Eu o vi caminhar sozinho,
transeunte monótono,
ignoto aos olhos vizinhos.
Caminhando como um turista
recém chegado a um lugar
que não conhece.
Eu o vi sorrir para as nuvens
e abraçar o vento.
Eu o vi sentar no banco
e conversar com seus sonhos,
parolar com seus fantasmas,
debochar de ridículas brincadeiras
e se despedir como num breve adeus.
Eu o vi saudar jovens senhoras
que ele não conhecia
e que se esquivavam de sua loucura,
eu o vi agradecer aos xingamentos
que recebia
como se recebesse ricas ovações,
eu o vi levar suas costas embora
a conversar e gesticular com todos
os seres que eu não podia ver.
Eu o vi descer a ladeira
para nunca mais voltar.
Poema extraído do meu livro Noturno, publicado em 2003.
Imagem: Moshe Shai, Homeless man reading books, 1977.
Familiar e surpreendente, surpreendentemente familiar. Um poema de ourivesaria!
ResponderExcluirObrigado, Evandro, pela gentileza!
ResponderExcluirAbraço!
Também adorei, associei a ideia de um intelectual e sua solidão incompreendida. Grata pela preciosidade.
ResponderExcluirEssa é uma das vantagens da poesia, Rose, a possibilidade de associações de acordo com o que se sente ao ler.
ResponderExcluirObrigado pela leitura e por compartilhar suas impressões.
Eu o vi dentro de um enorme vazio ( mas ao mesmo tempo tentando compartilhar, dividir desesperadamente, doidamente )
ResponderExcluirEu o vi, morrer de solidão.
Vera Lúcia Schubell Freire.
É, Vera. Ele é um daqueles que passam incompreendidos e se vão para nunca mais os vermos.
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