Fundado em 28 de Setembro de 1998

26 de junho de 2018

Subjugados à Espada e ao Fogo

Por Wagner Medeiros Junior
A ordem religiosa dos Jesuítas, nominada Companhia de Jesus por seus fundadores, nasceu na Universidade de Paris no ano de 1534, sob a liderança do cavaleiro espanhol Inácio de Loyola, com o objetivo de avigorar o ensino religioso e expandir o catolicismo, em oposição à Reforma Protestante principiada por João Calvino e Lutero. A orientação da ordem baseava-se em ensinamentos práticos, que se espalharam rapidamente pela Europa com a publicação de um pequeno compêndio de nome “Exercícios Espirituais”, escrito por Loyola.
Por conseguinte, não demorou para que a Companhia de Jesus viesse a conquistar um importante espaço no arcabouço da Igreja, pela determinação de seus membros em atuar em qualquer parte do mundo como “fiéis soldados” do catolicismo. Não por outra razão, em 27 de setembro de 1540, o Papa Paulo III reconheceu oficialmente a Congregação, através da bula Regimini Militaris Ecclesiae. É nesse mesmo ano que o jesuíta espanhol Francisco Xavier aporta em Portugal, a pedido do rei D. João III, com a missão de evangelizar o domínio português nas Índias.
É também no reinado de D. João III que a primeira missão da Companhia de Jesus chegou ao Brasil, em março de 1549, sob o comando de Manuel da Nóbrega, junto à armada que trazia o primeiro governador-geral, Tomé de Souza. O sistema de Capitanias Hereditárias não progredira e era preciso colonizar o Brasil para evitar sua invasão por outras nações europeias. Então, entre outras construções ainda rudimentares, é erigido o primeiro colégio jesuíta na recém criada capital da colônia, São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Nesse colégio os Jesuítas dão início à catequese dos índios.
Se por um lado esse processo de aculturação pode ensejar muitos questionamentos contrários, por outro é inegável o afinco dos Jesuítas em evitar que muitas tribos fossem dizimadas. Além de proliferar epidemias, os colonos utilizavam-se das desavenças tribais para estabelecer alianças e aprisionar os inimigos para vendê-los como escravos, quando eram submetidos a todo tipo de maus-tratos. Neste aspecto, os bandeirantes paulistas fizeram um trabalho implacável, pois depois que os índios bravios se tornaram escassos, nem os nativos aculturados nas Missões Jesuíticas foram poupados.
Não se pode olvidar, entretanto, a importância dos povos indígenas no reconhecimento do território pelos imigrantes, como também na efetiva participação na formação dos primeiros núcleos de colonização, seja ao lado da Igreja ou do colono. No entanto, a rivalidade entre ambos, quer pelo aspecto da catequese ou da própria exploração econômica, seria marcada por acirradas disputas que se estenderiam até junho de 1759, quando os Jesuítas foram expulsos do território português, no reinado de D. José I, por interveniência do Marquês de Pombal.
Um dos fatores para a expulsão dos Jesuítas foi a exploração das chamadas “drogas do sertão” no Grão-Pará e Maranhão, que compreendia então quase toda região amazônica. Como os Jesuítas exerciam uma grande influência sobre os índios, sua coleta e produção eram facilitadas. Por outro lado, o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, julgava que a recém-criada Companhia Geral de Comércio estava sendo prejudicada, fazendo chegar a Portugal pesadas críticas aos Jesuítas.
Já no sul do Brasil, os Jesuítas para proteger os Guaranis relutavam em desocupar os Setes Povos das Missões, em cumprimento ao tratado de Madrid. Após tenaz resistência acabou por explodir a guerra Guaranítica, que resultou na morte de mais de 1500 índios. Daí o relatório do comandante das forças luso-espanholas, Gomes Freire, ao governo central, afirmando que “se esses ‘santos padres’ não forem expulsos, não encontraremos senão rebeliões, insolências e desventuras”. Assim, com a expulsão dos jesuítas dos Brasil, os indígenas acabaram à própria sorte.

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Preto no Branco por Wagner Medeiros Junior




19 de junho de 2018

ZÉ DAS VERDURAS: Hélio Penna




Foi uma bala perdida que pegou o Zé das Verduras. O Diabo estava solto. O aço dos bandidos e da polícia atingiu a creche, a igreja, o ponto do bicho e o bar do Zito, onde a rapaziada do samba se reunia. Quem era de versar, não versava; até a força da imaginação se encolhia. O som dos tiros era uma música dos infernos que arrebentava os ouvidos. A Morte viajava ligeira e barulhenta a procura de uma vida qualquer.

Só depois do corre-corre, do se joga no chão, do pega pra capar é que se acudiu o Zé das Verduras, pois ninguém podia ser socorrido no meio dos balaços grossos que furavam paredes. Com Satanás livre comandando os seus demônios, quem enfrentou a praga foi Maria Antonia para salvar os filhos da Maria Isabel. As duas eram inimigas. Saíam na porrada por causa do mesmo homem. Maria Antonia não pensou em nada quando viu as crianças da outra em meio à desgraça. Catou os pretinhos da inimiga e com eles se abrigou debaixo da sua cama.

Colado no chão, o bicheiro Vantuil viu quando o Zé das Verduras tombou. Mas o velho filho da puta não se abrigou por quê, porra? O Zé estava gesticulando e gritando para o Chocolate, o eletricista do morro, que, pendurado no alto da escada, consertava os fios da casa da Rezadeira, atingidos em outro tiroteio. Zé das Verduras queria que Chocolate se protegesse.

Quando veio aquele silêncio amargo, aquela calma desconfiada, aquela paz triste é que se pode dar conta dos velhos, dos doentes, das crianças, do Chocolate, que passou mal na escada, e do Zé das Verduras que agora exigia vela e um lençol apenas.

O corpo ficou ali o dia todo. Talvez ele não quisesse ir embora, tão acostumado com o seu povo e a sua barraca. O morro era a sua família. Ele não tinha ninguém e não acreditava que encontraria os seus parentes depois da morte como pregavam o Pastor e a Rezadeira, cada um ao seu jeito. Os moradores se revezavam acendendo as velas e arrumando o lençol que algum descuidado desarrumava, deixando o rosto preto do Zé das Verduras exposto ao sol quente.

Quando anoiteceu, apenas a Rezadeira, o Pastor, o Chocolate, a Maria Antonia e a Maria Isabel permaneceram na vigília e guarda do corpo. O morro estava na escuridão, os tiros atingiram o transformador. Só o Zé das Verduras tinha luz própria.



Hélio Penna
 Escritor participou do Livro
"15 anos do Clube de Leitura Icaraí"



3 de junho de 2018

Frankenstein: Mary Shelley


Besides, I had a contempt for the uses of modern natural philosophy. It was very different when the masters of the science sought immortality and power; such views, although futile, were grand; but now the scene was changed. The ambition of the inquirer seemed to limit itself to the annihilation of those visions on which my interest in science was chiefly founded. I was required to exchange chimeras of boundless grandeur for realities of little worth.



Traces of Human Folly in the Alpine Landscapes that Inspired Frankenstein






 I was now about to form another being, of whose dispositions I was alike ignorant; she might become ten thousand times more malignant than her mate, and delight, for its own sake, in murder and wretchedness. He had sworn to quit the neighbourhood of man, and hide himself in deserts; but she had not; and she, who in all probability was to become a thinking and reasoning animal, might refuse to comply with a compact made before her creation. They might even hate each other; the creature who already lived loathed his own deformity, and might he not conceive a greater abhorrence for it when it came before his eyes in the female form? She also might turn with disgust from him to the superior beauty of man; she might quit him, and he be again alone, exasperated by the fresh provocation of being deserted by one of his own species.

The Aiguille du Midi 3842m peak in the Mont Blanc massif of the French Alps - Chamonix

Sir Isaac Newton is said to have avowed that he felt like a child picking up shells beside the great and unexplored ocean of truth. 



If, instead of this remark, my father had taken the pains to explain to me that the principles of Agrippa had been entirely exploded and that a modern system of science had been introduced which possessed much greater powers than the ancient, because the powers of the latter were chimerical, while those of the former were real and practical, under such circumstances I should certainly have thrown Agrippa aside and have contented my imagination, warmed as it was, by returning with greater ardour to my former studies. It is even possible that the train of my ideas would never have received the fatal impulse that led to my ruin. But the cursory glance my father had taken of my volume by no means assured me that he was acquainted with its contents, and I continued to read with the greatest avidity. When I returned home my first care was to procure the whole works of this author, and afterwards of Paracelsus and Albertus Magnus. I read and studied the wild fancies of these writers with delight; they appeared to me treasures known to few besides myself. I have described myself as always having been imbued with a fervent longing to penetrate the secrets of nature. In spite of the intense labour and wonderful discoveries of modern philosophers, I always came from my studies discontented and unsatisfied. Sir Isaac Newton is said to have avowed that he felt like a child picking up shells beside the great and unexplored ocean of truth. Those of his successors in each branch of natural philosophy with whom I was acquainted appeared even to my boy's apprehensions as tyros engaged in the same pursuit.
The untaught peasant beheld the elements around him and was acquainted with their practical uses. The most learned philosopher knew little more. He had partially unveiled the face of Nature, but her immortal lineaments were still a wonder and a mystery. He might dissect, anatomize, and give names; but, not to speak of a final cause, causes in their secondary and tertiary grades were utterly unknown to him. I had gazed upon the fortifications and impediments that seemed to keep human beings from entering the citadel of nature, and rashly and ignorantly I had repined.




soul-subduing music




 "Oh! stars, and clouds, and winds, ye are all about to mock me: if ye really pity me, crush sensation and memory; let me become as nought; but if not, depart, depart, and leave me in darkness."