Sábado - 17h00
24/04/2021
Google Meet
Um coletivo não pode organizar-se para alcançar nenhuma forma de perfeição sem destruir a liberdade de muitos, sem levar de roldão as belas diferenças individuais em nome dos pavorosos denominadores comuns.
Quem ama sabe, e tem por sabedoria tudo o que concerne ao seu amor, sacralizando o detalhe mais trivial dessa pessoa. (pág. 22)
Uma vida mental rica e própria exige curiosidade, malícia, fantasia e desejos insatisfeitos, isto é, uma mente "suja", maus pensamentos, floração de imagens proibidas, apetites que induzam a explorar o desconhecido e a renovar o conhecido, desacatos sistemáticos às ideias herdadas, aos conhecimentos manipulados e aos valores em voga.
Egon Schiele Ausstellung im Georg Schäfer Museum in Schweinfurt
... pois existiria prazer maior, para mim, do que te satisfazer? Para ti e por ti, fui Messalina e Leda, Madalena e Salomé, Diana com seu arco e suas flechas, a Maja Desnuda, a Casta Susana surpreendida pelos velhos luxuriosos e, no banho turco, a odalisca de Ingres. Fiz amor com Marte, Nabucodonosor, Sardanapalo, Napoleão, cisnes, sátiros, escravos e escravas, emergi do mar como uma sereia, aplaquei e aticei os amores de Ulisses. Fui uma marquesinha de Watteau, uma ninfa de Ticiano, uma virgem de Murillo, uma Madona de Piero della Francesca, uma gueixa de Fujita e uma rameira de Toulouse-Lautrec. Deu trabalho equilibrar-me nas pontas dos pés como a bailarina de Degas e, acredita, para não te decepcionar, até tentei me transformar, à custa de cãibras, naquilo que denominas o voluptuoso cubo cubista de Juan Gris.
"Sou o mais tímido dos tímidos. Sou divino." (p. 251)"
“(…)consegui encher o meu escritório de livros, gravuras e quadros que me couraçam contra a estupidez e a vulgaridade reinantes e formar um enclave de liberdade e fantasia onde , todos os dias, melhor dizendo todas as noites, consegui desintoxicar-me da espessa crosta de convencionalismos embrutecedores, vis rotinas, atividades castrantes e gregarizadas que você fabrica e das quais se alimenta, e viver, viver de verdade, ser eu mesmo, abrindo aos anjos e demónios que me habitam as portas gradeadas atrás das quais – por sua causa, sua – são obrigados a esconder-se o resto do dia.” (Pág. 230)
"Não sabemos: só podemos conjecturar"
"Os cadernos de dom Rigoberto é um livro arrebatador sobre a arte de amar, em suas formas mais variadas e profundas. Lançado originalmente em 1997, tornou-se um sucesso mundial. No romance, Vargas Llosa retoma os personagens de seu romance Elogio da Madrasta, de 1988, para narrar uma nova história de paixões e intrigas. Dom Rigoberto, embora seja um homem discreto, leva uma vida dupla. De dia, comporta-se como um senhor respeitável e de hábitos metódicos. À noite, aproveita as madrugadas insones para registrar fantasias amorosas em seus cadernos. Neles, sua ex-mulher, a voluptuosa Lucrecia, ocupa sempre o espaço da personagem principal. Por trás da aparência austera de corretor de seguros, esconde uma obsessão pelas mais loucas fantasias sexuais. Embora tenha passado anos de completa felicidade com Lucrecia - uma mulher sensual que amava atender seus desejos -, Rigoberto interrompeu bruscamente o idílio em que viviam quando descobriu que ela e Fonchito - filho de seu primeiro casamento - mantinham um tórrido caso amoroso. Assim, viu-se obrigado a expulsá-la de casa. O que dom Rigoberto não sabe é que foi o filho quem seduziu a madrasta, num plano maquiavélico para afastá-la de suas vidas. Agora, o destino de Lucrecia e dom Rigoberto está prestes a mudar. Fonchito, misteriosamente, põe em operação um plano para voltar a unir o casal. Mesmo sem descobrir o que o menino pretende, Lucrecia se deixa levar por essa nova artimanha que a colocará, mais uma vez, em contato com o que mais desejou."
“Um rebanho, como se sabe, é composto por gente sem voz própria e de esfíncter mais ou menos débil. É um facto comprovado, aliás, que, em tempos de confusão, o rebanho prefere a servidão à desordem. Daí que aqueles que agem como cabras não tenham líderes mas sim cabrões. E alguma coisa se nos deve ter pegado dessa espécie quando no humano rebanho é tão comum esse dirigente capaz de conduzir as massas até à beira do recife e, uma vez ali, fazê-las saltar para a água. Isto se não lhe ocorrer assolar uma civilização, que é uma coisa também bastante frequente.” (Pág. 119)
A gata peluda, se você me entende.
L'origine du monde: Gustave Courbet
«Tenho o feiticismo dos nomes, e o teu enleva-me e enlouquece-me. Rigoberto! É viril, é elegante, é brônzeo, é italiano. Quando o pronuncio, em voz baixa, corre-me uma cobrazinha pelas costas e gelam-se-me os calcanhares rosados que Deus (ou, se preferes, a Natureza, descrente) me deu. Rigoberto! Ridente cascata de águas transparentes. Rigoberto! Amarela alegria de pintassilgo a celebrar o sol. Onde estiveres, estou eu. Quietinha e apaixonada, eu aí.»
"(…)consegui encher o meu escritório de livros, gravuras e quadros que me couraçam contra a estupidez e a vulgaridade reinantes e formar um enclave de liberdade e fantasia onde , todos os dias, melhor dizendo todas as noites, consegui desintoxicar-me da espessa crosta de convencionalismos embrutecedores, vis rotinas, actividades castrantes e gregarizadas(...)
Excelente reunião. Cada pessoa contribui com uma visão própria, única, o que é muito enriquecedor. Amo esse clube.
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