Bom sábado, pessoal
Estamos lendo "As nuvens" e
eis que me deparo hoje, no Caderno Prosa (infelizmente agora só, onde
foram parar meus versos?) , com matéria sobre a escritora moçambicana
(salve Mia Couto) Paulina Chiziane, que ficou internada uma semana em
uma clínica psiquiátrica.
Conta a autora que tinha crises de calor e frio
intercaladas com vertigens e que ouvia vozes, o que fazia com que
falasse sozinha horas e horas e, durante a noite, não conseguisse
dormir. Na clínica, ela entrevista outras mulheres com as chamadas
alucinações, incluindo uma entendida em espiritismo, que vem a ser sua
parceira no livro, e escreve o que os críticos dizem estar no limite
entre literatura e paraliteratura, por tangenciar, em sua escrita
influenciada pela oralidade e costumes africanos, esse universo dos
espíritos. Ao fim e ao cabo a autora declara: "Foi um exercício
psicológico interior muito grande e, mesmo assim confesso: acho que vão
dizer que enlouqueci de vez."
Fascinante essa fronteira da loucura, até que ponto
vai o que convencionamos chamar de normalidade e que tantas vezes é
muito mais louco que a loucura em si. Há um preconceito gigantesco com
as doenças mentais que nos faz inclusive optar pelo distanciamento
destes enfermos, mas a loucura usa e abusa da razão. Como nos lembra
Saer na página 135, "Todos os atos de um louco, por nímios ou absurdos
que
pareçam, são significativos" ou ainda na página 146, quando diz que é a
razão que engendra a loucura.
Saer dialoga
ainda com Clarice, e tantos outros, quando fala do medo que temos pelo
que não conhecemos ou entendemos, como bem destacado no trecho abaixo,
da página 146.
"E quanto à impossibilidade que o senhor assinala de conhecer
os pensamentos de um colibri ou, se prefere, de um cavalo, quero sublinhar que
frequentemente acontece a mesma coisa com nossos pacientes: ou eles prescindem
da linguagem ou tergiversam com ela, ou utilizam uma linguagem de que só eles
conhecem o significado. De modo que, quando queremos conhecer suas
representações, descobrimos que são tão inacessíveis para nós quanto as de um
animal desprovido de linguagem".
Esse
livro, em minha opinião, joga luz sobre o sombrio em nós que renega o
que foge a parâmetros socialmente aceitos justamente porque seus atores
não foram socialmente aceitos. Valeu a dica, Ceci.
Abraços a todos,
Rita
P.S1 : Aproveito para convidá-los a rir um pouco com meu novo post. Tem uns quadrinhos muito bons. É só acessar abaixo.
P.S2: Para quem quiser ler a matéria com a moçambicana, segue o link.
Última atualização do blog: 17/11/2012
Confira em http://ritamagnago.blogspot. com.br
Confira em http://ritamagnago.blogspot.
Rita, parabéns pelo excelente comentário ao livro , associado às suas leituras.Grande contribuição, o que não nos surpreende.Um bom livro eleva nossos sentidos!
ResponderExcluirBjs
Elô.
Obrigada, Elô. Eu compartilho o mesmo sentimento que você, sobre um bom livro elevar nossos sentidos. Hoje me vejo mais sensível, mais apurada e perceptiva para o que a vida nos mostra nas entrelinhas. Agradeço ao Clic por isso, e a você, que sempre propaga e inclusive viabiliza boas leituras. "Trem noturno para Lisboa", que você gentilmente me emprestou, dentre outros, ficará eternamente no meu coração.
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