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10 de setembro de 2023

Notas do Subsolo: Fiódor Dostoiévski


2014

Digam-me o seguinte: por que me acontecia, como se fosse de propósito, naqueles momentos – sim, exatamente naqueles momentos em que eu era capaz de melhor apreciar todas as sutilezas do "belo e do sublime‟, como outrora se dizia entre nós -, por que me acontecia não apenas conceber, mas realizar atos tão feios, atos que [...] bem, numa palavra, atos como os que todos talvez cometam, mas que, como se fosse de propósito, me ocorriam exatamente nos momentos em que eu mais nitidamente percebia que de modo algum devia cometê-los? Quanto mais consciência eu tinha do bem e de tudo o que é "belo e sublime‟, tanto mais me afundava em meu lodo, e tanto mais capaz me tornava de imergir nele por completo. Porém o traço principal estava em que tudo isso parecia ocorrer-me não como que por acaso, mas como algo que tinha que ser. Dir-se-ia que este era meu estado normal
[...]. (DOSTOIÉSKI, 2000, p. 19).


Arte: Bruna Thabata Ribeiro de Souza

"O homem do subsolo, protagonista de Memórias do Subsolo, do bom e velho Fiódor Dostoiévski, não acredita em mais nada. (Logo veremos que ele também não acredita em quem deixa de acreditar.) O homem do subsolo, intelectual niilista, é o porta-voz do ressentimento de nossa época. Para o dostoievskiano em questão, o homem é o animal que se lembra, ou pior, o homem é o animal que não se esquece. Ele já não consegue ter contatos efetivamente humanos com as pessoas, o subsolo é mais do que o seu refúgio – o subsolo é sua cripta, o subsolo é o prenúncio de seu túmulo. Então, o homem do subsolo se vangloria em face dos leitores pressupostos – diz ser mais inteligente e espirituoso do que todos nós, afirma ser mais vivaz, sentencia que compreende as filigranas do que nem de longe podemos entender. Mas, ainda assim, ele não consegue romper a membrana de sua solidão. Ele quer voltar a brindar com os demais, ele quer ter amigos, quer (re)encontrar a amada, mas o homem do subsolo, consciente contra si mesmo, bem sabe que o ceticismo começa a converter o prazer em dor – eis o prazer do cão que se regozija em morder a própria cauda, o prazer do cão que arranha as próprias feridas, o prazer pela dor que se alimenta de si mesma, o prazer pela descrença que passa a doer, o prazer pela dor que já não quer crer em nada mais a não ser em si mesma. [Afinal, se algo despontar em meio à e para além da dor, o cético deixará de ranger os dentes e terá que abandonar o ressentimento do subsolo. (Eis que o homem do subsolo passa a sentir pena das grades que o acometem – talvez ele queira grades ainda mais espessas para que não haja quaisquer riscos de a dúvida se infiltrar pelas frestas de sua couraça.)]
Mas então deveríamos perguntar por que o homem do subsolo sofre, por vezes, como se ainda houvesse um sentido. O homem do subsolo alardeia aos quatro cantos que é mau e desagradável, que lhe apetece assistir ao sofrimento alheio, que seu amor próprio doentio – aliado à autoflagelação não menos patológica – deforma as relações com os demais como sucessivas e inequívocas quedas de braço. Porém, se assim fosse indefinidamente, por que ele tentaria se redimir diante de Liza, a prostituta? Retomemos brevemente o contexto da narrativa: o protagonista sai de seu subsolo para encontrar antigos “colegas” dos tempos de escola. Todos o desprezam por sua atual condição – o baixíssimo salário, a moradia indevida, as vestes decrépitas. Mas o homem do subsolo ainda pode se escorar em sua condição intelectual mais elevada. O jantar que marca a despedida de um dos convivas para uma província longínqua da Rússia – um pedágio necessário para que Zvierkóv alcance novos patamares na carreira pública – logo se transforma em um verdadeiro duelo entre o achincalhado homem do subsolo e os demais que não sabem por que o paradoxalista teria sido convidado. Pois bem: a narrativa progride vertiginosamente, de modo que a personagem se mutile cada vez mais na medida em que percebe que os outros a desprezam. Quando um “colega” sugere que o ordenado do protagonista é baixo, o homem do subsolo vai e revela o quanto ganha; quando tudo já está se desfazendo, quando todos o abandonam para ir a um bordel, nosso paradoxalista, no ápice da desolação e da humilhação, se ajoelha diante do anfitrião do jantar – para pedir dinheiro emprestado. Dostoiévski apresenta sua maestria em fundir pontos de virada narrativa a cicatrizes da alma. Ocorre que o homem do subsolo, demasiado humano, vai ao bordel ao qual teriam se dirigido seus “colegas” para tirar a limpo toda aquela situação humilhante. Lá chegando, não encontra os convivas, mas a jovem prostituta Liza, oriunda da belíssima cidade medieval de Riga. Dostoiévski sabe utilizar como ninguém a simbologia da dominação. Se a Rússia de fato nutre um complexo de inferioridade e um ressentimento historicamente geridos em relação à Europa Ocidental, os Países Bálticos – Letônia, cuja capital é Riga, Estônia e Lituânia – sempre sofreram as invectivas do imperialismo russo. Assim, os civilizados “colegas” do homem do subsolo que há pouco o haviam humilhado agora fornecem o furor para que o ressentimento subterrâneo seduza e humilhe a prostituta letã. E assim teríamos a transferência inequívoca da dor para o outro, mas, em um primeiro momento, o homem do subsolo lança mão de uma conquista livresca para ganhar a confiança de Liza e doutriná-la a deixar, de uma vez por todas, a vida no meretrício. A jovem se vê cativada e revela ao protagonista que chegara a receber, há poucos dias, uma carta de um estudante que, insciente em relação à sua vida desgraçada, a queria cortejar. Liza poderia então casar-se! O homem do subsolo tenta sufocar a compaixão que sente e, num rompante, dá seu endereço para Liza a fim de que os dois continuem a conversar em um local mais humano. O desfecho do imbróglio de fato leva Liza, alguns dias depois, à casa de nosso protagonista, e o momento da chegada da jovem não poderia ser mais dostoievskiano – o homem do subsolo acabara de ser humilhado por seucriado, o altivo Apolón que, munido de efetiva consciência de classe, se recusava a fazer os serviços até que seu salário atrasado lhe fosse pago. Assim, ainda uma vez, a humilhação deve ser paga com mais humilhação. Então o homem do subsolo começa a injuriar Liza e passa a lhe dizer que tudo aquilo que havia recomendado a ela no bordel não passava de um engodo para seduzi-la e torná-lo altivo perante seus olhos. O homem do subsolo se faz trêmulo, diz e se desdiz e, no ápice da fúria que se mescla ao torpor, começa a chorar. Ora, mais um motivo para despertar sua suscetibilidade doentia, porque ele chora diante de uma prostituta, se rebaixa diante da mais vil das criaturas socialmente proscritas. Mas eis que a maestria de Dostoiévski atua ainda uma vez para que a dúvida irrompa do seio da crise: Liza não se mostra uma desalmada que simplesmente relega o homem do subsolo. Ela se condói pelo outro e começa a chorar junto com o protagonista como que a tomar para si sua dor. Então, o homem do subsolo, o ressentido por excelência, o ardiloso, o maquiavélico, o sádico, o masoquista, expele a dúvida e revela que Pandora também o visita no subsolo:
– Não me deixam… Eu não posso ser… bondoso! – mal proferi; em seguida fui até o divã, caí nele de bruços e passei um quarto de hora soluçando, presa de um verdadeiro acesso de histeria. Ela deixou-se cair junto a mim, abraçou-me e pareceu petrificar-se naquele abraço.

De onde vem esse ímpeto de bondade?"

(Flávio Ricardo Vassoler)




Which is better?

Cheap happiness

or

noble suffering?

Well, which is better?






I was by then incapable of loving because, I repeat, to me loving meant tyrannizng and flaunting my moral superiority. I've never been able even to imagine any other kind of love, and I have now reached such a point that I sometimes think love consists precisely of the voluntary gift by the loved object of the right to tyrannize over it. ... I could not even imagine what to do with the conquered object. ... it never ocurred to me that she had come, not at all to listen to pathetic words, but to love me, for to a woman love means all of resurrection, all of salvation from any kind of ruin, all of renewal of life. 


She understood out of all this what a woman, if she loves sincerely, will always understand before all else. She understood that I was myself unhappy. ... I don't know. To this day I cannot decide, and at that time I was, of course, even less capable of understand it than now. I know that I cannot live without power, without tyrannizing over someone. ...Yet... yet no amount of reasoning can explain anything, and so there is no point in reasoning. 







When from thine error, dark, degrading, 
With words of fiery persuading,
I drew thy fallen spirit out; 
And thou, thy hands in anguish wringing, 
Didst curse, filled with a torment stinging, 
The sin that compassed thee about;
When thou, thy conscience dilatory 
Chastising with the memory's shame,
Didst there unfold to me the story 
Of that which was before I came;
And sudden with thy two hands shielding
In loathing and dismay thy face,
To floods of tears I saw thee yielding, 
O'erwhelmed, yea prostrate with disgrace
Trust me! Thy tale did not importune; 
I caught each word and tired not.
I understood, child of misfortune!
I pardoned all, and all forgot. 
Why is it then, a secret doubting 
Still preys upon thee every hour? 
The world's opinion, thoughtless flouting, 
Holds even thee too in its power? 
Heed not the world, its lies dissembling, 
Henceforth from all thy doubts be free; 
Nor let thy soul, unduly trembling, 
Still harbor thoughts that torture thee. 
By grieving fruitlessly and vainly 
Warm not the serpents in thy breast, 
Into my house come bold and free,
Its rightful mistress there to be.


(Nikolai Alekseevich Nekrasov)





You see, Liza - I'll talk about myself! If I had had a family as a child, I'd be a different man. I think about it often. After all, no matter how bad things are in a family, you're still with your mother and father, not enemies, not strangers. They'll show you some affection at least once a year. At least you know it's your own home. I've grown up without any family; that must be why I've turned out like this... without feelings."

Love is God's mystery and should be hidden from outsider's eyes, whatever happens. This makes it holier, better. The husband and the wife respect each other more, and a great deal is founded on respect.


I received countless millions and immediately gave them away for the benefit of humanity, at the same moment confessing before the crowd all my infamies, which, of course, were not mere infamies, but also contained within them a wealth of 'the lofty and the beautiful' of something Manfred-like





In every man's memory there are things he won't reveal to others, except, perhaps, to friends. And there are things he won't reveal even to friends, only, perhaps, to himself, and then, too, in secret. And finally, there are things he is afraid to reveal even to himself, and every decent man has quite an accumulation of them. 


Actually, I hold no brief for suffering, nor am I arguing for well being. I argue for... my own whim, and the assurance of my right to it, if need be... I am convinced that man will never give up true suffering - that is, destruction and chaos. Why, suffering, is the sole root of consciousness. Though I declared that consciousness, in my view, is man's greatest misfortune, I know that man loves it and will never exchange it for any satisfactions. 


"So here it is, here it is at last, the confrontation with reality,"
I muttered, running headlong down the stairs.
"No, this is no longer a vision of the Pope leaving Rome and departing for Brazil!" (p. 96) 
 
... all of man's purpose, it seems to me, really consists f nothing but proving to himself every moment that he is a man and not an organ stop! Proving it even at a cost of his own skin; even at the cost of turning back into a troglodyte. 



... where did our sages get the idea that man must have normal, virtuous desires? What made them imagine that man must necessarily wish what is sensible and advantageous? What man needs is only his own independent wishing, whatever that independence may cost and whatever it may lead.


I will explain it to you. This pleasure comes precisely from the sharpest awareness of your own degradation; from the knowledge that you have gone to the utmost limit; that is despicable, yet cannot be otherwise; that you no longer have any way out, that you will never become a different man; that even if there were still time and faith enough to change yourself, you probably would not even wish to change; and if you wished, you would do nothing about it anyway, because, in fact, there is nothing to change to.

And the chief and final point is that all of this proceeds from the normal and fundamental laws of an excessive consciousness, and from the inertia which is the direct outcome of these laws; hence you not only will not change yourself, but simply cannot do a thing about it in any case. 


Living past forty is indecent, vulgar, immoral! Now answer me, sincerely, honestly, who lives past forty? I'll tell you who does: fools and scoundrels. I'll say that in the face of all those venerable old men, all those silver-haired, sweet-smelling old men! I have a right to say it, because I'll live to sixty myself. To seventy! To eighty! ... Wait, let me catch my breath...


DOLEO, ERGO SUM


I am at fault by natural law, because I am more intelligent than anyone around me. I've always considered myself more intelligent than anyone around me, and, would you believe me, I've sometimes even felt embarrassed by it.

Perhaps the only reason I regard myself as an intelligent man is that I've never in my whole life been able either to begin or to finish anything... and now [at forty] I am eking out my days in my corner, taunting myself with the bitter and entirely useless consolation that an intelligent man cannot seriously become anything. 





And why are you so firmly, so solemnly convinced that only the normal, and the positive - in short, only well-being - is to man's advantage? ... After all, man may be fond not only of well-being. Perhaps he is just as fond of suffering? Perhaps suffering is as much in his interest as well-being? And man is sometimes exremely fond of suffering, to the point of passion, in fact. And here there is no need to consult world history; ask your own self, if you're a man and have lived at all. As for may personal opinion, it's even somehow indecent to love only well-being. (I, ix) 


O que significa ser humano?

As respeitáveis formigas começaram pelo formigueiro e hão de acabar por ele, o que é prova de sua constância e respeitabilidade. Mas o homem é um ser volúvel, inconsequente, e talvez como o jogador de xadrez, apenas tenha prazer nos meios e não nos fins em si mesmos: quem sabe (ninguém poderia demonstrar o contrário) se o fim para que a humanidade propende constituirá apenas nesse incessante esforço para chegar. 

The Crystal Palace - London - 1854


Conservo a firme convicção de que não só a consciência demasiada constitui uma doença, como de que a consciência, só por si, por pouca que seja, já o é também. 




"Hypocrite lecteur!

- mon semblable, mon frére..."


O fruto imediato e lógico da consciência é a inação, a inércia consciente. Já disse e repito que todas as pessoas que saem do vulgar, e todos os homens de ação são precisamente assim porque são estúpidos e de vista curta. Como explicar isso? Da seguinte maneira: por causa de sua mediania, tomam as causas segundas, as mais imediatas, por causas primeiras, e sem demora e sem dificuldade convencem-se de que encontraram um fundamento imutável para sua atividade, tranquilizam-se, e isso é o mais importante. Porque para poder atuar, é preciso antes de mais, estar completamente tranqüilo, não ter a menor dúvida. 




The anthropological principle in philosophy: Nicholas Chernyshevsky

Striving may be more important to man than achieving, the journey more important than arrival at a goal. 

My preoccupations take the place of my occupations; the dialogue with myself takes the place of dialogue with others, leaving me the spectator of my absent life. 


... And all out of boredom, gentlemen, all because I was crushed by sheer inertia. For the direct, inevitable, and logical product of consciousness is inertia... all direct and active men are active precisely because they are dull and limited.

In fact, the best thing would be this: if I myself believed at least a jot of what I have just written. I swear to you, gentlemen, I don't believe a single word, not one, of what I've scribbled just now! That is, I do, perhaps, believe it, yet at the same time, heaven knows why, I have a feeling, a suspicion that I am lying like a cobbler.




9 comentários:

  1. Não tendo roupa adequada para comparecer a um evento social, nosso anti-herói do livro do mês considera vestir o uniforme que usa para ir ao trabalho. Algo semelhante ocorreu em outra obra literária cuja protagonista é bem conhecida do CLIc. O livro que conta esta bela saga existencial está disponível para venda na estante do concierge para quem quiser conhecer não apenas notas do subsolo, mas também observações sobre o sentimento do belo e do sublime.

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    1. Eu conheço esse livro cuja protagonista é membro do CLIc, aliás, li e adorei todos os quatro livros da autora, na minha opinião uma alma muito, muito elegante.

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  2. Espero que esse livro não leve metade dos leitores do clube de leitura para os divãs psicanalíticos! Digo leitores, não leitoras, porque este tipo de reflexões subterrâneas, de subsolo, de porão, só homens têm. Mulheres me parecem viver mais "a céu aberto", se entendem o que quero dizer. Nunca vi nem li nada a respeito de alguma mulher, personagem real ou de ficção, que tivesse o tipo de memórias que esse anti-herói de Dostoiévski revela.

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  3. Estou gostando muito da releitura do livro...li há muitos anos.
    Evandro...que bom se os homens tambem buscassem mais a Psicanalise...Será que as mulheres realmente vivem mais "à céu aberto"?UH!!!!

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  4. E fiquei me questionando se algum de nós já não viveu aquelas "tempestades" do imaginário. Se tivemos algum momento num tenebroso subsolo. Quem revelaria momentos assim dolorosos? Acho que eles ficam no porão da alma, estagnados, até que alguém tenha a coragem de revirá-los.

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    1. ,Será melhor se esse alguém for a gente mesmo? Revirar os subsolos é doloroso, mas pode ser libertador. Estou em processo, muitos degraus ainda a descer.

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  5. Muito pirado esse homem do subsolo! Se fosse menos ainda seria bastante. Hoje em dia ninguém mais é assim, as pessoas tem whatsap, facebook, vão cinema, frequentam clubes de leituras, etc., têm mais o que fazer, não vivem enfurnadas em porões. Recomendo uma biblioterapia para esse cara, ou uma visitinha ao divã de um terapeuta. O CLIc tem vários!

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  6. "Oh! se eu não fizesse nada unicamente, por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então! Respeitar-me-ia justamente porque teria a capacidade de possuir em mim ao menos a preguiça; haveria, pelo menos, uma propriedade como que positiva, e da qual eu estaria certo. Pergunta: quem é? Resposta: um preguiçoso. Seria muito agradável ouvir isto a meu respeito. Significaria que fui definido positivamente; haveria o que dizer de mim. "Preguiçoso!" realmente é um título e uma nomeação, é uma carreira. Não brinqueis, é assim mesmo. Seria então, de direito, membro do primeiro dos clubes, e ocupar-me-ia apenas em me respeitar incessantemente." Dostoiévski - Memórias do subsolo

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