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22 de abril de 2017

Livro: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e filme

Olá queridos!
Reproduzo o post do meu Blog Mar de Variedade. 
Esse foi o livro do mês do Clube de Leitura Icaraí. Gostei muito!

Sinopse: Brás Cubas, após a sua morte, faz uma retrospectiva de toda a sua vida com os leitores. 


Esse livro é um clássico da Literatura Brasileira. É o primeiro romance da fase realista de Machado de Assis. 
Ele costuma ser leitura obrigatória nas escolas e costuma cair no vestibular. Confesso que ler um livro dele na fase adulta, com mais maturidade, me trouxe grande prazer na leitura. 
Brás Cubas começa sua narrativa contando que faleceu com 64 anos, solteiro, com cerca de trezentos contos, o que era considerado rico. 
Ele foi um cara de família rica, portanto, não precisava trabalhar, mas buscava títulos. Teve algumas histórias de amor, mas seu grande amor foi Virgília. 
Embora a vida de Brás Cubas não tenha sido espetacular, Machado de Assis conseguiu fazer uma narrativa sobre a vida dele muito interessante. O narrador interage com o leitor o tempo todo. 
Na obra, percebemos as nuances de cada personagem. Conseguimos fazer uma análise de cada um.
O livro também é uma crítica à sociedade, pois mostra a classe burguesa em busca de títulos de nobreza, além de casamentos por interesse, traições, etc. 
É uma ótima leitura!
Recomendo!

Sobre o filme:
Ele pode ser encontrado no youtube. O protagonista é vivido na fase mais velha pelo Reginaldo Faria e, na fase mais jovem, por Petrônio Gontijo. Achei bem fiel ao livro, de forma mais resumida. Muito bom também! Recomendo!

21 de abril de 2017

a máquina de fazer espanhóis: valter hugo mãe

Discurso de um jovem militante contra o regime de Salazar, em "A máquina de fazer espanhóis", de Valter Hugo Mãe, p. 150. Mantida a grafia original do texto todo em minúsculas:
.
"sabe, senhor silva, é preciso que se suje o nome de salazar para todo o sempre. é preciso que o futuro lhe reserve sempre a merda para seu significado, para que os povos se recordem como foi que um dia um só homem quis ser dono das liberdades humanas, para que nunca mais volte a acontecer que alguém se suponha pai de tanta gente. este tem de ser um nome de vergonha. o nome de um porco. para que ninguém, para a esquerda ou para a direita, volte a inventar a censura e persiga os homens que têm por natureza o direito de serem livres."


Nosso protagonista do mês, sob a gravidade de seus 84 anos de idade, enxerga o mundo todo em letras minúsculas. Quando o texto sai da esfera do Sr. Silva como, por exemplo, no capítulo sobre o ídolo peruano Teófilo Cubillas, que jogou no Futebol Clube do Porto entre 1974 e 1976, o texto volta ao que seria de se esperar, com frases e nomes próprios iniciando com letras maiúsculas. Na minha opinião, deveria ter permanecido com letras minúsculas porque o Sr. Cubillas estava naquela vergonhosa derrota da seleção peruana para a Argentina de 6x0, que desclassificou a seleção canarinho. Um verdadeiro episódio de ficção!

Quando a mulher do Sr. Silva vira metafísica, nosso anti-herói lamenta, inicialmente, não viver em um admirável mundo novo, para que a dor da perda não o oprimisse de forma tão desumana, como estava sendo viver em um mundo sem Laura.  Por isso é que  esses relacionamentos emocionais intensos ou prolongados  são proibidos e considerados anormais no admirável mundo novo de Huxley: poupa esses tormentos das perdas. O Sr. Silva maldiz suas memórias, e a saudade que sente, comparando-as a uma opressão fascista. No entanto, ao encontrar no asilo da Feliz Idade um personagem de um poema de Pessoa,  o Esteves sem metafísica, ele flerta inicialmente com a metafísica, para em seguida aceitar que o que lhe resta é a companhia de novos amigos e de seus próprios pesadelos.


"Com a morte, tudo o que respeita a quem morreu devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano, esse é o limite, a desumanidade de perder quem não se pode perder..."






O Sr. Silva costumava ter pesadelos onde abutres devoravam seu corpo. Lembrei-me da premiada fotografia de Kevin Carter, que mostra que o pesadelo do nosso herói do mês não é tão metafísico assim. Escusa-se de falar a referência à obra prima de Hitchcock.


(photo: nelson d'aires) as gralhas grassam

         
          TABACARIA 
                   (Álvaro de Campos, 15-1-1928)
           
        Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
        ...
        Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. 
         ...
        (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) 
        ...
          Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. 
          Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, 
          ...
          Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. 
           ...
           (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe , e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


        Periodista Digital
        "- sabes que os peixes tem uma memória de ... 3 segundos... é por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, porque a cada 3 segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. devíamos ser assim, a cada 3 segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo. compreendes. a cada 3 segundos experimentávamos a poderosa sensação de vivermos, sem importância para mais nada, apenas o assombro dessa constatação.  
        Corvos - Lucio Bouvier
        - seria uma pena que não voltasse a se lembrar de mim, sr. silva, não gosto dessa teoria dos peixes, porque assim não se lembraria de mim.
        ...
        estava no ponto peixe. o glorioso ponto peixe a partir do qual o destino nos começa a ser irrelevante. encaramos as coisas com o mesmo drama com que em segundos o esquecemos e nos esperançamos de alegria por outro motivo qualquer, sem saber por quê."


        "... Muitos mentem sem pudor para não se deixarem humilhar, pouco importava tudo isso porque tão na extremidade da vida eram todos a mesma coisa, um conjunto de abandonados a descontar pó ao invés de areia na ampulheta do pouco tempo".


        Para ler carta enviada a Valter Hugo Mãe por uma leitora do CLIc acesse: http://ritamagnago.blogspot.com/2011/08/carta-enviada-ao-valter-hugo-mae.html

        A carta-resposta do autor está em http://ritamagnago.blogspot.com/2011/09/resposta-do-meu-dileto-escritor.html



        Alguém aí sabe como tirar o fascismo das pessoas?

        Leia este livro.


        9 de abril de 2017

        Cem Culpas: maria tereza penna




        Lua - Planeta Sonho... Satélite de Cristal!
        Que pode ferir, marcar ou refletir num transporte de fumaça...
        E se tornar em rocha firme em direção ao alto!...

        (maria teresa penna)



        R$ 30,00 - peça o seu, CLIC  aqui


        Sobre o livro: "Seus poemas são músicas que se transformam em imagens e textos. Tudo é imagem e som. A cadência faz com que o ritmo se organize em música, o primitivo que nasce no coração, nas batidas da emoção. Poesia atual - inspirada, emocionada, amorosa - uma poesis feminina. Fruta madura, escrita pronta para o colhimento. Vai do eu ao eu. Plantada e tecida com mãos de fibras de bananeiras e bananais. Uma poesia de mulher que cria e participa com e sobre vários matizes saídos desse caleidoscópio do vivido em Geraes."

        "Seus poemas encantam ao mesmo tempo que traz a realidade para analisarmos e refletirmos de forma profunda, olhando para dentro de nós e vivenciando os fatos que estão perto, nos envolvem e que nos tocam o coração." (Sonia Salim)



        Sobre a autoraPoeta, artista plástica, publicitária, designer gráfica e multimídia, produtora cultural. blogueira interessada em Arte e Sustentabilidade. 

        "Maria Tereza sustenta a palavra com generosidade e beleza. CEM CULPAS traz o que de melhor ela tem resgatado nos últimos tempos, tanto na vida exterior, pela observação quanto olhando para dentro de si e buscando na alma as melhores palavras para compor o seu vasto mundo poético.

        Quando nos colocamos diante do livro podemos perceber a sua alma de artista, pois todo o trabalho foi elaborado por ela com a maior dedicação e talento para o deleite dos leitores. É uma mulher preocupada com a sustentabilidade e trabalha para que isso seja de fato realizado na comunidade em que vive."





                           Valsa Para Uma Lua Cheia


        Lá estava ela
        Branca
        Redonda
        Se esvaindo em Luz!... 

        E  nuvens vaporosas
        Macias
        Bailantes
        Delicadas
        Suavemente
        Em movimento andante
        Desenhavam arabescos
        Buscando seu quinhão de brilho.

        Ela parecia  valsar
        displicentemente
        Deslizante
        Escorregando
        Tangentemente Impalpável
        Em inigualável Estado de Graça

        Lá estava ela
        Redondamente farta aleitava
        Prenha de fogo abrilhantava
        Desprendendo lava...

        Eu aqui ardendo em febre
        De mil ampere
        Olhava ela
        Purgando em lastros
        Pela  trilhadela

        Quase me derreto
        Nesse dueto...

        Em seu fulgor me abraso
        Acalmando chamas

        Aplacando dramas
        Crepitando anseio
        De ilusão e devaneio
        Dançando sigo
        Sorvendo luz
        Morrendo n’alma






        6 de abril de 2017

        Livro: Frankenstein, de Mary Shelley

        Olá queridos!
        Li esse livro no ano passado e gostei muito, por isso indiquei para o CLIc. Será nossa leitura em maio. Espero que gostem tanto quanto eu. Segue o post que fiz na época no meu blog Mar de Variedade
        Esse foi o livro lido no mês de outubro no Clube de leitura Leia Mulheres de Niterói-RJ.
        Vocês poderão obter mais informações na página do grupo no facebook. 
        Temos escolhido livros temáticos. Então, outubro, que é mês de halloween, escolhemos um livro com esse tema de terror.
        O livro me surpreendeu positivamente. Achei fantástico.

        Sinopse: O livro conta a história de Victor Frankenstein, que vai estudar na Universidade de Ingolstadt, e fica fascinado com os conhecimentos que adquire. Acaba criando um ser monstruoso. 



        Na introdução ao livro, a autora nos conta que o livro começou meio como uma brincadeira, pois certo dia na Suíça, quando chovia muito, Lord Byron sugeriu que cada um dos presentes escrevesse uma história de fantasmas. Daí surgiu esse clássico do terror.
        O livro começa com cartas de um capitão, Robert Walton, à sua irmã Margaret contando suas aventuras no mar em direção ao Polo Norte. 
        Walton acaba salvando Frankenstein, que lhe conta sua história: que era de Genebra; que seus pais adotaram a órfã Elizabeth; que, aos 17 anos, seus pais resolveram mandá-lo para a Universidade de Ingolstadt; que sua mãe faleceu e, no leito de morte, falou que gostaria de ver a união de Frankenstein e Elizabeth; que na Universidade passou a se dedicar às ciências naturais; que o professor Waldman exprimia cordial entusiamo com o seu sucesso; que, após dias de trabalho, tornou-se capaz de conferir vida à matéria morta; que, após dois anos de trabalho, criou um monstro, tendo se arrependido da sua criação.

        "(...)como é perigoso adquirir saber, e quão mais feliz é o homem que acredita ser a sua cidade natal o mundo, do que aquele que aspira a tornar-se maior do que a sua natureza permite." (trecho do livro)

        A leitura do livro é fluida. A escrita da autora é poética. Apesar de ser um livro clássico de terror, conseguimos ver poesia em sua escrita. 
        A autora conseguiu criar uma história bem original para a época, sobre esse ser que é criado da montagem de partes de pessoas mortas. O Victor Frankenstein, ao se deslumbrar com o conhecimento que adquire, quer "brincar" de ser Deus, criando um ser monstruoso, mas se arrepende após a criação e passa a questionar sobre a aquisição de conhecimento pelo homem.
        O livro acaba trazendo muitas reflexões. Podemos analisar o relato do Victor e também do monstro que não se chama Frankenstein, como muitos acreditam. 
        O monstro narra para o seu criador que tentou fazer o bem, mas que as pessoas não o aceitavam, por causa da sua aparência, o que fez com que se tornasse mau. Uma outra discussão boa também: essa questão de darmos tanta importância à aparência. 
        Não posso contar mais do que isso para não dar spoiler, mas vou recomendar muito o livro, pois a leitura é incrível, assim como toda a história. 
        Recomendo!

        Sobre o filme:




        Há algumas adaptações para o cinema. Eu assisti ao filme Frankenstein de Mary Shelley. Eu não gostei muito da adaptação. Além de terem modificado um pouco a história, achei que o filme não teve todo o encanto que a leitura do livro proporciona. É um filme razoável!

        3 de abril de 2017

        Livro: Germinal, de Émile Zola

        Olá queridos!
        Segue o post que fiz no meu blog Mar de Variedade. 
        Esse foi o livro do mês do Clube de Leitura Icaraí. Eu fiquei o mês todo lendo, pois é um calhamaço de mais de 500 páginas. Mas posso falar que vale muito a pena!

        Sinopse da Livraria Cultura: "Germinal' é o nome do primeiro mês da primavera no calendário da Revolução Francesa. Ao usar essa palavra como título de seu livro, Zola associa as sementes das novas plantas à possibilidade de transformação social- por mais que se arranquem os brotos das mudanças, eles sempre voltarão a germinar. Um dos grandes romances do século XIX, expressão máxima do naturalismo literário, Germinal baseia-se em acontecimentos verídicos. É um espelho da realidade. Para escrevê-lo, Émile Zola trabalhou como mineiro numa mina de carvão, onde ocorreu uma greve sangrenta que durou dois meses. Atuando como repórter, adotando uma linguagem rápida e crua, Zola pintou a vida política e social da época como nenhum outro escritor. Denunciou as péssimas condições de trabalho dos operários, a fome, a miséria, a promiscuidade, a falta de higiene. Mostrou, como jamais havia sido feito, que o ambiente social exerce efeitos sobre os laços de família, sobre os vínculos de amizade, sobre as relações entre os apaixonados. 'Germinal' é o primeiro romance a enfocar a luta de classes no momento de sua eclosão. A história se passa na segunda metade do século XIX, mas os sofrimentos que Zola descreve continuam presentes em nosso tempo. É uma obra em tons escuros. Termina ensolarada, com a esperança de uma nova ordem social para o mundo."


        Essa Sinopse da Cultura dá uma boa ideia do que seja o livro, mas devemos lê-lo, pois ele é um livro muito importante para a humanidade de uma forma geral. Digo isso, pois acho que precisamos nos sensibilizar com a miséria alheia e também temos que lutar por respeito aos direitos sociais. 
        Como é baseado em fatos reais, temos o retrato social de uma classe de trabalhadores, a dos mineiros, que à época não tinha seus direitos sociais respeitados. Eles não ganhavam nem o mínimo essencial para se alimentarem. Não tinham a chamada "dignidade da pessoa humana", pois trabalhavam em condições deploráveis de segurança, não conseguindo ganhar o mínimo essencial para a sua subsistência. 
        Logo no início do livro, temos a chegada de Etienne a Montsou. Ele se diz operador de máquinas e está à procura de trabalho. E conhece Boa-Morte, que descobre que é apelido daquele senhor que já fora retirado da mina por três vezes, em pedaços. Ele consegue trabalho na mina de Montsou ( Voreux) e logo conhece Catherine, por quem se interessa. 
        Aos poucos vamos conhecendo toda a família de Boa-Morte, como Maheu, sua esposa e filhos, além das outras famílias do conjunto habitacional. 
        Uma curiosidade é que podemos observar o machismo da época, quando muitas mulheres eram chamadas de "mulher de" fulano. Não sabemos seu nome, dando uma certa invisibilidade. Além de ser "normal" que apanhassem de seus maridos, por questões como a sopa não estar pronta. 
        De um lado, temos os mineiros vivendo na miséria e de outro, temos os burgueses vivendo abastados. 
        Aos poucos, Etienne começa a discutir com os mineiros sobre o desrespeito aos direitos sociais por parte dos donos das minas e sobre a importância de uma greve para que fossem valorizados. Ele vira um líder na organização da greve. 
        O livro nos leva a muitas reflexões, pois é difícil julgarmos alguém que está no limite da fome e da miséria. A greve acaba sendo violenta de ambos os lados. 
        O livro também relata conflitos entre os próprios mineiros, até por ser uma obra muito real, onde é mostrado que o ser humano é muito complexo, com erros e acertos, e cada um com suas motivações. 
        Segue um trecho da conversa entre Etienne e Catherine que me emocionou. Ela repartindo o seu pão com ele, que nada tinha em seu primeiro dia de trabalho:
        "- Não vais comer? - perguntou ela de boca cheia, sanduíche na mão.
        Em seguida lembrou que encontrara esse rapaz vagando na noite, talvez sem vintém ou um pedaço de pão...
        - Vamos repartir?
        E, como ele não aceitasse, jurando que não tinha fome, mas com a voz trêmula de desejo, ela continuou alegremente:
        -Ah! estás com nojo... Eu só mordi deste lado, vou te dar do outro, está bem?"
        Apesar do machismo que eu relatei acima, o livro consegue mostrar a importância das mulheres, que sabiam lutar pelo seu pão:
        "A mulher de Maheu saiu arrastando os filhos pela estrada, não enxergando mais os campos desertos, a lama negra, o vasto céu lívido que girava. Ao passar novamente por Montsou, entrou resolutamente na loja de Maigrat e suplicou com tal veemência que conseguiu arrancar dois pães, café, manteiga e até sua moeda de cem soldos; "
        Não vou conseguir expor aqui todas as camadas contidas na história, até mesmo pois não quero dar spoiler. 
        Portanto, achei o livro fantástico, com um ótimo relato sobre as condições de trabalho dos mineiros de carvão na França, na segunda metade do Século XIX, bem como a sua luta por melhores condições de vida. Leitura muito importante!
        Recomendo!