renegada publicamente, ela é obrigada a levar sempre a letra “A” de adúltera bordada em seu peito. Hester, primeira autêntica heroína da literatura norte-americana, se vale de sua força interior e de sua convicção de espírito para criar a filha sozinha, lidar com a volta do marido e proteger o segredo acerca da identidade de seu amante.




Aclamado desde seu lançamento como um clássico, A letra escarlate é um retrato dramático e comovente da submissão e da resistência às normas sociais, da paixão e da fragilidade humanas, e uma das obras-primas da literatura mundial.








Uma característica — que, acredito, pode-se observar mais ou menos em todo indivíduo num cargo público — é que, valendo-se do poderoso braço da República, torna-se desprovido de vigor  próprio. Perde, proporcionalmente à fraqueza ou à força que tivesse por natureza, a capacidade de se autossustentar. Se possui uma quantidade incomum de energia inata ou se a enervante magia da posição que ocupa não consegue encantá-lo por muito tempo, talvez recupere o poder que lhe foi   confiscado. O funcionário demitido — um privilegiado, mesmo que vítima do grosseiro empurrão que o atira cedo às batalhas de um mundo hostil — pode chegar a retornar a si e se tornar aquilo que nunca foi. Mas isso raramente ocorre. Geralmente, o sujeito finca pé o maior tempo possível até a própria ruína, e então é descartado, completamente sem estrutura, e sai cambaleante pelos difíceis caminhos da vida, fazendo o melhor que pode. Consciente da própria enfermidade — de que perdeu a têmpera de aço e a capacidade de adaptação —, dali em diante e para sempre, ele passa a olhar melancolicamente à sua volta em busca de ajuda externa. Sua esperança difusa e persistente — uma alucinação que, em face de todo o desânimo e da revelação de algumas claras impossibilidades, vai assombrá-lo enquanto viver e, imagino, como a agonia convulsiva da cólera, atormentá-lo até mesmo por um breve período depois da morte — é a de que, finalmente e sem muita demora, por alguma feliz conjunção de circunstâncias, possa ser reabilitado em sua função. Essa crença, mais do que qualquer outra coisa, é o que lhe rouba a energia e a disposição para qualquer empreendimento que talvez sonhasse em levar a cabo. Por que deveria trabalhar duro e mourejar, e dar-se a tamanho incômodo para se levantar da lama, se, não demoraria muito, o braço forte de seu Tio viria erguê-lo e ampará-lo outra vez? Por que tentaria ganhar a vida aqui ou achar ouro na Califórnia quando logo voltaria a ser feliz todo final de mês, com uma pequena pilha de moedas reluzentes saídas do bolso daquele mesmo Tio? É tristemente curioso observar como apenas um gostinho da repartição já chega para contaminar um pobre sujeito com essa singular doença. O ouro do Tio Sam — com todo respeito a esse valoroso senhor — tem, nesse aspecto, a capacidade de encantamento de um pacto com o Diabo. Quem quer que toque nessa riqueza deve ter cuidado ou pode acabar sendo engolido pela barganha, o que custará, senão sua alma, ao menos muitos de seus melhores atributos; sua tenacidade, sua coragem e sua obstinação, sua verdade, sua autoconfiança e tudo o mais que conforma o caráter de um autêntico homem.

Fonte

15 de maio de 2015

A emoção se foi: B(ye). B(ye). King





Hoje, somente  agora, me dou conta
de que eu vivia cifras.
Buscava cifras, Estudava cifras.
Calculava cifras. Cobrava cifras.
Minha mente era, apenas, cifras.
O tempo me escravizava..

Hoje, eu vou morrendo...
Ou melhor, estou vivendo flores.
Eu vejo flores, eu sinto flores,
eu faço flores, eu canto as flores.
Meu coração é todo flores.
O verso me libertou...

Elenir




“Amanhã eu farei...

Amanhã eu terei...

Amanhã eu serei...

Por quê esperar amanhã para viver?

Um dia não haverá mais amanhã para você, e você não terá vivido...”



(Michel Quoist)





"Assim como os picos cobertos de neves são bonitos,
os cabelos brancos da velhice também tem sua beleza.  
Não apenas beleza, mas sabedoria também,
de que nenhum jovem pode se vangloriar”.  

Osho


"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,  
nem estes olhos tão vazios,  
nem o lábio amargo.  
Eu não tinha estas mãos sem força,  
tão paradas e frias e mortas;  
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,  
tão simples, tão certa, tão fácil:  
em que espelho ficou perdida a minha face?” 



(Cecília Meireles)



Follow you, follow me: Genesis


“Só na velhice a mesa fica repleta de ausências.  
Chego ao fim,  
uma corda que aprende seu limite
após arrebentar-se em música.  
Creio na cerração das manhãs.  
Conforto- me em ser apenas homem.  
Envelheci,
tenho muita infância pela frente”. 

Fabrício Carpinejar





"A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ”na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face." 

(Leonardo Boff)


5 de maio de 2015

Minicontos da Zezé Pedroza


Zezé Pedroza


“Sem sede e com a boca ainda umedecida. A beira da cama sua mãe olhava, ainda com o algodão molhado e ele... acordando do coma.”  -  A volta

“ A folia acabou, é quarta-feira. E ainda embriagados pelas juras de amor a dois, este ano retiram as máscaras. É o fim do casamento.”  -  A traição

“ Como um papel prensado, o filho se acabou sob o trator que ele guiava. Então voltou bendizendo e beijando as terras brasileiras."  -  A maldição

 “ Próximas ao ninho, formigas foram intoxicadas com grande carregamento de asas de barata pela parede.”  -  Crime na cozinha

“ É a polícia abram, gritavam lá do portão. Revistaram a casa inteira. Eles se foram e a mãe o tirou do cesto de roupas.”  -  O filho da mãe

“ Miavam com fome os filhotes sem a mãe. Um pires de leite então eu os ofereci, e ao chegar um por um, ela levou para a caixa de novo!”  -  A gata

“ Na volta para casa, escutou -Reespeitável público! Aquela frase era tão familiar! Um sofrimento que o faz chorar. Desmaiou.” Zezé Pedroza  -  O espetáculo

“Já fora de casa com destino incerto, pode avaliar o tormento que fez por merecer, e na mochila levava, culpas e meu coração.”  -  A adolescente

“Fila enorme para assistir o clássico no maracanã e na hora de passar na roleta, perdeu o ingresso. E agora?”  -  A decisão

“Faz-se de boba com perguntas tolas, e até de burra por fingir não entender e no fundo do coração, a humildade para ganhar um pão.”  -  A vida

“Sem rumo ela corria, lamentando o que a vida lhe deu. E deparou com um sorriso e um tudo bem? Um rapaz lindo, cadeirante. Ela voltou.”  - A lição

“Quando o carteiro chamou seu nome, ela tremeu as pernas, corou as faces e perdeu a fala, a bicicleta esta ali. Com papai Noel!”  -  O presente

“E ao chegar lá no fundo, algo me jogou à superfície. Era meu orgulho ferido. Estaca zero.”  -  O poço

“Depois de quatro anos; com chouriço, vinho do porto e o galinho do tempo, que viu tudo calado. Eu tão mulata e tuas faces rubras.”  -  A chegada

“Ali atrás da mesa escondido, e psiu! Cuidado Eles estão chegando. E ali ficou horas, sem saber que o inimigo era a droga. Que droga!”  -  Di macaco

“Se abraçaram para despistar a polícia. No caminho um corpo estirado. - Você não precisa mais disso. Disse ele roubando a droga.”  -  Tiroteio

“Iguaria servida em bandeja, em plena festa toca o celular. Ela ameaçada, ouve: - não vai atender, vai? Ela diz: - não, claro que não.”  -  A festa

“Dois meses de enrolação, o cobrador então levou a cama. Deixou-a na calçada e foi buscar o carro. E não achou mais... roubaram.”  -  O cobrador

“ Evinha fazia uma bala de coco, que desmanchava na boca. Lembrança de minha infância querida, que jamais foi esquecida.”  -  Que delícia!

“No palanque, ele estava cinza e não resistiu. O fedor e a marca na calça branca. E a oposição. Ado, ado, ado, ele está!”  -  A cólica

“Depois do divórcio eram amigos, melhor cirurgião plástico para ela. Depois da cirurgia, era outra. Vingança? Álibi perfeito.”  -  A estética

“No ônibus ela esqueceu a bolsa cheia, mas nem por um momento a outra pensou em chamá-la. Em casa logo abriu. Eram fraldas sujas.”  -  A sorte é sua

“A ordem veio de cima. Em seguida depois de assinar a rescisão, o mensageiro foi algemado e detido. Era briga de cachorro grande.”  -  Justa causa

O pinguço

“Estava tão bêbado que cobriu a mesa com a própria camisa, vestiu a camisinha na boca da garrafa e tentou encher de novo o copo.”  

“Romeu colocou a mão esquerda na abertura da porta, e babando de dor e aos berros, com a outra mão empurrava para fechar.”  

"Parou de beber, antes que fosse tarde demais, só amanhã; hoje só de canudinho. No outro dia. - dá uma aí... passe a régua por favor.”  



“Hoje é dia de movimento na birosca e Romeu passou pra pagar a sociedade, a carteirinha dá direito a beber quando não tem grana.”

“ Programando festa de cinco anos da neta, levantou o dedo e disse: - o bolo é comigo. Bebeu todas. E chegou com o bolo amassado.” 

“Romeu acordou e estava sozinho. - Vamos beber o morto, que o corpo sumiu! Com a língua meio enrolada: - Deve ter ido tomar umazinha.” 

“Caído na rua, amigo lambe a sua boca para despertar e como cão de guarda não deixa ninguém o tocar. E os dois voltam para casa.

“Romeu entra no carro e triste chora. Pobre amigo, corre atrás como quem grita: - Espera! Eu também vou. Que pena, lá não aceita cães.

“Romeu recuperado esqueceu o saco de ouro que nunca existiu. E amigo, mata a saudade do dono, com festa. - Você voltou!!! Estou aqui.” 

“Para sempre cachaceiro, Romeu brinda com café, indica AAA, testemunha, dá palestra. A família perdoou, a consequência, ficou.”  



Zezé Pedroza nasceu em Niterói, é professora e contabilista. Participou da antologia IV “O Perfume da Palavra” pela Editora Muiraquitã. Faz palestras como incentivo à leitura. Brevemente publicará a história, “O incêndio no circo” a que sobreviveu ainda criança. Gosta de contos, minicontos e romances. 



3 de maio de 2015

Sociabilidade afetiva - Paulo Baía






Paulo Baía 
sociólogo e cientista político

A questão é que as pessoas dizem um “eu te amo” genérico e um “sou seu amigo” difuso, esquecem do “bom dia”, de uma mensagem de “boa noite”, de um “estou com saudade”. Esquecem de perguntar se você está bem, pois se preocupam. Esquecem do abraço descontraído e sem pretexto, do presente fora de uma época especial, de enviar flores porque querem enviar uma delicadeza, um mimo. Esquecem de dar atenção aos detalhes, e isso faz com que esse “eu te amo” e o “sou seu amigo” percam o valor, o significado. Porque o amor e amizade não se alimentam de palavras desidratadas de conteúdo, mas de gentis atitudes e gestos cotidianos e contínuos. De “habitus” cordiais.