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27 de fevereiro de 2019

A CHAVE DA CASA - poema de Rita Magnago inspirado na leitura do livro




Saio de dentro dessa vida-piscina
quando a falta de ar já me levava ao desmaio
aí abro a boca em desespero
e bebo toda a atmosfera que há para beber.
Acalmo meu coração
a hora chegou, mas já se foi
e eu ainda estou aqui
essa chance...

Todo começo é o meio
o caminho, a procura
os desencontros do encontro
o eu estar aqui e você não
o você e eu estarmos
e não estarmos
só você ficar.

Dos instantes intensos e eternos
é curiosa a contagem do tempo
sou só eu que estou comigo 24 horas
mas é a você que dou o crédito de perdurar.

Na minha memória
a fotografia se esvai
rachaduras trincam a imagem perfeita
e lapsos cobrem de nuvens as cores do passado.
Eu preencho com a dor
- ela sempre dá conta -
reinvento contornos
reconto a história da vida
construo o presente
que vai me permitir abrir portas
mesmo as das casas que não existem.

Derrubo o silêncio
atravesso as fronteiras
desenterrando raízes
daí sairão meus frutos
acres e doces
daí sairei eu
como quem renasce de si.

26 de fevereiro de 2019

Cristiana Seixas comenta Bartleby, de Hermann Melville



Bom dia Clube!

Saudades!!

Em primeiro lugar, peço desculpas pelas ausências nos últimos encontros. Os ciclos da vida muitas vezes nos encaminham por outros universos. O trabalho com a biblioterapia está ganhando espaço e gerando convites (alguns bem no dia da reunião do Clic). Hoje, infelizmente, também não poderei participar, por ter aula na pós. Mas, quero reforçar o quanto cada reunião contribui para as plurais leituras dos livros, das pessoas, das situações, de mim mesma.

Bartleby foi trabalhado nos círculos de biblioterapia, por indicação de Cristina Crespo, escritora, jornalista e professora. A discussão foi rica e foi ela que trouxe um detalhe precioso, que aqui compartilho:

a tradução mais correta do título original em inglês (I would prefer not to) seria "Eu preferiria não fazer".  Avaliando com vagar, é diferente de "Prefiro não fazer", pois a ação fica mais distante ainda.  Em nossa roda de leitura, chegamos ao ponto de identificar Bartlebys em todos os lugares, até em nós mesmos!  Quantas coisas estamos em desacordo e não fazemos nada para mudar isto, exilados e excluídos de sentido em nossas cotidianas atividades. Não é a toa que este livro inspirou tantos existencialistas.

Num outro livro discutido nos círculos, "A louca da casa" de Rosa Montero, a autora fala de Bartleby e Melville.  Este livro fala sobre a imaginação (a louca) e o mundo da escrita e escritores.  Em certo trecho, ela menciona a fome de público que cada escritor sente. Uma avidez sem limites que beira a loucura, que "transforma todos os escritores em eternos indigentes do olhar alheio". Ela dá detalhes:

"O autor de Moby Dick, que hoje é reverenciado e reeditado, na época não agradou absolutamente ninguém, nem mesmo os amigos mais fiéis do autor. Não vendeu nem duas dúzias de exemplares e foi recebido com vaias. Melville nunca superou este fracasso. Depois, tornou impossível a sua própria vida e a de todos os que o cercavam. Quando, aos quarenta e sete anos,viu-se obrigado a aceitar um emprego miserável de inspetor de alfândega, tão enfadonho quanto mal pago, para poder manter a família, a obviedade do seu fracasso como romancista deve ter explodido feito um obus dentro da sua cabeça. Ficou meio louco, a ira o consumia, agia com uma violência enorme, provavelmente até batia nos filhos e na esposa, que chegou a pensar seriamente em separar-se dele: e estamos falando de 1867, época que os casamentos simplesmente não se desfaziam, o que pode dar uma ideia da dimensão do inferno em que viviam. De fato, foi também em 1867 que o filho mais velho de Herman se trancou no quarto e deu um tiro na cabeça. Chamava-se Malcolm e tinha dezoito anos: talvez tenha se suicidado para fugir do irrespirável ambiente doméstico."

Melville foi Bartleby e contaminou quem o cercava com sua profunda angústia existencial.  O que, desconfio que diariamente, acontece com cada um de nós: transbordamos o que escolhemos, somos e fazemos.

Simone de Beauvoir, no livro "A velhice" traz impactantes constatações que dialogam com este tema:

“A tragédia da velhice é a radical condenação de todo um sistema mutilador. Um sistema que não fornece à imensa maioria das pessoas uma razão de viver. [...]
Ao envelhecer, o trabalhador não tem mais lugar no mundo, porque, na verdade, nunca lhe foi concedido um lugar: simplesmente ele não tivera tempo de perceber isto. Quando se dá conta, cai numa espécie de desespero bestificado.” (p. 340)
“A sociedade pré-fabrica a condição mutilada e miserável que é o quinhão deles na última idade. [...] Explorados, alienados, quando a força os deixa, tornam-se fatalmente ‘refugos’, ‘destroços’. É por isto que todos os remédios que se propõem para aliviar a depressão dos velhos são tão irrisórios: nenhum deles poderia reparar a sistemática destruição de que os homens foram vítimas durante toda a sua existência.” (p. 663)
Este pequeno livro, que a muitos gera indignação, é uma sombra de nossa passividade e imobilidade diante do que precisa ser feito.  

Se há algo que você preferiria não fazer, deixa morrer e dê os passos em direção do que realmente tem sentido. Ousadia é tempero da vida.

O Camus, no "O primeiro homem" também traz um trecho que adoro e uso muito no consultório: "A maldição daquele trabalho de uma estupidez de fazer chorar, cuja monotonia interminável consegue tornar ao mesmo tempo os dias mais longos e a vida mais curta."

Para me despedir, cito uma frase muito inspiradora do Saramago, que me dá forças para dar passos no caminho escolhido:

"Não tenha pressa e não perca tempo."

Para quem quiser aparecer, no próximo círculo, degustaremos Eduardo Galeano:

E, em junho, navegaremos nas produções do maravilhoso Luis Antônio Pimentel, que foi enriquecer o céu com sua presença!
Ótima reunião a todos!
Abraços saudosos!


Cristiana Seixas
Biblioterapeuta

24 de fevereiro de 2019

O homem que amava os cachorros: Leonardo Padura


Uma pedra jamais o será simplesmente
enquanto a boca sedenta do eterno
ungir com seu beijo a superfície da esperança.
O gosto do calcáreo-mármore-granito
toca o fluido-semente
troca o símbolo da vida
líquido e sólido
atmosfera em simbiose.

(Rita Magnago)




"...É então que o aparecimento de uma árvore, o perfil de uma montanha, a corrente gelada de um rio ou uma simples rocha no meio da estepe se transmutam em algo de tal forma notável que se tornam objeto de veneração. Os nativos daqueles desertos longínquos glorificavam as pedras porque asseguravam que na sua capacidade de resistência se expressava  uma força, presa para sempre em seu interior, que era fruto de uma vontade eterna".  

Que busquemos em nosso interior o belo e a paz da natureza e a força e resistência da pedra. Transcrevo, a seguir, uma estrofe do meu poema Fraternidade:

                                                 Se a tua alma se enternece
                                                com o céu, a pedra e o mar,
                                                as flores e os passarinhos,
                                                pois, pertencendo ao universo
                                               tu os abraças como irmãos:
                                               Isto é Fraternidade.

Se mesmo sem conheceres
teus iguais de outras plagas
com eles te preocupas
elevando o pensamento
em prece e meditação:

isto é Fraternidade.

(Elenir)

* * *


Embora tenha tentado evitar, e tenha me agitado e negado, enquanto lia fui sentindo como era invadido pela compaixão. Mas só por Iván, só pelo meu amigo, porque ele sim a merece e muita: merece-a como todas as vítimas, como todas as trágicas criaturas cujo destino é dirigido por forças superiores que as ultrapassam e as manipulam até as transformarem em merda. Essa foi a nossa sina coletiva, e que Trotski vá para a puta que o pariu se, com seu fanatismo de obcecado e seu complexo de ser histórico, não acreditava que existissem as tragédias pessoais, mas apenas as mudanças de etapas sociais e supra-humanas. E as pessoas? Algum deles pensou alguma vez nas pessoas? Perguntaram-me, perguntaram a Iván, se concordávamos em adiar sonhos, vida e todo o resto até que se evaporassem (sonhos, vida e o raio que o parta) no cansaço histórico e na utopia pervertida?


A atriz espanhola teria visitado o assassino na prisão no México



– Se sou uma comunista defeituosa, Ramón, é por tudo isso – continuou Caridad, depois de servir um terceiro copo ao filho e de, ela própria, beber um quarto (quinto, sexto?). – Meu ódio nunca me permitirá trabalhar para construir a nova sociedade. Mas é a melhor arma para destruir esta outra sociedade, e por isso os transformei, a todos vocês, meus filhos, naquilo que são: os filhos do ódio. Amanhã, depois de amanhã, dentro de dois dias, quando estiver diante do homem que tem de matar, lembre-se de que ele é meu inimigo e também seu. De que tudo o que diz sobre a igualdade e o proletariado é pura mentira e de que a única coisa que ele quer é o poder. O poder para degradar as pessoas, para dominá-las, para fazer com que rastejem e sintam medo, para meter no cu delas, que é como mais gozam os donos do poder. E, quando você estourar a cabeça daquele filho da puta, pense que o seu braço é também o meu: estarei lá, te apoiando, e somos fortes porque o ódio é invencível. Beba esse copo, porra! Agarre o mundo pelos colhões e ponha-o de joelhos. E meta isto na cabeça: não tenha piedade, porque ninguém a terá de você. Nunca. E, quando estiver fodido, não aceite compaixão. Ninguém precisa se compadecer de você! Você é mais forte, você é invencível, você é meu filho, collons !


La societé c'est moi!

"Embora ainda não tivesse começado a acompanhar Ana à igreja, Dany, Frank e os outros poucos amigos que via diziam que eu parecia estar trabalhando para minha candidatura à beatificação e minha ascensão incorpórea aos céus. A verdade era que, lendo e escrevendo sobre como a maior utopia que alguma vez os homens tiveram ao alcance da mão fora pervertida, mergulhando nas catacumbas de uma história que mais parecia um castigo divino que obra de homens ébrios de poder, de ânsias de controle e de pretensões de transcendência histórica, tinha aprendido que a verdadeira grandeza humana está na prática da bondade incondicional, na capacidade de dar aos que nada têm não o que nos sobra, mas uma parte do pouco que temos. Dar até doer, e não fazer política nem pretender prerrogativas com essa ação, muito menos praticar a enganosa filosofia de obrigar os outros a aceitar nossos conceitos do bem e da verdade por (acreditarmos) serem os únicos possíveis e por, além disso, deverem estar agradecidos pelo que lhes demos, mesmo que não o tivessem pedido. E, embora soubesse que a minha cosmogonia era de todo impraticável (e que merda fazemos com a economia, com o dinheiro, com a propriedade, para que tudo isso funcione? e que porra fazemos com os espíritos predestinados e com os filhos da puta de nascença?), satisfazia-me pensar que talvez um dia o ser humano pudesse cultivar essa filosofia, que me parecia tão elementar, sem sofrer as dores de um parto ou os traumas da obrigatoriedade, por pura e livre escolha, por necessidade ética de ser solidário e democrático. Masturbações mentais minhas…" (p. 419)


Túmulo de Trotsky no México


“É terrível verificar que um sistema nascido para resgatar a dignidade humana tenha recorrido à recompensa, à glorificação, ao estímulo da denúncia, e que se apoie em tudo o que é humanamente vil. A náusea sobe-me pela garganta quando ouço as pessoas dizerem: fuzilaram M., fuzilaram P., fuzilaram, fuzilaram, fuzilaram. As palavras, de tanto as ouvirmos, perdem seu sentido. As pessoas repetem-nas com a maior tranquilidade, como se estivessem dizendo: vamos ao teatro. Eu, que vivi esses anos no medo e senti a compulsão de denunciar (confesso com pavor, mas sem sentimento de culpa), deixei de sentir na minha mente a brutalidade semântica do verbo fuzilar… Sinto que chegamos ao fim da justiça na Terra, ao limite da indignidade humana. Que morreram demasiadas pessoas em nome daquela que, prometeram-nos, seria uma sociedade melhor”…





Só a inocência absoluta pode salvar e, mesmo assim, muitos inocentes são capazes de confessar que mataram Cristo para que os deixem em paz e os matem o mais depressa possível. (p. 254)


Fonte: Época

"Nada mais próximo da moral comunista do que os preceitos católicos" (p. 93)

Olha, tem uma coisa muito importante que me ensinaram...: o homem é irrelevante, substituível. O indivíduo não é uma unidade excepcional, mas um conceito que se soma e forma a massa, esta sim real. Mas o homem enquanto indivíduo não é sagrado e, portanto, prescindível. Por isso arremetemos contra todas as religiões, especialmente o Cristianismo, que diz essa tolice de o homem ter sido criado à semelhança de Deus. Isso nos permite ser ímpios, desfazer-nos da compaixão que gera a piedade: o pecado não existe. Sabe o que isso significa?... É tudo a mesma merda, é nada. Nomina odiosa sunt. Importa o sonho, não o homem... (p.298)


"Ninguém escolhe o tempo de viver, morrer ou matar" (Pavel Sudoplatov)


Oración al Glorioso San Luis Beltrán

Criatura de Dios, yo té curo, ensalmo y bendigo en nombre de la Santísima Trinidad Padre, Hijo y Espíritu Santo, tres personas y una esencia verdadera; y de la Virgen María, Nuestra Señora concebida sin mancha de pecado original, Virgen antes del parto, en el parto y después del parto y por la gloriosa Santa Gertrudis, tu querida y regalada esposa, once mil vírgenes, Señor San José, San Roque y San Sebastián y por todos los Santos y Santas de tu Corte Celestial; por tu gloriosísima Encarnación, gloriosísimo Nacimiento, Santísima Pasión, gloriosísima Resurrección, Ascensión; por tan altos y Santísimos meritos que creo y con verdad; suplico a tu Divina Majestad poniendo por intercesora a tu Santísima Madre y abogada nuestra, libres, sanes a esta criatura de esta enfermedad. Amén, Jesús. No mirando a la indigna persona que refiere tan sacrosantos misterios con tan buena fé, te suplico, Señor, para más honra tuya, y devoción de los presentes, te sirvas por tu piedad y misericordia de sanar y librar de esta herida, llaga o dolor, humor, enfermedad. Y no permita tu Divina Majestad, le sobrevenga accidente, corrupción ni daño, dándole salud para que con ella te sirva y cumpla tu santísima voluntad. Amén, Jesús. Yo te curo y ensalmo y jesuscristo Nuestro Señor Redentor te sane; bendiga y haga en todo su divina voluntad. Amén. (Esta oración se hace contra todo tipo enfermedades)


Ramón é um homem de outra época, de um tempo muito fodido, quando nem sequer a dúvida era permitida... pertenceu a uma geração de crédulos por obrigação. 

Karl Marx




Leia aqui "O homem que amava os cachorros" de Leonardo Padura!


21 de fevereiro de 2019

Desonra - J. M. Coetzee (prêmio Nobel 2003)

Aos companheiros de Clube uma pergunta básica sobre o livro do mês, rabiscada assim:

Afinal
a desonra é qual?
A do professor com a aluna?
A da aluna com o professor?
Ou a da punição-arranjo
para que se passe uma borracha
às custas de uma desculpa
na qual não acredita
nem quem pede, nem quem dá?

Ou a desonra é a da filha
que absorve a violência
e se submete ao arranjo-punição?

Ou, afinal, é de todo o mal arranjado
esboço de nação
que Desonra nos fala?

A aluna, calada, que diz sim.
O professor falante que se recusa a negar a coisa feita.
E a filha 
que se interioriza 
e aceita.

Cada qual com sua honra.
Em cada uma, um preço a pagar.
Afinal
a desonra é qual?

- - - - - -
Abs,

Newton




Aquele que vai ensinar acaba aprendendo a melhor lição, enquanto os que vão aprender não aprendem nada. p. 11




O Clube da Sete leu Desonra de J. M. Coetzee. Leia a análise feita pelo coordenador Roberto Pedretti:

"... há alguns anos duas senhoras de Ipanema trocavam indicações literárias mútuas à frente da seção de Literatura Estrangeira, com muito entusiasmo, quando pululou nas mãos de uma delas um exemplar de "Desonra", casualmente. A outra reagiu com um gritinho de ansiedade e êxtase: "Amiga, leva esse!, leva!, pode levar que é ma-ra-vi-lho-so!!". 

Eu estava apenas na audiência, a meia distância, mas caso elas tivessem me pedido qualquer opinião, eu certamente não teria considerado o adjetivo ma-ra-vi-lho-so como uma possibilidade. Soberbo, sem dúvida; incrivelmente bem construido; impossível de largar etc. Ma-ra-vi-lhoso, no entanto, estava fora da minha palheta. Afinal, "Desonra" é desagradável, melancólico, indigesto e pode fazer com que você conclua a leitura com um pouco menos de esperança na humanidade. 


Um dos temas recorrentes de Coetzee, a tirar pelos seis livros que tive a oportunidade de ler, é a degradação - quão baixo um ser humano é capaz de chegar sem misturar-se aos demais bichos da Criação. Do outro extremo, também recorre muito à questão do reconhecimento da vida animal como legítima, digna de proteção e respeito ("A Vida dos Animais", "Elizabeth Costello" e o próprio "Desonra" são exemplos. Mas não usa como militância crua, "real", mas antes como alegoria da própria degradação. Queda e ascensão fazem com que as espécies se encontrem em algum ponto do caminho, e que nós, como humanos, perguntemos: o que podemos afinal arguir a nosso favor? 



Alguns dos livros mais duros que li de Coetzee, como "O Mestre de Petersburgo" e "À Espera dos Bárbaros", tinham um quê de fantasia que amortecia essa descida ao inferno (Dostoievsky como protagonista no primeiro, ou o país inventado do segundo). A questão com “Desonra” é que ele é plausível demais, a história muito corriqueira, tanto que quase podemos jurar que já deve ter acontecido igualzinho em algum lugar. Esse realismo é que deve tornar o livro o mais impactante de todos. 



P.S.: Parece que do Nobel para cá todo mundo tem que colocar uma foto do senhor Coetzee com jeito de durão, de quem comeu um limão inteiro no café. Optei por ilustrar o texto aqui com uma mais amena, provavelmente da década de ’90, quando ele já era uma celebridade especificamente sul-africana.







Nas malhas do devaneio: Dília Gouveia (Autor CLIc)




Dília Gouveia instiga leitor a desbravar sua própria existencia através da palavra de Fernando Pessoa (Por: Roberto Santos 24/09/2013)


“(...) Por isso ele concebia a vida como um sonho do qual ele nâo queria despertar. (...) E nessa atitude devaneante forjou uma nova realidade: a da vida como ficção”. (Pág. 57)

A autora é filósofa, ensaísta, professora de Literatura e excepcional declamadora. Apaixonada por textos pessoanos nos brinda com um livro que é encantador do princípio ao fim. Tanto que, com aguçado olhar, Cristiana Seixas registra na orelha do volume: “ (...) esta  obra instiga o leitor a desembrulhar sua própria existência”. E tudo começa com mágico encontro entre um eu da autora e um convidado, à roda de um caldeirão de cobre sobre estrutura de pedra, com fogo contínuo, ao lado de taças de vinho.

O convidado, que a um só tempo é semelhante e diferente do Fernando, começa a contar sobre momentos em que esteve ao lado de Fernando Pessoa e dos seus principais heterônimos, isto é, das figuras que ele criou literariamente , com destaque para Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares. O interessante , e bastante inteligente, é como Dília Gouveia anima a conversa, com oportunas citações filosóficas e interlocuções construídas em torno de versos e ditos de múltiplos personagens pessoanos.

A tese central do livro é mostrar como Fernando Pessoa nos reinventou como seres humanos. Em tal instância deve ter sido influenciado por Shakespeare, que, segundo Harold Bloom, criou nossas ideias “sobre o que constitui o humano autêntico”. O evoluir da narrativa de Dília lembra,  um pouco, o livro Fernando Pessoa Textualizado, de Paul Human, “ a tentar entrar na linha de pensamento” desse constelado poeta português, considerado por tantos críticos como um gênio que abriga outros gênios. É livro para ler em ritmo de fogo crepitante, com estalidos de reflexões e de análises.


O dia em que Fernando Pessoa nos reinventou
Seu livro, Dília, é simplesmente FANTÁSTICO. Gostaria de ter o dom de me expressar com belas palavras para externar todo o meu encanto, o meu arrebatador interesse e uma absurda admiração que experimentei ao ler sua preciosa obra literária. Você, minha amiga, soube de maneira magistral nos apresentar Fernando Pessoa e seus principais heterônimos (os “amigos de FP”) da maneira mais criativa que uma mente privilegiada pode ter: sob a forma de “Diálogo em volta da fogueira”.
Você e seu convidado nos contaram coisas muito legais do “Fernando”, do “Alberto Caeiro”, do Álvaro de Campos, do Ricardo Reis e do Bernardo Soares. Ao ler seu livro, Dília, fica a certeza que FP, muito mais que um maravilhoso escritor e poeta, foi um profundo pensador/filósofo que deixou como legado a importância do sonho que nos impulsiona na vida, a pluralidade de eus,  as armadilhas a que nos expomos quando nos entregamos ao amor, entre tantas outras coisas ligadas à nossa existência. Acredito que a mente do FP era tão fecunda de ideias  que precisava daqueles “amigos” que o ajudassem a disseminar todas as questões que lhe transbordavam da mente e do coração.
Quando soube que você, Dília,  ia lançar um livro sobre FP, imaginava algo como  transcrições de poesias ou textos dele com os respectivos comentários e interpretações. Nunca imaginei que você fugiria de todas as formas previsíveis, para falar tão-somente da essência desse ser prodigioso que foi FP, como também de seus heterônimos, que passaram a ser pessoas REAIS, nesse “seu devaneio”.  Afinal, ficção e realidade andam tão próximas que por vezes se misturam e se confundem.


Ao iniciar a leitura, percebi que se tratava de uma entrevista que iria acontecer entre a narradora/autora vivendo na mesma época que os protagonistas do livro e  seu convidado, ambos admiradores dos mesmos. O gravador foi ligado no início da entrevista que depois se transformou em diálogo, já que ambos complementavam as informações sobre os protagonistas. Ao final do livro, surpreendentemente, esse mesmo gravador não reproduziu som algum do longo diálogo que se passara. Afinal, tudo se resumia a um devaneio da narradora/autora. E por isso mesmo, ela presenteia o leitor com um texto muito lindo. Ei-lo: 
“Levantei-me. Quis escutar o que acabava de gravar. Nenhum som, nenhuma voz.  Apenas silêncio ... E é, precisamente entre silêncios, que se costuram as palavras que dançam significados à existência, que colorem afetos por entre os desertos, que respiram sentido sobre a aridez ...  Afinal, o que ficou gravado e agora vos comunico, foi tão só o que ficou gravado em mim. Fragmentos de um devaneio onde dificilmente se pode discernir a realidade do sonho, a vida da ficção. É então que tudo acontece.”
Meu livro está todo marcado à lápis com trechos que eu considerei belíssimos e dignos de reflexões. Não vou poder transcrevê-los todos pois seria quase transcrever todas as páginas do livro. Para não me estender mais, vou apenas destacar um trecho nas palavras do “convidado”.  A propósito, esse “convidado” era onipresente na vida desses protagonistas.  Diz o “convidado” que ele e FP nasceram no mesmo dia, no mesmo mês,  no mesmo ano. Ah, como essa autora nos provoca a pensar sobre essas coincidências. Ei-lo:
“ O Fernando era uma dessas pessoas que sabiam transformar as emoções, os sentimentos, em pensamentos. Muitas vezes ele me dizia: ‘O que em mim sente está pensando’. ”
Dília, parabéns pelo seu “NAS MALHAS DO DEVANEIO”. Eu me apaixonei.  Agora entendo quando você diz que foi reinventada por FP. Você provou esse fato ao escrever esse INCRÍVEL livro.    
            Saiba que ganhastes uma fã, viu?
            Beijos ......................... Angela Ellias.

16 de fevereiro de 2019

Rose T comenta "Travessia do Verso" de Rita Magnago





Amigos do club,

Totalmente fora de controle, resolvi ler mais uma poesia do maravilhoso livro da Rita e como num passe de mágica atravessei o livro inteiro.

Totalmente desgovernada, iniciei na página 35, com o verso " A descobrir", bem de encontro aos meus momentos

...um terço
...um meio
...um quinto
...o inteiro

cálculos com segundas intenções que ajuda a dobrar e aprender sem quebrar  (nem preciso dizer que chorei)

Amei "Cacos de mim"
na página 13, número místico, ela fala de liberdade
"completo-me enquanto me busco
busco-te enquanto me completo"    LINDO

Em Estranhos (pag 19) disfarça-se angústias, enterra-se emoções puras e se vê morrer, sem sequer ter nascido (lágrimas)
...ria do nada, não sabia do tudo 
agradava falsamente, vivia sem viver  DEMAIS

Alma Calada também me tocou.

Dentro de mim, simplesmente adorei.
Meu bem querer - adorei também
Se eu fosse você é in-crí-vel acho que este é o pole position  "ilumino a tua sombra e a faço crescer, uau, sem palavras
cintilamos juntos, entre apertos

Em amor verdadeiro, muitos risos com a minha identificação total com a parte
e até mastigar é complicado,
dá uma moleza no maxilar...  
todas as vezes que me apaixonei eu emagreci,rsrsrs agora estou tomando remédio para tirar o apetite
Prece ao vento - awesome

"Você", é maravilhoso, conseguiu escrever só com a letra v coisas que fazem sentido - adorei

Larga tudo também é o máximo

No trânsito da página 67 é muito bom e pelo visto o engarrafamento era grande que deu o trânsito II também muito bom " impaciente momentos que passo enquanto não passo"

Vida é nota 10 - "escolho e piso onde me encaixo
não temo mais a ribanceira"
Lua do meu coração, Sem poesia, Vida e morte (sem palavras)
Crescimento que foi o primeiro que li e adorei de cara

Interrompida - destaco para a caixa do pensamento
"um feto em mim
que não cresceu

que o ventre é abrigo incerto
mas a única certeza, eu não queria   (LINDO)

Morte - "O rosto, sem brilho, cheio, mas de vazio"   - no words

Aprendizado também é lindo

Em Pingo de Luz, escrito para o filho, o conselho da mulher forte
"Se lhe amarram os pés, 
liberta o espírito
que sempre pode voar"  A-D-O-R-E-I

Em Estações da Alma ela nos lembra das estações que chegam sem flores para todos.

Terminado o livro pulei para o Prefácio (momento sem controle meu), ali ela explica que seus versos saíram dos pés, encontram-se agora no coração e não aprisionados sairão pela cabeça, ganharão o mundo e novos corações de quem precisa se manter em pé.

Aplausos para você, levarei ele no nosso encontro para um autógrafo.
Obrigada pela leveza e suavidade que trouxe com suas palavras.


Adquira "Travessia do Verso" de Rita Magnago pelo email conciergeclic@gmail.com (R$ 25,00)



15 de fevereiro de 2019

6 de fevereiro de 2019

Última Reunião do Ano do CLIc, Dezembro de 2018


  Norma Lanes , presidindo a noite.



 Luzia  Velloso, homenageada por seu livro Impressões .



Ao lado de Norma, à sua esquerda Cristiana Seixas,
grande incentivadora da poesia, à sua direita Elenir,
poeta e declamadora do Clube.


  Eduardo, membro antigo e querido do CLIC,  
lê uma poesia de Inês Drummond, 
outra homenageada por seu livro "dentro das palavras".




Vera Lúcia Schubnell  com emoção, 
lê  poesia de Luzia Velloso.




 Mariney, grande promotora das Letras, 
declama poesia de Inês Drummond.


 Nossa querida Cláudia, carinhosamente,  
lê poesia de Inês, do livro "dentro das palavras"


 Cristiana Seixas realiza mais uma leitura inspiradora.


Aqui um quarteto de ternura,  no fim da noite,
constituído por antigas cliceanas e a mais nova poeta do grupo:
Monique Brito. Viva a poesia! Viva a nossa noite!