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29 de julho de 2013

O transeunte: William Lial



Eu o vi caminhar sozinho,
transeunte monótono,
ignoto aos olhos vizinhos.
Caminhando como um turista
recém chegado a um lugar
que não conhece.

Eu o vi sorrir para as nuvens
e abraçar o vento.
Eu o vi sentar no banco
e conversar com seus sonhos,
parolar com seus fantasmas,
debochar de ridículas brincadeiras
e se despedir como num breve adeus.

Eu o vi saudar jovens senhoras
que ele não conhecia
e que se esquivavam de sua loucura,
eu o vi agradecer aos xingamentos
que recebia
como se recebesse ricas ovações,
eu o vi levar suas costas embora
a conversar e gesticular com todos
os seres que eu não podia ver.

Eu o vi descer a ladeira
para nunca mais voltar.



Poema extraído do meu livro Noturno, publicado em 2003.
Imagem:  Moshe Shai, Homeless man reading books, 1977.

6 comentários:

  1. Familiar e surpreendente, surpreendentemente familiar. Um poema de ourivesaria!

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  2. Obrigado, Evandro, pela gentileza!

    Abraço!

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  3. Também adorei, associei a ideia de um intelectual e sua solidão incompreendida. Grata pela preciosidade.

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  4. Essa é uma das vantagens da poesia, Rose, a possibilidade de associações de acordo com o que se sente ao ler.

    Obrigado pela leitura e por compartilhar suas impressões.

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  5. Eu o vi dentro de um enorme vazio ( mas ao mesmo tempo tentando compartilhar, dividir desesperadamente, doidamente )
    Eu o vi, morrer de solidão.

    Vera Lúcia Schubell Freire.

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    Respostas
    1. É, Vera. Ele é um daqueles que passam incompreendidos e se vão para nunca mais os vermos.

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