Fundado em 28 de Setembro de 1998

29 de maio de 2012

Livros do CLIc



Exibo em cada face
faces inteiras
mostro-me 
em letras
de beleza 
singular
sou um cubo,
sou um Clic
que desperta
a alegria
de realizar

(Rita)



21 de maio de 2012

Uma vida que passou



Carlos Rosa Moreira

            Lembro-me bem de sua figura. Era magro e desempenado; tinha um queixo saliente, o nariz um pouco rombudo e uns olhos pequeninos, de uma cor cambiante entre o verde e o azul. O olhar era perscrutador, com uma ironia latente pronta para brotar.
            Não sei o porquê, mas, em minhas lembranças, vejo-o sempre de costas, indo; calça de brim claro, camisa branca de mangas dobradas até os cotovelos, botinas de elástico e chapéu. Jamais vi seus cabelos, se é que os tinha. Para mim, ele tinha chapéu.
            Todos os dias ele almoçava na casa da minha avó, sua irmã. Morava sozinho num sítio, não muito longe da cidade. Parece que o sitio não era grande coisa, havia lá aquela raça de formiga que devora tudo. Não adiantava plantar nada. Após o almoço, invariavelmente, ele caminhava até o outro lado da linha do trem, e ali passava as tardes sentado num longo banco de madeira com seus amigos. O movimento da cidade era na linha do trem, por isso ficavam lá, vendo o movimento e conversando. Todos os dias, tardes inteiras. À noitinha se retirava para o sítio; no dia seguinte voltava para almoçar. Tinha mulher, filhos e netos na capital. Pouco via os filhos, acho que não conhecia os netos.

            ‒ Neto? E eu lá sei de neto?!

            Ele gostava de conversar com meu pai, que era seu sobrinho. Eu ficava por perto escutando. Conversavam sobre terras. Meu pai, que se tornara turista em sua cidade natal, gostava de saber os preços das coisas.

            ‒ É alqueire mineiro. Tá pedindo dois milhão.

            Todo mundo por lá falava assim: um milhão, dois milhão, seis milhão.

            Não sei o porquê de ter pensado nele. Acho que estava na janela olhando pra ontem e vi um sujeito pelas costas, de roupa clara, indo. Às vezes somos assaltados por lembranças estranhas, nascidas de singelezas que ficaram guardadas e esquecidas. Acabei pensando naquela vida dele, sem fazer o bem, sem fazer o mal, só vivendo. Eu o achava meio ranzinza, mas vejo que não era não. Quem vive assim, só indo, vivendo, acaba tendo um jeito quieto mesmo. Acho que é gente que nasceu sabendo e, como sabem de tudo, a vida é só viver. Conhecem o hoje e o amanhã, o resto é ir levando.

            Depois que ele morreu, venderam o sítio em que morava. O comprador botou abaixo a casinha velha e construiu uma nova no mesmo lugar. Não sei por que fui pensar nele...

            No pinheirinho em frente à minha janela, tem um ninho de bem-te-vis. Costumo ver os pássaros em incansável vai e vem levando uma coisinha no bico para deixar no ninho. Os bem-te-vis trinavam muito alto naquelas manhãs de férias do meu pai em sua terra. Talvez por isso tenha pensado nele. Talvez tenha sido por causa dos bem-te-vis. Sei lá.

17 de maio de 2012

Campo de trigo com uma cotovia


Van Gogh

Ao sabor do vento, 
o campo de trigo agita-se. 
Aqui e acolá, 
papoulas vermelhas misturam-se às hastes verdes e amarelas. 
Uma cotovia assustada bate asas e voa.

A vida pulsa. 

O artista com seus pinceis eterniza o instante.

(Elenir)


13 de maio de 2012

Mãe




Elenir, nossa poeta,
com seu gesto delicado
seus sonhos nos empresta.

O que mais nos resta?
A não ser espiar maravilhado
pela poesia e suas frestas?

novaes/




No manso poente
e na doçura da brisa,
eu te encontro Mãe.


Amor sem cobranças
e sem impor condições
é o amor de Mãe.


Palavra pequena
que traduz força, coragem
e muito amor: Mãe.


Mãe, presença amiga,
que ilumina minha vida.
Ensina-me a viver


Mãe, tua partida
um vazio trouxe a mim.
Voltas nas lembranças

(Elenir)

11 de maio de 2012


FELIZ...

Toda data especial é bonita e triste ao mesmo tempo. Bonita porque homenageia alguém / muitos alguéns - mães, pais, crianças. E é triste porque quem não tem a quem homenagear ou não pode ser homenageado fica meio à deriva desse barco.

A origem de tudo, a gente sabe, é o comércio, mas não impede que se faça o devido reconhecimento. Quero dizer com isso que gostaria de homenagear a todos os participantes do CLIC neste dia das mães: as próprias, com certeza, e também todos os demais, incluindo os homens, pais ou não. Na verdade eu gostaria de homenagear os filhos, que somos todos.


Sim, por que quantos sapos engolimos ao longo de nossa educação, quanta mágoa, injustiça, sofrimento não tivemos que vivenciar por uma criação por vezes muito austera ou quem sabe solta demais? Quanto não tivemos que gastar (e não me refiro apenas ao dindim) nos consultórios de analistas, em esforços diários de nos compreender melhor, de tentar mudar o que achamos que precisamos para evoluir como ser humano?

É preciso que se diga: mães e pais erram, erram muito, erram feio, e às vezes erram muito feio. É preciso também que se perdoe, que se supere e que se ame sobretudo assim. E que haja esforço e empenho para que os que são mães e pais cometam erros menos graves com seus filhos, deixando assim à sociedade, um mundo efetivamente melhor.

Feliz dia dos filhos para todos nós!

4 de maio de 2012

Sobre Lima Barreto e seu "livrinho" Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá



Gostaria de ter lido mais cedo este pequeno notável livro de Lima Barreto, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, pois vejo nele grande potencial para um bom debate. Por hora, quero deixar só duas coisinhas: a primeira é uma referência de Lima Barreto ao filósofo francês J.J. Rousseau (1712 - 1778). Diz Gonzaga de Sá:

"— Se eu pudesse — aduziu —, se me fosse dado ter o dom completo de escritor, eu havia de ser assim um Rousseau, ao meu jeito, pregando à massa um ideal de vigor, de violência, de força, de coragem calculada, que lhe corrigisse a bondade e a doçura deprimente."


Ao ler este trecho, lembrei-me de "O Contrato Social", uma das obras mais conhecidas de Rousseau, e que muitos dizem ter influenciado a nossa Constituição Republicana. Escreveu Rousseau:

"... o verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado o terreno, lembrou-se de dizer “isto é meu” e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “evitai ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”." (Desculpem, mas não lhes posso indicar a referência por não ter o livro aqui comigo, enquanto escrevo este texto). 

Esta passagem é  bem condizente com a crítica social implícita e explícita no livro de Lima Barreto. 

segunda é um trecho do livro, um dos que mais gostei, acredito que já seja um esboço da prosa poética que viria influenciar decisivamente a prosa do século XX, acho eu:

"As alturas apareciam cristalinas e o sol caía em jorros de luz sobre a superfície da baía. Começara já a viração. Ao fundo, e na frente, as montanhas saíam nitidamente do painel em pareciam pintadas. Uma ilhota, com sua alta chaminé, não diminuía o largo campo de visão que o mar oferecia. Alonguei a vista por ele afora, deslisando pela superfície imensamente lisa. Surpreendi-o quando beijava os gelos do polo, quando afagava as praias da Europa, quando recordava as costas da Ásia e recebia os grandes rios da África. Vi a Índia religiosa, vi o Egito enigmático, vi a China hierática, as novas terras da Oceania, e toda a Europa abracei num pensamento, com a sua civilização grandiosa e desgraçada, , fascinadora, apesar de julgá-la hostil. E, depois de tão grande passeio, minha alma voltou a mim mesmo, certificando-me de que, aqui como naqueles lugares, era hora a mais, ora a menos. E me pus a pensar que sobre a convexidade livre do planeta que me fez, não tinha um lugar, um canto, uma ilha onde pudesse viver plenamente, livremente. Olhei o mar de novo. Boiavam sargaços, balouçando-se nas ondas, indo de um para outro lado, indiferentes, à mercê dos movimentos caprichosos do abismo. Felizes!   (p. 78) 

Este é um trecho que pode alimentar bons debates, pois há nele a questão da liberdade, do sentido da vida, da felicidade, temas que todas as gerações, em todos os tempos, propõem-se a discutir, e cujas respostas estão sempre em aberto para as gerações vindouras. 

É só, depois postarei minhas marcações, trechos que achei interessantes e tecerei alguns comentários, minhas impressões sobre esses trechos. 


Antonio R

1 de maio de 2012

Un CLIc d'oeil sur l'Art


Luzia Veloso
 Li a matéria postada sobre a entrevista do nosso caro escritor Carlos Rosa, feita ao importante e respeitado poeta Romano de Sant'Anna. Como falaram também sobre arte quis expressar algumas ideias sobre Marcel Duchamp, um dos protagonistas do movimento dadaísta que  fêz crítica a pintura estática, inovando como no caso da obra "Nu descendo uma escada" dando a mesma um movimento, um ritmo de formas. Cria nesse momento com sua capacidade de observação e inteligência liberta de princípios estabelecidos, um novo olhar sobre a pintura dando-lhe um caráter mecânico. Ela foi para Nova York em 1913. De lá pra cá e hoje, quantos artistas se inspiram nesse homem das ideias! Muitas e várias ideias!
 
A segunda imagem em anexo é do artista que apresenta a obra; Marcel Duchamp tousuré par Georges de Zayas em 1921. A fotografia é de Man Ray.
Para quem aprecia Duchamp, há um livro "Marcel Duchamp: Engenheiro do Tempo Perdido", que é uma entrevista a Pierre Cabanne, que segundo alguns, o autor e entrevistador foram conversando, conversando com o intuito de "tirar" algumas ideias do entrevistado, sem que ele soubesse disso... seria isso? Não sei. Só sei que é um livro bem interessante que muito nos conta de um certo despojamento do artista, que num dado momento da entrevita diz: "Não atribuo uma grande importância a aquilo que considero melhor; é simplesmente uma opinião. Não tenho intenção de proferir um julgamento definitivo a propósito de tudo isto".
     
Há uma série de slides com ótimo texto em "Marcel Duchamp- le manieur de gravité" que é uma obra mais didática com as principais obras de Duchamp.

     Dois ensaios reunidos no livro "Marcel Duchamp ou o Castelo da Pureza" de Octavio Paz, que é  "um encontro marcante na estréia da vanguarda, pois raramente um renovador audaz, como foi Duchamp, tem a ventura de conseguir um intérprete e crítico a altura",  muito nos acrescenta sobre Duchamp.

     Um livro bom para entendermos o que foi o movimento dadaísta, escrito por um artista daquela época é: "Dada: Arte e Antiarte de Hans Richter." Comenta sobre a efervescência da Arte naqueles anos. Muitos artistas buscando caminhos e aprofundando ideias. Há críticas, reconhecimentos, que certamente contribuíram para o surgimento de novos momentos na arte  que perduram até hoje, sempre com aquela velha questão: O que é Arte?

    Bem, queridos leitores do CLIc! Muito me emocionou rever estes pontos que abordei aqui. Fui tentando alinhavar os pensamentos e espero que outras oportunidades surjam para podermos revirar nossos baús, não é?

   Beijo carinhoso, parabéns para o Carlos pela entrevista e obrigada pela oportunidade.