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2 de janeiro de 2023

Bartleby, o escriturário: Herman Melville





De acordo com Carlos Augusto Peixoto Junior, psicanalista e professor da PUC-RJ, como demonstra no artigo “Deleuze, Agamben e Bartleby”, publicado na Revista Trágica – Estudos de filosofia da imanência, Bartleby, como escrivão que deixou de escrever, “seria a figura extrema do nada do qual procede qualquer criação e, ao mesmo tempo, a mais implacável reivindicação deste nada como potência pura e absoluta. Ele, na verdade, teria se transformado na própria folha de papel em branco na qual se escreve. Por isso não seria estranho que ele se demorasse tão obstinadamente no abismo da possibilidade e não parecesse ter a menor intenção de sair dele. Assim ele se contrapõe a toda uma tradição ética que sempre tentou contornar o problema da potência reduzindo-a a termos como vontade e necessidade: ‘seu tema dominante não é o que se pode, mas o que se quer ou o que se deve’. Segundo Agamben, a potência não é idêntica à vontade, assim como a impotência não corresponde diretamente a uma necessidade. Acreditar que a vontade tenha algum poder sobre a potência, que a passagem à ação seja resultado de uma decisão que acaba com a ambiguidade da potência (a qual é sempre potência de fazer ou não fazer), seria justamente a grande ilusão de toda moral. Bartleby questionaria precisamente essa supremacia da vontade mostrando que ela não passa de um princípio que pretende pôr ordem no caos indiferenciado da potência”. (O Benedito)





Empregado em um cartório de Nova York e inicialmente muito ativo, Bartleby é tomado de uma paralisia encantatória que o impede de fazer quaisquer serviços. Uma aura de mistério começa a envolver o contemplativo e borgiano personagem.

Síndrome de Bartleby: "pulsão negativa ou atração pelo nada".


“Nada acontece, duas vezes!”


"No ministério de… Não, é melhor não dizer seu nome. Ninguém é mais suscetível do que funcionários, empregados de repartições e gente da esfera pública. Nos dias que correm, todo sujeito acredita que, se nós atingimos a sua pessoa, toda a sociedade foi ofendida."  (O capote: Gogol)

“As honrarias desonram, os títulos degradam, os empregos entorpecem” (Flaubert)



“você é amavelmente convidado a compreender o absurdo de querer imitar ou eclipsar obras-primas e a ver que o melhor que poderia fazer é eclipsar-se a si mesmo”. (Enrique Vila-Matas)


Bartleby também foi tema do Círculo de Biblioterapia, você participou?

Teoria da Decisão

Em nossas vidas existe uma alternância entre eventos rotineiros e aleatórios. Assim, ou estamos executando eventos estruturados – as chamadas rotinas ou somos surpreendidos por eventos não estruturados que ocorrem ao sabor do acaso.

Isto ocorre ao longo da existência do ser humano, desde que tomamos o controle e passamos a ser os responsáveis pela condução de nossa vida, posto que, felizmente nos é dado o livre arbítrio.

Ao iniciarmos cada dia sujeitamo-nos a algumas rotinas, como as matinais (higiene, alimentação, locomoção, etc.), de aprendizado, de trabalho, etc. que são estruturadas, pois existe uma seqüência lógica em suas execuções, que nos foram passadas ao largo de nossa educação, sujeitas a horários, precedências, métodos, para o melhor resultado em suas realizações.
  
Outras nem tanto, como o lazer, obrigações familiares ou sociais, etc., que por não estarem estruturadas nos surpreendem por vezes com situações inusitadas. Neste tipo de eventos somos forçados a tomar decisões para levar a bom termo o seguimento destes eventos e conseguir o melhor resultado, geralmente com alto grau de improvisação, equívocos ou acertos, decepções ou alegrias resultantes de nossos conhecimentos, habilidades e atitudes (competências).

A Teoria das Decisões nasceu com Herbert Simon, um emblemático da Escola Comportamental da Administração Convencional e da Escola Cognitiva do Pensamento Estratégico – Prêmio Nobel de Economia em 1978 – influenciando os seguidores com a visão que o mundo é grande e complexo, ao passo que o cérebro humano e sua capacidade de processamento de informações são altamente limitados.

Assim é que a tomada de decisões, embora siga um roteiro prescritivo, está sujeita a cognição do responsável pela mesma que varia da extroversão à introversão, da sensação à intuição, do raciocínio lógico à sensação e do julgamento à percepção. (K. Jung).

R.J. Tersine configurou seis elementos que o tomador de decisões deve seguir:

• Atribuição do indivíduo autorizado, credenciado e competente para tal,
• Objetivos: o que se pretende atingir,
• Preferências: critérios subjetivos utilizados na escolha de alternativas,
• Tática: curso de ação para atingir os objetivos considerando os recursos disponíveis,
• Cenários: aspectos ambientais (risco, incerteza) que envolvem o tomador da decisão em suas escolhas,
• Resultado: grau de sucesso no atingimento dos objetivos, função das táticas escolhidas;

Em sete etapas:

• Percepção: etapa inicial onde o tomador obtém as informações sobre a questão,
• Analise e definição do problema,
• Definição dos objetivos,
• Elaboração de alternativas ou cursos de ação,
• Avaliação e comparação das alternativas,
• Eleição da melhor alternativa,
• Implementação da alternativa escolhida.

 Embora o método seja racional, criterioso, prescritivo, detalhado, deve ser seguido para evitar improvisações, extrapolações, tendências, casuísmos que redundem em escolhas equivocadas causando prejuízo pessoal ou organizacional.

A contribuição relevante da Teoria das Decisões na Escola Comportamental foi contrapor-se à Escola Clássica no aspecto que as organizações são Sistemas Decisionais embasados na racionalidade limitada de seus membros, na imperfeição e relatividade das decisões, na hierarquização do processo de escolha de alternativas (planejamento e racionalidade) e nas influências de premissas organizacionais (divisão de tarefas, padrões de desempenho, sistema de autoridade, canais de comunicação e treinamento e doutrinação).


Eu prefiro não!



I WOULD PREFER NOT TO (prefiro não ...)


O paradoxo da resistência passiva


9 comentários:

  1. Depois de Oblómov, Bartleby, que figuraça! Prefiro não acreditar que estou conhecendo personagem tão marcante!

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  2. Bartleby está para a Literatura como o buraco negro está para a Astrofísica: o biombo alto e verde que serve para isolá-lo no escritório, demarca seu espaço de exceção, seu horizonte de eventos.

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  3. Adorei! A página sobre esse pequenino grande livro está uma riqueza! Sem demagogias, nosso Concièrge está como os velhos vinhos! Parabéns!
    Elo

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  4. Quem de nós não quis agir como Bartleby alguma vez na vida? Duvido que haja muitos nãos como resposta, porque quem de nós não se sentiu pelo menos uma vez aprisionado pelos deveres, pelas obrigações, por termos de trabalhar para sobreviver, se sujeitando a chefes que valha-me o bom Deus! Não seria tão bom viver nossa vida livremente, como bem entendermos, ler livros e conhecer pessoas novas, com a liberdade para fazermos as escolhas, certas ou erradas, sem sermos criticados pelos que vivem segundo as regras instituídas e para quem a diferença pode ser ofensiva. (N. Martins)

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  5. Melville nos comprova que apenas um só ser humano pode fazer uma grande diferença, e não apenas na sua própria vida. Muito bom.

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  6. Meus queridos,

    Vocês têm um grande livro nas mãos. A minha edição de "Bartleby, o escrivão" (é assim na minha edição da Cosac Naify - e também na da José Olympio e em outras) traz a você a possibilidade de interação com o texto. A edição é toda trabalhada (se não me engano foi premiada pelo formato e tradução), acompanha espátula para você cortar as páginas e vem com a capa costura para você descosturar, em papel escuro, cinza, como um retorno aos tempos antigos dos escrivães.

    Sobre o livro em si, é um desafio à razão e à lógica do mundo contemporâneo, da sociedade. Diverte e faz pensar sobre como vivemos no mundo. Além disso, influenciou e agradou a muitos escritores pelo mundo a fora como Albert Camus e Enrique Vila-Matas que escreveu o romance "Bartleby & Companhia", inspirado nesse livro e nos vários Bartleby que ele acredita existirem por aí. E a famosa frase do escrivão, quase um mantra, "Acho melhor não" é ótima!

    Boa leitura a todos!

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  7. Prefiro não ir na Reunião do CLIc amanhã, mas acho que vou assim mesmo!

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  8. Prefiro não perder , pois se perder, como viver, será somente um sofrer! Ai!. aia, ai!

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  9. Não perder, prefiro.
    Nada mais tenho a dizer.
    Aprendí com Bartleby.
    Elenir

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