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26 de março de 2022

Madeleines de Vânia

https://youtu.be/UyQvSG0FGqQ 


Elenir, chorando de emoção! 
Você não sabe o quanto procurava essa canção! 
Meu pai assobiava e cantarolava essa música.  Eu não sabia o nome dela e nem quem cantava .
🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰😍😍😍😍😍


Pelas manhãs vinha sempre papai cantando pra mamãe a valsa de Carlos Galhardo, " Linda Borbeta". 
Essa canção aderiu por longos anos meu coração e me deixou condensada numa saudade sofrida. A saudade fazia sombra sobre o dia e ali eu ficava agarradinha com meus pais. Assim, os tornava vivo e não me percebia sem vivacidade, parada no tempo sem condições de apreciar a beleza do raiar de cada dia. 
Viver de passado é um estado mortífero. Sem saber estava doente, melancólica. Vivia num tempo que não volta jamais, senão nas lembranças.  
Hoje, posso escrever,  tornar o meu sentimento vivo, ouvir o meu pai  assobiar para minha mãe cantando a
"Linda Borboleta" e ainda acolher intensamente a dádiva do presente e ser feliz! 
Que o luto não se demore para se transformar numa saudade leve.
Vida que segue!
Vamos aproveitar o dia! 
🥰🥰🥰🥰🥰



19 de março de 2022

O deserto dos Tártaros: Dinno Buzzati










Mortos estamos todos e sempre estivemos.

Na vida, cada um tem que aceitar o papel que lhe é destinado.




Depois, o areal extenso
Depois, o oceano de pó
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...

(Navio Negreiro - Castro Alves)

ISMAEL MONTICELLI


   Mesmo que tivessem tocado os clarins, que fossem ouvidas as canções  de guerra, que do norte chegassem mensagens inquietantes, se fosse somente  por isso, Drogo teria igualmente ido embora; mas já havia nele o torpor dos hábitos, a vaidade militar, o amor doméstico pelos muros cotidianos. Quatro meses haviam bastado para amalgamá-lo ao monótono ritmo do serviço. 

    Tornara-se hábito para ele...


Finalmente Drogo entendeu, e um lento arrepio percorreu-lhe a espinha. Era a água, era uma longínqua cascata rumorejante, a pique nos despenhadeiros próximos. O vento que fazia oscilar o longo jorro, o misterioso jogo dos ecos, o diferente som das pedras em percussão, formavam uma voz humana, que falava, falava: palavras de nossa vida, que se estava sempre prestes a entender, mas que na verdade nunca se entendia.   





"Mas alguma coisa no fim da linha vem. Ela nos espera e, finalmente, para todos nós, chega o dia, a hora, o momento do acontecimento extraordinário. Não era exatamente o que estivemos ansiando, e só nos resta aceitá-lo com dignidade e estoicismo, como um soldado. Será que a última chance de uma vida equivocada é uma morte digna? Será o que resta? A única saída?"







O tempo entretanto corria, sua batida silenciosa marcando cada vez mais precipitadamente a vida, não se pode parar um segundo sequer, nem mesmo para olhar para trás. "Pare, pare!" se desejaria gritar, mas vê-se que é inútil. Tudo se esvai, os homens, as estações, as nuvens; e não adianta agarrar-se às pedras, resistir no topo de algum escolho, os dedos cansados se abrem, os braços se afrouxam inertes, acaba-se sendo arrastado pelo rio, que parece lento, mas não para nunca 



“Estirado na cama, fora da zona iluminada pelo lampião de querosene, enquanto devaneava sobre a própria vida, Giovanni Drogo foi repentinamente invadido pelo sono. Entretanto, justamente aquela noite — oh, se o soubesse, talvez não tivesse vontade de dormir —, justamente aquela noite iria começar para ele a irreparável fuga do tempo.
Até então ele passara pela despreocupada idade da primeira juventude, uma estrada que na meninice parece infinita, onde os anos escoam lentos e com passo leve, tanto que ninguém nota a sua passagem. Caminha-se placidamente, olhando com curiosidade ao redor, não há necessidade de se apressar, ninguém empurra por trás e ninguém espera, também os companheiros procedem sem preocupações, de-tendo-se frequentemente para brincar.
Das casas, a porta, a gente grande cumprimenta-se benigna e aponta para o horizonte com sorrisos de cumplicidade; assim o coração começa a bater por heroicos e suaves desejos, saboreia-se a véspera das coisas maravilhosas que aguardam mais adiante; ainda não se veem, não, mas é certo, absolutamente certo, que um dia chegaremos a elas.
Falta muito? Não, basta atravessar aquele rio lá longe, no fundo, ultrapassar aquelas verdes colinas. Ou já não se chegou, por acaso? Não são talvez estas árvores, estes prados, esta casa branca o que procurávamos? Por alguns instantes tem-se a impressão que sim, e quer-se parar ali. Depois ouve-se dizer que o melhor está mais adiante, e retomasse despreocupadamente a estrada. Assim, continua-se o caminho numa espera confiante, e os dias são longos e tranquilos, o sol brilha alto no céu e parece não ter mais vontade de desaparecer no poente.
Mas a uma certa altura, quase instintivamente, vira-se para trás e vê-se que uma porta foi trancada às nossas costas, fechando o caminho de volta. Então sente-se que alguma coisa mudou, o sol não parece mais imóvel, desloca-se rápido, infelizmente, não dá tempo de olhá-lo, pois já se precipita nos confins do horizonte, percebe-se que as nuvens não estão mais estagnadas nos golfos azuis do céu, fogem, amontoando-se umas sobre as outras, tamanha é sua afoiteza; compreende-se que o tempo passa e que a estrada, um dia, deverá inevitavelmente acabar.
A um certo momento batem às nossas costas um pesado portão, fecham-no a uma velocidade fulminante, e não há tempo de voltar. Mas Giovanni Drogo, naquele momento, dormia, inocente, e sorria no sono, como fazem as crianças.
Passarão alguns dias antes que Drogo entenda o que aconteceu. Será então como um despertar. Olhará à sua volta, incrédulo; depois ouvirá um barulho de passos vindo de trás, verá as pessoas, despertadas antes dele, que correm afoitas e o ultrapassam para chegar primeiro.
Ouvirá a batida do tempo escandir avidamente a vida. Nas janelas não mais aparecerão figuras risonhas, mas rostos imóveis e indiferentes. E se perguntar quanto falta do caminho, ainda lhe apontarão o horizonte, mas sem nenhuma bondade ou alegria. Entretanto, os companheiros se perderão de vista, um porque ficou para trás, esgotado, outro porque desapareceu antes e já não passa de um minúsculo ponto no horizonte.
Além daquele rio — dirão as pessoas —, mais dez quilômetros, e terá chegado. Ao contrário, não termina nunca, os dias se tornam cada vez mais curtos, os companheiros de viagem, mais raros, nas janelas estão apáticas figuras pálidas que balançam a cabeça.” 



Não é sobre a vida militar que fala o livro, mas sobre a vida de todos nós.

Fala da vida como uma aposta na imobilidade.  Se não fizermos nada além de aceitar as coisas como são, um dia algo virá para redimir nosso pobre cotidiano, algo notável e brilhante que a vida nos reserva mais para frente.


Embora escrito quase setenta anos atrás, o livro parece endereçar-se diretamente ao século XXI e nos atinge profundamente. Ou não é exatamente isso que diz a publicidade, a televisão, enfim, o pensamento médio reinante: seja disciplinado e trabalhador. Não mude sua vida. Trabalhe infatigavelmente que um dia algo maravilhoso vai lhe acontecer. Algo glorioso, que vai justificar sua existência, não uma batalha, claro, mas talvez uma linda mulher inatingível, uma esperada promoção, uma casa cercada de árvores, ou muito dinheiro. Só que isso sempre virá mais adiante. Cada vez mais adiante. Até que um dia nos damos conta que fizemos a aposta errada.

Os tártaros não vieram. 



"Era um trabalho monótono e aborrecido e os meses passavam, e passavam os anos e eu me perguntava se seria sempre assim, se as esperanças, os sonhos, inevitáveis quando se é jovem, iriam se atropelar pouco a pouco, se a grande ocasião viria ou não."



Viver a vida não possui outra finalidade senão deixá-la escorrer e a morte é a única justificativa. 




Aqui ou onde quer que seja, 
estamos todos em algum lugar por engano. 


A vida como exercício de espera jamais satisfeita, a morte como única resposta aos amores impossíveis, às amizades traídas e às esperanças frustradas. 


18 de março de 2022

O deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati - livro e filme

Olá queridos!
Segue o post que fiz no meu blog Mar de Variedade
Esse foi o livro do mês do Clube de Leitura Icaraí. A discussão foi nessa quinta, dia 22.
Eu gostei do livro, que é muito bem escrito.

Sinopse da Livraria cultura: "Ao alcançar o posto de tenente, o jovem Giovanni Drogo é designado para o Forte Bastiani, o que crê ser a primeira etapa de uma carreira gloriosa. A má impressão que tem ao chegar ao isolado forte o abala. A espera pelo inimigo, que justifica a permanência do comando militar na região, transforma-se na espera por uma razão de viver, na renúncia da juventude e na mistura de fantasia e realidade. Militares apáticos veem aos poucos seus sonhos serem minados numa rotina angustiante e alimentam a ilusão ou o temor de que um dia a batalha de suas vidas aconteça, quando os inimigos finalmente surgirem do deserto."


Como falei anteriormente, é um livro muito bem escrito, que narra a trajetória de Giovanni Drogo e sua carreira militar. 
Ao ser designado para o Forte Bastiani, Drogo fica feliz, acreditando que irá para um lugar de destaque e que participará de batalhas importantes.
Lá chegando, descobre o quanto aquele lugar é deserto e sem qualquer perspectiva de batalhas futuras.
Ele, então, tenta sair do Forte e é aconselhado a ficar por quatro meses. Posteriormente, resolve ficar por um tempo, mas descobre o quanto é  difícil conseguir a remoção para a cidade. 

"Drogo decidiu permanecer, retido por um desejo, mas não apenas por isso: o pensamento heroico talvez não fosse suficiente para tanto. Por ora ele acredita ter feito algo nobre, e de boa-fé se orgulha disso, descobrindo-se melhor do que supunha. Só muitos meses mais tarde, olhando para trás, reconhecerá as míseras coisas que o ligam ao forte." (p. 56)

Volta à cidade para visitar a mãe, os irmãos e uma amiga, de quem gostava, mas descobre que mudou como pessoa, assim como aqueles com quem convivia. Não vou contar mais do que isso, para não dar spoiler. Várias pessoas no clube comentaram o quanto foi impactante esta parte, já que o próprio Drogo havia mudado e não conseguia ter o mesmo sentimento pelas pessoas de antes. 
O livro consegue captar bem o estilo de vida no forte: um lugar deserto, sem vida, sem emoção. E mostra que as pessoas que ali vivem acabam incorporando as características daquele lugar. Elas veem o tempo passar à espera de que algo surpreendente aconteça para justificar aquela vida monótona.
Um colega do clube falou das metáforas que são utilizadas para falar da vida cotidiana em geral. 
É um livro um pouco melancólico e que nos faz refletir.
Boa leitura!

O filme (comprei da coleção da Folha de São Paulo), dirigido por Valerio Zurlini, é menos detalhado, mas também consegue passar um pouco dessa mudança de comportamento dos militares que vivem ali no Forte e dessa espera sem fim.



Nesse filme da Folha contém um catálogo com algumas explicações sobre a obra de Dino Buzzati: "Em uma entrevista, Buzzati afirmou ter-se inspirado 'na monotonia do trabalho que exercia na redação do 'Corriere' para escrever o romance'. (...)"
Portanto, pela inspiração do autor, podemos entender um pouco mais de sua obra. 


Boa sessão!

15 de março de 2022

Foco no Deserto dos Tártaros







A necessidade humana de dar sentido à vida e o desejo de imortalidade através da glória são o tema, sobre o qual circulam as alegorias desta obra. O enredo se desenrola sobre a narração da espera feita ao longo da vida do personagem Drogo, um militar de carreira, que vive se preparando para uma grande guerra na qual ele acredita que sua vida e existência serão postas à prova.

LEIA A POSTAGEM COMPLETA NO LINK:


13 de março de 2022

A evolução da leitura humana

Um livro puxa o outro - roteiros de leituras baseado em artigo de Bruno Meier publicado na revista Veja em 18 de Maio de 2011


Um porto seguro: Nicholas Sparks
Jane Eyre: Charlote Brontë
Por quem os sinos dobram: Hemingway
Romeu e Julieta: ShakespearePerto do coração selvagem: Clarice Lispector
História do cerco de Lisboa: SaramagoMemórias de Adriano: Marguerite Yourcenar
Orgulho e preconceito: Jane Austen
Dom Casmurro: Machado de AssisA consciência de Zeno: Italo Svevo
Tess: Thomas HardyRei Lear: Shakespeare
A boa terra: Pearl Buck
Os sofrimentos do jovem Werther: Goethe
Bola de sebo: Guy de MaupassantO vampiro de Curitiba: Dalton Trevisan
Ilusões Perdidas: BalzacMiddlemarch: George Eliot
O conde de Monte Cristo: Alexandre Dumas
A trégua: Primo LeviMemórias do cárcere: Graciliano Ramos
A guerra do fim do mundo: Vargas LlosaGuerra e Paz: Leon Tolstoi
A cabana: William P. Young
O encontro marcado: Fernando Sabino
O fio da navalha: Somerset Maugham
Fim de caso: Graham GreeneAs ligações perigosas: Choderlos de Laclos
Cândido: VoltaireHerzog: Saul Bellow
A fazenda africana: Isak Dinesen
A gloriosa família: PepetelaCem anos de solidão: Gabriel García Márquez
Robinson Crusoé: Daniel DefoeUma passagem para a India: E. M. Forster
Sidarta: Hermann Hesse
Na pior em Paris e Londres: George Orwell
A cavalaria vermelha: Isaac BábelOs sertões: Euclides da Cunha
Dublinenses: James JoyceRespiração artificial: Ricardo Piglia
Pergunte ao pó: John Fante
O grande Gatsby: F. Scott FitzgeraldA herdeira: Henry James
O silêncio: Shusaku EndoDesonra: J. M. Coetzee
Harry Potter e a pedra filosofal
Os doze trabalhos de Hércules: Monteiro Lobato
Ivanhoé: Walter Scott
Dom Quixote: CervantesOs detetives selvagens: Roberto Bolaño
Odisseia: HomeroGrande sertão: veredas: Guimarães Rosa
O senhor dos anéis - a sociedade do anel: J. R. R. Tolkien
O homem da areia: Ernst HoffmannKafka à beira-mar: Haruki Murakami
Robinson Crusoé: Daniel Defoe (D20)Coração das trevas: Joseph Conrad
O cão dos Baskervilles: Arthur Conan Doyle
A ilha do tesouro: Robert Louis Stevenson
O nome da rosa: Umberto EcoO Decameron: Giovanni Boccaccio
O aleph: Jorge Luís BorgesAs cidades invisíveis: Italo Calvino
O tempo e o vento - O continente: Érico Veríssimo
Mestre dos mares: Patrick O'BrianMoby Dick: Herman Melville
Os Maias: Eça de QueirósO leopardo: Giuseppe Lampedusa
Crepúsculo: Stephenie Meyer
O morro dos ventos uivantes: Emily Brontë
Orgulho e preconceito: Jane Austen
Anna Karenina: Leon TolstoiCoelho corre: John Updike
Howards End: E. M. ForsterEm busca do tempo perdido - No caminho de Swann: Marcel Proust
Grandes esperanças: Charles Dickens
O apanhador no campo de centeio: J. D. SalingerO complexo de Portnoy: Philip Roth
O ateneu: Raul PompeiaO vermelho e o negro: Stendhal
Drácula: Bram Stoker
O médico e o monstro: Robert Louis Stevenson
A metamorfose: KafkaA montanha mágica: Thomas Mann
Feliz ano novo: Rubem FonsecaO estrangeiro: Albert Camus
O gato preto: Edgar Allan Poe
Memórias póstumas de Brás Cubas: Machado de AssisHamlet: Shakespeare
O talentoso Ripley: Patricia HighsmithCrime e castigo: Dostoiévski
A menina que roubava livros: Markus Zusak
O diário de Anne Frank: Anne Frank
Minha vida de menina: Helena Morley
Madame Bovary: FlaubertO primo Basílio: Eça de Queirós
Capitães da areia: Jorge AmadoTonio Kröger: Thomas Mann
O tempo e o vento - O continente: Érico Veríssimo (C33)
O nome da rosa: Umberto Eco (D30)Cem anos de solidão: Gabriel García Márquez (E19)
Memorial do convento: SaramagoAusterlitz: W. G. Sebald
De amor e trevas: Amós Oz
Dentes brancos: Zadie Smith
Eugênia Grandet: BalzacO capote: Nikolai Gogol
Os sofrimentos do jovem Werther: Goethe (C12/13)Vidas secas: Graciliano Ramos
Tia júlia e o escrevinhador: Mario VArgas Llosa
Orlando: Virginia WoolfReparação: Ian McEwan
Lolita: NabokovA casa das belas adormecidas: Yasunari Kawabata