28 de abril de 2021
A desejada: Elenir Teixeira
Assustada, Luiza pulou da cama às sete horas da manhã. A campainha do telefone tocava insistentemente.
Do outro lado da linha, sua grande amiga Regina cantava entusiasmada: “Parabéns pra você...” Sempre fizera questão de ser a primeira a felicitá-la. Certa vez, aguardou a última badalada da meia-noite para ligar, assegurando, dessa forma, sua pretensão.
Uma vez de pé, apanhou o jornal na porta, leu as principais manchetes, preparou seu café e, enquanto o tomava devagarzinho, pensava... O fio tênue da memória levou-a a fazer longa viagem de volta aos anos quarenta. À mesa do café, ela e seu pai conversavam. Havia muita ternura entre eles:
— Filha, em junho completarás quinze anos e, em dezembro, irás concluir teu curso ginasial. Estão a faltar-me condições para oferecer-te, como mereces, duas festas. Peço-te, pois, para escolheres a ocasião que desejas festejar.
Por algum tempo, ela permaneceu calada, refletindo. Ambos eram acontecimentos importantes. Fazer quinze anos, seu maior sonho, como seria, também, o de outras adolescentes. Significava, certamente, maior liberdade. Poderia usar sapatos de saltos, vestidos um pouco mais decotados e até batom. Obteria, naturalmente, permissão para ir aos bailes com suas amigas, dispensando a vigilância implacável de seu irmão, e, talvez, até para namorar. Ah, quanta inveja sentia dos namoros de suas amigas! Por outro lado, para a aluna aplicada, ostentando sempre nota máxima no boletim, a conclusão do curso ginasial representaria uma grande vitória a ser celebrada. Entretanto, o sonho de liberdade falou mais alto.
— Pai, quero festejar meus quinze anos.
Sem prever o que lhe preparava o futuro, fez a escolha certa.
...
(Continua no livro dos 20 anos do Clube de Leitura - Modo de Fazer. E mais de Elenir: Haicais, poemas e críticas literárias de vários livros debatidos no CLIc)
27 de abril de 2021
Para (re)ler Dom Quixote
Assista a "Café Filosófico:
Dom Quixote de Cervantes
e a crise dos sonhos
com Janice Theodoro"
no YouTube
24 de abril de 2021
Os cadernos de Dom Rigoberto: Mario Vargas Llosa
Sábado - 17h00
24/04/2021
Google Meet
Um coletivo não pode organizar-se para alcançar nenhuma forma de perfeição sem destruir a liberdade de muitos, sem levar de roldão as belas diferenças individuais em nome dos pavorosos denominadores comuns.
Quem ama sabe, e tem por sabedoria tudo o que concerne ao seu amor, sacralizando o detalhe mais trivial dessa pessoa. (pág. 22)
Uma vida mental rica e própria exige curiosidade, malícia, fantasia e desejos insatisfeitos, isto é, uma mente "suja", maus pensamentos, floração de imagens proibidas, apetites que induzam a explorar o desconhecido e a renovar o conhecido, desacatos sistemáticos às ideias herdadas, aos conhecimentos manipulados e aos valores em voga.
Egon Schiele Ausstellung im Georg Schäfer Museum in Schweinfurt
... pois existiria prazer maior, para mim, do que te satisfazer? Para ti e por ti, fui Messalina e Leda, Madalena e Salomé, Diana com seu arco e suas flechas, a Maja Desnuda, a Casta Susana surpreendida pelos velhos luxuriosos e, no banho turco, a odalisca de Ingres. Fiz amor com Marte, Nabucodonosor, Sardanapalo, Napoleão, cisnes, sátiros, escravos e escravas, emergi do mar como uma sereia, aplaquei e aticei os amores de Ulisses. Fui uma marquesinha de Watteau, uma ninfa de Ticiano, uma virgem de Murillo, uma Madona de Piero della Francesca, uma gueixa de Fujita e uma rameira de Toulouse-Lautrec. Deu trabalho equilibrar-me nas pontas dos pés como a bailarina de Degas e, acredita, para não te decepcionar, até tentei me transformar, à custa de cãibras, naquilo que denominas o voluptuoso cubo cubista de Juan Gris.
"Sou o mais tímido dos tímidos. Sou divino." (p. 251)"
“(…)consegui encher o meu escritório de livros, gravuras e quadros que me couraçam contra a estupidez e a vulgaridade reinantes e formar um enclave de liberdade e fantasia onde , todos os dias, melhor dizendo todas as noites, consegui desintoxicar-me da espessa crosta de convencionalismos embrutecedores, vis rotinas, atividades castrantes e gregarizadas que você fabrica e das quais se alimenta, e viver, viver de verdade, ser eu mesmo, abrindo aos anjos e demónios que me habitam as portas gradeadas atrás das quais – por sua causa, sua – são obrigados a esconder-se o resto do dia.” (Pág. 230)
"Não sabemos: só podemos conjecturar"
"Os cadernos de dom Rigoberto é um livro arrebatador sobre a arte de amar, em suas formas mais variadas e profundas. Lançado originalmente em 1997, tornou-se um sucesso mundial. No romance, Vargas Llosa retoma os personagens de seu romance Elogio da Madrasta, de 1988, para narrar uma nova história de paixões e intrigas. Dom Rigoberto, embora seja um homem discreto, leva uma vida dupla. De dia, comporta-se como um senhor respeitável e de hábitos metódicos. À noite, aproveita as madrugadas insones para registrar fantasias amorosas em seus cadernos. Neles, sua ex-mulher, a voluptuosa Lucrecia, ocupa sempre o espaço da personagem principal. Por trás da aparência austera de corretor de seguros, esconde uma obsessão pelas mais loucas fantasias sexuais. Embora tenha passado anos de completa felicidade com Lucrecia - uma mulher sensual que amava atender seus desejos -, Rigoberto interrompeu bruscamente o idílio em que viviam quando descobriu que ela e Fonchito - filho de seu primeiro casamento - mantinham um tórrido caso amoroso. Assim, viu-se obrigado a expulsá-la de casa. O que dom Rigoberto não sabe é que foi o filho quem seduziu a madrasta, num plano maquiavélico para afastá-la de suas vidas. Agora, o destino de Lucrecia e dom Rigoberto está prestes a mudar. Fonchito, misteriosamente, põe em operação um plano para voltar a unir o casal. Mesmo sem descobrir o que o menino pretende, Lucrecia se deixa levar por essa nova artimanha que a colocará, mais uma vez, em contato com o que mais desejou."
“Um rebanho, como se sabe, é composto por gente sem voz própria e de esfíncter mais ou menos débil. É um facto comprovado, aliás, que, em tempos de confusão, o rebanho prefere a servidão à desordem. Daí que aqueles que agem como cabras não tenham líderes mas sim cabrões. E alguma coisa se nos deve ter pegado dessa espécie quando no humano rebanho é tão comum esse dirigente capaz de conduzir as massas até à beira do recife e, uma vez ali, fazê-las saltar para a água. Isto se não lhe ocorrer assolar uma civilização, que é uma coisa também bastante frequente.” (Pág. 119)
A gata peluda, se você me entende.
L'origine du monde: Gustave Courbet
«Tenho o feiticismo dos nomes, e o teu enleva-me e enlouquece-me. Rigoberto! É viril, é elegante, é brônzeo, é italiano. Quando o pronuncio, em voz baixa, corre-me uma cobrazinha pelas costas e gelam-se-me os calcanhares rosados que Deus (ou, se preferes, a Natureza, descrente) me deu. Rigoberto! Ridente cascata de águas transparentes. Rigoberto! Amarela alegria de pintassilgo a celebrar o sol. Onde estiveres, estou eu. Quietinha e apaixonada, eu aí.»
"(…)consegui encher o meu escritório de livros, gravuras e quadros que me couraçam contra a estupidez e a vulgaridade reinantes e formar um enclave de liberdade e fantasia onde , todos os dias, melhor dizendo todas as noites, consegui desintoxicar-me da espessa crosta de convencionalismos embrutecedores, vis rotinas, actividades castrantes e gregarizadas(...)
21 de abril de 2021
A construção de uma amizade: William Lial
Como é gostoso e importante para a formação da criança ouvir histórias. Ao contá-las instigamos a curiosidade e o desejo de “quero mais”, expresso pelas crianças no “conta outra vez”. São esses sentimentos que nos movem para conhecer e aprender as coisas que estão no mundo, e, sabendo-as registradas em livros, certamente iremos recorrer a eles, nos tornando, assim, leitores por desejo e motivação. (PERRONE; LARA, 2002, p. 123)
A literatura infantil, felizmente, é base da criação intelectual e prazer pela leitura de muitos de nós. Não são poucos os relatos de quem teve sua infância recheada de livros infantis, de Monteiro Lobato à Ana Maria Machado – para os mais jovens. Muito importante, portanto, como diz a professora e ensaísta Nelly Novaes Coelho,
Ilustrações: Arthur H. Braga |
20 de abril de 2021
Hamlet e Dom Quixote — Ivan Turguêniev - Literatura Russa para Brasileiros
15 de abril de 2021
A peste: Albert Camus
9 de abril de 2021
Minha história de leitor e membro do CLIc: Eduardo de Freitas Leite
(leia o Texto integral no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")
Amigos e amigas do Clic, o meu volume já está comigo, só falta agora me deliciar e viajar com os textos publicados e, no próximo encontro, colher as dedicatórias. |
3 de abril de 2021
A cidade do sol: Khaled Hosseini
Khaled Hosseini: "Você precisa escrever, quer sinta ou não."
A Cidade do Sol foi o livro escolhido pelo Clube de Leitura Jovem para o debate do mês de agosto 2015! Trata-se do segundo romance do escritor afegão Khaled Hosseini, cujo livro de estreia foi o sucesso de crítica e de vendas O Caçador de Pipas.
Liz Frencham sings 'A Thousand Splendid Suns' at the Canberra Theatre Playhouse. The song was written by Fred Smith through the eyes of a woman in Kabul looking back on the last 40 years of Afghan history.
José há de voltar a Canaã, não se lamente,
Se as águas chegarem destruindo tudo que vive,
* * *
Tinha sido uma esposa infiel? Foi a pergunta que se fez. Uma esposa complacente? Uma mulher indigna? Infame? Vulgar? Que mal tinha feito, deliberadamente, a esse homem para justificar sua maldade, seus repetidos ataques, o prazer que ele sentia em atormentá-la? Não tinha cuidado dele quando esteve doente? Não tinha lhe dado comida, a ele e a seus amigos, e limpado as coisas dele com todo cuidado?
Não tinha entregado a sua juventude a este homem?
Por uma única vez que fosse, tinha merecido a sua crueldade?
Todos os cidadãos devem rezar cinco vezes ao dia. Quem for apanhado fazendo outra coisa nas horas de oração será espancado.
Todos os homens deverão deixar crescer a barba. O comprimento correto é pelo menos um punho fechado abaixo do queixo. Quem não cumprir essa determinação será espancado.
Todos os meninos devem usar turbante. Os estudantes da primeira à sexta série usarão turbantes negros, os alunos das séries superiores usarão turbantes brancos. Todos deverão usar trajes islâmicos. O colarinho das camisas deve ser abotoado.
É proibido cantar.
É proibido dançar.
É proibido jogar cartas, jogar xadrez, fazer apostas e soltar pipas.
É proibido escrever livros, ver filmes e pintar quadros.
Quem possuir periquitos será espancado, e os pássaros, mortos.
Quem roubar terá a mão direita cortada na altura do pulso. Quem voltar a roubar terá um pé decepado.
Quem não é muçulmano não pode realizar seu culto em lugar onde possa ser visto por muçulmanos. Quem fizer isso será espancado e detido. Quem for apanhado tentando converter um muçulmano à sua fé será executado.
Atenção mulheres:
Vocês deverão permanecer em casa. Não é adequado uma mulher circular pelas ruas sem estar indo a um local determinado. Quem sair de casa deverá se fazer acompanhar de um mahran, um parente de sexo masculino. A mulher que for apanhada sozinha na rua será espancada e mandada de volta para casa.
Vocês não deverão mostrar o rosto em circunstância alguma. Sempre que saírem à rua, deverão usar a burqa. A mulher que não fizer isso será severamente espancada.
Estão proibidos os cosméticos.
Estão proibidas as jóias.
Vocês não deverão usar roupas atraentes.
Só deverão falar quando alguém lhes dirigir a palavra.
Não deverão olhar um homem nos olhos.
Não deverão rir em público. A mulher que fizer isso será espancada.
Não deverão pintar as unhas. A mulher que fizer isso perderá um dedo.
As meninas estão proibidas de frequentar a escola. Todas as escolas femininas serão imediatamente fechadas.
As mulheres estão proibidas de trabalhar.
A mulher que for culpada de adultério será apedrejada até a morte.
Ouçam.
Ouçam bem.
Obedeçam.
Allah-u-akbar.”
Qays ibn al-Mulawwah was just a boy when he fell deeply in love with Layla Al-Aamiriya. He was sure of this love on the very first day he laid his eyes upon her at maktab (traditional school). He soon began to write beautiful love poems about Layla and he would read them out loud on street corners to anybody who would care to listen. Such passionate displays of love and devotion caused many to refer to the boy as Majnun, meaning madman.
Enquanto subiam, ele lhes contou que Bamiyan havia sido, outrora, um reduto florescente do budismo, até cair sob o domínio islâmico no século IX. Os penhascos de rocha calcária eram a morada de monges budistas que escavavam essas cavernas para usá-las como moradia e como abrigo para os peregrinos cansados. Esses monges, acrescentou babi, pintaram lindos afrescos pelas paredes e pelos tetos das cavernas.
Buddahs of Bamiyan |
Cada floco de neve é o suspiro de uma mulher sofrida em algum canto do mundo. Todos esses suspiros sobem ao céu, formam nuvens e, então, se partem em mil pedacinhos que caem, em silêncio, sobre as pessoas aqui embaixo.
extrais o vivo do morto e o morto do vivo,
e agracias imensuravelmente a quem Te apraz.
Mr. War |
Refugiados