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29 de junho de 2019

Água da nascente: Riva Silveira



Um passarinho me contou de antemão
Que a vida pode ter muita razão
Mesmo o momento agora escuro
É passagem para um livre percurso
Não ligue se não entendem sua atitude
É gente sem imaginação
Que dificulta a caminhada quando se tem a
Certeza da direção
É água da nascente que rega seu coração
Quando quiser se reencontrar
Renove, inove, retorne se precisar
Sem hora e sem ser pra agora
É direito seu sonhar
Continue e vá embora
Um dia a tempestade pode dificultar, e daí
Vai ter a lua cheia pra mapear
Vá mergulhe fundo nessa água clara
Pegue o barco sem ter medo da andança
A melhor brisa você vai respirar
Topa se precisar de alguma mudança
O mesmo às vezes cansa
E a água da nascente vai estar sempre
Inundando sua esperança







22 de junho de 2019

Um Clube de Leitores


            Nosso Clube de Leitura é feito por Leitores e para Leitores. Muitos não são de ficar trocando mensagens nos grupos de relacionamento virtual do Clube, ou não gostam de escrever textos com pretensões literárias, ou sequer falam muito nas reuniões, mas acompanham-nos com prazer de leitura e reflexão sobre os temas abordados.
Algo das leituras que fazemos cai no inconsciente, emergindo muito tempo depois em alguma situação inesperada, quando precisamos recorrer a recursos que não sabíamos existir em nós. Considerando esse efeito posterior, o inconsciente merece ter boas imagens, ideias, palavras que nos servirão oportunamente. Uma atitude crítica diante das leituras que realizamos nos ajuda nessas aquisições fundamentais que nos fazem crescer como pessoa, para que sejamos sujeito em nossa história e não sujeitados.

Participe!

Maria Geny

20 de junho de 2019

A partir de “Vidas secas”: Elizabeth Almeida



Retirantes
Refugiados
Fugitivos
Imigrantes
Atravessando rios
Sertões
Desertos
Mares.
Na jornada
Fome
Sede
Lama
Frio.
O que faz prosseguir
A dúvida
Do ser-homem
Do homem-bicho.
Fabiano de Vidas Secas
Sonha que um dia
Seria como seu Tomás
Aquele

Era um homem.


(leia + Elizabeth Almeida no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")





19 de junho de 2019

O gari: Benito Petraglia


Sou o melhor gari da minha cidade. Sempre ouvi que você tem que ser o melhor no que faz, seja médico ou gari. Eu sou gari, e o melhor. 

Não é pretensão minha não. É decisão da prefeitura. Todo ano tem eleição. Cada encarregado de distrito faz um relatório e manda pro departamento de limpeza urbana. Lá juntam os relatórios, somam os pontos e proclamam o vencedor. 

Em dezembro realizam a cerimônia de premiação e entregam a “láurea”, como eles chamam – um cheque de cem reais. O dinheiro é importante, lógico, mas – sinceramente – pra mim vale mais o orgulho. 

Sou formado em letras. Entrei pelas cotas. O primeiro concurso que apareceu foi o de gari. Não pude esperar. Aliás, gari é um antropônimo. Vem de Aleixo Gary, concessionário a quem foi entregue o serviço de asseio e limpeza do Rio de Janeiro no século XIX. Todo mundo devia saber a origem da sua profissão ou pelo menos a etimologia do nome. Médico, por exemplo, vem do latim medicus. Mas oficialmente não sou gari, sou, como está no contracheque, agente operacional de equipamento urbano. 

...

(continua no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")






12 de junho de 2019

Dia dos namorados




“Toco sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se saísse da minha mão, como se pela primeira vez sua boca se entreabrisse, e para mim basta fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar, a cada vez faço nascer a boca que desejo, a boca que minha mão escolhe e desenha no seu rosto, uma boca escolhida entre todas, com soberana liberdade escolhida por mim para ser desenhada com minha mão no seu rosto, e que por um acaso que não tento compreender coincide exatamente com sua boca, que sorri por baixo da que minha mão desenha em você.


Você me olha, de perto você me olha, cada vez mais de perto e então brincamos de ciclope, nos olhamos cada vez de mais perto e os olhos crescem, se aproximam um do outro, se superpõem e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas se encontram e lutam calidamente, mordendo‑se com os lábios, apoiando levemente a língua nos dentes, brincando em seus recintos, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um silêncio. Então minhas mãos procuram afundar‑se em seus cabelos, acariciar lentamente a profundidade de seus cabelos enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E há uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e sinto você tremer contra mim como uma lua na água.” (Cortázar)




6 de junho de 2019

Para falar à distância: Maria Luíza Iza Salomão

“Enquanto houver livros, ninguém – nunca – terá a última palavra.” 
J.-B. Pontalis.

A distância aqui é específica, e, segundo alguns gramáticos, cabe a crase. Um grupo em Niterói, CLIc, se reúne para ler: só me foi apresentado recentemente. Cá estou, com estes amigos à distância, a pensar na maravilha que é nossa língua brasileira-portuguesa, que diz que é possível ter crase e não ter também para mensurar distâncias. Posso indicar em quilômetros a distância entre a francana, interior paulista, e o simpático grupo fluminense. 

   CLIc – Clube de Leitura de Icaraí – nome de uma praia que não conheço, mas tenho visitado palavradamente – Icaraí. Viajo por ela, olhando-a do lado de lá da Baía de Guanabara. Conheço a Baía, que une e separa o Rio de Janeiro de Niterói, por onde entraram caravelas portuguesas e avistaram a Gávea, lugar que conheço bem.

...

(continua no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")






Viva! 20 anos do Clube de Leitura de Icaraí! Viva os organizadores desta antologia q me incluiu: Evandro Paiva de Andrade e Eloisa Helena M Rodrigues!

Saído do forno! Estou aqui nesta antologia! Sem conhecer ninguém deste fabuloso Clube de Leitura, não conheço fisicamente, mas afetos bem entrelaçados às palavras, me fazem sentir q deles todos estou próxima. Principalmente de Eloisa Helena M Rodrigues e de Evandro Paiva de Andrade, os organizadores, q me convidaram e me acolheram. Dois textos q escrevi falam da distância. Esta q não se mede em quilômetros...” a relatividade da distância” e “para falar à distância”. Lindo este clube de leitura! 20 anos de existência! Viva os fluminenses! Viva a ponte de palavras q me une a eles!




3 de junho de 2019

A partir de “Ideia da Musa” (Giorgio Agaben): Elizabeth Almeida


Que não faltem
As musas
Na vida do escritor
Elas dirigem
Conduzem
Governam
Tecem o fio
Que forma palavras
Constroem pontes
Erguem castelos
Possibilitam sonhos
Alimentam desejos
Denunciam...
Coroemos essas musas
As ideias
Sem elas
Hamlet Quixote
Bernardo Soares Caeiro
Não continuariam
Vivos entre nós.


(leia + Elizabeth Almeida no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")