Eu gosto das estrelas! Já inventei mil explicações
para a existência delas, já dirigi a elas mil preces, já confessei a elas mil
pecados. Mas o fato é que todas essas argumentações filosóficas aumentam minha
admiração pelas estrelas. Tantas reflexões que às vezes me oprimem, mas outras
vezes me libertam, entretanto é nesse leque de sensações que elas me
fazem trafegar.
Gosto quando os doutores da ciência
anunciam suas novas descobertas sobre elas e penso com os meus botões: acho que
eu já intuía isso há muito tempo! Gosto das estrelas de forma diferente de
quando se diz gostar de outras coisas. Explico. É que com elas o meu gostar não
é possessivo, não é exclusivista, pois gosto das estrelas mesmo sabendo que
milhões de pessoas gostam e quanto mais penso que mais gente está olhando pra
elas, mais eu gosto delas.
Como se sabe, as estrelas nos parecem
pequeninas, porque estão situadas a milhões de anos luz, mas mesmo assim,
apesar de tão distantes e aparentemente tão fraquinhas, minha admiração por
elas não faz diferença.
Falei das estrelas pra muita gente. Pra
algumas eu sentia que as palavras proferidas batiam naquela mesma região que
batia em mim, fazendo tremer o coração e brilhar os olhos, enquanto outras me
olhavam e como se estivessem querendo dizer : “ora, direis ouvir estrelas”!
Mas todas pessoas sem exceção me ouviam.
Sim, porque quem há de não ouvir quem fala das estrelas? Ou é um poeta, ou é um
louco, ou as duas coisas.
Herodes, não podia ouvir falar das
estrelas. Ainda mais que elas, na sua impassível distância, vaticinavam o
nascimento de um rei. E não faltaram em todo o oriente quem não queria ouvir
falar de estrelas, acreditaram tanto que prestavam honras pra este anunciado
rei.
Herodes não gostava de estrelas.
Elas o oprimiam.
Dizem que Abrahão, o patriarca da fé
judaica, se iniciou na sua jornada de conduzir os povos semitas para
comunicarem com Deus, quando olhava para as estrela. Puxa vida, como eu imagino
que sei o que se passava na cabecinha de Abrahão! Posso até imaginar seu
diálogo com elas: Como você é bonita! A qual tribo você pertence? Será que me vê! Como eu queria saber de você?
A resposta silenciosa da estrela instilou Deus dentro de Abrahão.
Eu falei muito de estrelas, falei tanto
que um dos filhos virou “astrônomo”. E os outros todos vivem no mundo das
estrelas, como diria a Ofélia, aquela do antigo programa de televisão “Balança
mas não cai”, que só abria a boca quando tinha certeza, referindo-se ao dito
popular dos que vivem no mundo da lua.
Também desenhei muitas estrelas, entre
as quais a Estrela de Davi e de Salomão, de cinco e de seis pontas, estrelas de
42 pontas referentes aos antepassados ancestrais de Jesus, estrelas sem ponta,
que não aponta nem desaponta.
Enfim, estrelas me acompanharam. até aquela
estrela que me acompanhou mais de perto, que me deixou (temporariamente), que
secretamente viveu aqui na Terra, sem que o mundo soubesse que era uma estrela,
que viveu brilhando, ainda que escondida, e que aqui assumiu o nome de Isabel e
que foi a razão secreta pra eu gostar tanto de estrela.
Aquiles Andrade sabe conduzir as palavras de maneira a anunciar constantemente o amor num desfecho revelador.
ResponderExcluirLindo e emocionante ao mesmo tempo.
Maravilhoso! Parabéns!
Sonia Salim
Eu também gosto de estrelas! O texto começou tão poético que até achei fugir um pouco seu estilo. Belo texto, Sr. Aquiles!
ResponderExcluirSalve, Sr. Aquiles! Que prazer conhecê-lo primeiramente em um texto sobre estrelas. Que delícia de prosa, de assunto, de homenagem ao amor. Saúdo a influência positiva que exerceu sobre seus filhos e o convite que faz a nós leitores, de olharmos mais para um céu de beleza e sensações partilhadas.
ResponderExcluirCaro Aquiles Andrade, apesar de perceber que você é um homem fortemente ligado ao Transcendente, ao “Mistério Absoluto do Universo”, não me vem à cabeça outra pessoa senão a figura de Carl Sagan, um cético famoso das ciências do século passado, falecido em 1996, e um cientista muito inteligente. Ficou famosa uma frase dele, que não me recordo se escrita em algum livro ou dita numa série de TV por ele apresentada (Cosmos) nos anos oitenta.
ResponderExcluir“Nós somos feitos de poeira de estrelas”, ou algo muito próximo a isto.
Nada mais tenho que acrescentar a este comentário sobre este seu texto tão carregado de sensibilidade e poesia. Um abraço,
Então somos a poeira que anseia ser estrela novamente!
ResponderExcluirValeu, Evandro. O astrônomo é você e somos nós que vivemos no mundo da lua? Mas foi legal. Gostei demais dessa crônica também. Ele vai ficar feliz em saber que você gostou e colocou no Blog do Clube de Leitura.
ExcluirAbraços,
Zizia
Que belo texto! Coisa boa ler ao começar o dia. Sensibilidade, escrita fina, delicioso de ler.
ResponderExcluirCarlos.
AH! ACHEI O TEXTO>>>GOSTEI MUITO>>astronomia fala das estrelas..literatura vive nas estrelas Ceci
ResponderExcluirAquiles, fico aqui admirando sua fluência, simplicidade, criatividade e entendo melhor o mundo.Quem ama estrelas como você, só poderia devolver belezas a ele! Obrigada por sua escrita.Estou lendo seu livro.
ResponderExcluirCom meu carinho e admiração,
Eloisa Helena