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25 de abril de 2013

Pausa Musical - Helena, Helena: Taiguara






3: O GRITO: Da janela do apartamento um homem gritou alto para a cidade toda ouvir: "Homem Pássaro!".
9: LAMENTO: Para ele... Outra vez... Ah, Guiomar... Essa não.
2: NA PRAIA: Sentindo a brisa em sua face, ela pensou: "quero ficar para sempre."
8: REGRESSO A ITACA: Hesitou. O caminho de volta é o mais difícil. Continuou a VIAGEM. 

13: MEU HÓSPEDE: Pede carinho, não dou! Mesmo com seus olhos verdes. Saia gato!
1: SEM PALAVRAS: "Não tenho mais nada a dizer", repetia incessantemente.
4: O HOMEM DA ESTANTE: O homem da estante foi ver o pôr do sol com sua amada na varanda.
7: CAUSA MORTIS: Viu seu homem com outra. Morto o amor, quis morrer também.
12: Ao acordar, lembrou-se do sonho e decidiu: hoje não vou trabalhar. Vou à praia.
6: FIM: Acelerando o carro, viu quem procurava: "lá está ela!".
5: O SUSTO:  Ouvindo as fortes batidas acordou. Teria sido seu coração?


14 de abril de 2013

"Viagens de Gulliver" é para ser lido


(por W. B.)

“Viagens de Gulliver” (Gulliver’s Travels) é um romance escrito pelo irlandês Jonathan Swift (1667-1745) e publicado pela primeira vez, pelo editor Benjamim Motte, em 1726.

Na obra, o personagem narrador é Lemuel Gulliver, cirurgião que veio a se aventurar em viagens marítimas no intuito de aumentar seus haveres para melhor viver junto à esposa Mary Burton ao retornar.

À guisa de introdução, há um prefácio (ficcional) intitulado “O editor ao leitor”, assinado por Richard Sympson, e uma “Carta do capitão Gulliver a seu primo Sympson”: o personagem narrador teria dado suas lembranças de viagem a seu primo, para que este, auxiliado por acadêmicos, pudesse ordená-las convenientemente. Curioso o fato de tanto Richard quanto Lemuel negarem responsabilidade sobre o escrito – o editor só teria publicado as memórias do outro, enquanto o viajante teria tido seu relato modificado com supressões e acréscimos descabidos.

A narrativa propriamente divide-se em quatro partes: I - Viagem a Lilipute (composta por oito capítulos); II - Viagem a Brobdingnag (oito também); III - Viagem a Laputa, Balnibardi, Glubbdubdrib, Luggnag e ao Japão (nove segmentos), e IV - Viagem ao País dos Houyhnhnms (12).

A descrição das sociedades que Gulliver vem a conhecer parece trazer em si críticas na verdade destinadas aos países europeus. Em Lilipute, por exemplo, nação de homens diminutos cuja altura não chegava a seis polegadas, as politicagens, corrupções e atitudes antiéticas em geral são bem parecidas com as conhecidas na Europa. Apesar de seus habitantes gigantescos, também não existe grandeza moral alguma em Brobdingnag, terra repleta de semelhanças com a européia.

A única ilha com seres virtuosos é o País dos Houyhnhnms, mas esses não são humanos e sim cavalos. Os homens nativos (lá chamados yahoos) são animalizados e de hábitos grotescos, porém análogos a práticas correntes na Europa como: bebedeiras, brigas, avareza, desonestidade... Por outro lado, os cavalos (houyhnhnms) nem sequer tem uma palavra em seu idioma para designar “mentira”.

Já há algum tempo abundam adaptações para crianças de “Viagens de Guliver”, que – a pretexto de divulgar a obra de Swift – desvirtuam completamente sua criação, a qual nunca foi destinada à infância. Aliás, o escritor nem gostava de crianças e nunca escondeu isso.

Há trechos claramente voltados para um público maduro como, por exemplo, a parte na qual se insinua que moças gigantes de Brobdingnag usavam Gulliver como um brinquedinho sexual, obrigando-o a escalar seus seios. Não é nada tão explícito a ponto de desvirtuar algum leitor criança, mas é fato que a densidade dramática, a ironia mordaz, a complexidade da linguagem e os temas abordados não são próprios a essa faixa etária.

Não se trata de proibir os mais jovens de ler a narrativa, mas sim disponibilizar também a eles a versão integral do texto, para que leiam – se quiserem e conseguirem – o livro todo ou trechos selecionados por eles próprios. É preferível que pulem páginas consideradas chatas ou difíceis, a serem enganados com versões simplórias e falsificadas do texto de Swift. Por isso o escritor Daniel Pennac afirma, em seu livro “Como um Romance”, o leitor ter “direito de pular páginas”, para, aos poucos, desvelar de forma autônoma aqueles livros ainda não plenamente acessíveis a ele.

Porém o mais importante mesmo é que os adultos hoje descubram "Viagens de Gulliver", livro feito, aliás, para eles. É um tesouro posto a sua disposição, sem que se precise arriscar a vida nos mares como um personagem de romance aventuresco setecentista.

(JONATHAN SWIFT AINDA NÃO FOI DEBATIDO PELO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ)

7 de abril de 2013

Clube do Conto - O Barqueiro: Hélio José Lima Penna



            O menino deixou o barco para explorar mais uma das casas inundadas com a cheia do rio Boca Grande.  Moisés, o barqueiro, o aguardava esperançoso de encontrar algo de mais valor.



        O rio transbordou no início da manhã, depois das violentas chuvas. A fúria da água partiu o dique e seguiu feroz, carregando árvores, gente, animais, móveis, lama e morte para o centro de Matozinho, o pequeno município.  Os moradores que escaparam da enxurrada abandonaram as suas casas, carregando o que podiam.

            O menino retornou ao barco com as mãos vazias. Continuaram a viagem pela rua principal, agora um braço do rio. Um televisor vinha boiando. Moisés movimentou depressa o remo para agarrar o aparelho. Na sua mercearia havia um idêntico, no qual ele e os fregueses assistiram as imagens da enchente no município vizinho, no ano anterior. “Taquaral tá parecendo um cemitério. O povinho sem sorte. É lugar cheio de pecados”, ele dissera para a freguesia, fixa na televisão que o rio roubaria no ano seguinte.

            Passavam agora pela igreja. Moisés acreditava que qualquer igreja guardava preciosidades. Mas o menino, devoto de São Benedito, negou-se a invadir a morada do santo. Diante da recusa, o barqueiro saltou do barco, muito aborrecido. Esforçou-se, mas não sabia nadar. Voltou ofegante. O moleque ria dele.  Teve ódio do garoto. Maldito! Imprestável! Mergulhava no Boca Grande e não prestava para pular naquela aguinha por causa do santo. Filho de seu ninguém! Vivia ao léu nas ruas de Matozinho. Aos cuidados de um e de outro. Nunca que voltasse a sua mercearia. Nunca que lhe pedisse um vintém. Pedisse a São Benedito, o santo preto que não impediu que a água tomasse a igreja dele.



Mais à frente, surgiu o prédio da Prefeitura, que ficava no ponto mais alto da cidade e serviu de abrigo à população. Antes, foi preciso enfrentar os seguranças do prefeito, numa batalha sem precedentes na história de Matozinho. Mulheres e homens, armados de paus, pedras, cachorros, dentes, facas e fúria atacaram os paus-mandados e tomaram o edifício. E ali acamparam com suas crianças e seus poucos pertences.

 Ao avistar o prédio municipal, Moisés lembrou-se, envaidecido, do dia em que o prefeito o convidou para representar o comércio na inauguração do dique. Foi uma solenidade com feriado, desfile dos funcionários e dos estudantes, banda de música, fogos, discursos e a promessa de que o helicóptero do governador pousaria no dique. A autoridade municipal acreditava que a presença do governador calaria os que se opunham à obra. Mas o piloto não conseguiu assentar a nave na construção.  O prefeito garantiu, no entanto, que a barragem era segura e que ele mesmo e a família fariam um passeio no topo da construção, para calar os opositores contrários ao progresso de Matozinho. O menino também se recordou da festa. Seus olhos se alegraram com a centena de balões que subiram pro céu, feito pipas coloridas. Ficou impressionado com o tamanho e a beleza do helicóptero que, ao alcance das mãos, sobrevoou várias vezes a cidade e fez acrobacias para descer no dique.



            O barco movia-se. Adiante avistaram a padaria. Uma parte estava sob as águas. Moisés pensou que ali poderia haver um cofre. O menino nadou e foi espiar pelo basculante da loja:
            - Não dá pra ver nada não.
            - Entra ai, homem... pelo basculante.
            - Não dá pra entrar aqui não, Seu Moisés... tá cheio de água.
            - Entra ai, garoto, deixa de besteira!
            - Tá escuro...
            - Entra!
            - Não!
 O barqueiro, enraivecido, move a canoa. O menino o chama:
            - Seu Moisés, Seu Moisés...
            O barqueiro segue remando a sua crueldade.

             
           

4 de abril de 2013

Da série temática Sonhos que não sonhamos (1)


S o n h o s    q u e    S o n h e i
(by Vera Lúcia Freire)

  
Queria poder falar,
Pra poder eternizar,
Os sonhos que ainda sonho,
E assim me apaziguar.

Sonho sonhos conturbados,
De amores mal amados,
De temores acanhados,
Que teimam em atormentar.



Ter a alma sonhadora,
Tem, por certo, um preço alto,
Pagamos com nossos sonhos,
Percalços e sobressaltos.

Que fazer se minha sina,
É viver de sonhador,
Já desde pequenininha,
Que carrego esse andor.


É verdade que sonhando,
Viajo dentro de mim,
Sou mares, terras e, voo,
Me perco e me acho, enfim.

Os sonhos que não sonhei,
Certamente vou guardar,
Pra sonhar aos pedacinhos,
E assim me lambuzar !



Resenhando “Viagem no Ventre da Baleia” – de Raimundo Carrero, Editora Tempo Brasileiro, 140 páginas


(por: W.B.)

Religiosidade, culpa, política, violência são os temas principais de “Viagem no Ventre da Baleia”, romance que conta principalmente a história de Jonas, Miguel e coronel Salvador Barros.

O romance se inicia com padre Paulo enfrentando a difícil situação de manter a paz do lugarejo onde o conflito sangrento entre camponeses e o dono de terras Salvador Barros parece inevitável. Miguel tenta lutar pelos campesinos, mas os meios pacíficos que usa são apontados como ineficientes. Jonas opta desde o princípio pelo confronto armado e incita os lavradores à luta.

Os dias vão se passando, a tensão crescente no vilarejo.

No meio do texto surge um pontilhado que ocupa duas linhas, e aí se inicia uma narrativa paralela em primeira pessoa, que, apesar da pontuação comum, segue toda em letra minúscula e num só parágrafo contínuo. Depois há novamente o pontilhado de duas linhas e se retorna ao estilo textual anterior. Isso se dá várias vezes ao longo do livro, e o leitor entende que os trechos contínuos em minúsculas são a confissão do Coronel Salvador Barros entrecortada à história.

Miguel, em vários momentos, folheia uma caderneta de lembranças onde anotou citações bíblicas, pensamentos religiosos e políticos, bem como acontecimentos de sua vida. Partes desse caderno também passam a integrar o romance, enriquecendo ainda mais a narrativa e trazendo passagens da vida de Miguel e Jonas, amigos desde muito tempo. Tais recursos, usados com a conhecida mestria de Carrero, resultam num romance substancioso e profundo.

(RAIMUNDO CARRERO AINDA NÃO FOI DEBATIDO PELO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ)

1 de abril de 2013

Sonhos que não sonhamos


Nosso clube já construiu dois contos conjuntos (Carnaval e Páscoa), ofereceu diferentes finais a uma crônica de Affonso Romano de Santanna (A mulher madura) e enviou dezenas de textos para publicação da Antologia CLIc 15 anos. É chegada a hora de aumentar o desafio.


 A proposta agora é cada um fazer um texto seu, sob qualquer formato (poesia/conto/crônica/ensaio), considerando Sonhos que não sonhamos como tema comum, escolhido pela maioria no post-teaser. Não há limites de páginas, pode ser desde um verso/parágrafo até quanto a imaginação permitir. Teremos todo o mês de abril para essa produção.

Será delicioso vermos, materializadas na escrita, as diferentes opiniões que expressamos verbalmente sob algum tema estimulante. Então, libere a imaginação, escreva, sonhe e realize.


O vídeo que segue é uma inspiração, linda música do Caetano que conta uma senhora história que poderia ser o sonho de tantos... Espero que gostem.



P.S: Essa ideia surgiu no sábado, 23/3/13, lendo uma matéria sobre Vargas Llosa no caderno Prosa. Lá diz que Carlos Fuentes, na década de 60, sugeriu aos colegas escritores latinoamericanos que colaborassem em um livro chamado “Os pais da pátria”, no qual cada escritor criaria uma narrativa sobre um tirano histórico em seu país. Embora o projeto não tenha ido adiante, inspirou romances consagrados nos anos seguintes, como ‘O outono do patriarca’, de GGM, ‘Eu, o supremo’, de Augusto Roa Bastos e ‘Conversa na Catedral’, do peruano já citado. Já pensou se acontece algo parecido por aqui? Uau!