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Prezados participantes do CLIc,
Terminamos hoje nossa primeira produção conjunta, o conto Meu
Carnaval preferido. Foram 290 acessos ao post “Brincadeira de Carnaval”
até às 12h de 01/02/2013, com 28 comentários e muitas risadas. Agradecemos a
todos que colaboraram, escrevendo ou lendo, e transformando a ideia num sucesso.
Na reunião de hoje haverá o sorteio de dois livros aos
autores participantes: Benites, Carlos Rosa, Elenir, Eloisa, Evandro, Gracinda,
Luzia, novaes/, Rita, Rosangela, Rosemary, Rose Pinto, Sonia e Vera Freire.
Abaixo, o conto final.
MEU CARNAVAL PREFERIDO
Eram seis
horas da tarde. O sol seguia ainda brilhante por conta do horário de verão. Eu
espiava pela cortina a moça do apartamento de frente experimentando sua roupa
de Carnaval. Ela era destaque da Unidos da Viradouro e usava um biquininho,
ó...
Contemplei
seu corpo, temeroso de ser descoberto em minha travessura de homem-menino, e
mais que seu corpo admirava-me a alegria em seu rosto, como se aquela fantasia
resumisse a vida, uma felicidade inteira concentrada naquele momento, naquele
desfile, alguns minutos de êxtase na passarela. Ela experimentava a fantasia...
e, confesso, eu também. Claro, a fantasia que eu experimentava estava apenas em
minha mente, era a fantasia de um amor de Carnaval. Sim, é verdade, o biquini
minúsculo e o corpo convidativo em muito contribuíam para isso. Mas espiar
aquele momento mágico, o instante do encontro da artista com seus aparatos de
corpo - as sandálias enfeitadas, a tanguinha, as plumas, os seios em purpurina
e, por fim, o adereço de cabeça com mais plumas - observar esse momento e o
brilho dos seus olhos, puxa, isso sim me levava à paixão, claro, claro, sem
jamais desconsiderar o tônus de sua pele e suas formas apetitosas... Embora eu
me escondesse aqui, no outro bloco deste prédio, vizinho oculto, perguntava-me
até onde iria a coragem dessa minha paixão. Como faria para abordá-la? O que eu
poderia dizer?
Seu corpo
era escultural. Depois de vestir as duas peças,que eram recobertas de paetês
coloridos, ela se contemplou no espelho do armário, virando de um lado e de
outro para melhor apreciar a linda imagem ali refletida. Talvez já impulsionada
pelos momentos carnavalescos que a esperavam, ensaiou uns passos que deveriam
seguir o ritmo do samba-enredo de sua escola.
“Tou me
guardando pra quando o carnaval chegar...”, foi o verso que lembrei, a música
que sempre me pareceu anunciar o Carnaval como o ápice da alegria, da
felicidade, do amor. "To me guardando pra quando o Carnaval
chegar...", chego a ouvir o Chico, o MPB4, e agora o objeto do meu desejo
estava ali, sambando para o espelho do armário, sem saber que me guardava atrás
da cortina e, afinal, o Carnaval estava chegando.
Ah, tesão!
Se ela sonhasse que tenho a maior fissura nela! O máximo que consegui chamar
sua atenção foi quando fiz de conta que não a via e cruzei a sua frente,
naquele dia à saida da farmácia, sem tempo para que ela se desviasse de mim,
tropeçasse e sem se desculpar me fuzilasse, ah seus olhos!, lascando um
depreciativo “MENINO!”. Injustiça! Ela que pensa, sou grande já, e ela gostaria
bem de mim se soubesse como sou. Fiquei com o perfume dela nas ventas. Respirei
fundo e prendi o ar, andando um tanto de olhos fechados, pra sentir bem como
ela era. “Um dia vou ter uma mulher assim”, me prometi. Enquanto isso, já nesse
Carnaval vou tentar alguma coisa, vou azarar. Ah, que vou! Mulher que gosta de
ser destaque aprecia ousadia.
Enquanto
era observada sem saber ser objeto do desejo, começou a ensaiar uns passos em
frente ao espelho. Seria o espelho meu único observador e crítico...Será que na
avenida, alguém irá notar os descompassos do meu coração?...
A moça de
corpo escultural pensando estar sozinha em seus pensamentos, sonhava encontrar
a felicidade que já espreitava com grandes olhos pela fresta da janela. Na
verdade não era a almejada felicidade, mas a obsessão dele pelo corpo já que o
coração não interessava nem no compasso do samba na avenida. Amor de
carnaval...
Lá está
ele, de novo me olhando através da transparente cortina de pequenas e delicadas
flores. Hoje de manhã esbarrou em mim, na porta da farmácia e eu fingi não
reconhecê-lo. De tão surpresa quase não contive minha alegria e gritei:
“MENINO!”. Sim, sempre ele, povoando meus sonhos, aquecendo meu corpo mesmo tão
distante... tão menino, tão ardente, tão transparente e ao mesmo tempo tão
simulado. E tão desejado... Ele não sabe que é pra ele que eu me visto e me
dispo...
No
entanto, não posso desistir agora, finalmente serei destaque na avenida e o
Jorge que me deu esta oportunidade, não pode descobrir que meus pensamentos não
são dele. Nem quero imaginar o que pode acontecer, Jorge é violento, já me
avisou que está com a barba de molho e seria uma tragédia uma barba ensopada de
sangue
Ela estava ansiosa para
entrar na Avenida, portando a bandeira da Escola, dançando e requebrando-se ao
rítmo do samba-enredo. Faltavam poucas horas para realizar o sonho que a
acompanhava desde menina. Mas, sob os cílios postiços, o rímel, as pálpebras
coloridas, seu olhar trazia, quase imperceptível, uma sombra de preocupação.
Joca, seu companheiro de alguns anos..Ele não aceitava ver a mulher que era
sua, como dizia, exibir-se para outros homens. O corpo quase nu, os seios à
mostra, as pernas bem torneadas, o exíguo biquini que mais realçava, do que
cobria, seu trazeiro roliço e bem fornido, e, ainda por cima, seus requebros
voluptuosos. Era demais para ele. Machista, orgulhoso e possessivo.
Características que já a estavam cansando. Entretanto, ela pediu, implorou,
disse-lhe que, na Avenida, era para ele que dançaria. Que a deixasse viver seu
sonho. Que esta seria a primeira e última vez, prometia.Tanto fez, e tanto
falou, e tanto chorou, que o convenceu. Mas... Joca estaria, realmente,
convencido?
Pobre Joca! Que vida é essa? Era preciso parar de se enganar. Seu envolvimento com vários homens ainda iria lhe prejudicar. E muito! Poderia acabar em tragédia! Joca não imaginava que ela tinha um amante. Joca e Jorge certamente se envolveriam em violenta briga se soubessem da existência um do outro. Arranjaria uma forma de se afastar de Jorge após o Carnaval. Seu envolvimento com ele era recente e sabia que não era nada sério. Também tinha que parar com as doentias fantasias exibicionistas com o homem da janela. Era preciso parar de ser leviana. Isso só a vulgarizava! Não pensaria nisso naquele momento. Seu sonho de entrar na passarela estava prestes a se realizar.
Pobre Joca! Que vida é essa? Era preciso parar de se enganar. Seu envolvimento com vários homens ainda iria lhe prejudicar. E muito! Poderia acabar em tragédia! Joca não imaginava que ela tinha um amante. Joca e Jorge certamente se envolveriam em violenta briga se soubessem da existência um do outro. Arranjaria uma forma de se afastar de Jorge após o Carnaval. Seu envolvimento com ele era recente e sabia que não era nada sério. Também tinha que parar com as doentias fantasias exibicionistas com o homem da janela. Era preciso parar de ser leviana. Isso só a vulgarizava! Não pensaria nisso naquele momento. Seu sonho de entrar na passarela estava prestes a se realizar.
Jurei para
o Jorge que essa seria última vez. Joca também acretida nisso. Mal sabem
eles... Pedrão prometeu que no próximo ano serei Madrinha da Bateria.
Ai que
estresse que é todos esses homens babando na sola de meu sapato. Nenhum deles
pode me dar o que eu quero. Quero brilhar, fazer sucesso, conquistar meu lugar
no mundo. Um bando de carcamanos que acham que vou empatar meu futuro em pouca
coisa. Daqui quero ir pro BBB, pro Metropolitan, chega de miserê. Quero sair
desse cortiço infestado de voyeurs, de marmanjo que acha que é dono da gente,
só porque um dia nos enganamos e fizemos algumas concessões, dispensando um
sorriso ou uma palavra de cumprimento na portaria. Que venha a virada com esse
destaque na Viradouro. Deus que me livre da sina de minha mãe que não conseguiu
nada na vida. Os homens de minha mãe só lhe legaram desgosto, deixando-a na rua
da amargura. Chega de Jocas, Zecas, Jorges, agora quero Johns, Winstons, Newtons.
A linda
cabrocha estava tão preocupada com suas formas e imagem que nem percebeu que
Jorge estava enfeitiçado pela beleza da filha do diretor da Escola, uma loura
fenomenal que havia se preparado para ocupar lugares de destaque na Escola e se
submeteu a implantes de seios, de nádegas, panturrilha e até na sola do pé,
para poder sambar em saltos altíssimos que precisa de certificação em
equilibrismo para se manter em pé, que dirá sambando com esplendor pesado nas
costas e sempre sorrindo de felicidade.
E ela continuava
a viajar em seus pensamentos. Vou desfilar a frente de 200 ritmistas, que
estarão obedecendo ao Mestre, mas é a mim que eles estarão reverenciando. Terei
também não só os olhos do menino do olhar peralta, mas de toda uma
arquibancada. Vou brilhar! Vou brilhar!
Sim, o
menino do outro lado me encanta, pela doçura de sua timidez, mas quem já tem
Jorge e tem Joca, que em breve dispensarei, não precisa de um menino tímido e
apaixonado. Preciso de Pedrão, do futuro que ele pode me dar, pelo menos do
futuro imediato. Depois, sim, fora Pedrão e que venha a Globo, as capas de
revista, quem sabe novelas. Corpo pra isso eu tenho. Por que desperdiçaria
minhas oportunidades com esse garoto olhudo e mudo? Ele é bonitinho, com seu
jeito envergonhado, mas a vida não é um conto de fadas.
Ela sambou
diante do espelho... estaria a se mostrar para mim? Sinto que ela me quer. Vive
cercada desses brutamontes; nenhum deles tem o sentimento que eu tenho por ela.
Sinto uma intensa atração, sim, mas ela mexe com meu coração, eu poderia amá-la
de verdade, eu a faria feliz, eu me casaria e me esforçaria por ela. Ela não
faz ideia... Eu sou o que ela precisa. Um cara sensível. Ela saiu da janela...
está se trocando... está saindo... Vou descer correndo, vou falar com ela lá
embaixo. Adeus janela, adeus cortina. Espero encontrá-la na rua.
Na rua,
ele viu, minutos depois, a sua paixão que encontrara um homem.Discretamente ele
se aproxima e ouve:
– Mas é
verdade que sua fantasia tem preocupações ecológicas, que trata de temas
politicamente corretos?
– É claro,
represento as biodiversidades.
– E o que
vai usar para isso? Ouvi dizer que usa plumas de diversas aves, couro de
jacaré? É verdade?
– É... um
pouco, afinal meu biquini é mínimo!
– Não tem
medo de que as pessoas se revoltem e façam uma manifestação durante o seu
desfile?
Aquele chato a estava importunando. Resolveu se aproximar
mais.
E então o
menino se fez homem, estufou o peito, lembrou da recente leitura da biografia
de Marighella e se animou, ganhou brio, e chamou com voz de macho, sem saber
que era Joca, apelido valente, seu rival de momento: “Ei, você aí, deixa a moça
em paz que ela está comigo!”.
E estava
formada a confusão...
Porém, a
magia do carnaval falou mais alto ao som de uma marchinha. Embriagado de lança
perfume e amor, ele desapareceu com sua eleita em meio ao bloco pré
carnavalesco que desfilava na rua naquele exato momento.
Mas ele
não estava embriagado, apenas, de amor e lança perfume. Havia tomado umas
"bagaceiras" e começava a cruzar as pernas para andar. Aquilo não era
dança, pensava ela, aflita.
E na
multidão, ele a perdeu. Um momento de descuido, uma olhada para o lado e... ela
se foi! Joca virava a cabeça, olhando por cima de ombros, entre milhares de
cabeças, máscaras, perucas, sorrisos, onde, onde? Salta para procurar melhor, é
empurrado, esbarra em corpos suados, agora desagradáveis, que o conduzem para
onde não quer ir. E lá vai Joca, levado pela corrente humana que pula, ri,
berra. Ele também empurra, tentando se livrar daquela enchente de povo, aquele irresistível
fluxo infame que parece afastá-lo de sua amada, sua amada... Quem a levou? Ou
ela se perdeu, indefesa e quase nua, a mercê de algum bruto? Joca esmurra a
carantonha pintada que parece lhe sorrir, soca as costas negras e luzidias que
lhe impede o caminho, grita, torna-se um aríete enlouquecido, desesperado para
livrar-se daquele inferno. O pensamento não para, ele a vê forçada, violentada,
possuída por algum caubói, ou por um palhaço como aquele que urina atrás da
árvore. Joca bate, empurra, e também é agredido. Toma um chute, um soco, leva
safanões, agarram-no pelo braço e o arremessam na sarjeta. Tonto,ferido,
ensanguentado, Joca olha aquilo tudo, a multidão sem sentido, a alegria insana;
por quê? Para quê? Onde, Meu Deus...?
Seus olhos ainda procuram. Então ele vê,
num canto de parede, um corpo escultural coberto pelas duas peças com paetês
coloridos, uma beleza de mulher capaz de obscurecer qualquer beldade desses
BBBs da vida. Ela, era ela. Envolta em braços alheios, uns braços peludos, mãos
que penetravam pela calcinha, dedos que percorriam seus montes, planícies,
florestas... Joca se esqueceu das dores, levanta-se furioso, de novo um aríete
enlouquecido, mas dessa vez ainda mais endoidecido pelo ciúme, pela gana de
tirar sua amada dos braços de outro. E Joca se mete no meio dos dois:
"Larga ela! Larga seu f.. da p...!"
Ela se
afasta, se encolhe. E diante de si Joca vê um homem assustado, um senhor de
cabelos brancos, ainda forte, mas um idoso amedrontado e estático. Então, Joca
também para diante do homem. Olha-o surpreso, pasmado, atarantado, seus lábios
apenas balbuciam: "Papai... papai..."
Na
concentração, envolta em dúvidas, temores e inseguranças, Ana volta a
vislumbrar a figura do menino, dirigindo-se a ela em meio à multidão. Seu menino, seu único e verdadeiro
amor. Quisera perder-se em
seus braços, quisera não desejá-lo tanto, quisera não fosse tão menino... Joca, Jorge e Pedrão, com suas
fantasias machistas, suas alucinações, suas violências e suas brigas jamais
terão um verdadeiro espaço em sua vida. “Abro
mão de tudo, abro mão de todos. Que
venha o meu menino, com sua pele clara, seu cabelo liso, seu jeito de príncipe.
Grimaldi... que sobrenome
estranho que ele tem...”
Rolou
sangue nessa noite. Jorge e Joca enfurecidos e loucos de ciúmes brigaram até a
morte e, lá os dois corpos já estavam estendidos no chão.. Alguém os cobriu com
a bandeira da Escola.
Ao longe,
aquela morena escultural estava nos braços de Pedrão e faziam planos para a
entrada triunfal da Madrinha da Bateria no próximo Carnaval.
– Mamãe,
vem ver na televisão uma notícia extraordinária. Em todos os canais – minha
filha chamava-me.
– Ataque
terrorista põe fim ao Sambódromo, dizimando tudo e todos que ali estavam!
O destino
não compartilhou dos planos de Pedrão e de sua morena fagueira. Não quis que
ela ficasse com nenhum dos três, pensei.
As imagens de
destruição do sambódromo foram manchetes dias seguidos e o Rio de Janeiro ficou
de luto. Na charge do Chico, porém, além da morena boazuda com três homens a
seus pés, ardendo em luta canina, tremulava a bandeira da Riotur com a faixa: Meu carnaval preferido.
Tomara que ele vá para a Antologia do CLIc!
ResponderExcluirAí Benites, dessa vez a morena foi bem escolhida. Bem fornida, não achou Elenir?
ResponderExcluirBom trabalho, muita imaginação e colaboração! Só um grupo assim como o CLIC é capaz de tamanha façanha!
ResponderExcluirParabéns para todos e pela boa ideia de Rita!
Bjs Luzia Veloso
Boa noite clube, sugestão de livro para sorteio: Táticas de Guerrilha, Manual de sobrevivência e Dicas preciosas do Bope. Os vampiros do Crepúsculo se dariam bem nesse conto com tanto sangue. Também me diverti muito. Já tenho até ideia de como começar o conto de Páscoa com: O Bope tinha uns coelhinhos.
ResponderExcluirE sugestão de prêmio para a brincadeira de Páscoa, pode ser sorteio de 1 ano de resgate saúde da Amil.
Amigos, o conto ficou muito bom! Parabéns a todos! E o CLIc só crescendo com tudo isso. Rita, que dinâmica você é! Todos os participantes brilham na “avenida do conto”.
ResponderExcluirAbraços! Sonia Salim
Rita, somente hoje vi a postagem do conto. As palavras finais e a imagem da destruição do Sambódromo foram excelentes.Você é demais! Finais, demais, dei para rimar em tudo que escrevo. Penso que seja influência das marvilhosas trovas da Ilnéa.
ResponderExcluirBeijos