Fundado em 28 de Setembro de 1998

31 de maio de 2022

183 anos do bruxo do Cosme Velho no CLIc


Rio de Janeiro, Centro,
pelas ruas caminhando, 
do Bruxo do Cosme Velho,
personagens vou lembrando.

(Cláudia Fonseca)

28 de maio de 2022

A poesia é...

 Inspirado em:

 “A poesia não é apenas um gênero literário, é quase um outro modo de entender os outros, a vida. É uma sabedoria”, de Mia Couto e da imagem de Lorraine corrigan.




 Para além de mais um gênero literário, a poesia é, pois ela atravessa a razão e passa pelo coração.

Ela pode ser alegre, mas triste também, revelar o bem e o mal, apontar o amor e até o rancor. A poesia revela o seu autor.

Ela pode ser amiga, companheira, onde podemos desabar, pois guardar sentimentos ruins causa mal-estar.

Ela é fiel como um cão e com ela podemos desafogar o coração.

A poesia demonstra ser um outro olhar sobre o mundo e sobre o próprio ser, de quem está a escrever.

A poesia ultrapassa a inteligência e pode nos revelar a sabedoria. Esta foi aluna de Deus e a Ele pode nos levar e assim podemos a paz encontrar.

A crente de Fortaleza

28/05/2022




26 de maio de 2022

A Fila, a vida



 Poema inspirado no conto, A fila de Murilo Rubião


A Fila, A Vida



Li o conto, A Fila de Murilo Rubião.

Vi, racismo, violência, falta de respeito e corrupção.

Mas também vi, amor, bondade, persistência, fidelidade, discrição e atenção.


O protagonista se chama Pererico e é um homem rude do campo.

Ele viera à cidade só para um assunto sigiloso de um terceiro para um destinatário falar.

E isso lhe custou muito caro,

Pois dinheiro ele não quis usar para o negócio facilitar.


Chegando na cidade grande, como porteiro de uma fábrica, um cidadão de nome Damião encontrou.

Esse lhe foi como uma pedra que em sua estrada se colocou,

Pois a muitas filas fez nosso protagonista enfrentar

Se quisesse o tal negócio alcançar.


O negócio era um sigilo que só ao destinatário poderia falar.


Pererico devido sua cultura de forma racista com Damião reagiu.

E Damião usando seu poder, 

Senhas de números altos o nosso protagonista fez receber e com isso o atingiu.


Pior que a história não se resume aí, pois ela nos aponta para além de racismo também corrupção.

Essa última era a grande sacada de Damião,

Que a todos cobravam pelas senhas de números menores.

E assim, quem pagava era atendido, ou teria que enfrentar filas enormes.


Isso foi mexendo com Pererico  que além de com palavras, fisicamente o agrediu.

Mas seu estilo grosseiro era antes fruto de sua cultura de homem do campo.


Porém, quanto à falta de respeito, se percebe nos dois.

Pererico com palavras e ações precipitadas e Damião usando de corrupção.


Mas como iniciei a história também vi amor, bondade, discrição e atenção.

São atributos de Galimene, uma prostituta que ao Pererico se apegou,

Dando-lhe de graça comida, carinho e atenção

Sem nunca ousar perguntar sobre seu negócio e passado e pesar.


Também vi no conto persistência e fidelidade,

Atributos encontrado em Pererico

Que até ao final de, A fila, ele persistiu com a fidelidade manter o sigilo.


E a vida parece que é assim:

Muitas filas temos que enfrentar para os nossos objetivos alcançarmos.


A crente de Fortaleza

26/05/22

23 de maio de 2022

Sobre o conto, Uns braços, de Machado de Assis



       Machado de Assis penetrou por trás na frente

     Usando a ideia de penetrar por trás na frente, do escritor da obra, A Cruel Filosofia do Narcisismo, Adelmo Marcos Rossi, ouso achar que Machado pode muito bem ter penetrado por trás na frente de seus contemporâneos escritores, para assim apontar uma nova visão de literatura. Saindo da falsa, insossa imagem do Romantismo para a  ainda imagem, porém a mais próxima do real que é a classe literária Realismo.

      Assim sendo, Machado se colocou em sua obra desde o princípio insinuando o que estava fazendo.

     Como por exemplo no conto, Uns braços, de Machado de Assis (1885, publicado pela primeira vez na Gazeta de Notícias).

     O conto se dá na Rua da Lapa, em 1870 e aponta para uma nova visão de ver o mundo e a literatura, saído do idealismo do romantismo, para o real do Realismo, tendo Machado de Assis como o maior representante do Realismo no Brasil.

     Então, ainda sobre o conto já citado, Borges, simbolizava o dono da gráfica onde trabalhava o jovem Machado; a mulher que vivia maritalmente com o Borges era as literaturas fabricadas na gráfica; Inácio seria o nosso Machado que viu na "mulher, literatura", os braços que o podia ascender na sociedade.

    Machado-Inácio viajava olhando para esses braços, via neles o real que parecia que ninguém mais via.

   "Tinha quinze anos feitos e bem feitos. Cabeça inculta, mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, que quer saber e não acaba de saber nada. Tudo isso posto sobre um corpo não destituído de graça, ainda que mal vestido. O pai é barbeiro na Cidade Nova, e pô-lo de agente, escrevente, ou que quer que era, do solicitador Borges, com esperança de vê-lo no foro, porque lhe parecia que os procuradores de causas ganhavam muito. Passava-se isto na Rua da Lapa, em 1870." (Machado falando de si, com disfarce).

    Mas Machado para além de falar de si em suas obras, ele também contava histórias e por meio delas ensinava o real para o leitor.

   No caso desse conto, ele fala da alta afirmação como homem do jovem Inácio, (a ascensão de Machado na sociedade) e do despertar de uma mulher, (uma nova maneira de ver a literatura).

    Sendo assim, não são as personagens femininas de Machado que são terríveis, é Machado nos couros delas.

  Machado por exemplo entra nos couros de Capitu e penetra por trás nos seus contemporâneos escritores e por meio de Bentinho, o bendito e ingênuo, fica no meio deles, cresce, se informa virando Bento Santiago, um excelente engenheiro das palavras e nos couros de Capitu dá a luz uma nova literatura, realista. A aparência com o amigo é a sacada que deixa os seus contemporâneos casmurros (tristes).

     O adjetivo casmurro tanto serve para Machado, como sendo ele caprichoso, pertinente, teimoso em alcançar seus objetivos, como pode ser usado para os seus "adversários" na qualidade de tristes, pelo sucesso do nosso Machado.



Ana Patrícia do Nascimento Aquino Calixto 
23/05/2022

18 de maio de 2022

Graça nas profissões.



     Muitas profissões podem ser bem divertidas, embora exercendo um trabalho sério.

     Mas quem disse que o que é sério não pode ser divertido?

   Machado de Assis, o escritor, deveria se divertir muito com o trabalho sério que fazia, em escrever suas literaturas realistas.

     Acho que o caminho pode ser esse, o de tirar as pedras que surgem no caminho e quem sabe usar delas para construir uma nova engenharia, agora com uma ampla visão da frente e do verso e olhando com atenção também para os lados.

     A vida pode ser vista como uma construção de uma história contada em séries, com começo e vários meios, com altos e baixos astrais entre os personagens, onde cada um ao seu jeito fazem valer sua história.

     Porém entre as gravações algo pode acontecer e algum artista adoecer e até morrer. E mesmo quando isso acontece e a todos venham abalar, o show precisa continuar. 

     Portanto precisamos parar de cultuar nossa dor e nossa história continuar a contar acrescentando humor, pois há graça também no real.

     Ah, e com relação a traição ninguém escapa não. Nem mesmo o grande homem escapou.



Ana Patrícia do Nascimento Aquino Calixto

16/05/2022


15 de maio de 2022

A distância e o segredo entre nós: Thrity Umrigar

 

OK. OK. OK. Amei o primeiro livro, "A distância entre nós", de Thrity Umrigar. O livro me mostrou faces da Índia pobre de hoje em dia, que não deixa a desejar à das favelas brasileiras. Ao contrário. As latrinas coletivas são apenas um dos aspectos ainda mais insalubres e humilhantes do que temos por aqui.

O primeiro livro mostra que não importa a classe social. A violência doméstica é a mesma. Violência entre marido e mulher, cuja vítima esconde seus hematomas e dores para preservar a relação familiar doentia. É impressionante como é igual em todo o mundo. Não importa a cultura e a evolução do país. A violência doméstica, a força bruta, é usada para subjugar a esposa e a família. Pode ser na Dinamarca, no Brasil, nos EUA, na Índia... essa força bruta é um dado em comum nas sociedades até hoje em dia. Triste. Verdadeiro.

No segundo livro (O Segredo entre nós), obviamente torcemos por nossa querida Bhima e sua trajetória com a neta. Ela trabalha duramente (após o abandono de seu marido e a morte de sua filha e genro pela Aids) para que a neta Maya curse a faculdade e saia do triste destino dos analfabetos de seu país.

São as lembranças e o dia-a dia de Bhima e Parvati que nos mostrarão como é a diferença entre a elite e a classe oprimida da Índia (e do mundo). Moradia pobre, desemprego, fome, medo de acabar morando na rua... 

Nesse segundo livro, a entrada definitiva da personagem Parvati na vida de Bhima mostra outro problema mundial: a venda de uma filha pré adolescente para um prostíbulo em troca de um dinheirinho para tentar sustentar o restante da família miserável, num sertão sem clemência. E aí eu concordo com Parvati no final de sua vida. Não havia outra saída. Então os dois livros são maravilhosos, "né"? São! Entretanto... Entretanto a escritora mata o livro ao fazer um final utópico. Estava indo bem com o investimento de nossa heroína na feira, os estudos de Maya, a emersão de Parvati para uma amizade crível, etc. etc. etc. Mas no fim... Bem, o fim é de um conto de fadas... Decepcionante. Estava sendo um final feliz duro, mas real... até ela tentar transformar num conto de fadas resolvendo dissoluções familiares de uma maneira milagrosa e instantânea. Decepcionou.



Estou encantada com a autora. Quanta sensibilidade e sutileza. A melancolia no livro é inegável, mas não piorou minha depressão, ao contrário, me fez sentir menos sozinha. As mazelas vividas por duas mulheres de classes completamente diferentes, mostra que a dor das perdas, da violência doméstica, a incapacidade de romper com o casamento, não tem uma linha divisória entre as classes sociais. E a miserabilidade em que se vive nas favelas, sem estudo e lutando para dar à geração seguinte um caminho diferente através do estudo, da educação, é motivo para os maiores sacrifícios. Um amor inimaginável. Não morrer para poder, ao viver, ajudar uma neta a estudar e escapar do destino da pobreza. O segundo livro segue daí. Não vejo a hora de continuar a ler. Vou tentar arrumar tempo para comprar ainda hoje. Preferi gastar o tempo contando à vocês da emoção gentil que essa autora me desperta.

Estou sensibilizada e apaixonada, 😊


(Mônica Ozório)



Alguns trechos que mencionam a Lua em Torto arado: Itamar Vieira Jr.


"Depois que ele me deitou na cama, beijou meu pescoço e levantou minha roupa, não senti nada que justificasse meu temor. Era como cozinhar ou varrer o chão, ou seja, mais um trabalho. Só que esse eu ainda não tinha feito, desconhecia, mas agora sabia que, como mulher que vivia junto a um homem, tinha que fazer. Enquanto ele entrava e saía de mim num vaivém que me fez recordar os bichos do quintal, senti um desconforto no meu ventre, aquele mesmo que me invadiu pela manhã com o trotar do cavalo. Virei minha cabeça para o lado da janela. Tentei olhar pelas frestas a luz da lua que tinha despontado no céu mais cedo. Senti algo se desprender de seu corpo para meu interior. Ele se levantou e foi se lavar com o resto de água. Abaixei minha roupa e fiquei de costas, com os olhos no teto de palha, procurando filetes de luz. Procurando alguma estrela perdida que se apresentasse como uma velha conhecida, para dizer que não estava sozinha naquele quarto."




Pescavam dia e noite, e só não conseguiam pescar em noite de lua nova porque os peixes ficavam com os dentes moles e não seguravam as iscas. 

MEU PAI NÃO TINHA LETRA, NEM MATEMÁTICA, MAS CONHECIA AS FASES DA LUA. SABIA QUE NA LUA CHEIA SE PLANTA QUASE TUDO; QUE MANDIOCA, BANANA E FRUTAS GOSTAM DE PLANTIO NA LUA NOVA; QUE NA LUA MINGUANTE NÃO SE PLANTA NADA, SÓ SE FAZ CAPINA E COIVARA.



Eu e Mimoso


 Eu e Mimoso


Todos os dias ele está lá

Mesmo antes do despertador tocar.

Acordar assim é uma delícia

Desperta até da preguiça.


No fim de semana é igual

Ele chega e faz miau.

Seu miau é insistente 

E acorda a outra gente.


Seu pai levanta e tapioca vai fazer

E Mimoso olha para mim e miando diz que sua ração quer ter.

Eu levanto e me entrego a seus encantos

E ele agradece me alisando tanto.


Minha vida com ele é bem melhor

Até parece que ele sabe desatar os nós.


Quando a palavra nós me referindo ao plural de nó escrevi

O mistério percebi

Eu sozinha já sou um nó

E com outro somos nós


Para esses nós desatar 

Somente possuindo um gato para alisar.

O Mimoso é meu animal de estimação

E ele enche meu coração.


Ele está sempre a me animar

E isso modifica até o meu falar.

Meu viver com ele é legal

Pois ele levanta meu astral.


Agora vou me levar para também ao outro dá atenção

Pois me chama para o acompanhar na refeição.

Eles são os gatos de minha vida

Mas se eu não for agora agitada ficará minha vida.


Ana Patrícia do Nascimento Aquino Calixto

A crente de Fortaleza

15/05/2022🤝🏻💐

14 de maio de 2022

Outra apaixonada por Stoner

 


Ela mora na Bahia e também está lendo Stoner. Começou no CCBB.

O CLIC e Elô: Ana Patrícia do Nascimento Aquino Calixto



Depois da cadeira de rodas, clic clic
Entrou em sua vida o CLIC
Fazendo te voar na leitura
Voas agora numa doce frescura

Como uma arara azul
Voas tu sobre o mar azul
Como a um furacão
Tornou teu coração

O CLIC te trouxe a leitura
E a leitura o clic clic te trouxe
No clic clic está teu coração
Fazendo-te sonhar, então

Agora não irás mais parar de clicar
Pois no teu coração o CLIC está.

Elô, querida,
O CLIC passou a fazer parte
De tua vida.

(14/05/2022) 

13 de maio de 2022

Há 9 anos passados: Texto Coletivo do livro do CLIc: Meu carnaval preferido


Peça o seu: R$ 30,00 frete incluso
conciergeclic@gmail.com

Prezados participantes do CLIc,

Terminamos hoje nossa primeira produção conjunta, o conto Meu Carnaval preferido. Foram 290 acessos ao post “Brincadeira de Carnaval” até às 12h de 01/02/2013, com 28 comentários e muitas risadas. Agradecemos a todos que colaboraram, escrevendo ou lendo, e transformando a ideia num sucesso.

Na reunião de hoje haverá o sorteio de dois livros aos autores participantes: Benites, Carlos Rosa, Elenir, Eloisa, Evandro, Gracinda, Luzia, novaes/, Rita, Rosangela, Rosemary, Rose Pinto, Sonia e Vera Freire.

Abaixo, o conto final. 

MEU CARNAVAL PREFERIDO





Eram seis horas da tarde. O sol seguia ainda brilhante por conta do horário de verão. Eu espiava pela cortina a moça do apartamento de frente experimentando sua roupa de Carnaval. Ela era destaque da Unidos da Viradouro e usava um biquininho, ó...
Contemplei seu corpo, temeroso de ser descoberto em minha travessura de homem-menino, e mais que seu corpo admirava-me a alegria em seu rosto, como se aquela fantasia resumisse a vida, uma felicidade inteira concentrada naquele momento, naquele desfile, alguns minutos de êxtase na passarela. Ela experimentava a fantasia... e, confesso, eu também. Claro, a fantasia que eu experimentava estava apenas em minha mente, era a fantasia de um amor de Carnaval. Sim, é verdade, o biquini minúsculo e o corpo convidativo em muito contribuíam para isso. Mas espiar aquele momento mágico, o instante do encontro da artista com seus aparatos de corpo - as sandálias enfeitadas, a tanguinha, as plumas, os seios em purpurina e, por fim, o adereço de cabeça com mais plumas - observar esse momento e o brilho dos seus olhos, puxa, isso sim me levava à paixão, claro, claro, sem jamais desconsiderar o tônus de sua pele e suas formas apetitosas... Embora eu me escondesse aqui, no outro bloco deste prédio, vizinho oculto, perguntava-me até onde iria a coragem dessa minha paixão. Como faria para abordá-la? O que eu poderia dizer?
Seu corpo era escultural. Depois de vestir as duas peças,que eram recobertas de paetês coloridos, ela se contemplou no espelho do armário, virando de um lado e de outro para melhor apreciar a linda imagem ali refletida. Talvez já impulsionada pelos momentos carnavalescos que a esperavam, ensaiou uns passos que deveriam seguir o ritmo do samba-enredo de sua escola.
“Tou me guardando pra quando o carnaval chegar...”, foi o verso que lembrei, a música que sempre me pareceu anunciar o Carnaval como o ápice da alegria, da felicidade, do amor. "To me guardando pra quando o Carnaval chegar...", chego a ouvir o Chico, o MPB4, e agora o objeto do meu desejo estava ali, sambando para o espelho do armário, sem saber que me guardava atrás da cortina e, afinal, o Carnaval estava chegando.
Ah, tesão! Se ela sonhasse que tenho a maior fissura nela! O máximo que consegui chamar sua atenção foi quando fiz de conta que não a via e cruzei a sua frente, naquele dia à saida da farmácia, sem tempo para que ela se desviasse de mim, tropeçasse e sem se desculpar me fuzilasse, ah seus olhos!, lascando um depreciativo “MENINO!”. Injustiça! Ela que pensa, sou grande já, e ela gostaria bem de mim se soubesse como sou. Fiquei com o perfume dela nas ventas. Respirei fundo e prendi o ar, andando um tanto de olhos fechados, pra sentir bem como ela era. “Um dia vou ter uma mulher assim”, me prometi. Enquanto isso, já nesse Carnaval vou tentar alguma coisa, vou azarar. Ah, que vou! Mulher que gosta de ser destaque aprecia ousadia.


Enquanto era observada sem saber ser objeto do desejo, começou a ensaiar uns passos em frente ao espelho. Seria o espelho meu único observador e crítico...Será que na avenida, alguém irá notar os descompassos do meu coração?...
A moça de corpo escultural pensando estar sozinha em seus pensamentos, sonhava encontrar a felicidade que já espreitava com grandes olhos pela fresta da janela. Na verdade não era a almejada felicidade, mas a obsessão dele pelo corpo já que o coração não interessava nem no compasso do samba na avenida. Amor de carnaval...
Lá está ele, de novo me olhando através da transparente cortina de pequenas e delicadas flores. Hoje de manhã esbarrou em mim, na porta da farmácia e eu fingi não reconhecê-lo. De tão surpresa quase não contive minha alegria e gritei: “MENINO!”. Sim, sempre ele, povoando meus sonhos, aquecendo meu corpo mesmo tão distante... tão menino, tão ardente, tão transparente e ao mesmo tempo tão simulado. E tão desejado... Ele não sabe que é pra ele que eu me visto e me dispo...
No entanto, não posso desistir agora, finalmente serei destaque na avenida e o Jorge que me deu esta oportunidade, não pode descobrir que meus pensamentos não são dele. Nem quero imaginar o que pode acontecer, Jorge é violento, já me avisou que está com a barba de molho e seria uma tragédia uma barba ensopada de sangue
Ela estava ansiosa para entrar na Avenida, portando a bandeira da Escola, dançando e requebrando-se ao rítmo do samba-enredo. Faltavam poucas horas para realizar o sonho que a acompanhava desde menina. Mas, sob os cílios postiços, o rímel, as pálpebras coloridas, seu olhar trazia, quase imperceptível, uma sombra de preocupação. Joca, seu companheiro de alguns anos..Ele não aceitava ver a mulher que era sua, como dizia, exibir-se para outros homens. O corpo quase nu, os seios à mostra, as pernas bem torneadas, o exíguo biquini que mais realçava, do que cobria, seu trazeiro roliço e bem fornido, e, ainda por cima, seus requebros voluptuosos. Era demais para ele. Machista, orgulhoso e possessivo. Características que já a estavam cansando. Entretanto, ela pediu, implorou, disse-lhe que, na Avenida, era para ele que dançaria. Que a deixasse viver seu sonho. Que esta seria a primeira e última vez, prometia.Tanto fez, e tanto falou, e tanto chorou, que o convenceu. Mas... Joca estaria, realmente, convencido?

Pobre Joca! Que vida é essa? Era preciso parar de se enganar. Seu envolvimento com vários homens ainda iria lhe prejudicar. E muito! Poderia acabar em tragédia! Joca não imaginava que ela tinha um amante. Joca e Jorge certamente se envolveriam em violenta briga se soubessem da existência um do outro. Arranjaria uma forma de se afastar de Jorge após o Carnaval. Seu envolvimento com ele era recente e sabia que não era nada sério. Também tinha que parar com as doentias fantasias exibicionistas com o homem da janela. Era preciso parar de ser leviana. Isso só a vulgarizava! Não pensaria nisso naquele momento. Seu sonho de entrar na passarela estava prestes a se realizar.
Jurei para o Jorge que essa seria última vez. Joca também acretida nisso. Mal sabem eles... Pedrão prometeu que no próximo ano serei Madrinha da Bateria.
Ai que estresse que é todos esses homens babando na sola de meu sapato. Nenhum deles pode me dar o que eu quero. Quero brilhar, fazer sucesso, conquistar meu lugar no mundo. Um bando de carcamanos que acham que vou empatar meu futuro em pouca coisa. Daqui quero ir pro BBB, pro Metropolitan, chega de miserê. Quero sair desse cortiço infestado de voyeurs, de marmanjo que acha que é dono da gente, só porque um dia nos enganamos e fizemos algumas concessões, dispensando um sorriso ou uma palavra de cumprimento na portaria. Que venha a virada com esse destaque na Viradouro. Deus que me livre da sina de minha mãe que não conseguiu nada na vida. Os homens de minha mãe só lhe legaram desgosto, deixando-a na rua da amargura. Chega de Jocas, Zecas, Jorges, agora quero Johns, Winstons, Newtons.
A linda cabrocha estava tão preocupada com suas formas e imagem que nem percebeu que Jorge estava enfeitiçado pela beleza da filha do diretor da Escola, uma loura fenomenal que havia se preparado para ocupar lugares de destaque na Escola e se submeteu a implantes de seios, de nádegas, panturrilha e até na sola do pé, para poder sambar em saltos altíssimos que precisa de certificação em equilibrismo para se manter em pé, que dirá sambando com esplendor pesado nas costas e sempre sorrindo de felicidade.
E ela continuava a viajar em seus pensamentos. Vou desfilar a frente de 200 ritmistas, que estarão obedecendo ao Mestre, mas é a mim que eles estarão reverenciando. Terei também não só os olhos do menino do olhar peralta, mas de toda uma arquibancada. Vou brilhar! Vou brilhar!
Sim, o menino do outro lado me encanta, pela doçura de sua timidez, mas quem já tem Jorge e tem Joca, que em breve dispensarei, não precisa de um menino tímido e apaixonado. Preciso de Pedrão, do futuro que ele pode me dar, pelo menos do futuro imediato. Depois, sim, fora Pedrão e que venha a Globo, as capas de revista, quem sabe novelas. Corpo pra isso eu tenho. Por que desperdiçaria minhas oportunidades com esse garoto olhudo e mudo? Ele é bonitinho, com seu jeito envergonhado, mas a vida não é um conto de fadas.
Ela sambou diante do espelho... estaria a se mostrar para mim? Sinto que ela me quer. Vive cercada desses brutamontes; nenhum deles tem o sentimento que eu tenho por ela. Sinto uma intensa atração, sim, mas ela mexe com meu coração, eu poderia amá-la de verdade, eu a faria feliz, eu me casaria e me esforçaria por ela. Ela não faz ideia... Eu sou o que ela precisa. Um cara sensível. Ela saiu da janela... está se trocando... está saindo... Vou descer correndo, vou falar com ela lá embaixo. Adeus janela, adeus cortina. Espero encontrá-la na rua.
Na rua, ele viu, minutos depois, a sua paixão que encontrara um homem.Discretamente ele se aproxima e ouve:
– Mas é verdade que sua fantasia tem preocupações ecológicas, que trata de temas politicamente corretos?
– É claro, represento as biodiversidades.
– E o que vai usar para isso? Ouvi dizer que usa plumas de diversas aves, couro de jacaré? É verdade?
– É... um pouco, afinal meu biquini é mínimo!
– Não tem medo de que as pessoas se revoltem e façam uma manifestação durante o seu desfile?
Aquele chato a estava importunando. Resolveu se aproximar mais.
E então o menino se fez homem, estufou o peito, lembrou da recente leitura da biografia de Marighella e se animou, ganhou brio, e chamou com voz de macho, sem saber que era Joca, apelido valente, seu rival de momento: “Ei, você aí, deixa a moça em paz que ela está comigo!”.
E estava formada a confusão...
Porém, a magia do carnaval falou mais alto ao som de uma marchinha. Embriagado de lança perfume e amor, ele desapareceu com sua eleita em meio ao bloco pré carnavalesco que desfilava na rua naquele exato momento.
Mas ele não estava embriagado, apenas, de amor e lança perfume. Havia tomado umas "bagaceiras" e começava a cruzar as pernas para andar. Aquilo não era dança, pensava ela, aflita.
E na multidão, ele a perdeu. Um momento de descuido, uma olhada para o lado e... ela se foi! Joca virava a cabeça, olhando por cima de ombros, entre milhares de cabeças, máscaras, perucas, sorrisos, onde, onde? Salta para procurar melhor, é empurrado, esbarra em corpos suados, agora desagradáveis, que o conduzem para onde não quer ir. E lá vai Joca, levado pela corrente humana que pula, ri, berra. Ele também empurra, tentando se livrar daquela enchente de povo, aquele irresistível fluxo infame que parece afastá-lo de sua amada, sua amada... Quem a levou? Ou ela se perdeu, indefesa e quase nua, a mercê de algum bruto? Joca esmurra a carantonha pintada que parece lhe sorrir, soca as costas negras e luzidias que lhe impede o caminho, grita, torna-se um aríete enlouquecido, desesperado para livrar-se daquele inferno. O pensamento não para, ele a vê forçada, violentada, possuída por algum caubói, ou por um palhaço como aquele que urina atrás da árvore. Joca bate, empurra, e também é agredido. Toma um chute, um soco, leva safanões, agarram-no pelo braço e o arremessam na sarjeta. Tonto,ferido, ensanguentado, Joca olha aquilo tudo, a multidão sem sentido, a alegria insana; por quê? Para quê? Onde, Meu Deus...? 


Seus olhos ainda procuram. Então ele vê, num canto de parede, um corpo escultural coberto pelas duas peças com paetês coloridos, uma beleza de mulher capaz de obscurecer qualquer beldade desses BBBs da vida. Ela, era ela. Envolta em braços alheios, uns braços peludos, mãos que penetravam pela calcinha, dedos que percorriam seus montes, planícies, florestas... Joca se esqueceu das dores, levanta-se furioso, de novo um aríete enlouquecido, mas dessa vez ainda mais endoidecido pelo ciúme, pela gana de tirar sua amada dos braços de outro. E Joca se mete no meio dos dois: "Larga ela! Larga seu f.. da p...!"
Ela se afasta, se encolhe. E diante de si Joca vê um homem assustado, um senhor de cabelos brancos, ainda forte, mas um idoso amedrontado e estático. Então, Joca também para diante do homem. Olha-o surpreso, pasmado, atarantado, seus lábios apenas balbuciam: "Papai... papai..."
Na concentração, envolta em dúvidas, temores e inseguranças, Ana volta a vislumbrar a figura do menino, dirigindo-se a ela em meio à multidão.  Seu menino, seu único e verdadeiro amor.  Quisera perder-se em seus braços, quisera não desejá-lo tanto, quisera não fosse tão menino...  Joca, Jorge e Pedrão, com suas fantasias machistas, suas alucinações, suas violências e suas brigas jamais terão um verdadeiro espaço em sua vida.   “Abro mão de tudo, abro mão de todos.  Que venha o meu menino, com sua pele clara, seu cabelo liso, seu jeito de príncipe. Grimaldi...  que sobrenome estranho que ele tem...”
Rolou sangue nessa noite. Jorge e Joca enfurecidos e loucos de ciúmes brigaram até a morte e, lá os dois corpos já estavam estendidos no chão.. Alguém os cobriu com a bandeira da Escola.
Ao longe, aquela morena escultural estava nos braços de Pedrão e faziam planos para a entrada triunfal da Madrinha da Bateria no próximo Carnaval.
– Mamãe, vem ver na televisão uma notícia extraordinária. Em todos os canais – minha filha chamava-me.
– Ataque terrorista põe fim ao Sambódromo, dizimando tudo e todos que ali estavam!
O destino não compartilhou dos planos de Pedrão e de sua morena fagueira. Não quis que ela ficasse com nenhum dos três, pensei.
As imagens de destruição do sambódromo foram manchetes dias seguidos e o Rio de Janeiro ficou de luto. Na charge do Chico, porém, além da morena boazuda com três homens a seus pés, ardendo em luta canina, tremulava a bandeira da Riotur com a faixa: Meu carnaval preferido.


1 de maio de 2022

Meu Ceará: Ana Patrícia

 Ah, meu Ceará



Terra mais linda não há

Inspiração para teus filhos

Valentes, servidores e gentis.


Terra de grandes escritores

Contadores de grandes amores

Falaremos de alguns então

E você preste atenção!


Temos José de Alencar

Que Iracema, escreveu

Uma virgem de lábios de mel

Que boca de asnos nunca bebeu.


Temos Raquel de Queiroz

Que O Quinze, escreveu

Que fala da seca que nosso povo sofreu

Mas com garra a venceu.



Temos Adolfo Caminha

Que A Normalista, escreveu

Que fala do aborto de uma personagem

Que do tio concebeu.


Temos Domingos Olímpio

Que Luzia-Homem, escreveu

Onde a protagoniza faz serviços numa prisão

E se envolve em intrigas e paixão.


Temos o Patativa do Assaré

Rei dos versos populares

Que nunca em uma academia estudou

Mas por elas estudado se tornou.


E tantos outros e outras que não foram mencionados

E tantos outros e outras, que como eu, ainda não foram publicados.

Mas vários obras no coração e mente possui

E que um dia de lá sairão

Para o nosso povo encher de orgulho então.




Ana Patrícia do Nascimento Aquino Calixto

01/05/2022

A crente de Fortaleza

Um grande sim à vida