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11 de fevereiro de 2021

Memórias Póstumas de Brás Cubas: Machado de Assis

Virgília amava-me com fúria; aquela resposta era a verdade patente. Com os braços ao meu pescoço, calada, respirando muito, deixou-se ficar a olhar para mim, com os seus grandes e belos olhos, que davam uma sensação singular de luz úmida; eu deixei-me estar a vê-los, a namorar-lhe a boca, fresca como a madrugada, e insaciável como a morte. A beleza de Virgília tinha agora um tom grandioso, que não possuíra antes de casar. Era dessas figuras talhadas em pentélico, de um lavor nobre, rasgado e puro, tranqüilamente bela, como as estátuas, mas não apática nem fria. Ao contrário, tinha o aspecto das naturezas cálidas, e podia-se dizer que, na realidade, resumia todo o amor. Resumia-o sobretudo naquela ocasião, em que exprimia mudamente tudo quanto pode dizer a pupila humana. Mas o tempo urgia; deslacei-lhe as mãos, peguei-lhe nos pulsos, e, fito nela, perguntei se tinha coragem.
— De quê?
— De fugir. Iremos para onde nos for mais cômodo, uma casa grande ou pequena, à tua vontade, na roça ou na cidade, ou na Europa, onde te parecer, onde ninguém nos aborreça, e não haja perigos para ti, onde vivamos um para o outro... Sim? fujamos. Tarde ou cedo, ele pode descobrir alguma coisa, e estarás perdida...ouves? perdida... morta... e ele também, porque eu o matarei, juro-te.



A sátira menipeia é uma forma de sátira escrita geralmente em prosa, com extensão e estrutura similar a um romance, caracterizada pela crítica às atitudes mentais ao invés de a indivíduos específicos.


Memórias acabam em pizza

Virgília era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, — devoção, ou talvez medo; creio que medo.



Bem aventurados os que não descem 
porque deles é o primeiro beijo das moças





"O indivíduo se emociona para ficar 'fora de ação' 
e não se encarregar da vida"



Fiquei prostrado. E contudo era eu, nesse tempo, um fiel compêndio de trivialidade e presunção. Jamais o problema da vida e da morte me oprimira o cérebro; nunca até esse dia me debruçara sobre o abismo do Inexplicável; faltava-me o essencial, que é o estímulo, a vertigem...

Para lhes dizer a verdade toda, eu refletia as opiniões de um cabeleireiro, que achei em Módena, e que se distinguia por não as ter absolutamente. Era a flor dos cabeleireiros; por mais demorada que fosse a operação do toucado, não enfadava nunca; ele intercalava as penteadelas com muitos motes e pulhas, cheios de um pico, de um sabor... Não tinha outra filosofia. Nem eu. Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim; embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação...




Leituras Suplementares

O Alienista: Machado de Assis
Tartufo: Molière
Um mapa da desleitura: Harold Bloom
Teogonia: Hesíodo
Fenomenologia do espírito: Hegel
Poética: Aristóteles
Fausto: Goethe
Amar, verbo intransitivo: Mário de Andrade
Carmen: Prosper Merrimée
O riso: Bergson
Esboço para uma teoria das emoções: Jean Paul Sartre
Recollections of Early Childhood: V. Wordsworth
The rainbow: V. Wordsworth
Memórias de um sargento de milícias: Manuel Antônio de Almeida
Cândido: Voltaire
A Divina Comédia: Dante Alighieri
Guilherme Tell: Schiller
Quincas Borba: Machado de Assis

A filosofia da miséria: PROUDHON, P-J. 





I will chide no breather in the world but myself, 
against whom I know most faults.


Morro do Livramento


Na hora certa, o amor dá certo!

A dor que se dissimula dói mais.




Amo-te, é a vontade do céu!




O Mito: Carlos Drummond de Andrade


"Que bom que é estar triste e não dizer coisa alguma!"
(Shakespeare)


8 de fevereiro de 2021

As Nuvens: Juan José Saer


Dizem que o mundo é dos loucos,
aceito, sem contestar.
Nas nuvens, não sentirão
a realidade pesar.

O gélido céu,
com estrelas coaguladas
envolvia todos.

(Elenir)



*AS NUVENS* 
* * 
* * 
Oh nuvens de desesperança 
que me mentem o alívio da chuva 
só queria aplacar-me 
e à minha quente e ressequida loucura 
minha lógica igual à tua 
que desconhece a razão dos códigos. 

Não me compreendes? 

Não te compreendo e portanto 
sigo sendo, mentindo, fingindo, fugindo 
ou o gerúndio que designes 
para dizer que estou fora e 
não pertenço ao mundo da tua segurança 
‘inexplico-me’, confundo-te, confronto-me 
com o que mais temes, 
aquilo que não conheces 
e no entanto iludo-te. 

Rita Magnago 

*Última atualização do blog: 17/11/2012 
Confira aqui

* * * 

Penso assim "não sou tão louca"
nem tão louca sou assim
por que, então, poesia pouca
e tanta loucura em mim? 

(I, 19/11/2012)






  Inacito








“O que percebemos como verdadeiro do passado não é a história, mas nosso próprio presente, que se projeta e olha para si mesmo no exterior”.

Tormenta de Santa Rosa - 30 de Agosto

“Si bien popularmente se  espera que la tormenta de Santa Rosa sea más fuerte que cualquier  otra, esto no tiene por qué ser así.  Durante los 105 años de  registros (1905-2010), en 56 oportunidades (poco más del 50%) se  produjeron tormentas en los días próximos al santoral de Santa Rosa  de Lima. Además existe un aumento de la frecuencia de tormentas para  estas fechas a partir de la década del 90: sólo en 1995, 2005, 2006  y 2007 no se observó este fenómeno durante esos días”.



A americanidade é uma loucura?


 
"Vale a pena sublinhar que os doentes mentais, quando munidos de algum estudo, têm quase sempre a tendência irresistível de expressar-se por escrito, tentando disciplinar suas divagações no molde de um tratado filosófico ou de uma composição literária." (p. 95)

Flor do Pessegueiro

 Juan José Saer nació en Serodino (Provincia de Santa Fe) el 28 de junio de 1937. Fue profesor de la Universidad Nacional del Litoral, donde enseñó Historia del Cine y Crítica y Estética Cinematográfica. En 1968 se radicó en París. Su vasta obra narrativa, considerada una de las máximas expresiones de la literatura argentina contemporánea, abarca cuatro libros de cuentos –En la zona (1960), Palo y hueso (1965), Unidad de lugar (1967), La mayor (1976)– y diez novelas: Responso (1964), La vuelta completa (1966), Cicatrices (1969), El limonero real (1974), Nadie nada nunca (1980), El entenado (1983), Glosa (1985), La ocasión (1986, Premio Nadal), Lo imborrable (1992) y La pesquisa (1994). En 1983 publicó Narraciones, antología en dos volúmenes de sus relatos. En 1986 apareció Juan José Saer por Juan José Saer, selección de textos seguida de un estudio de María Teresa Gramuglio, y en 1988, Para una literatura sin atributos, conjunto de artículos y conferencias publicada en Francia. En 1991 publicó el ensayo El río sin orillas, con gran repercusión en la crítica, y en 1997, El concepto de ficción. Su producción poética está recogida en El arte de narrar (1977), paradójico título que expresa, quizás, el intento constante de Saer por –según sus propias palabras– "combinar poesía y narración". Ha sido traducido al francés, inglés, alemán, italiano y portugués.

Entre sus obras: 
    
En la zona (1960) 
Responso (1964) 
Palo y hueso (1965) 
La vuelta completa (1966) 
Unidad de lugar (1967) 
Verde y negro 
Cicatrices (1968) 
El limonero real (1974) 
La mayor (1976) 
Al abrigo 
En el extranjero 
Nadie nada nunca (1980) 
Narraciones (1983) 
El entenado (1983) 
Glosa (1986) 
El arte de narrar (1988) 
La ocasión (1988) 
El río sin orillas (1991) 
fragmentos 
Lo imborrable (1993) 
La pesquisa (1994). 
El concepto de ficción (1997) 
El concepto de ficción 
Zama 
Di Benedetto 
crítica en La Nación 
Las nubes (1997) 


    
"Si yo pudiera, escribiría un tratado de filosofía en una lengua popular del Río de la Plata. Eso sí que me gustaría."



 "...decir que Juan José Saer es el mejor escritor argentino actual es una manera de desmerecer su obra. Sería preciso decir, para ser más exactos, que Saer es uno de los mejores escritores actuales en cualquier lengua y que su obra – como la de T. Bernhard o la de Samuel Beckett – está situada del otro lado de las fronteras, en esa tierra de nadie que es el lugar mismo de la literatura..." –Ricardo Piglia

“Não havia problemas porque a simples vista se advertia que de todo modo não haveria solução”.


3 de fevereiro de 2021

Versos na pandemia



Vida em ruínas

Um homem revirando o lixo
A fábrica funcionando a todo vapor
Ruas quase vazias
Policiais fazendo a ronda
Postos de gasolina funcionando
Observei cada detalhe
e alguns perderam a nitidez
no momento em que organizei as palavras
Poucos usam máscaras
Impasse entre a doença e as vacinas
O ar puro no momento é vital
É a caminhada mais longa da minha vida
à procura de mim mesma debaixo do sol
como algo natural
Rejeito a ideia de voltar para casa
continuo experimentando a paz
a força de sustentação
Carros e motos transitam e há poucas pessoas nas ruas
Pássaros cantam nas árvores
eu aproveito um pouco da sombra
e respiro
Um momento acolhedor
de uma caminhada essencial
Observo uma família no espaço de lazer
e fico imaginado se são felizes
Sinto o sol no contato da minha pele
e busco a vida incessantemente
Alguém me cumprimenta com um sorriso
mas eu me sinto sozinha
caminhando ao sol do meio-dia
refletindo sobre o inexplicável
Pouco importa se isto é poesia
ou uma dura realidade
A cidade está silenciosa
Hora de retornar
encarar os problemas
uma construção em ruínas
a restaurar

Sonia Salim