Fundado em 28 de Setembro de 1998

23 de setembro de 2023

Benito, por Prof Lilian



Permitam-me falar um pouco sobre a dedicação de Mariane, Simone e Vânia. Fico aqui imaginando a emoção delas nessa "garimpagem" de livro por livro, em meio à uma vasta fonte de literaturas que silenciosamente o nosso querido amigo Benito colecionava. 

Como deve ser maravilhosa a experiência dessas três mulheres tão delicadas mergulhando nesse mar de palavras sábias que formaram um homem tão simples, porém tão sábio como foi o nosso amigo Benito.

Entrar em sua casa, perceber as marcas deixadas por ele; Sentir numa estante e outra as suas paixões literárias; Pisar o chão empoeirado do seu quarto de dormir e tentar descobrir, ou pelo menos imaginar o que foi fazendo o nosso amigo se tornar um homem tão recluso e deprimido, de alma tão pura, desprovido de qualquer vaidade e soberba.

Eu também imagino os dias do Benito na sua pequena habitação, onde ele guardou e preservou tanta sabedoria!

Imagino, por exemplo, como foi se tornando a vida do Benito depois da sua aposentadoria. 

Antes, ele se levantava bem cedinho e depois da sua corrida matinal, caminhava lentamente rumo ao Hospital Antônio Pedro, onde trabalhou por tantos anos junto à tantos médicos, tendo ele abandonado a medicina para se dedicar à literatura. 

Benito, apesar de ter concluído o curso de medicina e ter optado por não exercer a profissão de médico, era muitíssimo respeitado e querido por médicos, especialmente, os da Psiquiatria. Alguém já parou pra pensar porquê?

Benito abandonou a medicina, porque definitivamente não pertencia e não se encaixava nesse mundo! Ser médico requereria não apenas o conhecimento científico, que ele teria brilhantemente adquiriu. Ser médico, imagino eu, requereria uma postura que Benito abominava e que não se encaixava na sua natureza tão peculiar. Então, o nosso amigo abandonou o jaleco branco, de estetoscópio sempre pendurado ao pescoço e seguiu lenta e sabiamente o seu destino nos caminhos da paixão pela literatura. 

Benito não tinha passos ligeiros e penso eu de quê deve ter tirado baixas notas na disciplina do curso que, aos poucos, parece ensina os médicos a serem profissionais altivos, arrogantes, e nada empáticos com as dores e histórias de vida dos seus pacientes.

Penso também que certamente foi um estudante de medicina que questionava a formação médica e até provavelmente provocou alguns debates, mas percebeu muito rapidamente que não valia a pena tentar mudar uma estrutura que impõe silenciamento e hierarquia do saber, cujas relações humanas se perdem já na propedêutica. 

Então só havia uma saída para esse homem que abominava todas as espécies de arrogâncias como elementos instituintes do exercício 
do poder e das facetas todas de autoridades.

Assim, devagarinho, entre uma prosa e outra, entre versos, rimas líricas, dramáticas e maravilhosamente construídas poeticamente, o nosso amigo mergulhou nesse mundo da arte das palavras, cuja função é essencialmente social e jamais utilitária, tornando-se um dos homens mais letrados que já conheci.

Os livros que o Benito colecionou ainda são poucos para o tanto que ele leu e pesquisou. Benito frequentava bibliotecas, por isso essa coleção era muito maior!

Mas iniciei falando do minucioso trabalho que Mariane, Simone e Vânia estão fazendo na seleção da biblioteca do Benito, sobre o qual devemos especiais agradecimentos e reverências!

Nós que recebemos a doação de alguns dos livros pertencentes ao nosso querido amigo, poderíamos, como retribuição, pensarmos em escrever um livro sobre a sua vida um pouco do que aprendemos com ele. Cada um de nós poderíamos escrever um conto, um poema, uma breve biografia sobre ele e quem sabe publicarmos como homenagem póstumas.  O que acham? Fica a proposta para reflexão. 

Benito Petraglia, PRESENTE! POTENTE!

PROF Lilian Silva
23/09/23

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Prezado leitor, em função da publicação de spams no campo comentários, fomos obrigados a moderá-los. Seu comentário estará visível assim que pudermos lê-lo. Agradecemos a compreensão.