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30 de junho de 2022

Imprevidência: Adriana Mendonça

Terceiro plantio do domingo, terceiro morador ausente e a gente sem uma gota d'água. Nem foi imprevidência, afinal, quando foi que em três plantios não se encontrou nenhum morador? Levamos dois galões de cinco litros que foram esgotados na secura de uma estação muito quente. Fiquei levemente aflita: fazia um sol para cada pessoa, a terra estava estorricada. Enquanto cavava, olhava ao redor a procura de uma torneira. Ainda bem, vi uma na casa bege da esquina, de portão bege e calçada cinza - de verde, nem um pé de couve. Um senhor repousava à sombra da parede, sentado em uma cadeira de tirinhas de plástico.


Passei a mão no galão vazio, me acheguei ao portão, arriscando um bom dia todo sorrisos. O senhor pareceu não me ouvir, mas notei que seus pés tatearam o chão a procura dos chinelos esquecidos. Vi os dedos tendinosos pescar um, depois o outro chinelo, vi seu peso leve ser alçado da cadeira com dificuldade e, imersa nessa observação, se esvaiu de mim toda pressa, nossos tempos eram diversos. O velho veio ao meu encontro e pensei em como o cansaço dos muitos anos acaba por vergar a gente, não escapam nem os cantos da boca. 


Expliquei calmamente a situação e, ato contínuo, fui entregando o galão vazio, era tudo simples. Mas, contrariando minhas certezas, o velho disse não, ele não me daria a água. À força fiquei paralisada porque toda a ação do meu corpo ia já pelo muito obrigada! Retesei, não discuti, não insisti, me virei e antes da indignação me tomar, outro vizinho discretamente me estendia um bico generoso de mangueira.


Pronto, o plantio continuaria sem ameaças. Jogamos água e adubo no bercinho, colocamos a muda, devolvemos a terra, pisamos em volta, peguei o galão pesado desse líquido benfazejo que é a água fresca e verti calmamente para deixar bem úmida a terra que cobriu a muda. Enquanto escutava o gorgolejar da água que saía do galão vi que o velho atravessou a rua. Não me mexi, continuei mirando a água que escorria vagarosa do galão para a terra, evitando que se perdesse pela calçada. O velho parou do meu lado e puxou conversa. Contou-me que seu único filho morrera em um acidente de carro, filho varão, ótimo homem. Ele queria se justificar. Contou-me que o filho morreu saindo de uma festa, coisa de jovens… que o carro ficou completamente destruído ao se chocar com uma árvore do canteiro central de uma avenida. Fiquei perplexa. Ele prosseguiu, disse-me que a mulher mandara cortar as árvores da própria calçada…


Fiquei seca como o galão por ele rechaçado, soube o que ele queria de mim, mas eu não era capaz de dar. Não o fiz por vingança, mas pelo aturdido da situação. Ele se afastou, eu não o segui com os olhos. Recolhemos todos as ferramentas e partimos com alívio. Ao passar pela Major Nicácio (seria ali?) ensaiei meio sorriso,  arqueei os cantos da boca ao imaginar as inconsequentes árvores bêbadas, colocando em risco os responsáveis automóveis que circulam nas madrugadas festivas.



21 de junho de 2022

Judas: a via do entendimento ?

Judas foi o livro que escolhi para começar 2015. Cheguei a colocar o título em uma lista de amigo oculto, mas tirei, receosa de não ganhar, e comprei logo, tal minha ansiedade para ler meu segundo Amós Oz. Não decepcionou, muito pelo contrário. Foi um lindo início letivo, chamemos assim. Agora, terei o prazer de conversar sobre este delicioso romance com meus diletos companheiros de leitura.

Delicado em seus questionamentos, o autor nos conduz a um mundo possível, onde, apesar das diferenças, algumas até inconciliáveis, há de prevalecer, ao invés de estados de guerra e da extrema discrepância entre o poderio bélico israelense e as pedras e homens-bomba dos palestinos, o respeito e a boa vontade de entender o ponto de vista do outro.




Amos Óz nos chama a atenção também para outras questões, menos óbvias mas nem por isso menos importantes, como o papel da mulher na sociedade (pág 333 “Durante milhares de anos induzimos nós mesmos a acreditar que a mulher, por natureza, é completamente diferente de nós, diferente em tudo, de uma diferença total e absoluta. Quem sabe exageramos um pouco nisso?”) ou se Judas traiu ou não Jesus por dinheiro. Ainda ontem, revendo o filme “Planeta dos macacos: o  confronto”, e assistindo como o macaco do mal acusou os homens de terem atirado no líder, Cesar, quando o próprio o tinha feito, me lembrei de quantas vezes essa estratégia é usada pelos diversos países e como é fácil acreditar. Há que se ter os olhos abertos.

Por fim, o livro é poético, convidativo, muito gostoso de ler. Destaco uma passagem, na página 24: 

Sobre tudo pairava ali o silêncio de um frio anoitecer de inverno. Não era um silêncio do tipo dos silêncios transparentes que o convidam a se juntar, você também, a ele, mas um silêncio indiferente, muito antigo, um silêncio que jaz com as costas voltadas para você”.


Boa semana a todos,
Rita

18 de junho de 2022

Judas: Amós Oz


Tem vezes que a marcha da vida se reduz, gaguejante como água que escorre da calha e vai correndo e abrindo um pequeno sulco na terra do quintal. Essa corrente é retida por um montículo de terra, absorvida, acumula-se por um instante numa pequena poça, hesita, vai tenteando e corroendo o montículo de terra que lhe obstrui o caminho ou abre uma passagem por debaixo dele. Por causa desse obstáculo às vezes a água se divide e continua seu caminho em três ou quatro finos filamentos , como uma teia formada por rastros de insetos. Ou desiste, e é engolida pela poeira do quintal. "  






Falando do excelente livro "Judas", de Amós Os: O escritor israelense, falecido em 2018, claramente era um pacificador. Inicialmente posso dizer que ele toca em dois pontos que convergem: as religiões levadas ao extremismo do ódio, à guerra, terrorismo e etc, e a forma como Israel pisou sobre a Palestina, como se estes fossem vassalos que devessem se dobrar aos Judeus, ao invés de tentar integrar dois povos. Claramente ele diverge de Ben Gurion e seus seguidores por impor um Estado Israelense pautado em um direito adquirido segundo suas teorias religiosas. Só por essas duas posições dele, ele já ganha meu humilde prêmio "Aplausos aos Grandes Mestres da Arte".

Sua escrita é clara, mas com longos parágrafos, o que cansa um cadinho. Mesmo assim estou adorando a forma como ele juntou três gerações, aparentemente entre 1959 e começo da década de 1960 (??? Eu li 32% do livro hoje - é, no Kindle é assim: % – E não consegui parar para usar mil sugestões de como identificar o ano em que se passa o enredo, mas lembro que o presidente dos EUA era Eisenhower - 1953 a 1961, e que dois personagens viram um filme no cinema com Jean Gabin 1904/1976 – não disse o nome do filme, infelizmente. Serei menos gulosa no livro, parando para identificar a época.): Um idoso, uma mulher de 45 anos e um jovem militante socialista que tenta uma pós graduação com o estudo de Jesus e os Judeus.

Temos aqui um idoso culto e belicoso, adorável, apaixonante. Um jovem com baixa auto estima e muita auto piedade, porem deliciosamente sensível e doce (sendo discriminado em sua masculinidade por chorar por tudo que o sensibilize), que discursa sobre toda essa questão Israel/Palestina de forma esplêndida, e uma mulher madura, inteligente, altamente observadora sobre o âmago das pessoas à sua volta (e muito sofrida e desiludida).

E... acabei de receber uma dica para pular para o "final do livro (que) tem um glossário interessante, que valeria a pena ler antes do fim" da nossa amiga Rosemary. Então vou parar por aqui e voltar a escrever no futuro próximo. Estou em Maringá (Visconde de Mauá), congelando e lendo muito. E com péssima internet.
(Mônica Ozório)

Cântico dos Cânticos

Eis que és formosa, meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade.

Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas.

Os teus lábios são como um fio de escarlate, e o teu falar é agradável; a tua fronte é qual um pedaço de romã entre os teus cabelos.

O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela, todos broquéis de poderosos.

Os teus dois seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.

Até que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra, e ao outeiro do incenso.

Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha.

Vem comigo do Líbano, ó minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde os covis dos leões, desde os montes dos leopardos.

Enlevaste-me o coração, minha irmã, minha esposa; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço.

Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus ungüentos do que o de todas as especiarias!

Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.

Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.

Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes, o cipreste com o nardo.

O nardo, e o açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias.

És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!

Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que destilem os seus aromas. Ah! entre o meu amado no jardim, e coma os seus frutos excelentes!

Cânticos 4:1-16

Boa tarde, CLIc-leitores,

Prezado Evandro, na postagem de JUDAS no blog do CLIc, mantendo a tradição, você encontrou a música Judas, da Lady Gaga. Gostei. Ficou boa. Mas temos o nosso imortal Cowboy fora da lei, o Rauzito, que tem exatamente uma música com este título: Judas. Seria justo que ela fosse também incorporada à postagem. Acho, inclusive, que ela possui essencialmente uma das teses do livro: 


"Parte de um plano secreto
Amigo fiel de Jesus
Eu fui escolhido por ele
Para pregá-lo na cruz

Cristo morreu como um homem
Um mártir da salvação
Deixando para mim seu amigo
O sinal da traição."


"Se eu não tivesse traído
Morreria cercado de luz
E o mundo hoje então não teria
A marca sagrada da cruz."


Link da música no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=nDrqvGXYTNI

Grande abraço,
Até logo mais,

Antonio





Esse é o Priest, não é o Iscariotes!!!


"Schmuel Asch meldet sich auf die Anzeige hin in der Rav-Albas-Gasse am Rand des Jerusalemer Viertels Sche’arei Chesed und lernt den 70-jährigen Gerschom Wald kennen, einen kultivierten Mann mit einem Bart wie Albert Einstein, der begeistert redet, doziert und diskutiert, jedoch kaum über Privates spricht. Im Haus lebt auch die 45-jährige Atalja Abrabanel, die in ungeklärter Beziehung zu Wald steht und deren Ausstrahlung und Unnahbarkeit den jungen Schmuel auf Anhieb fasziniert. Dieser nimmt die Anstellung an und leistet von nun an jeden Abend in der Bibliothek des Hauses Gerschom Wald Gesellschaft. Den restlichen Tag schläft er lang in seiner Mansarde, schlendert ziellos durch Jerusalem und bemüht sich, Atalja bei ihren raren Begegnungen näherzukommen. Er findet auch die Zeit, seine Studien über die jüdische Sicht auf Jesus von Nazaret fortzusetzen. Sein Besonderes Interesse gilt der Person Judas Ischariot, dessen vermeintlicher Verrat bis in die Gegenwart wirkt und das Verhältnis zwischen Christen und Juden bestimmt. Schmuel fragt sich, ob es nicht gerade Judas’ Loyalität war, die zum Verrat an seinem Lehrmeister führte."


Gasse im Jerusalemer Viertel Sche’arei Chesed


"10 MAIORES TRAIDORES DA HISTORIA"

  1. Ao lado de todo grande homem tem sempre um grande traidor. Se você não acredita nisso, este ranking lhe dá dez bons motivos para desconfiar dos amigos, caso, claro, você tenha planos de gravar seu nome nos livros de história.  

  2. 10 WANG JINGWEI CHINA GUERRA SINO-JAPONESA, DÉCADA DE 1930 Depois de participar do Kuomintang, movimento que lutava para unificar o país, Jingwei se revoltou e mudou para o lado inimigo justo quando a guerra da China contra o Japão pegava fogo, literalmente. Ele não apenas fez vista grossa para os avanços japoneses como conquistou a província de Nanquim para os novos amigos. Ao trocar a China pelo Japão, Wang Jingwei deixou de lado sua ideologia comunista para defender um país que fazia parte do grupo do Eixo, aquele mesmo que era comandado pela Alemanha nazista na Segunda Guerra.

  3. 9 ALDRICH AMES EUA DÉCADAS DE 1980 E 1990 Espião da mais famosa agência de inteligência americana, a CIA, Aldrich Ames se vendeu para a KGB, o serviço secreto da Rússia, durante a Guerra Fria. Por alguns milhões de dólares, o traíra vendia para os russos o nome daqueles que trabalhavam para os EUA. Descoberto depois de quase 15 anos de serviços prestados aos inimigos, ele foi condenado à prisão perpétua. A Rússia contratou um traidor para ser seu dedo-duro infiltrado na CIA, mas não perdoava traições. Pessoas delatadas por Ames não tinham perdão: muitas foram executadas antes mesmo de poderem se defender.

  4. 8 TOMMASO BUSCETTA ITÁLIA DÉCADA DE 1980 Foi um dos membros mais importantes da Cosa Nostra, a máfia italiana. E adivinhem onde ele enriqueceu? No Brasil, traficando drogas. Preso pela Polícia Federal em 1984 e deportado para a Itália, ele fez pinta de arrependido e entregou todo o esquema da máfia. Por colaborar com a polícia, Buscetta ganhou proteção especial e um salário para o resto de sua vida, que terminou em 2000, quando morreu de câncer. O italiano foi o primeiro traidor da máfia a ficar conhecido por quebrar o juramento de silêncio da organização. Ele se safou, mas a Cosa Nostra 'apagou' mais de dez pessoas de sua família

  5. 7 DOMINGOS FERNANDES CALABAR BRASIL  BRASIL COLÔNIA, SÉCULO 17 O único representante brasileiro da lista é considerado por muitos um dos primeiros traidores da história do país. Calabar era um senhor de engenho na capitania de Pernambuco e se aliou aos holandeses quando eles invadiram as terras brasileiras – na época, sob o domínio de Portugal. Como conhecia o território pernambucano como a palma de sua mão, ajudou em praticamente todas as conquistas da Holanda por estas bandas. Alguns historiadores questionam a fama de traidor de Calabar e alegam que ele lutou ao lado dos holandeses porque acreditava que, sem o domínio de Portugal, a pátria seria livre. 

  6. 6 AUGUSTO PINOCHET CHILE  DÉCADA DE 1970 No dia 25 de agosto de 1973, o presidente do Chile, Salvador Allende, escolheu um dos militares que considerava mais leais para assumir a chefia do Exército. Três semanas depois, Pinochet liderava um golpe militar para derrubá-lo e implantar uma ditadura que duraria 17 anos. Pinochet até ofereceu um avião para o presidente fugir, mas uma transmissão de rádio revelou que sua intenção era jogar Allende da aeronave em pleno vôo. Allende confiava tanto em Pinochet que, na manhã do dia do golpe, teria dito: 'Chamem Augusto, ele é um dos nossos'.

  7. 5 SILVÉRIO DOS REIS PORTUGAL  BRASIL COLÔNIA, SÉC. 18 Apesar de ser português, ele se tornou um dos traidores mais famosos do Brasil antes mesmo de o país se libertar de Portugal. Isso porque passou por cima logo do primeiro movimento de independência, a famosa Inconfidência Mineira. Para escapar das suas dívidas com a Coroa, ele entregou seu amigo Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. A conclusão todo mundo já sabe: o líder dos inconfidentes acabou enforcado e esquartejado. Além de ter suas dívidas perdoadas, o delator de Tiradentes ganhou uma pensão vitalícia do governo português e foi até mesmo recebido por dom João.

  8. 4 HEINRICH HIMMLER ALEMANHA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945) Abandonar os companheiros de luta e passar para o outro lado é considerado traição, independentemente do lado em que está lutando. Por isso, Himmler, o chefe da polícia nazista, está aqui. Afinal, quando ele percebeu que as chances de vencer a guerra eram praticamente nulas, não titubeou em abandonar Hitler e negociar uma rendição da Alemanha com os EUA e a Grã-Bretanha. Himmler tentou entregar a Alemanha para os Aliados em troca de sua liberdade. Mas não deu certo: ele foi considerado criminoso de guerra, foi preso e se suicidou.

  9. 3 MARCUS JUNIUS BRUTUS ROMA 44 A.C. Brutus certamente não foi o primeiro traidor da história, mas foi o primeiro a se tornar famoso. Depois de lutar pelo Império Romano, comandado pelo seu pai adotivo, Júlio César, ele se uniu a outro traíra, o general Cássio Longinus, para tomar o poder. Não bastasse a traição, o cara aceitou colocar em prática o plano de assassinar o 'papito'. Ao ser golpeado, César mandou a famosa frase: 'Até tu, Brutus?' Depois da traição, Brutus chegou a montar um exército para dominar o Império Romano, mas foi derrotado por Marco Antônio. Aí a consciência pesou e ele se suicidou.

  10. 2 TALLEYRAND-PÉRIGORD FRANÇA  REVOLUÇÃO FRANCESA, SÉCULO 18 Para o ministro das relações exteriores de Napoleão Bonaparte, 'traição é uma questão de datas'. Talvez por isso, Talleyrand não só tenha abandonado o imperador mas também mudado radicalmente de lado. Numa época em que a França espalhava pela Europa os princípios da revolução, ele organizou a deposição de Napoleão e a volta dos Bourbons para restaurar a monarquia. Depois da crocodilagem, Talleyrand trabalhou como embaixador de Luís XVIII, que sucedeu Napoleão, e representou a França no Congresso de Viena.

  11. 1. JUDAS ISCARIOTE GALILÉIA 33 ANOS APÓS O NASCIMENTO DE CRISTO Ele não traiu 'simplesmente' uma pátria, um partido ou uma ideologia. O mais famoso traidor da história é até hoje lembrado como o sujeito que deu uma rasteira no filho único do Todo-Poderoso. E pior: segundo a Bíblia, Judas entregou Jesus Cristo aos soldados romanos em troca de míseras 30 moedas de prata. Arrependido, o apóstolo tentou devolver o dinheiro e voltar atrás, mas já era tarde. Cristo foi crucificado e Judas, culpado, suicidou-se. Em algumas cidades do mundo, inclusive aqui no Brasil, existe o costume de 'malhar' o Judas no sábado de Aleluia (o que vem antes do domingo de Páscoa).
(Fonte)




Outras Traições Notáveis


Otelo e Iago - 1603

Desdêmona, esposa de Otelo, perdeu a vida por causa da traição de Iago (Desdemona, de Frederic Leighton)
O poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare sempre explorou a traição em suas peças: Rei Lear, Hamlet, Mac Beth… Mas foi a falsa amizade de Iago na peça “Otelo, o Mouro de Veneza” que se tornou a mais famosa de todas. Na história, Iago, alferes do general Otelo, se sente injustiçado quando seu comandante nomeia outro para o posto de tenente. Decide então se vingar, fazendo Otelo pensar que sua mulher, Desdêmona, o traiu. A trama funciona e, consumido pelo ciúme, o general acaba matando-a asfixiada. Quando descobre que tudo não passou de uma mentira de seu alferes, suicida-se.
URSS e Alemanha - 1941

Os ex-aliados Stalin e Hitler
Poucas traições foram tão grandiosas a ponto de envolver duas nações. União Soviética e Alemanha assinaram em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o Pacto Molotov-Ribbentrop, ou simplesmente Tratado de não-agressão germano-soviético. O pacto estabelecia que a Alemanha nazista de Hitler e a URSS de Stálin não iriam interferir uma na outra em termos bélicos. A ideia era que a Alemanha atacasse e anexasse a Polônia sem intervenções soviéticas, enquanto apoiaria uma invasão soviética à Finlândia. Ambos os ataques se concretizaram em 1939. Tudo parecia perfeito na amizade entre os dois regimes, até que, em 1941, sem grandes explicações, Hitler atacou os russos na Operação Barbarossa. A URSS, após tamanha traição, entrou de vez na guerra ao lado dos Aliados. O resto é história.





"E ao outro dia, como saíssem de Betânia, teve fome. E tendo visto ao longe uma figueira, foi lá a ver se acharia nela alguma coisa; e quando chegou a ela, nada achou, senão folhas, porque não era tempo de figos. E falando-lhe disse: Nunca jamais coma alguém fruto de ti para sempre; o que os discípulos ouviram. E no outro dia pela manhã, ao passarem pela figueira, viram que ela estava seca até as raízes."






Não se vira a outra face
Respeitada voz pública nos debates sobre o conflito israelo-palestino, o escritor Amós Oz deseja a paz - mas não quer conversa com o Hamas, grupo terrorista que governa Gaza
Durante a guerra em Gaza, em julho e agosto, o senhor disse que a ação militar israelense foi "excessiva mas necessária". Por quê? Quando Israel é bombardeado por uma chuva de mísseis, não se pode esperar que o país ofereça a outra face. Mas não era necessário destruir tantas casas em Gaza para repelir a agressão do Hamas. Isso poderia ter sido realizado de forma mais sutil e cautelosa.
Qual a perspectiva de paz duradoura? A razão profunda da tragédia em Gaza é o desespero. Quando eu era criança, minha avó me disse: "Nunca lute com um garoto que não tem nada a perder". É vital para Israel que Gaza deixe de ser esse garoto. Acredito que, se um Estado palestino existir na Cisjordânia, próspero e em paz com Israel, as pessoas de Gaza terão tanta inveja que derrubarão o Hamas. Traço esta linha: simpatizo com o sofrimento do povo de Gaza, mas desprezo o Hamas. Não pode haver solução de compromisso com quem prega o fim de Israel.
Qual a chance de uma solução de compromisso entre as atuais lideranças de Israel e da Autoridade Palestina? Não votei nem votarei no primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Seu governo é intransigente. Faltam-lhe empatia e imaginação, necessárias para a resolução de conflitos. E as mesmas qualidades faltam à Autoridade Palestina.

CLIC, NÃO ACREDITE





"Percorrei as ruas de Jerusalém,
olhai, perguntai;
procurai nas praças,
vede se nelas encontrais um homem,
um só homem que pratique a justiça
e que seja leal;
então eu perdoarei a cidade."
(Jeremias 5,1)






A principal tragédia dos homens não é que perseguidos e oprimidos aspirem a se libertar e se aprumar. Não. O grande mal é que os oprimidos anseiam secretamente por se tornar os opressores de seus opressores. Os perseguidos sonham em ser perseguidores. Os escravos sonham ser senhores. 





Nas escrituras sagradas judaicas está explícito que com a vinda do Messias acabarão o derramamento de sangue na Terra e um povo não brandirá a espada contra outro povo e não mais aprenderão a guerra. Essas são palavras do profeta Isaías. E desde os tempos de Jesus até hoje, em nenhum momento parou o derramamento de sangue em lugar algum. Isso e mais: no livro dos Salmos está dito explicitamente que o Messias vai baixar, isto é, vai governar do mar ao mar e do rio até o fim das terras. E Jesus não exerceu governo algum nem em vida nem após a sua morte. 





Nós dois, eu & você, procuramos algo que não tem dimensão. E como não tem dimensão, não vamos encontrar nem que procuremos até amanhã de manhã, e na noite seguinte e em todas as noites seguintes até o dia da nossa morte, e talvez até mesmo depois de nossa morte. 


Falso, 
falso é o coração, 
e perverso, 
quem o compreenderá?


Sou gente


Durante seis horas o crucificado não tinha parado de gritar e de se lamentar. Enquanto sua agonia se prolongava, chorava e bradava e implorava, tal era a dor que sentia, e chamava repetidas vezes por sua mãe, chamava e tornava a chamar numa voz fraca e pungente, voz que parecia um choro de bebê mortalmente ferido e abandonado no campo, sozinho, para secar em sua sede e derramar o que lhe restava de sangue sob um sol causticante. Era um apelo desesperado, que subia e baixava e de novo subia, enregelando o coração, Mãe, Mãe, e depois veio um grito lancinante de dor, e novamente Mãe. E de novo o lamento pungente e depois dele um gemido fraco, prolongado, cada vez mais fraco, um lamento que durou até o último sopro.

... Uma nuvem preta de moscas agitadas desceu sobre os três crucificados e grudou-se a suas peles, voejando faminta sobre o sangue que corria das feridas dos pregos. Sobre os galhos das árvores próximas se espremia numa espera impaciente uma multidão de aves de rapinas pretas, grandes e pequenas, de bicos recurvados, pescoços calvos e penas eriçadas... Ao meio-dia o sol se derramava como chumbo derretido sobre a terra, sobre os crucificados e sobre a multidão de espectadores... Aqui e ali circulavam na multidão vendedores com bandejas de metal oferecendo aos berros doces, bebidas, figos secos, tâmaras, sucos de frutas... Muitos dos presentes haviam trazido comidas e bebidas, e as consumiam.




O amor é um evento íntimo, estranho e cheio de contradições, pois mais de uma vez nós amamos alguém por amor a nós mesmos, por egoísmo, por cupidez, por desejo físico, por vontade de dominar o amado e subjugá-lo, ou, ao contrário, devido a uma espécie de desejo de ser dominado pelo objeto de nosso amor, e geralmente o amor se parece muito com o ódio e é mais próximo dele do que o que imagina a maioria das pessoas.




Jesus foi um grande sonhador, talvez o maior dos sonhadores que jamais houve. Mas seus discípulos não foram sonhadores. Eles foram ávidos de autoridade, e seu fim, como o fim de todos que são ávidos de autoridade e poder no mundo, foi que se transformaram em derramadores de sangue.




Se eu tiver de escolher mil vezes entre o nosso sofrimento, esses antigos tormentos que são seus, meus e de todos nós, e as salvações e redenções do mundo, é melhor que deixem para nós toda a dor e a aflição e guardem para si os seus consertos do mundo, que sempre vem junto com corrupção, cruzadas ou jihad ou gulag ou guerras de Gog e demagog.


Eis o homem!

E você?

Descobriu ou encontrou?


Os pais do sionismo, calculadamente, tinham se utilizado das energias religiosas e messiânicas existentes no coração das massas judaicas em todas as gerações e mobilizado essas energias em proveito de um movimento político que em sua base era secular, pragmático e moderno.




O que não conseguimos por nós mesmos não nos será dado por caridade ou concessão.





Sentia uma doce quietude a envolvê-lo, como se finalmente tivesse voltado para casa, não à casa dos pais nem ao corredor escuro onde dormira todos os dias de sua infância, mas à casa que sempre desejara, a casa onde não estivera uma única vez, a casa dele, a verdadeira. A casa onde ele (não) vai todos os dias de sua vida.


17 de junho de 2022

Clube da 7 - Judas: Amós Oz (por Roberto Pedretti)




"Judas', nesta reta final, me parece um daqueles livros com cujo argumento o autor vinha se revirando há muito tempo, parece ter pensado e repensado várias vezes o passo que daria para contar essa história. Como nunca lhe ocorria o jeito certo, ele foi ao longo dos anos produzindo todos os outros romances do seu catálogo. O dia chegou em que ele teve que dizer "não adianta! vou ter que arquitetar tudo da melhor forma e contar isso aqui!", e assim fez, sem aquele lampejo do que se poderia esperar "inspiração"; mas fez com a disciplina que um grande autor aprende a ter para contar sua história: capítulos curtos, a narrativa bem equilibrada com a elucubração, personagens descritos com precisão e sem exageros.

Concordo com Rita De Cassia Magnago nos seus comentários ao livro há algumas semanas: "Judas" é sobre entendimento, sobre conciliar o inconciliável, seja o catolicismo com o cristianismo, seja o creacionismo com o darwinismo, seja Israel sendo vista de dentro com Israel sendo vista de fora; ou a conciliação entre um velho um pouco cínico e desiludido e um jovem idealista e curioso a respeito do evangelho. Às vezes dá a impressão de que estamos assistindo a um acerto de contas entre o jovem e velho Amos Oz. Talvez "Judas" seja o tipo de livro que só pode surgir na velhice de um escritor.

Eu tenho uma grande amiga israelense, que veio para o Brasil aos 12 anos, e que posteriormente passou a adolescência convivendo, basicamente, nos meios judaicos de São Paulo. Quando fomos assistir juntos ao filme "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, no cinema, achei maximamente interessante que ela estivesse assistindo ao filme com real e vívido interesse narrativo, porque apesar de extremamente culta e cosmopolita, ela realmente não sabia o que ia acontecer. Ela tinha alguma noção de pedaços de história cristã aqui e ali, mas ela realmente não sabia bem como se dava toda essa coisa de martírio e ressurreição da qual tanto se mencionava.

Sendo cristãos de nascimento, e tendo como espelhos culturais bem firmes os Estados Unidos e a Europa Ocidental, é muito comum que nos pareça estranho pensar sobre uma cultura eticamente tão parecida com a nossa, mas na qual Jesus não é mais que uma nota de rodapé aqui e ali (conforme Amós Oz começa ressaltando no capítulo 9). O que os personagens de "Judas" estão fazendo, ao referirem-se a Cristo com tanta frequência é, por si só, um ato de tolerância. Será um apelo do autor?


4 de junho de 2022

Intro: Melina de Carvalho

 



Minhas ou 

suas,

Das tias ou 

das ruas,

Cruas ou

Nuas.


Essas linhas são de quem se identificar

De quem se arriscar 

De quem quiser.


Depois de escrito,

O texto não pertence mais 

ao seu autor.


Nem a poesia,

Nem o que se imaginou,

Ou se viveu, 

Ou sei lá,

Se esqueceu.


Tome, são tuas.


2 de junho de 2022

Não tenhas medo

 

"O melhor prémio que tive enquanto escritor foi-me dado por uma criança." Mia Couto

No texto de Mia Couto que tem a frase: "O melhor prémio que tive enquanto escritor foi-me dado por uma criança", vi uma sensibilidade da parte do autor tão grande que águas salgadas saíram dos meus olhos.

O texto fala do lançamento de um livro dele direcionado para crianças, embora no texto ele parece apontar que achava "esquisito" escrever para crianças. Como se as crianças não pudessem enxergar as coisas que se espera que só um adulto perceba.

Sobre esta ideia, Machado na obra Memórias Póstumas de Braz Cubas, cita: "O menino é o pai do homem", onde entendo que o menino aí é uma face ingênua de nossa vida, ou momentos que não percebemos as informações lançadas para nós, devido estarmos distraídos com sentimentos, principalmente os ruins. Pois como por exemplo, a mágoa, cega.

No texto também entendi que o  menino mencionado era um bom leitor e já teria lido o livro antes do lançamento, ou conhecia as frases: " Não tenhas medo. O escuro apenas é feito das coisas que colocamos", que usa para consolar e, ou ensinar o autor.

Ou também poderia ter sido coincidência, o menino ter citado as frases que tinha na obra do autor, O gato e o escuro, que estava sendo lançada. 

Que visão desse menino, que leitura, e como ele soube aplicar o que aprendeu, com a obra do autor ao ponto de aplicar para o próprio autor.

Só pessoas com mania de perseguição, ou capazes de praticar plágio, pensaria que a criança estava plagiando o escritor. Na verdade ela estava encantada com o que aprendeu e queria mostrar ao seu autor/professor.

Também vi que há coisas que escrevemos que não temos a ideia de como será lida e aplicada, pois o texto depois de publicado, cria asas e dimensões que não se pode medir, principalmente se for um bom texto.

Percebi também que muitas vezes o autor precisa lê, reler, treslê o texto que escreveu, para entender e aprender o que escreveu.

A crente de Fortaleza

01/06/2022