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15 de maio de 2022

A distância e o segredo entre nós: Thrity Umrigar

 

OK. OK. OK. Amei o primeiro livro, "A distância entre nós", de Thrity Umrigar. O livro me mostrou faces da Índia pobre de hoje em dia, que não deixa a desejar à das favelas brasileiras. Ao contrário. As latrinas coletivas são apenas um dos aspectos ainda mais insalubres e humilhantes do que temos por aqui.

O primeiro livro mostra que não importa a classe social. A violência doméstica é a mesma. Violência entre marido e mulher, cuja vítima esconde seus hematomas e dores para preservar a relação familiar doentia. É impressionante como é igual em todo o mundo. Não importa a cultura e a evolução do país. A violência doméstica, a força bruta, é usada para subjugar a esposa e a família. Pode ser na Dinamarca, no Brasil, nos EUA, na Índia... essa força bruta é um dado em comum nas sociedades até hoje em dia. Triste. Verdadeiro.

No segundo livro (O Segredo entre nós), obviamente torcemos por nossa querida Bhima e sua trajetória com a neta. Ela trabalha duramente (após o abandono de seu marido e a morte de sua filha e genro pela Aids) para que a neta Maya curse a faculdade e saia do triste destino dos analfabetos de seu país.

São as lembranças e o dia-a dia de Bhima e Parvati que nos mostrarão como é a diferença entre a elite e a classe oprimida da Índia (e do mundo). Moradia pobre, desemprego, fome, medo de acabar morando na rua... 

Nesse segundo livro, a entrada definitiva da personagem Parvati na vida de Bhima mostra outro problema mundial: a venda de uma filha pré adolescente para um prostíbulo em troca de um dinheirinho para tentar sustentar o restante da família miserável, num sertão sem clemência. E aí eu concordo com Parvati no final de sua vida. Não havia outra saída. Então os dois livros são maravilhosos, "né"? São! Entretanto... Entretanto a escritora mata o livro ao fazer um final utópico. Estava indo bem com o investimento de nossa heroína na feira, os estudos de Maya, a emersão de Parvati para uma amizade crível, etc. etc. etc. Mas no fim... Bem, o fim é de um conto de fadas... Decepcionante. Estava sendo um final feliz duro, mas real... até ela tentar transformar num conto de fadas resolvendo dissoluções familiares de uma maneira milagrosa e instantânea. Decepcionou.



Estou encantada com a autora. Quanta sensibilidade e sutileza. A melancolia no livro é inegável, mas não piorou minha depressão, ao contrário, me fez sentir menos sozinha. As mazelas vividas por duas mulheres de classes completamente diferentes, mostra que a dor das perdas, da violência doméstica, a incapacidade de romper com o casamento, não tem uma linha divisória entre as classes sociais. E a miserabilidade em que se vive nas favelas, sem estudo e lutando para dar à geração seguinte um caminho diferente através do estudo, da educação, é motivo para os maiores sacrifícios. Um amor inimaginável. Não morrer para poder, ao viver, ajudar uma neta a estudar e escapar do destino da pobreza. O segundo livro segue daí. Não vejo a hora de continuar a ler. Vou tentar arrumar tempo para comprar ainda hoje. Preferi gastar o tempo contando à vocês da emoção gentil que essa autora me desperta.

Estou sensibilizada e apaixonada, 😊


(Mônica Ozório)



Um comentário:

  1. Maravilha de comentários. Fiquei com vontade de ler as obras citadas.
    Parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻, Mônica 💐

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