Fundado em 28 de Setembro de 1998

28 de janeiro de 2023

Sobre Cidades Invisíveis (2) : Rita



Em que língua devo falar da verdade, do desejo, do sonho?
Qual é o idioma dos símbolos que transmitem muito mais do que representam?
Que gestos ou silêncio falam do indizível?
É nessa cidade que quero morar, onde me habita a magia de dizer sem falar, de compreender sem ouvir, de apreciar sem ver e de alcançar todas as maravilhas sem tocar
Assim o gosto terá mais sabor e mais saber e eu poderei, enfim, repousar da busca.

26 de janeiro de 2023

Estamos lendo - As cidades invisíveis: Ítalo Calvino

"(...)Tudo isso para que Marco Polo pudesse explicar ou imaginar explicar ou ser  imaginado explicando ou finalmente conseguir explicar a si mesmo que aquilo que ele procurava estava diante de si, e, mesmo que se tratasse do passado, era um passado que mudava à medida que ele prosseguia a sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto.(...)" pag.14

" mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas*...*os símbolos formam uma língua, mas não aquela que você imagina  conhecer* " 

"Não existe linguagem sem engano."

"Os símbolos formam uma língua, mas não aquela que você imagina conhecer." 





Estamos lendo - Querida Konbini: Sayaka Murata






https://coisasdojapao.com/2019/03/relacionamentos-no-japao-entenda-a-relacao-dos-japoneses-com-traicao/

Em 2028 - O tempo redescoberto: Proust

17 de janeiro de 2023

A Sabinada – O Levante

Por Wagner Medeiros Junior

Cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Noite de quinta-feira do dia 6 de novembro de 1837. O exaltado Francisco Sabino Vieira, ao lado de João Carneiro da Silva Rego, Manoel Gomes Pereira e mais dois militares revoltosos, entra no Forte de São Pedro. Todo o corpo da artilharia o esperava, inquieto. Chegara a hora da Bahia declarar a sua autonomia política e o Federalismo, não conquistados em tentativas anteriores.

A mobilização já contava com o maciço apoio da camada média urbana, incluindo um grande contingente de militares radicados na capital. A insatisfação era enorme e expandia-se por diversas parte do interior. A escassez de produtos básicos, a carestia e o recrutamento forçado para combater os farroupilhas no sul do Brasil eram problemas comuns de toda a Bahia. Daí a desilusão com a independência e com a corte no Rio de Janeiro, que emanava a imagem de substituir Portugal - O Rio de janeiro agora era visto com um fardo, preocupada apenas em carrear cada vez mais recursos da província, tal como se ela fosse agora sua colônia.

Todo esse descontentamento favorecia a difusão do movimento, corroborando com que as notícias da trama circulassem pela cidade sem qualquer parcimônia. O periódico “Novo Diário da Bahia”, editado por Sabino, ajudava a inflamar ainda mais os ânimos. As autoridades, todavia, teimavam em subestimar os acontecimentos. O comandante das armas, Luiz de França Pinto, por benevolente, não se furtava em defender cada uma das cabeças que conspiravam, dizendo confiar nelas. O presidente da província, Francisco de Souza Paraíso, por sua vez, ficava sempre solidário a ele. 

Então, quando essas autoridades tomam conhecimento da revolta, conforme nos conta o historiador Antônio Risério, em "Uma História da Cidade da Bahia", são obrigadas a passar a noite e madrugada concentrando soldados e marinheiros, cerca de 300 homens armados, na Praça da Piedade. Na hora H são pegas de surpresa. Em vez de obedecer ao comando de carregar armas, soldados jogam balas no chão. Passavam para o outro lado.

Assim, na impossibilidade de resistência, os partidários do império são compelidos a refugiarem-se na região do Recôncavo, de onde passam a organizar a reação, com o apoio da aristocracia rural baiana.  

Com o território livre, os revoltosos realizam na manhã do dia 7 uma sessão extraordinária na Câmara de Vereadores, onde decretam o desligamento de toda província “do governo denominado central do Rio de Janeiro”. A Bahia se autodenominava livre e independente. Para presidente, Francisco Sabino indicou Inocêncio da Rocha Galvão, refugiado nos Estados Unidos, depois de ser acusado de assassinar o presidente das armas em 1824; para vice-presidente foi escolhido João Carneiro da Silva Rego, que assumiu o governo provisório, pela ausência do primeiro. Coube a Sabino a Secretaria Geral de Governo.

No entanto, Francisco Sabino seria o líder de fato do movimento. A aparente função secundária decorria de seu temperamento violento e radical, bem como da suposta prática do homossexualismo, não aceito na época. Sabino ainda carregava nas costas o peso da morte de sua mulher, Joaquina Gonçalves, quando ela contava com apenas 25 anos, bem como do assassinato de dois de seus desafetos.  

Segundo o inquérito policial sobre a morte de Joaquina, consta no depoimento de seis testemunhas que Sabino a teria agredido, após ser encontrado por ela na rede “servindo-se de um homem preto como se fora mulher”, nas palavras de uma delas. Por outro lado, não deixava de ser um destacado intelectual da Cidade da Bahia, onde exercia a cátedra de professor de medicina e o jornalismo.

O início da Sabinada guardaria outra contradição: Na ata da assembléia realizada no dia 11 de novembro, acrescentou-se que a independência da Bahia seria até o príncipe D. Pedro completar a maioridade, para satisfazer os monarquistas. Porém, outro grupo dos líderes, entre eles Sabino, pregava a revolução Federalista e a fundação da República Bahiense.

Visite o blog; 

Preto no Branco por Wagner Medeiros Junior









Clube Jovem - Clube da Luta: Chuck Palahniuk







A primeira regra do Clube de Leitura é: você não fala sobre o Clube de Leitura. Vamos mudar isso.





É quebrando uma regra importante do Clube da Luta que viemos convidar você para o debate sobre esse clássico da literatura e do cinema no Clube de Leitura Jovem que acontece hoje na Livraria Icaraí. Você deve ter acompanhado algumas curiosidades que postamos aqui e em nosso Instagram (@eduff.editora) sobre o livro durante a semana. Mas se essa é a primeira vez que você ouve falar dele, vai poder vislumbrar aqui embaixo um pouco do que vai encontrar por aquelas páginas.



O livro, escrito em 1996 por Chuck Palaniuk, se inseriu definitivamente na cultura pop com a realização do filme dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt e Edward Norton, logo depois. Na trama, cheia de humor negro, um homem viciado em consumo de repente se vê sem nenhuma perspectiva de vida, questiona-se e começa a frequentar grupos de terapia. Sua mente começa então a lhe pregar peças - talvez por causa de sua insônia - até que ele conhece alguém que mudará sua vida para sempre: Tyler, que se torna o exemplo de como revolucionar sua vida.



Isso é o máximo que podemos dizer sem revelar spoiles da trama. Se você quiser saber mais, venha participar do debate no Clube de Leitura Jovem de hoje! Lembrando que o horário mudou e de agora em diante será sempre às 16h. Esperamos você!






"Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos...".

Você provavelmente já leu essa frase em algum lugar enquanto navegava pela internet. Mas se não leu o Clube da Luta, nem imagina que sua autoria seja de Tyler Durden, famigerado personagem do livro de Chuck Palaniuk, que será o tema do Clube de Leitura Jovem desta semana!

Há outras frases sensacionais no livro como "Você não é o dinheiro que possui no banco" e "Você não é o carro que dirige", que foram largamente reproduzidas e se tornaram ícones de toda uma geração. Com essas poucas referências, podemos ter uma noção do rico conteúdo que nos espera na obra.


Se você quiser se aprofundar, venha para o Clube de Leitura Jovem, que a partir de quinta terá novo horário, 16h, sempre na Livraria Icaraí.







"Valley Of The Dolls"
In the valley of the dolls we sleep, we sleep
Got a hole inside of me, of me

Born with a void, hard to destroy with love or hope
Built with a heart, broken from the start
And now I die slow

In the valley of the dolls, we sleep
Got a hole inside of me
Living with identities
That do not belong to me
In my life, I got this far
Now I’m ready for the last hoorah
Dying like a shooting star
In the valley
In the valley
In the valley

Pick a personality for free
When you feel like nobody, body

Born with a void, hard to destroy with love or hope
Built with a heart, broken from the start
And now I die slow

In the valley of the dolls, we sleep
Got a hole inside of me
Living with identities
That do not belong to me
In my life, I got this far
Now I’m ready for the last hoorah
Dying like a shooting star
In the valley
In the valley
In the valley

Back to zero, here we go again, again
Racing down into oblivion
Back to zero, here we go
I can feel it coming to the end
The end

In the valley of the dolls, we sleep
Got a hole inside of me
Living with identities
That do not belong to me
In my life, I got this far
Now I’m ready for the last hoorah
Dying like a shooting star
In the valley
In the valley
In the valley
In the valley
In the valley





Um momento é o máximo que se pode esperar da perfeição. 

O Dr. Tyler Durden recomenda uma dose saudável de Limp Bizkit.





Depois de debatermos o sonâmbulo amador no clube de leitura Icaraí, agora chegou a vez do sonâmbulo profissional no Clube Jovem: Tyler Durden é a entidade que se apossa da mente de um cidadão comum e leva sua vida às últimas consequências. Quando o pacato cidadão consegue finalmente vencer a insônia, transforma-se em Durden. 





Um momento é o máximo que se pode esperar da perfeição. 





Somos os filhos do meio da história, criados pela televisão para acreditar que algum dia seremos milionários, astros de filme ou da música, mas não seremos. E estamos entendendo isso agora – Tyler falou. – Então não venha foder com a gente.





"Durante milhares de anos os humanos foderam, sujaram e fizeram merda com este planeta e agora a história espera que eu limpe tudo... Eu tenho que pagar a conta do lixo nuclear, tanques de combustível enterrados e terra cheia de lixo tóxico jogado lá uma geração antes de eu nascer… 

Queria respirar fumaça… 


Queria queimar o Louvre. Quebraria os mármores do Panteão com uma marreta e limparia a bunda com a Mona Lisa. Esse é o meu mundo agora. 


Esse é o meu mundo agora, o meu mundo, e as pessoas antigas estão mortas."








A descoberta do sabão





Tyler Durden vive!


“Há uma categoria de homens e mulheres jovens e fortes que querem dar a própria vida por algo. A propaganda faz essas pessoas irem atrás de carros e roupas que elas não precisam. Gerações tem trabalhado em empregos que odeiam para comprar coisas de que realmente não precisam. - Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espirito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual.”





Flores nascem e morrem
O vento traz borboletas ou a neve
A pedra não percebe

Abelhas operárias podem sair
Zangões também voam por aí
Mas a rainha é escrava deles




Sem ter apenas um ninho
Um pássaro pode chamar o mundo de lar
A vida é sua profissão








Chuck Palahniuk
Chuck Palahniuk nasceu nos EUA, em 1961. Embora tenha estudado jornalismo, preferiu tentar a vida como mecânico antes de se dedicar à literatura. De devorador de livros, Palahniuk se tornou escritor. Depois de publicar alguns contos em pequenas revistas, lançou seu primeiro livro em 1996. Era Clube da luta, um romance maldito que se tornaria filme de sucesso nas mãos do cineasta David Fincher em 1999. Desde então, o autor não parou de dar ao mundo histórias politicamente incorretas, dotadas de humor negro, narrativas modernas, anti-heróis amorais, desfechos imprevisíveis e detalhes repugnantes, quase sempre criticando o estilo de vida capitalista, mas sem levantar bandeiras – exceto a da boa literatura.





ESSA É SUA VIDA!





A primeira regra do Clube de Leitura Jovem é: você não fala sobre o Clube de Leitura Jovem. A segunda regra do Clube de Leitura Jovem é: você não fala sobre o Clube de Leitura Jovem. A terceira regra do Clube de Leitura Jovem é ...




O clube da luta é idealizado por Tyler Durden, que acredita ter encontrado uma maneira de viver fora dos limites da sociedade e das regras sem sentido. Mas o que está por vir de sua mente pode piorar muito. O livro serviu de base para um filme de 1999, procurando adaptar a atmosfera do livro, o mundo caótico do personagem e o humor negro do autor.








"Case antes do sexo ficar tedioso, 
senão você nunca se casará."





Nada é estático. Tudo está desmoronando.

Por baixo, por trás e por dentro de tudo que eu dava como certo tem algo horrível sendo cultivado.





Aconteceu em 5/7/2013 - letras rebeldes, fluidos insensatos: novaes/

Opinião dos participantes do debate


Opinião de leitores



Oi Newton,

Hoje, falando em sala sobre a capacidade humana de se comunicar e de comunicar algo em determinadas circunstâncias, advinha quem me veio à mente... Como eu estava com seu livro, li o conto "A carta" para a turma. Acredite, nem sei como posso descrever, rsrsrs, eles "piraram o cabeção" meu amigo, digo que você recebeu um dos maiores elogios que um escritor pode receber de minha tchurminha. Sem querer um aluno deixou escapar: "puta que pariu, esse cara é um foda"; quer elogio maior meu amigo? rsrsrsrsrrs. Não contentes com isso, foram falar nas outras turmas e eu tive que ler o conto para elas. Em algumas turmas não deu tempo de ler todas as versões da "carta" e eu acabei esquecendo que não tinha lido. Você acredita que eles, na aula seguinte, vieram me cobrar? O livro ficou meio amassado porque todo mundo queria ver com seus próprios olhos a engenhoca da transparência.

Helene Camille
* * *

Achei simplesmente GENIAL a inclusão da transparência para o último conto “A carta”. A princípio coloquei a transparência na folha em branco. A seguir abri a cortina e a olhei como se fosse uma imagem de RX. E, por último, quando já estava quase desanimando, fiz o que era para fazer (não vou dizer o que é, porque vai que alguém possa estar me lendo antes de ler o livro) e pude ler a “verdadeira carta”. Fiquei completamente maravilhada com esse exercício para o leitor, no final do livro. Parabéns, Newton, nunca tinha visto nada tão criativo num livro. Para mim, foi como um presente do autor para o leitor. Adorei !!!

Angela Ellias


* * *

Amigo,


Falei sobre o teu livro ao telefone e nas páginas do facebook. É sem dúvida uma excelente reunião de contos. Espero trabalhar com eles no curso de Letras. Não resisto à tentação de destacar os preferidos: "Um dia inesquecível", "Bernardo gandula", "O espião", "Eis que morto acordei", "Os famintos da rua cinco" e "Eu processaria Isaac Newton". 

O teu livro está com as páginas cheias de anotações. Coloquei-o junto aos contistas que mais admiro, e que me ensinam a escrever, como Jorge Medauar, Tchekhov, Moacyr Scliar, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Carlos Rosa Moreira. 

Parabéns, escritor.

Hélio Penna



* * *

Obrigado, Newton, ganhei bons momentos com seu livro, e uma surpresa, meio sem entender, no último conto. Entendi depois. Muito legal, uma interação a mais entre livro e leitor. 
Você tem um estilo, muita coisa de uma vivência onde se nota engajamento, sua literatura é, suavemente, mas claramente, engajada. Será catarse do primeiro livro? Haverá mudanças de estilo no próximo? Há aspectos que, tenho certeza, não mudarão, a exemplo do escritor de "Eis que morto acordei", "Pintor de paredes" e "A viagem do filho querido". Existem aspectos do estilo, especialmente nesses três contos (há em outros também) onde se nota a solidificação de características do autor. Digo isso com certo temor, pois não sou literato, mas assim me parece.
Muito bom de ler, Newton. Um forte abraço.

Carlos Rosa Moreira



* * *

Boa noite, Newton!

Tendo terminado a leitura de seu FLUIDOS INSENSATOS, liguei o computador exatamente para lhe falar sobre o prazer que ela me proporcionou e lhe dar os parabéns pelo seu belo trabalho. Seus contos têm o dom de mexer com nosso imaginário, pois buscam temas variados, intensos, que às vezes poderíamos chamar de estranhos, mas sempre muito envolventes. Durante a leitura de alguns dos contos, me via perguntando: "onde ele foi descobrir um tema desses?" Eles vão além dos fatos comuns que nos cercam. Estou com a Rita: o conto, "A Carta", é hors-concours, brindando o leitor com uma criatividade difícil de ser imitada. Quantas pessoas seriam capazes de escrever uma carta assim, com tríplice rota de leitura, levando a contradizer o que sua forma completa nos mostrava? Foi bom reler "A viagem do filho querido" e "Pintor de paredes", que já conhecia. É claro que me identifico melhor com alguns dos temas. E se precisasse indicar o que mais mexeu comigo, diria que foi "Eis que morto acordei". Eu me vi no lugar daquele cadáver e acho que seria capaz de pensar e sentir como ele.


Gracinda Rosa

* * *

Encantada, termino a leitura do "Letras rebeldes fluidos insensatos".
Por essa fértil imaginação, você merece ser incluído entre grandes escritores, igualmente imaginativos, como Saramago, Vargas Llosa, Garcia Márques, Júlio Cortázar...
Parabéns Novaes/! Estou certa de que este é o primeiro de muitos outros livros, pois antevejo uma longa e bem sucedida carreira.
Abraços.

Elenir Teixeira

* * *


Acabo de ler “Letras rebeldes fluidos insensatos” de Novaes/.
Se precisasse descrever o livro em uma única palavra seria: jorro. Digno da pulsão explosiva de quem contém, armazena, contrai, recua, as histórias trazidas pelo autor tem o ritmo de jatos de perspicácia, criticidade, sensibilidade e inteligência. Há algo que está presente em todos os contos, assim como no essencialmente humano: surpreender.

Cristiana Seixas





11 de janeiro de 2023

Vermelho Amargo: Bartolomeu Campos de Queirós


"A vida é um fio, 
a memória é seu novelo.
Enrolo--no novelo da memória--
o vivido e o sonhado.
Se desenrolo o novelo da memória,
não sei se tudo foi real
ou não passou de fantasia."
( Bartolomeu Campos de Queirós)





O vermelho, cor tão quente,
é atribuído à paixâo.
E ao ódio, bem diferente,
se ele habita o coração.
(Elenir)

* * * 

Vermelho é paixão
e sangue também. Com ódio
fatiava o tomate.

Fatias que expunham
o ódio só tragado pelo
intruso ao amor.

Pontuando o céu,
uma virgula existia.
Leve passarinho.

(Elenir)




"A mãe partiu cedo — manhã seca e fria de maio — sem levar o amor que diziam eu ter por ela. Daí, veio me sobrar amor e sem ter a quem amar. Nas manhãs de maio o ar é frio e seco, assim como retruca o coração nos abandonos. Ela viajou indignada, por não ser consultada. Evadiu-se, sem suplicar um socorro. Nem murmurou um “com licença” — eu confirmo — para adentrar em outra vida, como nos era recomendado. Já não cantava, sobrevivia isenta, respirando o medo pelo desconhecido. A mão da morte soterrou até sua sombra. Foi um adeus inteiro, definitivo, rigoroso, sem escutar nosso pesar. Eu pronunciava, seguidamente, a palavra amor, amor, sem ter a presença amada."






O tempo ancora no corpo da gente!

Toda memória é fantasiosa!

O que não foi esquecido merece ser repensado...

Sempre que a gente escuta o silêncio, a poesia se manifesta!

 ...A madrasta retalhava um tomate em fatias, assim finas capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insistia em justificar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro como se degolasse um de nós. 

"Eu suspeitava que o embaraço das letras amarrava segredos
que só o coração decifra. Mas uma certeza me vigiava: ler
era meu único sonho viável."

(Lilian)




VERMELHO DE PAIXÃO

O tomate diário
em finas fatias
indicava o quanto de fome
ali havia.

O vermelho alcoólatra,
cor da vergonha,
instigava a criança:
vai, garoto, sonha!

A família, a madrasta,
a faca e a fome
que diminui sua presença
a cada filho que some.

Há mais tomate no prato
a cada um que se vai,
mas o amor pela mãe, este
nunca se esvai.

(novaes/)


DOR

Ficou no peito um tipo de amargor

Talvez pelo grito contido da dor
A cada dia denunciado no olhar
Não sei, mas chorei sem lágrimas
Acho que o tempo frio e seco
Impediu que desprendessem
Há sentimentos, mas calados

De um amor assim isolado
Que mudo vive sufocado
Surgindo em prosa e verso
Solitário, contundente, cruel
Ensurdecedor

Sonia Salim




Janeiro... Vermelho Amargo,
seja lá isso o que for!
Quem sabe um sorriso largo
adoce o beijo... e a cor? 

(I)




O que há dentro de mim,
e dentro de mim esqueço,
sou eu, vestindo em carmim,
esse eu... que desconheço. 

( I )



Nascer é entrar em um trem,
sem se saber o destino.
Sem bilhete de viagem
e uma só baldeação.
(Elenir)



No vermelho do tomate
a degola diária do desamor
no cheiro desinfetante do ar
a omissão do sentimento
que eu não conhecia
fantasia de esperança
teimando em vestir-me
daquilo que me era maior
e não cabia.
Rubro espelho
onde não me reconhecia
memórias de aromas e amoras
furtadas em alheia menina dos olhos
quero ser o livro
quero ter o sonho
quero tecer rendas
em bifes espancados
e cheirar alecrim
sentir a comida leve
como os passos do gato
.



"Oh, anda, desanda a roda
deixa a roda desandar...
Evandro, vermelho é moda
com ele vamos trovar...

(Ilnéa)


Vermelho amargo, acridoce...
eu soube dentro de mim,
que o que era doce… acabou-se:

nunca mais amei assim. 

(I, 19/11/2012)


Preencher um dia é demasiado penoso se não me ocupo das mentiras.

Ser gente Vermelho Amargo,
ser gente triste ou contente,

é gente que "joga largo",

tantinho, assim... diferente!



(I... "gorinha")