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22 de agosto de 2022

Que eu seja a última: Mônica Ozório





Hoje terminei o livro "Que eu seja a última", de Nadia Murad, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2018. No preâmbulo, sua advogada na luta para condenar os genocidas, torturadores e estupradores do grupo terrorista Isis (Estado Islâmico) diz: "Nadia foi uma entre as milhares de yazidis que foram levadas pelo ISIS e vendidas em mercados e através do Facebook, por vezes por quantias tão irrisórias como vinte dólares. A mãe de Nadia foi uma das oitenta mulheres mais velhas que foram executadas e enterradas em sepulturas anônimas. Seis dos seus irmãos estavam entre as centenas de homens assassinados num único dia. (...) nenhum membro da organização fora julgado em tribunal, em nenhuma parte do mundo, por estes crimes." Nadia e a advogada Amal Clooney (entre outros), batalham incessantemente junto às organizações mundialmente importantes para modificar isso e levar os criminosos à justiça. "Ao longo do tempo, Nadia não só encontrou a sua própria voz como se tornou a voz de todos os yazidis que são vítimas de genocídio, de todas as mulheres que são vítimas de abusos, de todos os refugiados que são deixados para trás. Os que pensaram que a podiam calar com a sua crueldade estavam enganados. O ânimo de Nadia Murad não foi quebrado e a sua voz não será emudecida." (Amal Clooney)

Nadia nos conta inicialmente a história de sua aldeia (Kocho) de religião e cultura yazidi (grupo étnico-religioso). Apesar da pobreza e da vida dura, das ruas cheias de lama nos invernos, e de no verão todos dormirem nos telhados das casas, pois o calor dentro era terrível, ela adorava viver lá. Nesses telhados, os vizinhos batiam papo entre si e riam até dormir. Ela amava sua aldeia, os vizinhos e sua família. Sonhava em abrir um salão de cabelereiro, onde também faria maquiagem nas noivas (sua paixão). Tinha 21 anos, cheia de sonhos e amor. Uma jovem normal.

Seu povo, os yazidis amam a um Deus único, o mesmo dos cristãos, e ao invés de rezarem através de Jesus, como manda as escrituras cristãs, rezam através do anjo Tawusi Melek. Isso é constantemente usado contra eles, a ponto de causar genocídios terríveis. Outras religiões distorcem o anjo em demônio e, portanto, consideram que os yazidis são infiéis. A religião, como é tão comum na História, foi mais uma vez usada para inflamar o ódio, a intolerância e o genocídio.

No entanto os yazidis são um povo simples, sem ambição por acumular terras e poder, que oram três vezes ao dia de maneira espontânea, ao invés de cheios de preces decoradas. Eles se voltam para o sol ou para a lua na hora da oração, o que mais uma vez é utilizado como desculpa para as matanças generalizadas. Ninguém lembra que os mulçumanos rezam voltados para Meca. Não é igual. Mas não é diferente tampouco.

Em Kocho o povo pouco ligava para a complicada política iraquiana, com seus curdos ao norte, os mulçumanos xiitas ao sul e no meio, os sunitas (fora minúsculas comunidades de outras religiões ou etnias). Kocho se preocupava apenas com as colheitas, os casamentos da aldeia, com a criação das ovelhas, com a amizade entre os vizinho e terem famílias grandes. 

Mas o grupo ISIS chega em Kocho! Repetindo todos os piores momentos humanos na face da terra, nos vemos diante do horror da matança dos homens e mulheres idosas. São separados dos jovens imberbes para tentar fazê-los lutar ao lado desse grupo fanático, ou servir de menino bomba e escudo ati balas. Uma verdadeira lavagem cerebral em jovens impressionáveis, que adestrou até um dos irmãos de Nadia. E isso não é spoiler, pois está claro no prefácio tudo o que se passa em Kocho (e que já havia se passado em outras vilas): a utilização de mulheres como escravas sexuais com a desculpa de que os mulçumanos não pecariam ao fazer sexo com escravas infiéis (e esse é mais um modo sujo, mas inteligente de atrair mais e mais soldados para suas fileiras: a luxúria e o desejo de poder sobre o corpo feminino). O genocídio. A lavagem cerebral nos meninos, antes tão doces e inocentes. A morte dos homens (evitando rebeldes) e idosas (não interessante para a escravidão feminina).

É impressionante como a luxúria masculina pode transformar nos dias de hoje jovens mulheres e pré adolescentes em escravas, e facilmente o tráfico delas se espalhar. O sujeito que era dono de uma loja frequentada por Nadia e sua família, agora fazia parte dos que achavam que podiam comprar mulheres e usá-las ao seu bel prazer. E sem um mínimo de dor na consciência. Suas carteiras de identidades eram queimadas para que deixassem de ser uma pessoa e virassem mercadorias. Uma coisa. Lojistas, juízes, pessoas antes tão "normais", agora compravam meninas sem o menor pudor. Um plano detalhadamente pensado pelo EI, como forma de aliciamento de parceiros e soldados.

Nadia foi passada de mão em mão, e até estupro coletivo ela sofreu. Pode-se dizer que teve "sorte" em conseguir escapar dos estupros e espancamentos em poucos meses. Mas isso não diminui o trauma. Muitas outras não conseguiram escapar com vida. Vários meninos foram resgatados, mas alguns já estavam encantados em usar o uniforme negro da EI e portar metralhadoras, se negando a fugir. Restou a ela contar sua história pelo mundo, pedindo que os integrantes do Estado Islâmico e cidadãos coniventes sejam levados à justiça. Trabalha até hoje expondo tudo que passou e lutando por seu povo. Em 2016 se tornou a Primeira Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico Humano das Nações Unidas
 Eu amei esse livro. Comecei ontem, varei a madrugada até 5 horas, tirei uma soneca e terminei domingo de manhã. Seu discurso é intenso, vívido. Tanto as alegrias quanto os sofrimentos aparecem coloridos, nítidos em minha mente. Parece que conheço cada pessoa e cada lugar descrito por Nadia.

Nadia criou O Código Murad preocupada em preservar evidências que possam ser levadas aos tribunais para tentar alcançar a justiça e proteger jovens para que possam dar em segurança seus depoimentos. Segundo ela, "A história mostra que sempre que um conflito eclode em qualquer lugar do mundo, seguem-se as violações e a brutalidade. Estamos a ver isso na Ucrânia agora, com relatos de violência sexual que devem alarmar-nos. A violência sexual não é um efeito colateral, é uma tática de guerra tão antiga quanto o mundo."

Essa resenha, além de imensa, não é corrida e fácil de escrever como as outras que fiz, porque o assunto é complexo demais (política, etnia, religiosidade, violência, estupro, lavagem cerebral, etc). Não consegui escrever com facilidade e não o acho fácil de ler e entender. É muita coisa. Tentar resumir aqui foi complicado e realmente não achei que foi bem escrito. Mas o livro me comoveu. E me encantei com o yazidis, mesmo com alguns comportamentos arcaicos que nós, ocidentais, não aceitaríamos de bom grado. Eu duvido que essas mulheres consigam justiça. Mas torço que sim. Ser objeto descartável já não deveria mais ser um papel imposto às mulheres. Mas é uma moeda usada com um infeliz sucesso


17 de agosto de 2022

Sobre, A Desejada das Gentes, de Machado de Assis


O que é um pai? : Vânia Mª Vellozo Damasco


O que é um pai?

Brota do manifesto da criança
Da mão que se estende ao sonho
Para além do invólucro materno, 
Cuidados que indicam um pai,
Modos de ser

O que é um pai?

Vem por um chamado
Anseio que pede escolha
Mão pedindo por outra
Mãos que se tocam e vão,
Vão como podem, não vão atoa!

O que é um pai? 

Muitos são chamados 
Poucos são escolhidos
Poucos são acolhidos com amor.
Criança é o pai do porvir
Pai que deixa partir realiza,
Faz nascer mistérios

O que é um pai?

Extensão do olhar da criança,
Um olhar que não se apaga 
Olhar que  acompanha …
Segue por sonhos, fazendo histórias

O que é um pai? 

Mais que o firmamento da criação 
É divindade de gerar filhos inéditos
Filhos com olhar de criança 
Missão de mantê-los vivos,
Olhar que toca o inefável!

O que é um pai? 

Senão um nome instigante
Um escrito, uma realização...  
A arte que toca a alma humana por novas criações, fazendo ir além do pai!

O que é um pai?

Anúncio de um corte, um suspiro, 
O de se fazer outro no mundo
Um clamor de um sonho:

Oh, misterioso pai! 
Transforma o laço que aperta! 
Aguarde os anseios!
Realize um por um!

Pai, desejo ser muitos de cada vez 
Ser muitos em uma só pessoa
Eterna criança curiosa que encanta e desperta! 
Dá as mãos ao pai 
Descola, faz laços 
Decola e nomeia um instante real.


14 de agosto de 2022

Sobre o conto, Trio em Lá menor de Machado de Assis

Poema


                                            Haicais 
                                          





 

12 de agosto de 2022

Brás Cubas & Virgília: Andreia






Brás Cubas: Linda Virgília, posso beijá-la?


Virgília: Toma-me nos teus braços.



Brás Cubas: É o que eu mais quero e desejo.



Virgília: Ande logo com isso!



Brás Cubas: Esperei muito para ter você aqui comigo. 



Virgília: Por que demorou tanto a me procurar? Sabe que eu te amo. 



Brás Cubas: Eu também! Amo-te! Como é bom te amar!



Virgília: Sonhava comigo?



Brás Cubas: Sempre!



Virgília: Mentiroso!



BRÁS CUBAS & VIRGÍLIA: Mariney K.






Brás Cubas: Huuummm...que lábios



Virgília: Ahhhhhhh...que mãos!



Brás Cubas: Tocar tua pele põe-me extasiado...



Virgília: Deliciosas palavras ...huummmm



Brás Cubas: Teu corpo aqui....ahhhh



Virgília: Estou sonhando,amado senhor?Insano delírio!


Brás Cubas: Minha senhora!Meu amor!
Quanto regozijo!


Virgília: Em que pensas?


Brás Cubas: Finalmente,minha!


Virgília: Finalmente...sempre!

Brás Cubas & Virgília: Hilário





BRÁS CUBAS: "Meu Deus, se eu broxar?... Desculpe, Pai!"



VIRGÍLIA : "Mas que sujeito sem prática..."




BRÁS CUBAS: "Não vou tirar toda a roupa... Preciso agir rápido..."




VIRGÍLIA : "Não acredito, ele não tirou a camiseta... Nem as meias!"




BRÁS CUBAS: "Ela precisa me ajudar, não acho o lugar certo, meu Deus... Desculpe, Pai".




VIRGÍLIA : "Mas o sujeito não conhece anatomia?... Pronto, desgraçado, viu?"




BRÁS CUBAS: "Consegui! Ô, coisa boa! Agora ela vai ver!...




VIRGÍLIA : "Será que ele tem mais alguma coisa, ou... é só isso?"




BRÁS CUBAS: "Calma, Brasinha, calma... Meu Deus, eu já gozei! Desculpe, Pai... 




VIRGÍLIA : "Filho da puta!..."



Brás Cubas & Virgília: Mr. EPA

Brás Cubas: Então? 




Virgília: Espere um pouco mais. 




Brás Cubas: Está bem


Como prefira 




Virgília: Ah! 




Brás Cubas: Por mim não terminava nunca. 




Virgília: É um momento único.


Não te parece que está indo muito rápido? Devagar, vai

Quanto mais lento, melhor



Brás Cubas: Difícil resistir

Como é bom! A gente não quer que acabe mesmo

Deus, meu! Me segura

Que espetáculo!




Virgília: Vamos voltar mais vezes? 




Brás Cubas: Claro! 




Virgília: Olha a Lua! 






Dialogo de Brás Cubas e Virgilia: Machado de Assis

O texto abaixo é uma das memoráveis criações de Machado de Assis, aludida à primeira relação sexual entre Brás Cubas e Vírgilia


Brás Cubas …………………….? 


Virgília ………………………….. 


Brás Cubas ……………………..

…………………………………… 


Virgília …………………………! 


Brás Cubas ……………………. 


Virgília …………………………

………………..? ……………….

…………………………………..


Brás Cubas …………………

………………….! ……………

………………………….! ……

………………………………………! 


Virgília ……………………..? 


Brás Cubas …………………..! 


Virgília ……………………….! 



Imagine os pensamentos de Brás e Virgília preenchendo os vazios do diálogo. Envie seu diálogo imaginário pelo campo de comentários desta postagem.