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6 de março de 2014

Um pouquinho sobre Oblómov: Antonio R

Boa noite, Clic-leitores,

Grande Elenir! Ainda bem que você recuperou o seu livro. Leitura imperdível!

Ceci, trate de comprar logo uma edição aristocrática da CosacNaify. Você vai gostar da leitura.
Os demais que ainda não começaram a ler, não sabem o que estão perdendo...
   

Estou na metade do livro. Havia passado por um longo período de oblomovismo literário (leiam o livro e saberão o que significa oblomovismo), mas finalmente, durante esta semana que acabou de acabar, voltei a ler Oblomov. E voltei nas maravilhosas páginas em que Iliá Ilitch Oblomov e seu amigo Stolz travam diálogos magníficos.

Qualquer referência a Oblomov como vagabundo ou preguiçoso não passa de uma grande injustiça. A preguiça de Oblomov é uma reação existencial a um tipo de vida (ou tipos) do qual ele não quer participar. Oblomov é um sujeito que deseja do fundo da alma encontrar seu ideal de vida...


Vejam este diálogo: 



— De que vida você gosta? — Perguntou Stolz.
— De vida nenhuma, só de ficar aqui.
— De que é que você não gosta especialmente?
— De tudo, essa eterna correria para lá e para cá, essa eterna ostentação de paixõezinhas inúteis, sobretudo a avareza, a vontade de passar à frente do outro, as fofocas, a conversa fiada, os insultos pelas costas, o jeito de olhar os outros dos pés à cabeça; ouvindo o que as pessoas falam a cabeça da gente começa a rodar, ficar embotada. Quando a gente olha, elas parecem tão inteligentes, com tanta dignidade no rosto, mas é só escutar e: "Deram isso para aquele, aquele outro recebeu uma concessão do governo"... "Puxa, vida, por quê?", grita o outro. "Fulano perdeu tudo no jogo ontem no clube, fulano vai ganhar trezentos mil!" Que tédio, que tédio, que tédio... Onde está o homem de verdade? Onde ele se escondeu, como ele foi substituído por toda sorte de ninharias?


Oblomov, a meu ver, mantém um distanciamento existencial diante dos ideais de vida impostos pelas sociedade russa de seu tempo. Porém, ele ainda busca dentro de si o ideal de vida que lhe devolva efetivamente o entusiasmo da vida. Contudo, até onde lí, Oblomov talvez ainda não tenha encontrado seu ideal de vida: 


Ainda dialogando com Stolz, Oblomov parece transparecer isso: 


"Não, isso não é vida, mas uma distorção da norma, do ideal de vida que a natureza indica para todas as pessoas...


Stolz pergunta a Oblomov:


"— Que ideal  é esse, qual é a norma de vida?"

Oblomov não respondeu."

E mais adiante, Oblomov abre-se a Stolz e pronuncia palavras tocantes: 


"— Sabe, Andrei (Stolz), em minha vida nunca ardeu nenhuma chama redentora ou destrutiva. Minha vida nunca foi parecida com uma manhã em que as cores e a luz gradualmente ficam mais fortes, e que depois se transforma em dia claro, como a vida de outras pessoas, e arde de calor, ferve e se agita no meio-dia radiante, e que depois, cada vez mais calmo, mais pálido, e de forma natural, sem pressa, se apaga ao anoitecer. Não, minha vida já começou se apagando. É estranho, mas é assim! Desde o primeiro minuto em que tomei consciência de mim mesmo, senti que estava me apagando! Comecei a me apagar quando redigia documentos na repartição; depois eu me apagava ao aprender nos livros verdade com as quais eu não sabia o que fazer na vida, eu me apagava na companhia dos amigos, ao ouvir os rumores, as fofocas, as ironias, a tagarelice maldosa, fria, a futilidade, e ao ver amizades que se mantinham em reuniões sem propósito, sem simpatia; eu me apagava..."

Fico por aqui, é só uma palhinha do que o livro tem a oferecer, para que possamos abrir o diálogo e conversar sobre coisas tremendas que de fato podemos encontrar em Oblomov. 

Um grande abraço a todos,



Um comentário:
















  1. Boa noite, Antônio.


    Esse é meu amigo Antônio! Comentário irretocável!

    "Onde está o homem de verdade?" Essa é uma grande indagação filosófica, não acham? Pena termos de lutar para a sobrevivência...No dia em que o homem não tiver de se preocupar com a sobrevivência, ou mudar seus valores, talvez seja melhor a vida.Mas tem de estar preparado para os aproveitadores, os lobos.

    Abraços saudosos!

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