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23 de março de 2014

Pelo Dia mundial da Poesia (2)

Poesia companheira  (trovas)

by Elenir Teixeira


Desde o instante de magia
em que nós nos encontramos,
companheiras, poesia,
para sempre nós ficamos.

Poesia, de mansinho,
trazendo luz e alegria,
tu cruzaste meu caminho
e, de mim, fez moradia.


22 de março de 2014

22 de Março - Dia mundial da água

Amigos do CLIc, sendo hoje o dia mundial da água, gostaria de enviá-los o belo poema de Manuel Bandeira: "Murmúrio D'Água": Já o soube de cor e hoje só alguns versos. Sempre, me comoveu. 

Abraços.

Elenir





MURMÚRIO D'ÁGUA


Murmúrio D'Água é tão suave aos meus ouvidos...
Faz tanto bem à minha dor teu refrigério!
Nem sei passar sem teu murmúrio aos meus ouvidos,
Sem teu suave, teu afável refrigério.

Água da fonte...água do oceano...água de pranto...
Água de rio...
Água de chuva, água cantante das lavadas...
Têm para mim, todas, consolos de acalanto,
A que sorrio...

A que sorri minha cínica descrença.
A que sorri o meu opróbrio de viver.
A que  sorri o mais profundo desencanto
Do mais profundo e mais recôndito do meu ser!
Sorriem como  aqueles cegos de nascença
Aos quais Jesus de súbito fazia ver...

A minha mãe ouvi dizer que era minha ama
Tranquila e mansa.
Talvez ouvi, quando criança,
Cantigas tristes que cantou à minha cama.
Talvez por isso eu me comova  àquela mágoa.
Talvez por isso eu me comova tanto à mágoa
Do teu rumor, murmúrio d'água...
 
A meiga e triste rapariga
Punha talvez nessa cantiga
A sua dor e mais a dor de sua raça..
Pobre mulher, sombria filha da desgraça!

---  Murmúrio d'água, és a cantiga de minh'ama.


Da série temática Sonhos que não sonhamos (9)

A propósito da coluna do Arnaldo Bloch, publicada no jornal O Globo de hoje, 22/03/2014, retorno com este tema que acho encantador, e que já rendeu ótimas produções de cliceanos (para quem quiser rever, seguem os links no final deste post).



Bloch questiona o sonho físico, se é que se pode falar assim, ou seja, aquele que sonhamos quando dormimos. Será que o homem ainda teria a capacidade de sonhar se só consumisse alimentos estéreis e neutros e banisse o álcool? E, caso tivesse, que sonhos seriam esses? Diz ele:

"O sonho não é apenas um checklist de medos e desejos. Não é só um bando de eletricidade estática provocada pelos excessos da atividade mental. Não é só uma faxina. Não é só um almanaque sobre o que é sonhar com água ou o que é sonhar com cálices. Não é só um teatro de símbolos que o inconsciente encena para dar pistas dos entraves existenciais."

Então, qual a sua opinião? Você tem algum sonho recorrente? Gostaria de poder escolher o que sonhar? Com que frequência você se lembra dos seus sonhos? Você prefere sonhar acordado ou dormindo? Use o campo comentários para partilhar suas experiências oníricas.


Clique aqui para ler a crônica de Bloch


Clique aqui para ler Rosemary Timpone









Pelo Dia Mundial da Poesia


Coisas Pequenas das Pequenas Coisas

Ilnéa País de Miranda


Pequenas coisas que nos entristecem
Fazem calar um dom, doce e precioso,
Em certo traço do maravilhoso
Onde os milagres sempre acontecem. 

Pequenas coisas que fazem formoso
Um dia simples, desses que se esquecem,
Parcas belezas que nos envaidecem
Como sorrir ou gargalhar gostoso.

Pequenas flores, ou algo que contenha,  
Perfume frágil mas, que oloroso,
Possa inventar seu jeitinho de senha. 

Pequenos traços que vida desenha
Envelhecendo a pele, a alma, o gozo,
Como se fosse, dela, uma resenha.


21 de março de 2014

Tratamento à base de livros: sem contraindicação


Começo pelo fim, mas se tudo é um meio e estamos num ciclo, então a ordem é irrelevante. Assim penso a partir da citação de Cristiana Seixas, em entrevista publicada no jornal O Fluminense no dia 16 de março. O tema? A leitura, os livros, e como esse processo biblioterapêutico pode nos ajudar.

 “É um processo que vai fazendo uma soltura das possibilidades,  da compreensão. Eu chamo as leituras de barcos; são elas que fazem as travessias. As palavras têm esses quatro elementos. É terra porque está escrita; é ar porque é uma ideia; é fogo porque atiça a gente; e é água porque evoca muitas vezes o nosso choro, que é o fluir da emoção” 


A psicóloga Cristiana Seixas é especializada em biblioterapia e fala sobre os benefícios da técnica. Foto: Mariana Pimenta

Para ler a matéria completa, clique aqui

20 de março de 2014

Helene Camille e o Senhor dos Anéis



A poeta Helene Camille


Aproveitando a ocultação de Saturno pela Lua nesta noite, 20/03/2014, transcrevemos a poesia de HC que consta no livro de 15 anos do CLIc


Passando anéis


Um ser devorado por Cronos


Abortou-se
minha infância,
minha adolescência e
minha maturidade e,
nesta, os tabus e clichês
sociais.

Sou uma criatura
atropelada e mal ajambrada
pelas supostas
etapas da vida.

Minha aparência
encerra um ser
estranho, meio misantropo
um ser inexistente
segundo leis
do senso comum.

Um ser nascido,
devorado e regurgitado
por Cronos e,
como sua filha,
vivo parcialmente
dentro e fora dele.





"Não lembro o ano em que fui pela primeira vez ao Clube de Leitura de Icaraí. Recordo-me que a leitura em questão era A menina que roubava livros. Eu conheci o Clube por meio da Lílian que me convidou para ir a uma reunião. Ela sempre estava falando e um dia eu resolvi aparecer por lá e eis-me aqui."





Helene Camille é filósofa formada pela Universidade Federal Fluminense e participa do Clube de Leitura Icaraí desde Fevereiro de 2011. Helene Camille está no Clube de Leitura Icaraí - 15 anos entre livros

15 de março de 2014

Brincando com tintas (2)


Quadros que dizem tanto...



O quadro Las Meninasque aparece no vídeo acima, é uma obra clássica de Velásquez e está no 
museu do Prado, em Madrid, Espanha, contribuição do concièrge à nossa brincadeira de falar sobre o que estamos vendo na imagem.

Compartilhe sua opinião e sentimentos a respeito utilizando o campo "Comentários".

11 de março de 2014

Oblómov, de Ivan Gontcharov, no Clube de Leitura Icaraí.



Em meados do século XIX, a função econômica e social da nobreza russa é colocada em xeque por meio da apatia do jovem fidalgo Oblómov, que passa dias sem sair de sua cama, fazendo planos que nunca põe em prática. Publicado em 1859, o romance homônimo de Ivan Gontcharov gerou ampla repercussão ao retratar a elite da Rússia e entra em debate no Clube de Leitura Icaraí, no dia 14 de março. O evento acontece das 19h às 21h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói). A entrada é gratuita.
“Ficar deitado não era nem uma necessidade, como é para um doente ou para alguém que deseja dormir, nem um acaso, como é para alguém que está cansado, nem um prazer, como é para um preguiçoso: tratava-se de um estado normal”, conta o narrador acerca de Iliá Ilitch Oblómov. Ao contrário do que se pode imaginar, não se trata de um livro sem enredo, pois o jovem nobre se envolve em uma alarmante trama de adiamentos, desfazeres e irresoluções.  A obra popularizou-se na Rússia e algumas de suas personagens e ações tiveram influência sobre a cultura e a linguagem do povo. Oblomovshchina, por exemplo, (russo: Обломовщина), ou Oblomovismo, tornou-se a expressão empregada para descrever alguém preguiçoso ou apático como o protagonista do romance.

Sobre o autor: Ivan Gontcharov (1812-1891) nasceu em Simbirsk, atual Ulyanovsk, filho de um abastado comerciante de grãos. Após graduar-se na Universidade de Moscou em 1834, serviu por 30 anos como um pequeno funcionário de governo. Em 1847 escreveu seu primeiro romance, História Comum, que retrata os conflitos de um nobre jovem russo. Publicou sua obra de maior sucesso, Oblomov, aos 47 anos, em 1859. Entre os admiradores de Goncharov está Fyodor Dostoyevsky, que o considerava um notável autor.

Em 1867, aposentou-se de seu posto como censor do governo e, em seguida, escreveu seu último romance, O Precipício, de 1869, que é a história de uma rivalidade romântica entre três homens e prevê uma condenação ao niilismo em defesa dos valores religiosos e morais da velha Rússia. Goncharov também escreveu contos, críticas, artigos e algumas memórias que só foram publicados postumamente, em 1919. Passou o resto de seus dias solitário devido a críticas negativas a alguns de seus trabalhos. Nunca se casou e morreu em St. Petersburg, em 1891.

Las Meninas: Primer Cuadro a 360º

9 de março de 2014

Brincando com tintas

Quadros que dizem tanto...

A ideia é da cliceana Cristiana Seixas, biblioterapeuta e escritora que sempre nos propõe desafios de fazer parar e pensar. Tendo recebido a imagem do quadro abaixo através do e-mail do CLIc, Cris nos instiga a escrever sobre a pintura da canadense Marianna Gartner, gerar textos a partir da imagem que segue, em forma de prosa, poesia, trova, haicai, o que mais lhe parecer conveniente. Você também pode contribuir enviando outras imagens para que prossigamos a brincadeira.

Então, vamos lá? O que lhe diz esse quadro?




8 de março de 2014

Uma homenagem


Em homenagem ao Dia da Mulher, o poema de Cesar de Araújo (Poeta de Niterói, marido já falecido de Eda Damásio, do CLIc):

 DA LIBERDADE

 A Liberdade é mulher
Posso vê-la da janela
Corre meu corpo corisco

corre veloz atrás dela ...

Vá perseguí-la nas ruas,
telhados, campos, favelas,
como os cães, gatos, cavalos
em tempo de cio e lua.

.......................................

A liberdade é a mulher
mais sensual que amarei
Abrirá pernas e braços
penetrarei o regaço 
Farei brotar do seu ventre
e do seu ventre saltar
não demônios ditadores
nem curradores de espada
mas homens filhos do amor
gente simples, sem fealdade
nascidos do homem escravo
e da mulher Liberdade.







6 de março de 2014

O Espanador: Oblómov – Ivan Gontcharóv

Um pouquinho sobre Oblómov: Antonio R

Boa noite, Clic-leitores,

Grande Elenir! Ainda bem que você recuperou o seu livro. Leitura imperdível!

Ceci, trate de comprar logo uma edição aristocrática da CosacNaify. Você vai gostar da leitura.
Os demais que ainda não começaram a ler, não sabem o que estão perdendo...
   

Estou na metade do livro. Havia passado por um longo período de oblomovismo literário (leiam o livro e saberão o que significa oblomovismo), mas finalmente, durante esta semana que acabou de acabar, voltei a ler Oblomov. E voltei nas maravilhosas páginas em que Iliá Ilitch Oblomov e seu amigo Stolz travam diálogos magníficos.

Qualquer referência a Oblomov como vagabundo ou preguiçoso não passa de uma grande injustiça. A preguiça de Oblomov é uma reação existencial a um tipo de vida (ou tipos) do qual ele não quer participar. Oblomov é um sujeito que deseja do fundo da alma encontrar seu ideal de vida...


Vejam este diálogo: 



— De que vida você gosta? — Perguntou Stolz.
— De vida nenhuma, só de ficar aqui.
— De que é que você não gosta especialmente?
— De tudo, essa eterna correria para lá e para cá, essa eterna ostentação de paixõezinhas inúteis, sobretudo a avareza, a vontade de passar à frente do outro, as fofocas, a conversa fiada, os insultos pelas costas, o jeito de olhar os outros dos pés à cabeça; ouvindo o que as pessoas falam a cabeça da gente começa a rodar, ficar embotada. Quando a gente olha, elas parecem tão inteligentes, com tanta dignidade no rosto, mas é só escutar e: "Deram isso para aquele, aquele outro recebeu uma concessão do governo"... "Puxa, vida, por quê?", grita o outro. "Fulano perdeu tudo no jogo ontem no clube, fulano vai ganhar trezentos mil!" Que tédio, que tédio, que tédio... Onde está o homem de verdade? Onde ele se escondeu, como ele foi substituído por toda sorte de ninharias?


Oblomov, a meu ver, mantém um distanciamento existencial diante dos ideais de vida impostos pelas sociedade russa de seu tempo. Porém, ele ainda busca dentro de si o ideal de vida que lhe devolva efetivamente o entusiasmo da vida. Contudo, até onde lí, Oblomov talvez ainda não tenha encontrado seu ideal de vida: 


Ainda dialogando com Stolz, Oblomov parece transparecer isso: 


"Não, isso não é vida, mas uma distorção da norma, do ideal de vida que a natureza indica para todas as pessoas...


Stolz pergunta a Oblomov:


"— Que ideal  é esse, qual é a norma de vida?"

Oblomov não respondeu."

E mais adiante, Oblomov abre-se a Stolz e pronuncia palavras tocantes: 


"— Sabe, Andrei (Stolz), em minha vida nunca ardeu nenhuma chama redentora ou destrutiva. Minha vida nunca foi parecida com uma manhã em que as cores e a luz gradualmente ficam mais fortes, e que depois se transforma em dia claro, como a vida de outras pessoas, e arde de calor, ferve e se agita no meio-dia radiante, e que depois, cada vez mais calmo, mais pálido, e de forma natural, sem pressa, se apaga ao anoitecer. Não, minha vida já começou se apagando. É estranho, mas é assim! Desde o primeiro minuto em que tomei consciência de mim mesmo, senti que estava me apagando! Comecei a me apagar quando redigia documentos na repartição; depois eu me apagava ao aprender nos livros verdade com as quais eu não sabia o que fazer na vida, eu me apagava na companhia dos amigos, ao ouvir os rumores, as fofocas, as ironias, a tagarelice maldosa, fria, a futilidade, e ao ver amizades que se mantinham em reuniões sem propósito, sem simpatia; eu me apagava..."

Fico por aqui, é só uma palhinha do que o livro tem a oferecer, para que possamos abrir o diálogo e conversar sobre coisas tremendas que de fato podemos encontrar em Oblomov. 

Um grande abraço a todos,