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19 de dezembro de 2012

Crônica integrante da Antologia "Prêmio UFF de Literatura 2012"


BANHO DE LEMBRANÇAS

Rita Magnago

Uma banheira de plástico, rosa, no chão, perto de dois pequenos tanques de cimento onde, no do canto, minha mãe lavava nossa roupa. É a coisa mais antiga que me lembro da infância. Eu ficava sentadinha dentro da banheira, remexendo roupas sujas, enquanto minha mãe seguia esfregando, torcendo e falando com a vizinha, que também lavava, no tanque da ponta, ao lado do seu.
Morávamos em uma minúscula casa de uma pequena vila em Inhaúma, subúrbio do Rio de Janeiro, onde os tanques, dois a dois, ficavam dispostos para que se dividisse também o asseio. Quase tudo era público. O espaço entre as casas, mínimo. Quer dizer, não havia, duas casas contíguas e em frente a outras duas, à distância de um passo largo de homem. Porta contra janela. Janela contra porta. Intimidade só se sussurrássemos o dia inteiro. Eu sabia de você, você de mim. Seu programa de tevê predileto, suas músicas, suas brigas com a família, quando você fazia amor ou tinha uma febre.
Nessa época, meu pai, que trabalhava na Rede Ferroviária Federal, gostava de beber e estava se viciando no jogo, tanto no de bicho e de corrida de cavalo, quanto no de pôquer. Como quase toda sua geração, era muito machista. Em casa, a primeira e a última palavras eram dele e, se bobear, também as do meio. Minha mãe, também como a maioria das donas de casa, tentava o que podia para fazer as coisas do seu jeito, mas era muito difícil.
Quando eu tinha uns sete anos, as coisas começaram a piorar muito. Um dia voltei da escola e não tinha mais tevê; no outro, meu pai ficou sem ternos e relógios – e olha que ele era vaidoso – e a comida estava racionada. Não entendia bem aquilo, mas ouvia, assim como os vizinhos, as discussões da minha mãe dizendo que não tinha dinheiro para a feira e que meu pai não podia jogar com seu salário. Certa vez, na minúscula cozinha, peguei minha mãe escondendo dinheiro dentro de um saco plástico, no pote de café. Ela fez sinal de silêncio com o dedo indicador sobre a boca.
Depois daquela ocasião, vi minha mãe escondendo dinheiro na minha gaveta de roupa de dormir, no congelador da geladeira e até dentro da descarga sanitária, um modelo antigo em que saía a tampa e tinha um gancho pendurado com uma boa distância separando a boia da água. Minha mãe prendeu um saquinho com notas ali. Tudo em vão, meu pai parecia que tinha faro canino, achava tudo. Achava e perdia.
A vida seguia assim, pobre, simples, mas sobretudo temerária, era muito medo de não se ter o necessário para o dia seguinte. Minha mãe passou a aceitar ajuda da minha avó, mãe do meu pai – que conhecia bem os vícios do filho – para a feira e os mantimentos que faltassem. Minha avó era discreta, passava lá com duas sacolas cheias, deixava tudo, dizendo que tinha umas frutas e legumes que as crianças gostavam, ela comprava para mim e para o meu irmão. Mas os vizinhos todos viam e sabiam e minha mãe se envergonhava. Sorte era que, ali, a vergonha também era dividida.
A vizinha do lado estava com o casamento a perigo, porque o marido tinha amante e quantas madrugadas a gente acordava com ela berrando para saber onde ele estava, quem era a piranha que estava tirando ele de casa e esse tipo de diálogo saudável e bem indicado para as crianças ouvirem.
A vizinha de frente tinha uma irmã meio louca, a Carminha. Toda vez que ela ia à casa da irmã tomar conta do sobrinho, colocava na vitrola o disco da Betânia no volume máximo cantando “Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa, dia útil ele me bate, dia santo, ele me alisa”. Era considerada bisca fácil na rua.
Só escapava dos mexericos a vizinha ao lado da casa de frente à nossa, que na verdade era minha tia, mas ela colocava dois tapumes bem altos, um na janela da sala, outro na janela do quarto, onde só sobrava espaço para entrar um arzinho. Não ouvia música e deviam cochichar lá dentro, ela, meu tio e minhas duas primas, porque a gente não ouvia nada. Ela era a antipática da vila, só cumprimentava se encontrasse alguém no corredor estreito, e isso porque para passar ao mesmo tempo, um tinha que ficar de lado, e se os dois fossem magros. Ah sim, ela reclamava com a minha mãe do barulho da minha bota ortopédica, nas vezes em que eu passava correndo pelo corredor. Havia duas tampas de ferro no chão, eu não sei se era de caixa d´água ou esgoto, mas reverberava no solado do meu pisante. Minha mãe retrucava: - Você quer que eu prenda a menina igual faz com suas filhas? Não faço não, ela precisa respirar.
Não lembro mais muita coisa dessa época, mas sei que meu pai continuava jogando. Às vezes tinha sorte, comprou outra tevê, e eu vi anunciar que o Uri Geller apareceria no domingo seguinte e ia entortar talheres, consertar despertadores, relógios de pulso e muito mais. Fiquei animada porque, há tempos, meu relógio de ouro, presente da minha madrinha no meu aniversário de nove anos, eu acho, estava escangalhado. Contei para minha mãe que eu ia me concentrar e consertá-lo vendo o Uri Geller. Contei para todo mundo. Só que no dia do programa, uns dez minutinhos antes, meu pai me chamou num canto e disse: “Olha, teu relógio não está aí não. Não fala nada para tua mãe”. Eu fiquei boba, muda, estupefata, tudo ao mesmo tempo. Não esperava isso do homem que, apesar de todos os defeitos, era carinhoso comigo. Na hora do programa, minha mãe falou: “Pega lá teu relógio, vai começar.” Eu disse algo como “não, deixa para lá, isso aí é tudo bobagem” e minha mãe insistindo, até que de repente ela me olhou, viu meus olhos cheios d´água e não falou mais nada.
Morei nessa casinha até meus 15 anos incompletos. Mudamos para a mesma rua, uma casa de fundos, mas decente, tinha até dois quartos e uma varandinha, embora o quarto - que eu dividia com meu irmão - fosse passagem para o quarto dos meus pais. Dessa casa minha mais forte recordação foi o dia em que apareceu um rato na sala. Eu saí correndo feito doida e me tranquei no meu quarto. Só que era o último capítulo da novela. Gritava pra minha mãe puxar a mesinha da tevê mais para cá. Vi o capítulo todo pelo buraco da fechadura.
Nossa, que viagem pelo tempo! E tudo isso porque hoje, no café da manhã, minha filha perguntou se eu me lembrava do dia em que ela nasceu, imagina. Aí me veio à memória essa história... a banheira rosa, coisa de bebê, coisa de menina, coisa de mãe.
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Leia também o conto de novaes/ clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/conto-integrante-da-antologia-premio.html

Leia também o conto de Carlos Benites clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/conto-integrante-da-antologia-premio_18.html

18 de dezembro de 2012

Antologia de textos premiados da UFF em 2012 tem três participantes do Clic


Noite quente. Lindos jardins do Solar do Jambeiro. Homenagem ao centenário do grande Pimentel. Suspense...

Benites, Rita e novaes/

Não, dessa vez o Clic não foi vencedor do Prêmio UFF de Literatura, mas três de seus integrantes – Rita Magnago, estreante no concurso, novaes /, vencedor de 2011 na categoria conto, e Carlos Benites, figurinha fácil nesta antologia, também na categoria conto -, honrosamente integram o livro intitulado “O contador de Histórias”.

Pimentel, o senhorzinho da frente, alegremente posou com a turma

Vários amigos do Clic estiveram presentes na torcida: Gracinda, Elenir, Dília, Marlie, Ilnea, Luzia, Fátima, Niza, Carlos Rosa, Winter, Cristiana, além de colegas da Academia Niteroiense de Letras, de familiares dos participantes e outros amigos. Após a solenidade, a turma foi comemorar no restaurante do Solar do Jambeiro.

A mesa foi pequena para tantos amigos,
aperta daqui, estica dali, coração de Clic cabe todo mundo


Em breve os textos de nossos participantes.


Conto Integrante da Antologia "Prêmio UFF de Literatura 2012" (3)


As histórias que contam

novaes/


Bom dia. Foi sim senhor, trabalhei na obra do Maracanã, virava cimento, levantava concreto, eu que tento me manter reto, no prumo dessa vida. Sim, me dava bem com os colegas. Trabalho em equipe. As metas? Cumpri todas. Sem atrasos, sem faltas. Não sou de faltar, nem nas segundas-feiras. O senhor sabe, segunda é o dia da falta no Brasil. O peão bebe o domingo todo e na segunda não consegue levantar. Eu, não. Gosto da minha cervejinha, mas nada que me derrube. Como? Foi... É... Derrubei um engenheiro lá. Enfiei um soco na cara dele. O cara tava de implicância comigo. Um dia ele me ofendeu. Falei que era a mãe dele, não a minha. E pra ele não esquecer, quebrei esses dente aqui dele, ó. Virou o engenheiro mais banguela do planeta. O quê? Ah, tá... sim senhor... eu aguardo o senhor entrar em contato. Bom dia.

* * * * 

Vem aqui, Zé. Põe a mão na barriga. Sente só. Esse menino pula demais, parece que está torcendo lá nesse Maracanã que você está construindo. Eu sei, eu sei, reformando. Pra Copa do Mundo! Uma obra daquele tamanho, vai ficar bonita? Como está indo? Você não tem me contado nada, antes sempre falava da obra, dos colegas, daquele engenheiro chato... Já tem uns meses que você não fala mais do serviço. Sai de manhã, volta de noite; só vejo que você está cansado, com esse ar aborrecido; aconteceu alguma coisa, Zé? 

Aconteceu, ora, aconteceu que a notícia mais importante, o que tenho pra dizer, é que sua barriga está linda. Lembra o que o doutor falou? Que pro neném vingar você não podia se aborrecer? Nada de esforço, nada de chateação. Até saiu do colégio, parou de dar aula. Repouso absoluto, lembra? E eu vou ficar aqui falando daquele engenheiro lambão? Nada disso! A única obra que me interessa agora é essa que estamos construindo juntos, Rosa, esse filho há tanto tempo querido. Além disso... aquele caso do engenheiro já foi resolvido...

Que sorriso maroto é esse, hem?...

* * * * 

Sim, senhor. Não, senhor. A fila está grande, mas não estou cansado não. É, eu sei. Em pé, lá fora, debaixo desse sol, bem umas três horas, mas eu tô acostumado. Meu trabalho é assim mesmo. Não tenho medo de serviço não. Chova ou faça sol, o suor é o mesmo, sempre molhado. Onde tem tabuleta de emprego, doutor, tem sempre muita gente querendo. O senhor já pensou se pudessem medir esses corações em fila? Quanto de angústia, de medo, de esperança? Quantas histórias tem aí nessa fila, doutor? E cada um chega aqui e conta um pouquinho pro senhor. Como o senhor faz? Escolhe a história mais bonita? A mais comum, né? É, a mais comum. Se tiver muita feiúra, ou muita beleza, o senhor descarta. História exagerada, muita desgraça ou sucesso demais, tudo isso se desconfia, sai do padrão, né? Pra que arriscar? Quanto mais comum, quanto mais igual, melhor. Eu entendo. São peças, né? Quanto mais previsíveis, melhor, menos dor de cabeça. Já pensou se a betoneira tivesse sentimento? Os tijolos? O cimento? Esse então mudava de humor de acordo com a situação. Seco e disperso quando pó. Maleável quando aguado. E finalmente um sujeito duro e definitivo, este senhor Cimento, quando adulto. Chova ou faça sol, doutor, os sentimentos não mudam, nem as pessoas, nem a função das máquinas e dos materiais, nem o trabalho que fazemos com eles. É isso que eu faço, chova ou faça sol. Viro cimento, levanto concreto, em qualquer tempo, isso é o correto. O quê? Por que eu saí da obra do Maracanã? Tô tentando melhorar de emprego, só isso. O quê? Engenheiro? Sei não... Dente quebrado?... ... ... É, tem o telefone aí anotado. Tá, sim senhor... eu espero sua ligação.

* * * * 

Oi, amor, que bom que você chegou mais cedo. Zé, fiquei com medo. Senti umas pontadas na barriga. Fiquei nervosa, aqui sozinha. Liguei pra minha mãe. Conversamos pelo telefone. Ela veio de novo com aquelas histórias de que você é muito esquentado, que não para nos empregos, que não acata chefia, que acaba brigando... Pois eu respondi a ela que você está muito bem lá no Maracanã. Pra ela parar com isso. Mas, quer saber?, mesmo que você seja um pouco revoltado eu não ligo. Você não é um cabeça-quente, suas revoltas têm sempre uma razão de ser. Se eu quisesse um marido frouxo tinha aos montes me querendo, até caras com situação. Mas eu escolhi você. Lembra? A família toda contra e até os vizinhos faziam carga. Inventavam histórias. Aumentavam. Tiravam conclusões. Tudo por causa daquele caso com seu pai. Tanto chamaram você de agressivo. Violento, revoltado, eles falavam. Dizem que você não aceita ordens desde aquele dia. 

Pai, chefe, presidente da República, Papa!... As pessoas pensam que posição é o que faz a pessoa. Eu vi muito cedo que isso não funciona. Um dia cheguei em casa e o velho estava lá, meu pai, bêbado, batendo, xingando, espancando a minha mãe. Parti pra cima dele. Eu tinha 15 anos. Explodi. Desde os cinco anos de idade eu via isso, se não com os olhos, fechados no quarto, via com os ouvidos, sentia com a pele arrepiada de raiva, me afogava, engolia salgado, porque eu não deixava a lágrima sair. Ficou tudo aqui no peito: o choro da minha mãe, os gritos, o corpo marcado, o sangue, junto com o grito que eu queria dar, o maior de todos os gritos do mundo, e que me queimava por dentro porque não conseguia sair. Era um grito adulto demais para a boca de um menino. Impossível de sair. Agora, sempre que eu sofro um abuso, esse salgado volta todo, amarga a minha boca, parece uma onda. Quem se prevalece de posição para ofender, eu não vejo pai, chefe, diretor, presidente; eu vejo só um verme, embriagado pelo poder que não sabe usar, um poder que está se vendo que não cabe dentro daquela pessoa, ela é pequena demais para ter aquele poder. Aí fica tudo deformado: a pessoa, suas atitudes e a função que se esperava dela. Dá tudo errado. Por isso, eu sei muito bem que não é um pedaço de papel que vai me dizer quem é pai, quem é chefe. 

Nem quem é mãe, Zé. As coisas que os papéis dizem, dizem por dizer. Porque as pessoas querem estabelecer por escrito, firmar, jurar de papel passado com registro em cartório, como se fosse possível transformar a verdade em palavras. Eu vejo isso lá na escola. De tempos em tempos mudam os livros de História. Até os de Geografia e Matemática! Descobrem-se novas verdades, novas histórias, que estavam ocultas. E com certeza ainda há outras tantas verdades que não conhecemos, histórias que ainda não contaram. 

De livros eu não entendo, Rosa, eu sei do que eu vejo na vida real. Um chefete não pode xingar minha mãe, do mesmo jeito que meu pai xingava. Se eu fui homem pra avançar pra cima do meu próprio pai, não vai ser ninguém que vai me intimidar e me ofender.

Você tem razão. Essas coisas escritas não valem muito mesmo. Pensa bem: como é possível pegar uma verdade inteira, cheia de senões, cheia de detalhes, de visões e razões diferentes e reduzí-la a uns sinais escritos num papel? As dores entram onde nessas letras? As raivas, as alegrias, as dúvidas? Os medos? A verdade só pode ser conferida com os olhos. Com o tato. Pelos ouvidos da alma. Com os sentidos e os sentimentos. Sou mãe, sou pai, sou chefe, sou presidente!... Podem escrever no papel o que quiserem, não passam de histórias que eles querem nos contar, como se fossem verdades só porque estão escritas num papel. Mas são apenas promessas. São obras de ficção à espera de serem confirmadas pelos sorrisos ou contestadas pelas lágrimas, aprovadas pela satisfação, pelo amor, ou irremediavelmente desacreditadas pela indiferença e pelo ódio.

Como aquela história do seu tio, não é? Ainda bem que você, mesmo adolescente, denunciou aquele safado. Ele teve o que merecia. Um tio de verdade não faria aquilo. Irmão da sua mãe, e ela não percebeu. Pior, não acreditou em você... Você foi valente. Sempre foi. Ainda é. Como você diz? “Nunca se esqueçam de que a rosa, além de beleza e perfume, também tem espinhos”... Mas, querida, chega de se aborrecer com isso, esses assuntos não fazem bem pro neném. Você não pode se exaltar. Agora está tudo bem lá no Maracanã, você não pode se alterar, vamos pensar no neném. 

Zé, por que você chegou mais cedo hoje? Que história foi essa?

* * * * 

José da Silva Quintino, sou eu. Currículo de trabalhador é a Carteira de Trabalho. O senhor pode ver aí onde já trabalhei, tá tudo anotado. É. Sim. Foi. Mas tem umas coisas que não estão escritas aí. O senhor sabe, nessa folhinha pequena aí não cabem as obras que eu já fiz. Não cabem as estradas, rodovias de se perder de vista; não está escrito aí quantos milhares de carros estão passando nelas neste exato momento. Também não diz aí do aeroporto que eu ajudei a reformar e ampliar. Já pensou se viesse na Carteira de Trabalho pelo menos um “muito obrigado” dos passageiros que agora podem pegar seu avião com mais conforto? Ia precisar de um chip nessa carteira, pra poder juntar tanta informação. E tem a barragem, é, hidrelétrica, foi em outro estado, mas a energia dela vai chegar num monte de cidades. Devia vir a lista aí, das cidades beneficiadas e até das famílias, né? Ou pelo menos um agradecimento do Governo Federal. Mas, não, aí tem só o nome da empresa em que trabalhei. É, só o nome do empregador. É a história que essa carteira conta: quem foram os meus empregadores, os meus patrões, e quanto tempo servi a cada um deles. Mais nada. Parece que é só o que conta, não é?... ...

* * * * 

Alô, senhora Rosa? Aqui é do departamento de Recursos Humanos. Estou ligando para dizer que seu marido será recontratado. É, ele vai voltar. Concordamos com seu argumento. Sim. Afastamos o engenheiro. É, foi advertido e afastado para outra obra. A senhora está certa, ninguém pode ofender um empregado daquele jeito. Sim, severamente advertido! Nossa empresa se pauta pela ética nas relações de trabalho, viu? Chefes e operários aqui fazem parte da mesma equipe, somos uma grande família e na nossa empresa todos são respeitados. Isso! Tem toda razão! E... quanto àquela ideia da senhora, de contar essa história horrível, esse caso infeliz, à imprensa e ao sindicato, justo nesse momento em que a comitiva da Fifa está vindo para ver a obra... vamos esquecer isso, não é? A situação já foi resolvida, não acha? Ah, muito obrigado! Obrigado mesmo!

* * * * 

Rosa, meu amor, nem te conto. A situação vai melhorar muito lá no Maracanã. 

É?

É. Me avisaram agora pelo celular. Afastaram aquele engenheiro. A paz voltou na minha vida. Amanhã começo uma nova etapa no meu trabalho!

Que bom, amor, fico feliz por você. Pois então vou lhe dar outra notícia: o médico marcou a cesariana para amanhã.

Vai dar tudo certo.

Vai sim.

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Leia também o conto de Carlos Benites clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/conto-integrante-da-antologia-premio_18.html

Leia também a crônica de Rita Magnago clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/cronica-integrante-da-antologia-premio.html




16 de dezembro de 2012

UMA HISTÓRIA DE SUCESSO (DE MUITO SUCESSO): Héldice Armond




     ...Ainda menino em Itaperuna-RJ, permanentemente acompanhava minha mãe às missas aos domingos, ou nos dias normais durante a semana. Éramos muito religiosos e continuamos. Num determinado dia, missa acontecendo, hora do ofertório, numa igreja em fase de acabamento, ainda com as escoras do teto por retirar, naquela penumbra dos idos das dezenove horas com iluminação precária, lá vinha o "sacolinha" das ofertas intimando a todos, um a um, quando saí de perto de minha mãe e tentei me esconder para que não visse meus pés, um de meia preta e o outro marrom, sim, pois foi o que consegui de mais próximo de um par completo. Mesmo aos oito anos de idade e me escondendo, aquele escriba foi até onde me escondia para buscar aquela moedinha, ou um "dinheiro" sequer. Estranhando meu comportamento um tanto constrangido, o sacoleiro parou na minha frente e me olhou de cima para baixo, da cabeça aos pés, pois eu não tirava as mãos do bolso, daquela calça-curta que o Rodolfo havia me dado já fazia tempo!... Após o fuzilamento daquele olhar, o "sacolinha" deu uma risada e saiu balançando a cabeça como se estivesse me sacaneando, zombando, porque percebeu as minhas meias trocadas. Elas estavam trocadas sim, não porque me confundi na hora de calçá-las, mas porque meu primo Rodolfo ainda não havia me mandado um par de meias completo. Éramos treze, todos vivos, graças a DEUS,  e eu o 11º (décimo primeiro), minha mãe professorinha primária e meu pai, funcionário do DER. Imaginem que FESTA, mas todos ali juntos com a fé inabalável em DEUS e na Igreja... Naquele momento eu não saberia relatar de que cor fiquei, mas sei que me ardiam as faces e me doía o coração de tão vexado que fiquei. Do fundo de minha alma, alma de criança, prometi a DEUS que um dia seria um homem rico e de tão rico faria uma grande oferta para SUA Igreja, e com ela poderiam se erguer várias igrejas. 

    Hoje, do alto dos meus 55 anos me vejo um homem rico. Sou verdadeiramente um homem muito rico! Pai de um líder espiritual (Padre).

    Dispenso comentar sobre os dias e noites de fome e frio. Dias e noites de apertos, preocupações... Quase loucura! Dias e noites de entrega total à vontade de DEUS. Dias e noites de trabalho e orações...

    Hoje sou um colecionador de tesouros! Herdeiro, sim. Herdei de Tasso Armond e minha querida Margarida Ladeira Armond uma enorme coleção de tesouros que é minha grande família. Eles, Tasso e Margarida deixaram vivos, sadios, inteligentes, bonitos e acima de tudo tementes a DEUS 13 filhos, 34 netos, 23 bisnetos. Uma verdadeira fortuna viva que está aí para honrá-los e bem-dizê-los. E o meu grande tesouro, o maior, o mais precioso e reluzente entregue a DEUS e à Igreja para que se prossiga SUA grande Obra no seio da sociedade e de nossa família, verdadeira coleção de tesouros.

                                                            Obrigado meu DEUS! 

Muito obrigado, seu filho Héldice.





13 de dezembro de 2012

Livros à Venda em Dezembro na Estante do Concierge



EM TEMPO PARA O NATAL, NOVOS TÍTULOS NA ESTANTE DO CONCIERGE! 

ALÉM DO LANÇAMENTO DE GRACINDA ROSA, O BELO LIVRO DE LUZIA VELOSO.


Veja - Peça  (conciergeclic@gmail.com) Livros da Estante


Leia a opinião de quem leu alguns dos livros da estante clicando aqui



ALEGRIA DE SERVIR: Gabriela Mistral

Toda a Natureza é um desejo de serviço.
Serve a nuvem, serve o vento, servem os vales.
Onde haja uma árvore que plantar, planta-a tu;
Onde haja um erro que emendar, emenda-o tu;
Onde haja um esforço que todos evitam, aceita-o tu.

Sê aquele que afasta a pedra do caminho,
O ódio dos corações e as dificuldades de um problema
Existe a alegria de ser são, e a alegria de ser justo,
Mas existe sobretudo, a formosa a imensa alegria de servir.
Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito,
Se não houvesse um roseiral que plantar, uma empresa que iniciar!
Que não te atraiam somente os trabalhos fáceis.

É tão belo fazer a tarefa a que outros se esquivam!
Mas não caias no erro de que só se conquistam méritos
Com os grandes trabalhos;
Há pequenos serviços que são imensos serviços:
Adornar a mesa, arrumar os bancos, espanar o pó.
Aquele é o que critica, este é o que destrói;
Sê tu o que serve.

O serviço não é tarefa só de seres inferiores.
Deus, que dá o fruto e a luz, serve.
Poder-se-ia chamá-lo assim: Aquele que serve
E Ele, que tem os olhos em nossas mãos, nos pergunta todo dia
“Serviste hoje? A quem? À árvore, a teu amigo, à tua mãe?”


Escritores mais conhecidos por seus pseudônimos

"Por acaso alguém aqui já ouviu falar em Eric Blair, Charles Dodgson, Ricardo Basoalto, Samuel Clemens ou Henri-Marie Beyle? Não? Tem certeza? Talvez você já tenha até lido algum livro dessas pessoas. É que alguns escritores ficaram mais conhecidos por seus pseudônimos do que por seus próprios nomes, vamos lá:

José Airton Dalass Coteg Sousa Ribeiro Dasciqunta Ribamar Ferreira

1º - George Orwell

Nome Verdadeiro: Eric Arthur Blair


2º - Lewis Carroll

Nome Verdadeiro: Charles Lutwidge Dodgson

3º - Mark Twain


Nome Verdadeiro: Samuel Langhorne Clemens


4º - Pablo Neruda

Nome Verdadeiro: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto

O poeta chileno resolveu adotar o pseudônimo Pablo Neruda em homenagem ao escritor checo Jan Nepomuk Neruda. Posteriormente, o escritor conseguiu na justiça a modificação de seu nome para o pseudônimo que usou durante toda a sua vida.


5º - Stendhal

Nome Verdadeiro: Henri-Marie Beyle

Stendhal foi o apenas um e o mais famoso dos pseudônimos usados pelo escritor francês Henri-Marie Beyle. Conhecido mundialmente pela obra O Vermelho e o Negro, o autor não gozou de muita popularidade em vida, somente sendo reconhecido – como ele próprio previra -, no início século XX.


6º - Ferreira Gullar

Nome Verdadeiro: José Ribamar Ferreira

Segundo o próprio autor: "Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Airton Dalass Coteg Sousa Ribeiro Dasciqunta Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome".


7 º - Miguel Torga

Nome Verdadeiro: Adolfo Correia da Rocha

Miguel Torga foi um dos maiores escritores portugueses do século passado. O pseudônimo famoso foi criado aos 27 anos. O “Miguel” é uma deferência aos escritores espanhóis Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. O “Torga”, por sua vez, é uma planta brava da montanha, que nasce sobre as rochas.


8º - Anne Rice

Nome Verdadeiro: Howard Allen O'Brien

Anne Rice é uma escritora estadunidense famosa pelos seus livros sobre vampiros, como, por exemplo, as obras Entrevista com o Vampiro e A Rainha dos Condenados, ambos já adaptados para o cinema. A própria autora escolheu “Anne” como primeiro nome, ao entrar na escola. O “Rice” decorre do sobrenome do seu primeiro marido, o também escritor Stan Rice.


9º - George Sand

Nome Verdadeiro: Amandine Aurore Lucile Dupin

George Sand foi uma escritora francesa, considerada por muitos como uma das precursoras do movimento feminista. O pseudônimo foi lhe dado pelo o escritor Jules Sandeau, um de seus inúmeros amantes.


10º - Voltaire

Nome Verdadeiro: François Marie Arouet

Voltaire foi um dos maiores pensadores iluministas. Passou a história pelas críticas que fez aos regimes absolutistas europeus, bem como pelas duras críticas a Igreja Católica. Um dos maiores críticos de toda história da Igreja Católica, o escritor, por ironia do destino (ou desejo de sua família) foi enterrado na Abadia de Scellieres. Após a Revolução Francesa, contudo, seu corpo foi levado para o Panteão de Paris, onde permanece até hoje."



11º - novaes/


Nome verdadeiro: Newton Barra

Vencedor do Premio UFF de Literatura 2011 - categoria Conto. Integra o clube de leitura Icaraí desde Fevereiro de 2011.




12º - Gabriela Mistral


Nome Verdadeiro: Lucila de Maria del Perpeturo Socorro Godoy Alcayaga. 


Nasceu em 07-04-1889 no Chile e morreu em Nova Iorque em 10-01-1957. Foi agraciada com o Nobel de Literatura em 1945 



13º - Georgia



Nome Verdadeiro: ... (to be continued)





12 de dezembro de 2012

Conversando com a Vovó: Elenir



Ele teria uns três ou quatro aninhos. 
 
1º Dentro do carro, aconchegado no meu colo, perguntou:
  - Vovó, já tá na hora de dormir?
  - Não, querido. Nós estamos dentro do túnel.
  - O “tuni” é bonito vovó! A hora de acordar ficou lá fora?


2º Eu estava tricotando na sala, quando ele me chamou:

- Vovó, me dá a mão e vem ver uma coisa que eu fiz pra você!

Lá fomos os dois de mãos dadas pelo corredor. 
 
Chegando ao quarto, o pequeno arquiteto mostrou o castelo que havia construído com seus bloquinhos de madeira, desses que toda criança tem, vermelhos, azuis, verdes, janelas, portas, pontes... 
 
- Que lindo, eu disse encantada!

Quando ele, entusiasmado, encostou seu dedinho no “castelo”, este se desmoronou. Eram muitos “tijolos” espalhados pelo chão. 
 
Mesmo sem saber, a criança aprendia, naquele instante, o que era decepção. Seus olhinhos me diziam. Desejei que os castelos que construísse em sua vida não fossem tão frágeis quanto aquele. Que as decepções lhe fossem poupadas.

3º-Através das grades da varanda, no 11º andar, ele espiava a rua lá em baixo. De repente, chamou-me: 
 
-Vovó, vem “vê” as folhinhas verdes dançando (ventava muito e as copas das árvores sacudiam-se ao sabor do vento). -Elas estão escutando música?
-Estão, querido. O vento canta e elas dançam. Respondi-lhe

4º- Estávamos à mesa do café quando ele me perguntou:

-Vovó, você gosta de queijo?
- Gosto muito meu anjo! Adoro!
- Você quer um pedaço de queijo?
- Quero. Mas onde está o queijo que eu não estou vendo?
- Vovó, se eu “sesse” anjo de verdade, eu botava minhas asinhas e ia voando lá no céu cortar um pedaço de queijo da lua pra você.


Emocionada, pensei: Que a vida preserve suas asas para que você possa continuar voando nos seus sonhos!

5º-Era noite e a lua brilhava no céu:

-Vovó, quem acendeu a luz da lua? - Perguntou-me
-Foi o sol querido. Ele emprestou a luz dele à lua, para ela ficar mais bonita.
-Vovó, então o sol é amiguinho da lua?
- É, sim, meu amor.
-E por que ele não fica perto dela no céu? Quando ela vem, ele vai. É porque ela só tem um olho?

Um dia, pensei, ele vai compreender que a verdadeira amizade existe, apesar de...


6º Na manhã seguinte, novamente olhando o céu, apontou-me:

-Vovó, olha um coelho lá no céu! Ele tem uma orelha grande! –Olha, vovó, ele agora virou peixe!

Tão pequenino e já descobriu a fauna das nuvens! Pensei.

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Sempre acreditei que, com sua sensibilidade, ao crescer seria um poeta.

Hoje, ele tem quatorze anos. Demonstra sua sensibilidade e amor à natureza, não através de palavras, mas da fotografia. Faz fotos lindas e cursa a Associação Fluminense de Fotografia.


Norma, Dília, Elô e Elenir



Curtindo Passados de Novo - Prêmio UFF de Literatura 2011

NOVO: Dia 17 de Dezembro teremos a premiação da edição de 2012 do Prêmio UFF de Literatura. Assim como no ano passado, neste ano temos três participantes do nosso clube de leitura entre os finalistas: Rita Magnago (Crônica), Benites e novaes/ (Conto). É torcer e comemorar!!!

Assista o vídeo da entrega de prêmios em 2011

(Vencedor do Prêmio UFF de Literatura 2011 - Conto)



A VIAGEM DO FILHO QUERIDO: novaes/ 

Tudo bem que adolescentes são estranhos. Está certo que os hormônios põem-se a trabalhar, a atrapalhar a ordem até então estabelecida; ok que os púberes rejeitem a infância e almejem a maturidade e, ainda, que confundam sua ansiedade por tomar decisões com a capacidade real de tomá-las. Está tudo muito bem, mas não há como negar que são seres estranhos esses, apenas não tão estranhos para nós porque já o fomos um dia e sabemos como é sê-lo, ou pelo menos deveríamos sabê-lo.

Apesar disso tudo, houve um susto. Jantávamos em família, a mesa como nosso teatro diário de conversas, dramas e comédias, mas também de ajustes e enfrentamentos. Eis que nosso filho de dezesseis anos – dezesseis anos e meio!, ele sempre enfatiza – anuncia que quer ir à Itália. Que lindo, disse sua mãe, sem perceber aquilo que logo pressenti no tom de voz do garoto: não era um dia, era agora. Você vai adorar a Itália, continuou perigosamente a mãe. Posso ir semana que vem..., lascou de chofre, com o abuso característico da idade, fazendo a mãe engasgar com as palavras que havia dito ainda na boca.

O jantar e o assunto foram mal digeridos. Usamos nós, os adultos, todos os argumentos de praxe, e os seus estudos, o que você vai fazer sozinho na Itália, não é assim que a banda toca, de uma hora para outra sair pelo mundo, com que dinheiro, você não pode fazer o que quer ainda, não com apenas dezesseis anos, tá legal, e meio, nem vão te deixar lá assim, vão pensar que você pretende imigrar, vai ser mais um despreparado nas ruas, vai ser camelô, vai perambular, dormir onde, comer o quê. 

Fechou a cara e emigrou da mesa de jantar como se fosse um país em ruínas, não as históricas, mas as atuais, dolorosas, desprovidas de qualquer encanto. Minha até então aliada e ainda esposa virou-se contra mim. Pronto, ficou aborrecido, aborreceu-se ela. É um ditadorzinho, eu disse, é o nosso Pequeno César. Viu, você que quis botar esse nome: César, o imperador, agora o menino quer ir pra Itália, tem sonhos megalômanos aos dezesseis anos!, concluiu minha mulher com sua lógica irretorquível. Vi logo onde ia dar: era tudo culpa minha, só faltava dizer que era porque me chamo Ítalo, e daí o garoto ficou com essa referência desde a tenra idade, e agora virou uma fixação, o Pequeno César quer atravessar oceanos e mares e tornar-se Ítalo. 

Durante uma conversa com o menino, notei que a coisa era séria. Tentei jogá-lo aos leões, impor minha força de pai, mas o garoto postou-se como um gladiador destemido, usou como escudo seu legítimo direito a viver e como lança afiada a culpa que me caberia caso se tornasse um adulto frustrado, um velho carcomido por tudo que deixou de fazer nesta vida. Com o agravante de que ninguém sabe o dia de amanhã, e se ele sofresse um acidente grave, e se adoecesse, e se não tivesse outra chance de viver. Não, minhas culpas já me torturam o suficiente, combinamos que nas férias de julho, verão na Europa, ele viajaria à Itália.

Meu filho, o Pequeno César, não queria mais ser pequeno, entendi. Onde mais tanta História, tanta cultura; onde mais tantos grandes. Meu garoto queria ser grande. Passou os meses seguintes, antes da viagem, numa incursão introspectiva, absolutamente íntima, apaixonada, a tudo que fosse italiano, treinava palavras, pesquisava mapas, cidades. Queria entrar no clima, pediu à mãe que fizesse em casa todos os pratos típicos daquela culinária. Mais tarde poderia comparar os sabores, temperos e o fazer, lá na origem; seria uma experiência legal.

Vi com surpresa essa sua viagem gastronômica preparatória. César não comia aqueles pratos, ele mergulhava, sentia, enroscava-se. Caminhava pelos fetutines e talharins como se fossem finas estradas rumo ao êxtase; surfava no ravióli ondas infinitas; alucinado, entrava em parafuso com o fusili. Como um aloprado, era quase obsceno quando se relacionava com a carne delicada, fina e apetitosa do carpaccio. Mas espantei-me mesmo quando vi meu filho, meu garoto, agarrar-se aos fios do espaguete como se buscasse, com ânsia, emaranhar-se, alma, coração e impulsos, naquele aroma instigante, naquele roliço e escorregadio labirinto. E, sim, definitivamente aturdi quando o vi emergir do molho de tomate vermelho de paixão.

Obviamente cometi um erro, constatei. Aquela volúpia não era apenas o apetite voraz de um adolescente, ou a admiração pela Itália, por mais que ela mereça. Algo de estranho acontecia com meu estranho filho. Aquilo era amor, paixão carnal, sonho de afeto, quimera sexual. E isso num garoto de dezesseis anos... tem proporções colossais para sua alma, é como um Vesúvio incandescente a petrificar seu pensamento. 

Meu filho, abordei-o com cuidado, interrompendo-o numa noite em seu quarto, me diga o que te faz querer tanto ir para a Itália, por que tem que ser agora. Estou apaixonado, disse, deixando de lado o computador, como se eu já não esperasse. Quem é essa moça, perguntei delicado. É italiana, parece brasileira, morena, linda. Mas... como você a conheceu, continuei meu carinhoso inquérito. Na internet. Na internet... repeti como um robô abobalhado, aquilo era demais – ou, na verdade, de menos! – para meus circuitos cerebrais antigos, meus padrões socioamorosos ultrapassados, o que houve com o amor de carne e osso, por que será que “ao vivo” virou apenas uma legenda na tevê, um selo digital, mamma mia... 

Percebendo minha paternidade atrapalhada, inábil com a modernidade, César voltou-se para o micro e pôs para tocar Zeca Baleiro: “Eu me flagrei pensando em você / Em tudo que eu queria te dizer / Em uma noite especialmente boa / Não há nada mais que a gente possa fazer / Eu vou fazer de tudo que eu puder / Eu vou roubar essa mulher pra mim... Se não eu, quem vai fazer você feliz?...”

Entendi o recado. Meu garoto queria tornar real o virtual, apalpar os bites, transformar circuitos em veias, mensagens em sangue, corações <3 em abraços suados e carinhas : ) em sorrisos olhos-nos-olhos, conhecer a moça, falar, ouvir, tocar, sentir o cheiro que no micro inexiste, com a certeza dos apaixonados de que será correspondido, esplêndido, é impossível que não o seja. O mundo é dos amantes, pensei. Nem que seja por um dia, um mês, um ano, mas que seja como Vinicius de Moraes, eterno enquanto dure. Não posso tirar isso do meu filho, na verdade até invejo, deve ser por essa vida pulsante naquela pequena conversa entre pai e filho que uma lágrima desceu de nossos olhos, foram dois filetes irmãos, gêmeos do mesmo desvelo, como se o adolescente de hoje e o de ontem tivessem se encontrado ali, em sintonia para além das épocas e das gerações, como contemporâneos dos mesmos sonhos, desejos e aflições. 

Naquela noite, entrei em meu quarto sob o impacto da juventude, desfraldei bandeiras, reivindicações e campanhas, conquistei minha mulher para as minhas causas amorosas e juntos fizemos todas as revoluções possíveis entre quatro paredes. Espalhamos generosidade sobre o mundo, como só os jovens sabem fazer. Após o cigarro que não fumamos e o ressonar, este sim, inevitável, dei a notícia a meu modo: seu filho vai pôr fogo em Roma. Ri de seu espanto. Expliquei que havia um fogo no Pequeno César, maior que todo o império romano de outrora, uma paixão irrepresável, uma loucura maior que a de Nero, sobre a qual nada podíamos fazer. Vi que era perturbador para a mãe saber de seu filho tão perdidamente apaixonado... por outra! Tentou minimizar, coisas de adolescente, ela disse. Coisas do coração, respondi desafiadoramente, enquanto pensava nas coisas de Freud. Para mostrar que fiz o dever de casa paterno, joguei as escassas informações que colhi como se fossem profundas: o pai da moça se chama Paolo, nasceu em Veneza, mas mudou-se para Roma. Ah... tranquilizou-se como se um véu cobrisse seu olhar perante o corpo desnudo.

No dia da tão esperada viagem à Itália, a mãe, econômica em palavras, serviu para César um risotto nero, talvez numa mensagem cifrada sobre a loucura que o filho estaria cometendo, interpretei. Disse ao filho que pesquisou a receita na internet, nada mais. Mas para o garoto o futuro não era negro, nem louco, nem um pouco estranho, era apenas e tão somente o inevitável a guiar seus passos, como se as artérias do coração fossem ruas a serem percorridas e levassem aos destinos da própria alma, do próprio ser, como se negar isso fosse contrariar Deus ou, mais grave, fosse um desvio imperdoável à missão da primeira molécula, da célula pioneira que se multiplicou no planeta e a partir da qual toda a vida formara-se desde então. 

Mande um abraço nosso para ela, filho, eu disse no aeroporto. Como é mesmo o nome dela, perguntei; Druuna, ele respondeu. Criada por Paolo Eleuteri Serpieri, completou já se apressando em direção à sala de embarque.

Criada..., estranhei. 

Foi chegar em casa, ligar o computador e procurar por Druuna Serpieri. Achei no Google: Quadrinhos Eróticos – Druuna – A personagem sensual de Paolo Serpieri, um dos maiores artistas do gênero.

Até hoje não sei como contar à mãe do meu filho.

11 de dezembro de 2012

Debate n'"As Nuvens"

Bom dia Clube!


Terminada a leitura, compartilho os trechos que me chamaram a atenção, reflexões provocadas e ligações com obras que dialogam com o tema...

Pg.16 “...sou o doutor Real, especialista nas enfermidades que depauperam não o corpo, mas a alma.”

Gostei da visão que o autor traz da humanização no tratamento, do reconhecimento que o que precisa ser cuidado é a alma que sofre. Este desvio de olhar a doença como algo que se restringe ao corpo em si é bastante polêmica e atual, face ao retorno da discussão do ATO MÉDICO.  Este visa restringir o campo de atuação de diversos profissionais de saúde,   determinando procedimentos a serem realizados exclusivamente por médicos.  Na minha visão, uma forma de fragmentar o olhar sobre o humano, que, por sua natureza, é pura complexidade.  Vejo que as instituições que atuam com equipes multidisciplinares são as que conquistam melhores resultados.  Trata-se uma espécie de Clube de Leitura do ser e seus sintomas - cada um "lendo" a partir de suas perspectivas... 

Pg. 20 “Dedicar-se a conseguir que um louco se comporte como todo mundo é como querer mudar o curso de um rio.”

Assistindo uma palestra de um psiquiatra e psicólogo que utiliza a filosofia clínica como prática profissional, ouvi o seguinte:
"Se você parar para pensar, um louco é aquele que não se adapta ao contexto.  Mas, pensando neste contexto atual, quem se adapta a isto  É O QUÊ??"
Foi lido numa porta de hospício:  "NEM TODO MUNDO QUE É, ESTÁ.  NEM TODO MUNDO QUE ESTÁ, É."
Relativizar loucura e sanidade é outra grande discussão...  Como bem Elô lembrou, há que se citar o "Alienista" do mestre Machado de Assis.  Ser autêntico é uma ameaça, uma transgressão.  A leitura do "Admirável Mundo Novo" nos fez navegar na dor, delícia e insustentabilidade do enquadramento às expectativas sociais...

Pg. 26 “... doutor achava que os atributos exigidos pelo trabalho delas – inteligência, doçura, força física e paciência – não dependiam de instrução.”

Concordo com ele!  Em alguns anos de acompanhamento de minha mãe em hospitais, senti  que a energia de quem cuida é fundamental para o processo de cura do paciente. Há PHD's inábeis nas relações que matam esperanças e possibilidades de cuidar dos outros corpos, quando o físico já não tem saída.  A sensação que tenho é que há muitos universos e que há pessoas que só enxergam um (o corpo, a razão, a ciência). O humano ainda é muito desconsiderado nos ambientes de saúde - tanto em relação ao paciente, quanto à equipe de saúde, e também a familiares e cuidadores.  Há estatísticas assustadoras de índices de suicídio de profissionais de saúde que atuam em UTI's.  E que práticas estas instituições adotam para melhorar este cenário?

Pg. 29 “... tenho de registrar que, em sua esmagadora maioria, os numerosos doentes que tivemos a nosso cuidado pareciam gozar de uma saúde excepcional do ponto de vista físico.  Instalados num mundo próprio, inteiramente criado por sua imaginação delirante, não raro incompreensível para os demais, pareciam protegidos das contingências naturais que aqueles que, como se diz, gozam de total discernimento, têm de suportar.”

O ambiente tem grande influência sobre a psique.  Lembro-me daquela tragédia no campo do Vasco, que por uma superlotação, as grades foram derrubadas e muita gente ficou ferida, pisoteada.   Lembro-me de um especialista dizer: "Quando você trata as pessoas como animais, elas agem como animais".  Retirar a área da GERAL do Maracanã e colocar cadeiras foi uma das iniciativas para evitar atos violentos.  Há um filme que ainda não vi, mas sei que mostra este processo: "Bicho de sete cabeças". Há tantos outros exemplos...

Pg. 74 “...nem bem empreendemos a viagem para a Casa de Saúde, já que, quase no exato instante em que abandonamos a cidade, nosso paciente saiu do estado de estupor.”

A Nise da Silveira dizia que o melhor tratamento para a loucura é a LIBERDADE. O Raul Seixas dizia que se você cerca uma pessoa, ela dá um jeito de escapar.  Se você fecha o cerco e não deixa saída, ela enlouquece... porque loucura é uma espécie de liberdade.

Pg. 146 “Mas minha consciência, rebelde, persistia, sussurrando-me: ‘se este lugar estranho não fizer um homem perder a razão, ou ele não é um homem, ou já está louco, porque é a razão que engendra a loucura.”

Sem comentários.  Esta frase fala por si.

Pg. 148 “...diferentemente dos outros, eram difíceis de manobrar devido ao fato de que, como tantas vezes acontece com certos tipos de louco, em vez de trancarem-se em si mesmos, acreditavam fervorosamente na legitimidade de seus delírios e, querendo a todo custo impô-los ao mundo, militavam em defesa de sua loucura.”

Hoje no círculo de biblioterapia, vamos trabalhar o livro CRENÇA & CÉREBRO do psicólogo Michael Shermer que defende que o "nosso cérebro constrói crenças por várias e diferentes razões subjetivas, pessoais, emocionais e psicológicas, em contextos criados pela família, amigos, cultura e sociedade.  Uma vez consolidadas essas crenças, nós a defendemos, justificamos com razões intelectuais, argumentos convincentes e explicações racionais.  Primeiro surgem as crenças e depois as explicações."
É interessante quando ele cita Copérnico que queria demonstrar uma nova visão de mundo através do telescópio e da resistência de, por exemplo, Cesare Cremonini da Universidade de Pádua, que estava tão comprometido com a cosmologia aristotélica que se recusou até mesmo a olhar pelo tubo.  Galileu carregava uma grande frustração:  "Quando quis mostrar os satélites de Júpiter aos professores de Florença, ele não viram nada, nem o telescópio."  Já diz o dito popular:  "o pior cego é aquele que não quer ver."
Fazemos isto o tempo todo.  Neste ponto, estamos todos unidos em defesa de nossas loucuras (ou ilusões)...

Pg. 163 “... a experiência me mostrou inúmeras vezes como é difícil saber qual é a percepção exata que os loucos têm da realidade, o que explica, como penso ter dito um pouco acima, que para muita gente loucura e simulação sejam quase sinônimos.”

Na literatura, a loucura é um tema apaixonante... O "Elogio da Loucura" de Erasmo de Rotterdam, mostrava-a como instrumento liberdade de critica ao dogma católico.  Em "O rei Lear" de Shakespeare, o rei enlouquece por ter a alma violentada pela culpa.  Ele é acompanhado por um "bobo", que como o louco, tem a liberdade de dizer. No decorrer desta história, o bobo mais parece com um sábio.  Isto fez-me lembrar de outra frase inspiradora: "Os loucos abrirão caminhos que, mais tarde, serão percorridos pelos sábios." Jean Paul Sartre

Falei bastante aqui, para calar na próxima reunião e abrir espaço de expressão de outros.

Abraços a todos e até sexta.

Cristiana


Grande Cris,

Este livro, para as psicólogas do CLIc, deve ter sido uma festa... Imagino o que não gerou de curiosidade e interesses analíticos, psíquicos, enfim, deve ter sido como se fossem o doutor Real, com a vantagem de estarem em pleno século 21, muito após Freud, Jung, Lacan...

Bem, este é apenas um devaneio meu, ignorante confesso das loucuras (exceto as minhas, claro, que cultivo com o mesmo carinho do dr. Real. De vez em quando as levo a passear e atravessar desertos...).

Algumas coisas me chamaram a atenção em "As Nuvens", de Juan José Saer:

  • Não li outros de Saer, então não sei se é uma característica dele, ou apenas deste livro: o autor tem um prazer especial na descrição das paisagens, e faz isso tanto quando se refere à natureza, à planície, ao deserto, à laguna, quanto quando se refere aos doentes, esquadrinhando a aparência de suas loucuras, o gestual, o olhar, a apatia ou a atividade frenética. Passo pelo livro com a impressão de ter visto um álbum de fotografias ou, melhor, um apanhado de imagens caseiras em vídeo, que alternam paisagens e doentes, doentes e paisagens, e captam o exterior de tudo com fidelidade. Há beleza, claro, nessas descrições.
  • Quanto ao "interior" dos personagens, porém, senti-me órfão. Esperava por parte do dr. Real, que narra a história, não diagnósticos precisos, mas pelo menos algumas especulações.
  • Os sons captados pela "filmadora" de Saer carregam algo de mistério e confirmação. Os animais selvagens que se esgueiram em meio ao capim do deserto, o som de seu deslocamento serve para confirmar sua presença, embora permaneçam não-vistos, invisíveis. Os sons dos irmãos Verde, misteriosos por si, componentes de linguagens incompreensíveis para os demais humanos, servem para confirmar suas "loucuras", seu mundo próprio.
  • Os sons guturais, as palavras incompreensíveis de Troncoso perante os índios: mistério que "hipnotizou" o líder e o grupo indígena, como se confirmasse para eles a demência que temiam como a um espírito do mal - misterioso e, por isso, possivelmente malévolo.
  • Algumas cenas primorosas:
  • 1) quando o dr. Real se vê sozinho naquela imensidão natural e afirma julgar-se o único homem que experimentou a solidão ("sou a única pessoa no mundo que sabe o que é a solidão, o que é o silêncio" - pág. 140). Deu inveja. Gostaria de viajar para lá e ficar lá, naquela mesma paisagem, por algumas horas, imerso no silêncio. Talvez um dia inteiro. Ou uma semana. Se os assim chamados "loucos" ignoram o mundo exterior, será que eles vivem neste silêncio? Seria um "silêncio" protetor? E, numa pessoa sadia, este silêncio exterior (real) não levaria a uma terapia revigorante? Um ajuste consigo mesmo, pela ausência de outras pessoas e a forçada e necessária conversa interior de nós com nós mesmos, sem escapatória, sem distrações? Isto, na dose certa, não seria terapêutico?
  • 2) o encontro do louco Troncoso com os índios. Fugira do comboio a fim de convencer os indígenas sul-americanos a insurgirem-se contra a dependência à Coroa Espanhola e seu Vice-Reinado local. E, até que o dr. Real pudesse escutar o que dizia, parecia que os índios estavam gostando da falação revolucionária do louco, a ponto de pouparem-lhe a vida e ouvirem atentamente. Era 1804. A independência argentina ocorreu em 1816, apenas 12 anos depois. Já era um tema, portanto, colocado em pauta naquela sociedade. Em seguida, segundo a narrativa do dr. Real, Troncoso, que sempre fora deveras eloquente, exprimia-se de modo incompreensível... Será que estava falando em guarani e dr. Real não percebeu?
  • Mistério.... e confirmação? 
Abs,
Newton





Boa noite Clube!
Desde que li o caso de Teresita, em As Nuvens,  fiquei lembrando desta santa Teresa de   Ávila. Parece-me que o escritor está se inspirando nela para suas  críticas ao misticismo.Ela era escritora e seus textos carregam um mistico sensual. Nossa personagem idem.


"Vi a mi lado a un ángel que se hallaba a mi izquierda, en forma humana. Confieso que no estoy acostumbrada a ver tales cosas, excepto en muy raras ocasiones. Aunque con frecuencia me acontece ver a los ángeles, se trata de visiones intelectuales, como las que he referido más arriba . . . El ángel era de corta estatura y muy hermoso; su rostro estaba encendido como si fuese uno de los ángeles más altos que son todo fuego. Debía ser uno de los que llamamos querubines . . . Llevaba en la mano una larga espada de oro, cuya punta parecía un ascua encendida. Me parecía que por momentos hundía la espada en mi corazón y me traspasaba las entrañas y, cuando sacaba la espada, me parecía que las entrañas se me escapaban con ella y me sentía arder en el más grande amor de Dios. El dolor era tan intenso, que me hacía gemir, pero al mismo tiempo, la dulcedumbre de aquella pena excesiva era tan extraordinaria, que no hubiese yo querido verme libre de ella."

Eloisa

* * *

Colegas,

infelizmente, o trânsito de Niterói me fez chegar atrasado e fiz um comentário apressado e curto que não deve ter sido entendido pelas pessoas do grupo que não leram minha "postagem", a qual segue abaixo:


Caras/os colegas do Clube de leituras, não terminei de ler o livro mas 2 coisas despertaram a minha atenção. A primeira é como o autor  é hábil em "espalhar" suas  considerações em relação à "definição" de "Loucura" e "Normalidade" ao longo do livro. Esta abordagem não "pedagógica" faz com que o leitor se perceba como alguém que também tem seus momentos de loucura e os aceite com maior naturalidade.

O segundo aspecto que me chamou atenção é "o que não está dito/escrito", ou seja, o "ascetismo" sexual do Dr. Real. Até o momento, ele não "pecou" em atos ou em pensamentos. 

Naturalmente, considerações sobre este aspecto da libido do narrador poderiam desfocar sua ênfase na descrição sobre o que é "normalidade" e o que é "loucura" na nossa vida cotidiana seja a nível individual seja a nível da sociedade. Não sei se o narrador irá se apaixonar por alguém na parte que ainda não li. Desta forma, não posso fazer comentários definitivos sobre se a grande paixão da sua vida seria, na verdade, o Dr. Weiss (não só simbolicamente e como mestre).

...



Terminado de ler o livro, fiquei em dúvidas se o autor não teria graduação em Psicologia ou Medicina devido à excelente caracterização dos sinais e sintomas apresentados pelos vários doentes. Sinais e sintomas que todos nós apresentamos de forma atenuada cotidianamente. A este ponto, não posso deixar de recomendar o livro "Luto e Melancolia" com o texto do Freud editado pela Cosaf naif, não só pela excelente tradução mas também pela Apresentação escrita pela Maria Rita Kehl (ver http://www.youtube.com/watch?v=mYusp6vahK8) e pelo Posfácio escrito por Urania Tourinho Peres.

Em relação à sexualidade do Dr. Real, achei que seria um tópico interessante para uma discussão psicanalítica/literária, Naturalmente, não existe qualquer insinuação da parte do autor de em relação a qualquer envolvimento sexual explícito entre o Dr. Real e o Dr. Weiss. Por outro lado, é curioso o contraste entre a "gula" sexual do Dr. Weiss e da soror Teresita, por um lado, e a indiferença do Dr Real em relação a este lado físico/afetivo da nossa existência, exceto, por uma certa condescendência e, até admiração, pelas "peripécias"do Dr. Weiss com as prostitutas e as casadas.

Finalmente, serei breve, os comentários do Dr. Real sobre as várias faces da religião, seja em relação a quem estabelece as regras a serem seguidas, seja para quem as interpreta e as segue de maneira própria, são muito pertinentes e inteligentes, merecedoras de análises antropológicas e históricas sobre o papel que as religiões tem representado a nível individual e social.

Um grande abraço,

Luiz Gawryszewski (Gavri)   




 Luís e grupo,

também tive a mesma impressão.  Como Helentry com Teresita se lembrou, com propriedade, de Teresa D'Ávila, lembrei-me de Sherlock e Dr. Watson, de House e Dr. Wilson. Não sei se seria pelo menos da parte do Dr. Real,   o que chamam de   bromance (brother+romance) a relação forte de amizade entre dois homens, um relacionamento íntimo, mas sem a parte sexual.  

Agora é que notei que nas duplas aqui citadas há pelo menos um médico.

Vera Leite