Fundado em 28 de Setembro de 1998

31 de dezembro de 2019

Tempo de Natal: Elenir Teixeira


Natal! Alegria!
Os sinos na Catedral
fazem bailar pássaros.

Tempo de Natal!
De amor e muita harmonia.
Seja, assim, no CLIC.🎄💞


Mais uma vez, chega o Natal. Mais uma vez, retornam as recordações dos Natais de minha infância.
Comemorávamos na casa de meus avós. Eles faziam questão de que toda a numerosa família, nove filhos, muitos netos e até bisnetos, estivesse presente.
A mesa da sala de jantar era imensa e, ali, todos se acomodavam. Quanto mais juntinho melhor. Havia muito carinho e harmonia. Vô Chico, à cabeceira, quase não falava, era seu jeito, mas os olhos sorriam e diziam de sua alegria vendo todos reunidos.
Lembro bem do aroma adocicado daquela casa. Era vizinha de uma fábrica de balas. A doçura atiçava a gula da criançada e, certamente, a de muitos adultos. Sr. Álvaro, o proprietário, presenteava-nos com muitos sacos de balas de todas as cores e formas: vermelhas, amarelas, azuis, verdes, redondas, estrelinhas, bengalinhas ...
Antes de iniciarmos a ceia, meu avô fazia uma prece, não sei se de improviso ou originária de Portugal. Todos a ouviam contritos, com exceção de nós crianças, principalmente eu, que não parávamos quietas, implicando umas com as outras e recebendo, baixinho, repreensões de nossas mães. Após a oração, brindávamos a vinda do “Menino”.    
Havia frutas secas, frutas frescas, bacalhau em postas, bolinhos de bacalhau, uns bolinhos fritos, de abóbora, deliciosos, que só minha avó Cotinha sabia fazer, rabanadas com leite e com vinho, pastéis de Santa Clara e outras iguarias. Sendo uma casa portuguesa, não podia faltar, evidentemente, um bom vinho da “terrinha”. Para as crianças, havia groselha.
A hora mais esperada, entretanto, era a da chegada de Papai Noel.  Alvoroçadas, não parávamos de perguntar se já estava na hora. Meia-noite em ponto, os sinos da Igreja de São Lourenço, no Ponto de Cem Réis, começavam a tocar alegremente e o velhinho, vindo do corredor, com um saco enorme às costas, entrava na sala e era aplaudido por todos.
Em cada presente, encontrava-se colado o nome do presenteado e o conselho que Papai Noel deveria dar-lhe. Ainda acreditávamos que o velhinho viria dirigindo um trenó, ou mesmo num trem especial. Por isso, eu pensava comigo: será que Papai Noel abre uma janelinha entre as nuvens para espiar o que estamos fazendo aqui embaixo?
Na hora da entrega do presente, ele chamava a criança e, antes de entregá-lo, dava os conselhos: “Pedrinho, você precisa estudar mais. Está muito preguiçoso”. “Zeca, não seja tão malcriado com seus pais”.
A mim, ele dizia: “você é muito levada! Vive caindo e traz, sempre, um curativo na perna, no braço e, até, na testa. Precisa ser mais sossegada!”... Prometíamos emendar-nos. Mas, no ano seguinte, repetiam-se os conselhos. As promessas eram esquecidas.
Meu pai, comerciante, na época do Natal, atrás do balcão, trabalhava muito. Era simpático, paciente e, por isso, todos os fregueses da loja faziam questão do seu atendimento. Mas eu não entendia e ficava triste por ele nunca estar presente quando Papai Noel chegava. Trabalhar até meia-noite era demais, pensava. Minha mãe explicava-me que ele estava ajudando o patrão a contar o dinheiro recebido no dia. Eu não aceitava a explicação. Achava seu patrão um homem muito exigente. Sem sentimento. Quando ele chegava, logo depois que Noel partia, pendurava-me no seu pescoço, cobria-o de beijos e dizia: que pena, papai, mais uma vez, você não viu Papai Noel!
Assim eram nossos natais e, assim, se repetiam todos os anos. Às vezes, com algumas mudanças: um bebê novo que havia chegado, uma tia velha vindo de Portugal e, por isso, a ceia era mais alegre ainda.
Quando já tinha dez anos, resolvi acompanhar Papai Noel pelo corredor quando ele se retirou da sala. Andava desconfiada... Vi quando entrou no quarto de meus avós. Que mal educado! Pensei. Entrar no quarto deles sem pedir licença. Será que está cansado e vai tirar uma soneca? Nesse momento, a porta abriu-se e eu me escondi. Meu pai saia, deixando as roupas, o saco, as botas, a barba postiça, tudo espalhado em cima da cama. Minha decepção foi enorme, mas, naquele momento, acabava de descobrir o motivo de sua ausência permanente. Ele era o Papai Noel! Escondi o segredo. Não contei nem para o meu irmão. Sentia um misto de tristeza, pois gostaria de continuar acreditando no Papai Noel, e de orgulho, por compartilhar o segredo com os adultos. Por coincidência, no dia seguinte, tio Manoel chamou- me, e ao meu irmão, para uma conversa em particular. Disse-nos que estávamos ficando mocinhos e precisávamos saber a verdade. Suavemente, revelou-nos o que eu já sabia: Papai Noel era o nosso pai. Fingi surpresa. Quanto ao meu irmão, custou a conformar-se. Não admitia ter sido enganado.
Poucos foram os Natais que comemoramos com o ”Papai Noel”, após a revelação. Em setembro de 1949, ele partiu, prematuramente, aos quarenta e seis anos. Nenhum outro queria ocupar seu lugar. Ele era insubstituível. Aos menores, foi dito que o velhinho estava cansado, e, por essa razão, não viria. Minha mãe, eu e meu irmão comemoramos o Natal em casa, sozinhos, sentindo sua falta. Mas, como disse Bartolomeu Campos de Queirós: “Na morte, a ausência ganha mais presença”. Ele estava presente. Entre nós.



Elenir
Ocupa a cadeira 14 do CLIc



29 de dezembro de 2019

Natal: Ilnéa País de Miranda



E então era dezembro, como sempre era dezembro depois do trigésimo dia de novembro, que como sempre acontecera depois de outubro. É, era dezembro como no mínimo  vinha sendo dezembro por alguns tantos quase dois mil anos - um tempo maior que a eternidade para quem não era muito mais que um projeto de gente de uns poucos anos, aos quais tão logo juntaria mais um. Sim, pois como o Jesus do berço de palha que depois crescera e se encarrapitada sobre a bandeira da porta da sala de visitas da casa da Vó Neném , também  eu, menina pequenina, era de dezembro, como de dezembro era minha outra a Vó, a Betina, que era do dia seguinte. Que dia seguinte? Ora, do Natal, naturalmente. 
...e se passou muito tempo até que eu me desse conta de que Natal era aniversário de Jesus...
Naquele tempo ninguém falava disso, nem tampouco o Natal começava ontem: Natal, quando eu era pequena, era dia 25, a manhã do dia 25. A gente adormecia ontem e, pela manhã, com sorte, encontrava um - quase nunca mais que um - pacote, cujo conteúdo às vezes aproximava-se do desejo.
E o desejo era muito particular: um segredo entre eu e o menino. 
E não sei de onde partia a escolha do tal presente especial, recompensa por todo um ano de obediência e bons modos que haveria de chegar naquela tal manhã especial. 
Assim era dezembro, a um só tempo  mês de alegre expectativa de festa e de arrependimento pelas pequenas má-criações e maldades ainda menores porventura  praticadas, que, para os adultos eventualmente pudessem por um  momento ter sido motivo de alarde e censura - às vezes até uma palmada, um puxão de orelhas - não passavam de traquinagens sem consequência. Para mim, muito ao contrário, eram razão de profunda reflexão e recriminação.
Ah!... por que eu não deixara quieto o gato ao invés de lhe ter puxado o rabo quando dormia ronronando mansinho no canto da cozinha? por que sacudira o galho da mangueira para pegar a manga madura que eu não alcançava se eu sabia que o Vô Chiquinho não gostava porque fazia cair também as mangas verdes? e - grande pecado! - por que negara a Vó Neném a tampinha da laranja que ela descascara para mim? 
AH!... quanto remorso sentia o meu coraçãozinho apertado no peito!... e quanto medo de  não receber nenhum presente no Natal!
Pois é. Na realidade o remorso não era bem aquele do ter feito: o remorso era pelo efeito do ter feito.
E vinham as promessas solitárias para o ano seguinte. Promessas de não fazer e outras de remediar. O gato poderia dormir quieto quantas vezes quisesse, onde quisesse, por quanto tempo quisesse. Puxar-lhe o rabo? nunca mais! As mangas poderiam apodrecer no pé, eu é que não iria sacudir galho mais nada. E minha avó? Esta passaria a chupar todas as tampinhas de todas as laranjas - mesmo aquelas que eu mesma descascasse.
E sei lá se eu não rezava umas não sei quantas rezas truncadas, por que rezar não sabia direito. Às vezes até pensava rezar e pedir perdão de joelhos nos caroços de milho como eu havia visto a Santa Terezinha da peça do circo fazendo... mas voltava atrás porque achava que eu não era nem seria nunca santa mesmo.
Por tudo isso, e mais o fim do ano escolar - que nem era meu, mas da escola da minha mãe que era a ela muito dedicada - meu aniversário, que era a dezesseis, passava meio atropelado.  Não entendia por que - já que havia um tal Papai Noel responsável por trazer de algum lugar o tal presente especial e parecia que ninguém precisava pagar por ele - meus pais diziam que não podiam gastar muito com festas para mim porque já, já, seria Natal e tudo custava muito caro para o dinheiro pouco. Eu não entendia nada. Para mim gente grande era mesmo um pouco doida. Afinal, por que tinham que gastar dinheiro para me dar uma coisa que eu é que  teria que pagar com “boa-mocisse” e bom comportamento? 
Caro ficava era para mim que além de ter que barganhar com Jesus meus pecadilhos, ainda ficava meio sem festa de aniversário e meio sem presente.
Mas nada disso importava: eu adorava ser de dezembro. Só não gostava que fosse tão quente. Mas isso é coisa que nunca entendi porque. 
Não me lembro de presépios nem de árvores de Natal nas casas que eu freqüentava na minha infância. Lembro sim o enorme presépio armado na Catedral de São João Baptista, onde tudo se mexia. Acho que até o Menino Jesus mexia as perninhas enquanto a vaquinha balançava a cabeça. Tinha tudo no Presépio. Um bando de bonequinhos: uns, muito bem vestidos em seda e dourado que seriam os Reis Magos, uns outros vestidos com simplicidade diziam-me ser os pastores - o que não me incomodava, pois eu não estava nem aí para as tais ditas diferenças sociais. Eu gostava mais era de ficar olhando a mulher fiar a roca, o carpinteiro bater o martelo, o moinho ser tocado pela água do riachinho que nunca parava de correr.
E havia que preparar as comidas especiais. Na casa do Vô Chiquinho, português, não podiam faltar castanhas,  rabanadas ao vinho,  rabanadas ao leite    ( que a minha avó nunca me deixava de dar uma assim que pronta pois sempre gostei delas quentinhas, com bastante açúcar e canela) e o bacalhau de primeira, do Porto como convinha, regado ao melhor azeite da Terra, e ao bom vinho tinto da mesma procedência.
Isso tudo aí em cima era para o almoço de 25, pois que, como já disse, no meu tempo de menina nem se falava em ceia de 24. Muito menos de presentes de véspera. Na véspera, ouvia dizer, algumas pessoas iam a uma tal Missa do Galo, que eu em minha santa ignorância infantil, matutava: o que poderia fazer um galo dentro de uma igreja, durante uma missa, mais do que cacarejar atrapalhando o padre ou soltar porcarias pela nave.


28 de dezembro de 2019

Natal - Trova e Haicai: Elenir


Natal e lembranças...
De minha mãe, os quitutes...

O dim, dom... dos sinos.

Para vocês queridos, uma trovinha e o haicai já conhecido, desejando-lhes Feliz Natal!

Afetuosamente

Elenir




Mais uma vez, é Natal.
Tempo de muita alegria
Afastando todo o mal,
        gozemos paz e harmonia.

     
Os sinos festivos
                   anunciando o Natal,                
               fazem bailar pássaros.       
    

Dezembro. Natal.
Homens correm, compram, cansam...
E esquecem porquê.






26 de dezembro de 2019

Um natal esbecial: Maria Luiza Salomão

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Quando pequenina, ganhava presentes em duas ocasiões, apenas duas: uma no meu aniversário e outra no Natal. Longa espera pelos presentes, o que os fazia especiais. No dia a dia, a gente criava brincadeiras, improvisava mamadeiras de boneca com vidros de remédio; comidinha de barro em fogão inventado; maré; cantorias; passa-anel; pula corda; esconde-esconde; queimada...
Tempo de sobra para invenções e improvisos.
O cheiro de coisa nova, que emanava dos brinquedinhos especiais, era inesquecível, porque raro. Era assim também o material escolar no início do ano. Cheirinho de posse, ritual de iniciação.
A casa no Natal era outra – os enfeites, as luzinhas da árvore, tudo muito colorido, vermelho, dourado, prateado. O presépio conferia significados: alimentava narrativas e devaneios .
A roupa de festa: especialidade natalina. O aroma que se espalhava pela casa o dia todo, como esquecer? Pernil, ou lombo de porco. Uma farofa doce, que agradava uns e não outros. Então, farofa salgada. Um frango assado no forno de casa era totalmente outro. Cada família nos preparos de comidas outras. Castanhas só nesta época, assim como a caixa de uvas Niagara, roxinhas e brancas. Dia de Natal era dia de comida feita em casa, comida um tanto sagrada.
Abrir os presentes depois da meia-noite. Dia de dormir tarde... ver a noite escura, chuvosa ou radiosa com lua espalhando mistérios perfumados. Noite de galo, Noite única. Em algum momento eu era capaz de pensar no menino Jesus, e no aconchego de seus pais a rodeá-lo, na manjedoura. Eu estava aconchegada solenemente – roupa, comida, reunião dos seres mais queridos e íntimos – tudo outro.
Vivia o natal no mistério.
Meu pai brincava que tinha meias para duas gerações (ele sempre ganhava meias no natal). Era inventor de brincadeiras natalinas, acabávamos esquecendo das badaladas da meia-noite, dos presentes, de tudo: éramos nós.
Neste Natal, não decorei a casa, comprei livros para quem me é significativo, e vou ter uma ceia simples, gostosa, sem fartura, com a família querida próxima (o filho estará conosco, de modo único, outro, forte!).
(meu pai me fará rir muitas vezes, em espírito. Ele continua me dizendo: um natal esbecial).
Quero me concentrar: será um natal válido para o ano inteiro: sem excessos, com a família sagrada no meu coração. No entanto, tudo esbecial:
- A árvore é viva, o presépio é vivo, o amor cultivado vivo o ano inteiro. Amém.


25 de dezembro de 2019

Mais um Natal... e todos tão diferentes!: Aquiles E.





Hoje, véspera de Natal, amanheci com algumas perguntas na cabeça: por que os Natais, sendo todos iguais, são sempre tão diferentes? O que confere a esta festa esse seu caráter tão único? Por que, mesmo eu tendo vivido tantos Natais, oitenta e quatro no total, ainda consigo ver a especificidade de cada um? Enfim, por que o tempo, mesmo sendo aparentemente cíclico, com primavera, verão, outono, inverno e depois tudo novamente, nunca volta ao mesmo ponto?

Passei o dia “matutando” sobre essas questões, tentando  compreender com meu frágil “equipamento” intelectual aquilo que, talvez, nos seja mesmo absolutamente incompreensível.  O máximo que consegui foi dividir  a resposta em duas dimensões, uma religiosa, filosófica e sonhadora e outra prática, empírica e, como diriam os pragmáticos, “pé-no-chão”.

Começando pela dimensão religiosa, pus-me a pensar sobre o significado desta data e, como sempre acontece quando me lanço nessas aventuras, me ocorreu aquilo que os discípulos de Emaús sentiram, em Lucas, 24, 32, quando se deram conta que o Jesus ressuscitado estivera caminhando com eles: “Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?”.

Pensei com meus botões, sempre eles, como pode um Deus vir morar no meio de nós e renovar todos os anos essa sua intenção eterna de estar com as suas criaturas? Pois é disso que nos fala o Natal! Um Deus que nasce sempre de novo e novamente reafirma sua presença amorosa, compassiva e cheia de graça. Um Deus cuja Presença já é suficiente para tornar novas todas as coisas e renovar sempre a face da terra. Um Deus que nos permite, e mais do que isso, nos impulsiona, a sempre de novo fazer o “CRTL+ALT+DEL” desse nosso frágil mas interessantíssimo sistema operacional. E está aí a primeira resposta que encontrei: o Natal é uma porta para, como crianças, renovarmos o nosso sistema operacional.

Quanto à segunda dimensão, querendo ser o mais pragmático que consigo, pus-me a pensar em quantos Natais anteriores recebi e peguei ao colo a pequenina Catarina, a mais nova bisnetinha, com sua fisionomia tranquila e que nos inspira paz e presença do Deus amoroso? A resposta é nenhum. Apenas este Natal trouxe a Catarina. Mas cada um dos anteriores trouxe outros bisnetos queridos, como o Leozinho, a Julia, o Pedro, a Carolina e o Guilherme. E outros Natais ainda, trouxeram os onze netos, começando com o Julio e seguindo com a Carolina, a Thais, o Gustavo, o Emmanuel, o Lucas, o Fernando, o Bruninho, o Vitinho, a Lis e, mais recentemente, o presente querido de Deus que foi o Nicolas. Em outros Natais, ganhei de presente noras e genros queridos, e esposos e esposas dos netos. E recuando mais ainda, em outros Natais recebi os filhos e assim por diante, retrospectivamente e, recuando mais e mais, cheguei até a vó Genuína, minha lembrança mais antiga de quão amoroso e gentil é o Pai que nos presenteia com tantos Natais diferentes.

Definitivamente, nenhum Natal é igual ao outro, mas todos são profundamente inspiradores e delicadamente esperançosos! E de todos eles, eu não podia me esquecer daquele Natal de 1953, que antecedeu em cinco dias o meu casamento com a querida e saudosa Isabel.


Mensagens de Boas Festas

Para os queridos amigos do CLIC com votos de venturoso Natal e Ano
 Novo cheio de alegrias e realizações.

                             NATAL

 Na  simples manjedoura repousava
 O Menino que,dos céus,Deus enviava.
 Com o calor de animais era aquecido
 Sob o olhar de Seus pais enternecidos.

 Os magos,a estrela,acompanharam
 Pois sentiam o caminho que indicava.
 Incenso,mirra e ouro eles trouxeram.
 P’ra bem honrar Àquele que chegava.
 .
 Ó Senhor,que nossa Terra visitaste,
 Dê-lhe paz,luz,amor,felicidade.
 Faça-nos viver tudo que pregaste.

 Maior  lição de solidariedade,
 Que em Tua curta vida acataste,
 Dirime toda a desumanidade.

 (Mariney K.)




Os sinos festivos
impregnam o ar de alegria.
Tempo de Natal!


FELIZ NATAL, CLIc! 
(Elenir)





Natal na Ilha do Nanja - Cecília Meirelles

Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega: e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor.


Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam "substantivos próprios" e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim.



Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova — mas uma roupinha barata, pois é gente pobre — apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade. Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria.



Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho — antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: "Boas Festas! Boas Festas!"



E ninguém pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes — mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar.



Pode-se dar uma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe — trata-se de uma ilha, com praias e pescadores ! — uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel... É como se a Ilha toda fosse um presepe. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol!



Na Ilha de Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.



Na Ilha do Nanja é assim. Árvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade...



É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal.




A Sagrada Família: Michelangelo




Chegou o verão.
Em estridente zum-zum,
zumbem as cigarras.

Desejo um verão alegre e feliz para todos vocês. Aproveitem, bem!

Feliz Ano Novo!

Abraços festivos.

Elenir

24 de dezembro de 2019

Conto coletivo de Natal: escrito pelos participantes do Clube de Leitura Icaraí




As tanajuras sobrevoam meu jardim. Sinal guardado na memória da infância...está chegando o Natal!

Com o sentimento dessas lembranças, passo na Florália  em busca de flores para visitar  amigas do coração.Também preciso preparar a casa com todas as honras que essa data me inspira.

Natal é tão plural, mas singulares são minhas lembranças...

Eu só não sabia, então, que outra personagem, além do Papai Noel, fazia planos de entrar no meu lar naquela noite e, desta vez, não seria propriamente pela chaminé, que até existe na minha casa, mas por um local que eu já deixava desguarnecido há algum tempo.

Borboletas apareceram na área de serviço, local um tanto quanto improvável, mas, no Natal temos que deixar a magia acontecer. Lembrei-me de meu avô, que era apaixonado por borboletas e sempre me contava histórias sobre elas. Ele dizia que devemos ser como as borboletas, que estão em constante transformação.

O coração estava sujeito a novos aprendizados e emoções como o paladar à variedade de sabores. Era o inusitado trazendo o frescor das manhãs, sensações e brilho nos olhos. Ah, a vida em nuances delicadas e fortes ao mesmo tempo.

Neste Natal, como as borboletas, eu senti transformações dentro de mim.  Daquele tipo enigmático, tipo nada aconteceu exteriormente. A mágica que tanto ansiava. Olhei ao me redor, e tudo parecia exatamente igual: meus pais, meus filhos, a árvore iluminada, os presentes empalhados.  O q mudou em mim? 


Não sei, sinceramente não sei. Algumas mudanças em nossa vida ocorrem sem que nos demos conta, não são conscientes. Demora para a gente perceber o que está acontecendo. Há uma história subliminar que nos conduz à nossa revelia, que nos surpreende pela manhã ao olharmos detidamente nossa imagem no espelho. Precisamos nos reconhecer a cada manhã, chegar mesmo ao ponto de dizer em voz alta: ecce homo! Sacudo a cabeça e espanto de mim esses pensamentos, porque este ano serei o Papai Noel da família: as pessoas passam, as personagens permanecem. Meu pai passou o bastão para mim depois de representar o bom velhinho por 25 anos nas festividades de Natal. Preciso estar a altura dessa Passagem.

Bem no fundo do meu ser tem algo que deseja modificar a aparência do Papai Noel, torná-lo mais jovial, quem sabe surpreendente, alegre, atlético. Está bem, eu gosto de tradições, mas com pitadas de inovação. Já pensaram num Papai Noel saradão? Não? Ué... Com performance atlética, todo musculoso. Acho até que seria exemplo para as nossas crianças e até muitos adultos. Tudo bem, não precisamos exagerar, mas a mesmice é enfadonha.


Difícil missão, essa de ser o papai Noel. Não basta uma roupa vermelha e toda a caracterização, mas ter a alma do bom velhinho. Será que consigo? Tantas crianças esperam por mim. Não quero decepcioná-las.


Mas, uma delas em um voo trêmulo afasta-se das outras e, atraída talvez pela umidade das roupas dependuradas na corda do apartamento em frente e logo abaixo do seu, pousa em uma toalha branca. Não sem o susto do seu provável dono que com muita delicadeza sacode a toalha e tenta afastá-la. Performance atlética, saradão, musculoso não era bem o caso... Uma barriguinha, um indicio de cerveja, talvez? Nada que o belo sorriso terno e franco não substituísse com vantagem. Será? E sorrindo também, sente a alma em festa. "Velhas histórias, sei um segredo". É Natal!


...




(Envie teu parágrafo no campo de comentários abaixo. Participe você também)


22 de dezembro de 2019

Verão e Erotismo


Sinal de verão
Em estridente zum zum
zumbem as cigarras





Meus lábios tão secos
a saliva dos teus beijos
súplices, esperam.

Os teus beijos cálidos,
passam dias, passa o tempo,
continuo à espera.


(Elenir)

21 de dezembro de 2019

Des Caminhos: Inês Drummond




Momento

No mesmo instante do não sou
volto a ser,
a fazer o momento.
Toda luta do dia a dia, 
poesia da madrugada
e as sombras do pensar
um dia alcançar.
As pegadas riam vida,
diluem o passado.
O futuro,
somente o pó das pegadas.
Novas diretrizes


R$ 30,00 - Peça o seu aqui


Decisão


Ah, palavras!
Não quero mais medi-las.
Não aceito mais negá-las.
Se não escrevo correto,
me escrevo,
me amanheço.
E não sou certa.
Sou irregular,
pontiaguda.
Se o receio me prende
elas me soltam,
desapertam.
Só sei que tenho
um amor muito grande que pulsa.
E um quê de criança perdida
que me faz querer dançar na chuva.
Ou me recolher na indiferença da solidão.
E me acho.


Inércia poética: Monique Brito


Dentro da manhã mofada
sentou em um banquinho na praia das Flechas
e desejou ser apenas Brito sem ser Monique
aguinha caía do céu fraca, ilegítima, restrita

alguém que passava com uma camisa branca
e uma bebida na mão
lembrou-lhe Vinícius (claro, foi a bebida)

Elegia quase uma ode assaltou-a
 e “pouca de idéias”, clamou
venham pra cá, Adélia, Leminski
cheguem perto, Gullar, Cora

deem-me inspiração para escrever
pois vejo daqui o Pão de Açúcar
que me aguça

mas os bondinhos estão parados.



19 de dezembro de 2019

Luto: Maria Solange Leardim






Dói
o amor está sendo arrancado,
dilacerando a carne.
Sangro
Agonizo

Era uma flor linda!
As pétalas foram caindo aos poucos.

Não tem sol,
não tem chuva.
Está tudo cinza e frio.

A morte está perto.
Estou de luto.

A esperança se foi,
O amor morreu

Estou de luto!



O dente e a pobreza: Neide Peixoto




I

O dente em si não se sabe existente.
É o seu hospedeiro que sabe
quer na dor de sua ausência ou
na dor de sua presença careada.

II

Almoço. O bloco do canino inferior cai.
Salário parcelado, não dá pra refazer.
Ah, graças a Deus que não dá pra ver.

...



Continua no livro 
"Clube de Leitura Icaraí - Modo de Fazer"








15 de dezembro de 2019

Axiomático: Monique Brito




Dexametasona para pipetar
água deionizada para rinçar
Morita para degustar

descreve o teu segredo
para gostar do laboratório

se ós de Cora, meloxicam
se bromo, Sandó

se prolina profética
massarandupió

descreve

antes que seja tarde

bastam 3ml de ingestão
acidental de tetracloreto de
carbono para o óbvio

o óbito.


7 de dezembro de 2019

Sugestões de Leitura (Bel CLIc nº 003 de 01/07/2013)

Para comentar uma ou mais das sugestões de leituras abaixo, clique no campo Comentários.

Adelina 
"Infiel - A História de uma Mulher que Desafiou o Islã", de Ayaan Hirsi Ali

Em "Infiel", sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores e de exílios.


Para mim é um grande livro, a narrativa de Ayaan por sua força e análise crítica, nos coloca diante de questões contemporâneas referentes a condição feminina de opressão e violência na sociedade muçulmana. É um livro que se lê de um fôlego só."

Para ler mais sobre o livro, clique aqui



Cristiana Seixas
“Dom Quixote", de Miguel de Cervantes






Minha indicação é "Dom Quixote" de Cervantes. Um livro a partir do qual a literatura se tornou clínica. Atravessou os tempos e é venerada por aqueles que transformaram a literatura na própria vida.

A sugestão é que o clube estipulasse um prazo maior, como 4 ou 6 meses, em paralelo às leituras mensais, mas com uma reunião dedicada à discussão da obra. A conhecida riqueza de plurais pontos de vista e abordagens do livro pelo CLIC iria ancorar e ampliar a dimensão do poder literário na jornada de cada um."

Para ler mais sobre o livro, clique aqui



Angela Stieger
"A Bela do Senhor", de Albert Cohen

"O livro que indico é "A Bela do Senhor" de Albert Cohen. Infelizmente não disponho agora do meu exemplar e uma resenha não é possível. Foi considerado o melhor romance europeu ( ou francês?) da segunda metade do século xx. Em cerca de 800 páginas, o autor escreve um romance sobre a paixão e as vicissitudes de um casal constituído por personalidades narcísicas levadas ao extremo. E´ dramático e muitas vezes cômico, levando-nos ao riso no que nos identificamos nas nossas pequenas vaidades no dia a dia. Talvez possa ser sugerido para os colegas do "grupo dos clássicos".

Para ler mais sobre o livro, clique aqui


Norma Lannes

"A caixa de santinhos de esperanza", de Maria Amparo Escandón

"Indico "A caixa de santinhos de esperanza", de Maria Amparo Escandón. É uma autora mexicana com um ritmo de escrita muito bom.
Eu acho que todos nós precisamos ter uma crença e no livro ela traz a questão da superstição, do sagrado e do profano.
É um livro gostoso de ler, há trechos engraçados, bem humorados. Fará bem ao grupo conhecê-la."

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Por que eu gosto das estrelas?: Aquiles Andrade




Eu gosto das estrelas! Já inventei mil explicações para a existência delas, já dirigi a elas mil preces, já confessei a elas mil pecados. Mas o fato é que todas essas argumentações filosóficas aumentam minha admiração pelas estrelas. Tantas reflexões que às vezes me oprimem, mas outras vezes me libertam, entretanto é nesse leque de sensações que elas me fazem  trafegar.

Gosto quando os doutores da ciência anunciam suas novas descobertas sobre elas e penso com os meus botões: acho que eu já intuía isso há muito tempo! Gosto das estrelas de forma diferente de quando se diz gostar de outras coisas. Explico. É que com elas o meu gostar não é possessivo, não é exclusivista, pois gosto das estrelas mesmo sabendo que milhões de pessoas gostam e quanto mais penso que mais gente está olhando pra elas, mais eu gosto delas.
 Como se sabe, as estrelas nos parecem pequeninas, porque estão situadas a milhões de anos luz, mas mesmo assim, apesar de tão distantes e aparentemente tão fraquinhas, minha admiração por elas não faz diferença.
Falei das estrelas pra muita gente. Pra algumas eu sentia que as palavras proferidas batiam naquela mesma região que batia em mim, fazendo tremer o coração e brilhar os olhos, enquanto outras me olhavam e como se estivessem querendo dizer : “ora, direis ouvir estrelas”!
Mas todas pessoas sem exceção me ouviam. Sim, porque quem há de não ouvir quem fala das estrelas? Ou é um poeta, ou é um louco, ou as duas coisas.
Herodes, não podia ouvir falar das estrelas. Ainda mais que elas, na sua impassível distância, vaticinavam o nascimento de um rei. E não faltaram em todo o oriente quem não queria ouvir falar de estrelas, acreditaram tanto que prestavam honras pra este anunciado rei.
           Herodes não gostava de estrelas. Elas o oprimiam.
Dizem que Abrahão, o patriarca da fé judaica, se iniciou na sua jornada de conduzir os povos semitas para comunicarem com Deus, quando olhava para as estrela. Puxa vida, como eu imagino que sei o que se passava na cabecinha de Abrahão! Posso até imaginar seu diálogo com elas: Como você é bonita! A qual tribo você pertence?  Será que me vê! Como eu queria saber de você? A resposta silenciosa da estrela instilou Deus dentro de Abrahão. 
Eu falei muito de estrelas, falei tanto que um dos filhos virou “astrônomo”. E os outros todos vivem no mundo das estrelas, como diria a Ofélia, aquela do antigo programa de televisão “Balança mas não cai”, que só abria a boca quando tinha certeza, referindo-se ao dito popular dos que vivem no mundo da lua.
Também desenhei muitas estrelas, entre as quais a Estrela de Davi e de Salomão, de cinco e de seis pontas, estrelas de 42 pontas referentes aos antepassados ancestrais de Jesus, estrelas sem ponta, que não aponta nem desaponta.
 Enfim, estrelas me acompanharam. até aquela estrela que me acompanhou mais de perto, que me deixou (temporariamente), que secretamente viveu aqui na Terra, sem que o mundo soubesse que era uma estrela, que viveu brilhando, ainda que escondida, e que aqui assumiu o nome de Isabel e que foi a razão secreta pra eu gostar tanto de estrela.