Fundado em 28 de Setembro de 1998

25 de abril de 2014

Vida aos Oitenta:


Aprendendo a viver - Elenir


Amigos, na coluna de hoje, 25/4/2014, do Globo, Arthur Dapieve comenta os finais dos romances de Gabo. Segundo ele, o escritor nunca deixou o leitor com a impressão de que um romance fora "cortado pelo pé". Dentre todos os finais excelentes, o seu favorito é o de "O Outono do Patriarca" e, dentro desse, destaca: "o patriarca ao fim de tantos anos de ilusões estéreis havia começado a vislumbrar que não se vive, que porra, sobrevive-se, aprende-se muito tarde que até as vidas mais longas e úteis não chegam para nada mais que para aprender a viver (...)".

Completando meus oitenta, concordo plenamente,  ainda estou aprendendo a viver. E muito! E sempre!

Beijos dessa eterna aprendiz.



Olhando para trás - Gracinda






Lembrar e Esquecer - Aquiles Andrade



Eu não precisaria escrever nada como referência a este livro, bastaria relatar que ele nos direciona a uma reflexão sobre o passado de um homem que vivencia a sua história na dignidade e honradez. Mas é necessário acrescentar que o autor, Aquiles Andrade, tem como trunfo a base familiar, o que nos leva a grandes emoções. Ao longo da leitura percebemos o reconhecimento do autor à misericórdia divina que o acompanha em toda a sua trajetória de vida. Sobretudo, o que nos chama a atenção é o seu grande e único amor, Isabel, a mulher de sua vida, que hoje, junto ao PAI, ainda consegue deixar o perfume suave de sua nobre presença, que passa do coração do autor a todos os leitores.

Livros publicados por Aquiles Ernesto de Andrade:

1.      A Seção Dourada no Templo de Salomão e nas Pirâmides
2.      Crônicas de Itaperuna e Outros Contos Literários
3.      Se Esta Rua Fosse Minha
4.      Dados Cronológicos de Abraão a Jesus Cristo
5.      Jesus Cristo e a Grande Pirâmide
6.      Contos Sobre Contos  
7.      Uma Imagem Virtual Convertida em Desenho Real
8.      Vida aos Oitenta: Lembrar e Esquecer, como sempre



Você encontra o livro à venda no Shopping do Pão em Itaperuna, RJ, e na Estante do Concierge, claro!


Sonia Salim
Adornando a Vida

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24 de abril de 2014

SOMOS O CLUBINHO!



Clube de Leitura Jovem: A menina que roubava livros - Markus Zusak



Os jovens leitores de Niterói ganharão em breve um espaço especial para conversar sobre suas preferências literárias. O Clube de Leitura Jovem – versão teen do tradicional Clube de Leitura Icaraí – tem sua primeira edição marcada para o dia 24 de abril, às 18h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói). O evento é voltado preferencialmente para o público entre 13 e 18 anos, mas a participação de leitores fora desta faixa etária é permitida.
“O Clube de Leitura Icaraí é frequentado por escritores, críticos e profissionais de grande influência na literatura. Percebemos que a robustez dos discursos do grupo faz com que os jovens se sintam deslocados, uma vez que seu vocabulário é bastante diferente, descolado, sem tamanho rigor literário”, afirma o coordenador do projeto Evandro Paiva Andrade. Segundo ele, para atrair o novo público era necessário criar um clube “proibido para maiores”. Andrade enfatizou que o objetivo do Clube de Leitura Jovem não é ser pedagógico ou educacional: “Queremos conversar sobre o que os participantes gostam de ler. A voz é deles”.
A obra de inauguração do clube é o best-seller A menina que roubava livros, do australiano Markus Suzak. Ambientada na Alemanha da Segunda Guerra, a trajetória de Liesel Meminger é contada pela própria Morte que, ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, passa a seguir seus passos. Filha de uma comunista perseguida, Liesel e o irmão são enviados para um subúrbio, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. Assombrada por pesadelos, Liesel canaliza o medo e a solidão para a leitura. A versão cinematográfica da obra chegou ao Brasil em 31 de janeiro e bateu recorde nas bilheterias nacionais no fim de semana da estreia.

18 de abril de 2014

Lembrando Gabriel García Márquez




"A vida não é a que a gente viveu e, sim, a que a gente recorda e como recorda para contá-la." (epígrafe de "Viver para contar", livro debatido no Clube de Leitura Icaraí em 11/3/2011).

"Sentiu-se tão velha, tão acabada, tão distante das melhores horas de sua vida que desejou, inclusive, as que recordava como piores, e, só então, descobriu quanta falta faziam as brisas de orégão na varanda e o vapor das roseiras ao entardecer e até a natureza animalesca dos que chegavam. Seu coração de cinza socada, que resistira sem quebrantos aos mais duros golpes da realidade cotidiana, desmoronou-se  aos primeiros embates da saudade. A necessidade de se sentir triste ia se transformando num vício à medida em que os anos a devastavam. Humanizou-se na solidão."  (belo trecho de "Cem Anos de Solidão").

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, cons­truídas à margem de um rio de águas diá­fanas que se precipitavam por um lei­to de pedras polidas, brancas e enor­mes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para men­cioná-las se precisava apontar com o dedo. (Um dos grandes COMEÇOS literários...)

14 de abril de 2014

Os coveiros: Hélio José Lima Penna


Fonte

É noite, o cemitério fechou os portões. Arlindo, chefe dos coveiros, recebeu as chaves das mãos do zelador. Hoje, especialmente, permanecerá no local. Com as chaves, foi à copa, fez o café e tomou um gole. Dirigiu-se então à sala do administrador. O ambiente suntuoso exalava o aroma das essências usadas para "combater o fedor da morte", como ensinava o chefe. A placa de bronze, na mesa metodicamente arrumada, chama a sua atenção: "Doutor Ary dos Santos Quintanilha", pronuncia Arlindo, ao sentar-se na cadeira do advogado. Como num carrossel infantil, rodopiou várias vezes no assento. Ao segurar a caneta dourada, admirou as suas mãos: gostaria de cuidá-las melhor. Se pudesse, também usaria roupas mais caprichadas. Não devia, porém, chamar a atenção. "O doutor não pode saber o quanto eu ganho nesse negócio: vai me pedir mais e mais...", refletiu. "E os meganhas me tomam até os dentes, se eu estampar algum luxo".

Ele deixa a sala. Tem o cuidado de manter as coisas como as encontrou. Segue para a área dos sepultamentos. Esperaria pelos companheiros já na sepultura escolhida. Era justo que tomasse conta do que lhe pertencia. "É o olho do dono que engorda o boi", pensou e achou graça dessa ideia. Sempre que havia um enterro luxuoso, ele ficava no cemitério. "Só tem barão no velório da capela dois", veio dizer-lhe a gostosa da cantina, rebolando a bunda. E, depois, a servente descrevera-lhe o anel, a pulseira, o relógio, as abotoaduras, o cordão e os sapatos que o morto, um vereador, levaria para o além-túmulo. A cara murcha e triste da faxineira era muito útil. Condoídos, sem perceberem, os parentes passavam-lhe informações preciosas sobre os defuntos.

Na noite clara de verão, Arlindo caminha pelas quadras do jardim dos mortos, que lhe parecem as vielas estreitas do bairro onde mora. Os túmulos são as casinhas apertadas, grudadas umas as outras. Ele avança; suas botas ferem o silêncio majestoso do lugar.

O líder dos coveiros chega à sepultura determinada. A Lua cheia derrama-se sobre o campo-santo. As árvores estendem sombras gigantes na superfície do ostentoso mausoléu que ele violaria com a ajuda dos outros companheiros. Roubava os mortos? Perguntou-se. Mas os mortos são donos do quê? Questionou-se. O quê fariam as almas com todos aqueles pertences? Os finados têm fome? O que ele subtraia dos falecidos, alimentava os vivos. A faxineira, o zelador, o administrador e os demais não partilhavam da viração? Ele mesmo se impressionava com a sua habilidade em administrar o esquema.

Cansou-se de ficar em pé. Doíam-lhe as pernas. Sentou-se no túmulo. Depois deitou-se no mármore frio, apoiando a nuca nas mãos. A pérola do céu sorria-lhe, esplendorosa. Uma vez fizera uns versinhos sobre a Lua e dedicou-os a professora. Ela ridicularizou a sua poesia e riu dele com toda a turma. Ele — apenas disso se recorda — rasgou os versos na cara da professora, tomado de repentina fúria. A escola o expulsou. Foi surrado sem dó pela mãe e pelo pai. Nunca mais estudou.

Arlindo adormece e sonha com sua escola primária. Está na sala de aula. Tímido, mostra os seus versos à professora... O rosto da mestra ilumina-se... Sua arte é aplaudida por ela e os alunos... O beijo suave da educadora toca a sua face... A fragrância feminina o envolve... O pai o elogia... A mãe o abraça... Um assovio longo e preciso desperta-o rapidamente. Mais dois assovios, curtos e ritmados, atingem os seus ouvidos. São os companheiros... Começaria o trabalho.

(Este Conto de Hélio Penna consta do livro "Clube de Leitura Icaraí - 15 anos entre livros")



Hélio José Lima Penna


Nasceu no Rio de Janeiro em 1961, é contista e poeta.

Foi levado ao Clube em 2012, pelas mãos da poetisa Rita Magnago.







'Fico muito feliz ao saber que os meus textos estão despertando a atenção dos meus companheiros. Estou com 53 anos e escrevo desde a adolescência. Filho de operários, morador em morros do Rio de Janeiro, não tive na família quem me despertasse o amor pela Literatura. Só aos cinquenta anos cheguei ao Ensino Médio, e agora estudo Letras. Não sei explicar de onde vem esta quase necessidade de escrever e ler. Apesar de estar empregado formalmente aos 14 anos numa metalúrgica, eu, e não lembro como, tive acesso a Literatura Brasileira, e isso acalentou os meus pensares e as minhas dores. Meus professores e psicólogos foram, entre outros,  Herberto Sales, Jorge Medauar, Jorge Amado, Cecília Meireles, Drumond, João Antônio. Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Lígia Fagundes Teles,  Massaud de Moisés, esses e tantos outros, sabiam o que se passava no meu interior; sabiam das injustiças que meu corpo e meus olhos presenciavam. Eles me deram, então, a chave da porta do "neurótico" mundo da ficção e me ensinaram a desaguar os meus rios e canalizar toda a reflexão que faço sobre as condições que vive o meu povo.

Veja, o nosso Clube dando, a um escritor, a chance de um fragmento tão íntimo. A chance de poder citar escritores e escritoras que, em certa medida, o adotaram.

Muito obrigado.

Hélio Penna


. . "O escritor criará um mundo  de dentro de si mesmo. Eis o ato neurótico. É o vazio e de repente o mundo" (Oswaldo de Camargo)'