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16 de junho de 2023

Recordando o Bloomsday - debate sobre a obra Ulysses, de James Joyce




1º edição: 1922

59 menções a sonhos na Obra





Debate ocorreu na Livraria da Travessa da Rua Sete de Setembro


Salve o Bloomsday !!!



"Senhoras e senhores,

Aproxima-se o Bloomsday. 

Nem todos teremos lido, nem todos teremos sequer começado... mas, como eu tinha comentado recentemente, seria importante tirarmos Ulisses do nosso sistema. Tem sido um longo caminho e, se como diz Anthony Burgess, Ulisses é um livro com o qual conviver, menos do que ler de um fôlego, qual fosse um romance policial, nunca deixaremos de lê-lo, em ocasiões diferentes, refletido em outros livros, refletido no impacto que teve na literatura ocidental e na forma continuará influenciando a crítica e o público na apreciação geral da literatura. 


Isso tudo fica muito pomposo... na verdade, na minha tentativa de ler Ulisses sem todo o peso da fortuna crítica envolvida, tenho até me divertido bastante. Mas tenho procurado usar o estatuto da "convivência", alternando-o com outras leituras, buscando uma certa leveza onde o tempo todo sugerem-nos solenidade e estudo dileto. 

Sou, por princípio, contra a teorização antes que o fenômeno tenha se concretizado. Sou contra o boato antes do fato. Só leio introduções e prefácios de literatura depois que os livros tiverem sido lidos. E assim procurei fazer com o Ulisses. Acho que ainda sigo a melhor forma. 

Assim sendo, estamos todos marcados para terça-feira, dia 16, para o nosso pequeno passeio no parquinho dublinense."

(Pedretti)


"Este é o livro ao qual todos somos devedores, e do qual nenhum de nós pode escapar"- T.S. Eliot

Com o épico Ulisses, sua obra maior, o irlandês James Joyce revolucionou o romance moderno. Transcorrido em um único dia - 16 de junho de 1904 - e em uma só cidade - Dublin -, o enredo de Ulisses consegue abarcar toda a gama das emoções e experiências humanas, que o leitor vivencia pelo olhos, ouvidos e entranhas de personagens inesquecíveis, como Leopold Bloom, Stephen Dedalus e Molly Bloom. 

Esta tradução de Ulisses, primorosamente concebida pela professora Bernardina da Silveira Pinheiro ao longo de sete anos de trabalho, tem a intenção de restituir o grande feito literário do século XX a quem de direito: o leitor. Com o mesmo registro coloquial do inglês usado por Joyce, mas sem abrir mão da riqueza linguística que o consagrou, a linguagem empregada nesta edição privilegia uma dimensão mais humana da obra-prima do autor, tornando-a acessível ao maior número possível de leitores.

James Joyce demorou sete anos para escrever Ulisses (de 1914 a 1921). Nesse período, atravessou a Primeira Guerra Mundial, passou por complicações financeiras e teve problemas de visão. Após terminá-lo, enfrentou ainda sérias dificuldades para publicá-lo. Depois de ser recusado no Reino Unido e nos Estados Unidos - onde foi considerado obsceno -, o livro foi finalmente editado em 1922 por uma pequena livraria em Paris, a Shakespeare & Company (foto ao lado), da norte-americana Sylvia Beach. Ulisses seria ilegal nos Estados Unidos até 1934, e só seria liberado no Reino Unido três anos mais tarde. 

Nele, intercalam-se as trajetórias de dois personagens principais, Leopold Bloom e Stephen Dedalus, pelas ruas de Dublin ao longo de um único dia, 16 de junho de 1904. Sua estrutura e referências remetem à Odisséia, épico de Homero sobre as peripécias de Ulisses (Odisseu, para os gregos) em sua jornada de volta a Ítaca. "Bloom é Ulisses vivendo suas pequenas aventuras em Dublin; Stephen Dedalus é Telêmaco em busca de um pai; Molly Bloom é ao mesmo tempo a iludida Calipso e a fiel Penélope", escreveu Anthony Burgess, para quem "Ulisses é um livro para se ter, com que se conviver".





"Sombras vegetavam silentes na paz da manhã flutuantes da escada ao mar para onde olhava. Na praia e mais além embranquecia o espelho d´água, pisado por pés lépidos e leves. Seio branco do mar turvo. Parelhas de pulsos, dois a dois. Mão tangendo as cordas de harpa fundindo-lhe os acordes geminados. Palavras pálidas do pélago aos pares rebrilhando na turva maré" (pág. 105)


Bloomsday 2012 - Sim, nós do CLIc lemos!


"Sozinha, um instante de verdade:
não gosto de Joyce
não entendo a forma
a forma
que forma
estilo nascido para marcar diferença."

                (Reflexão II - Rita Magnago)


" - Empresta aí esse teu portameleca para limpar a minha navalha...Uma nova cor pra paleta dos nossos poetas irlandeses: verderranho. Quase dá para sentir o gosto, não? Subiu novamente até o parapeito e mirou por sobre a baía de Dublin, seus claros cabelos de carvalhopálido mexendo leves. Meu Deus... o mar verderranho, o mar encolhescroto." (págs 99/100)


NOSSO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ JÁ LEU! SE VOCÊ PERDEU O EMBARQUE OU NAUFRAGOU NO PERCURSO, AGORA TEM UMA NOVA CHANCE NO CLUBE DA SETE. LEIA A CONVOCATÓRIA DO LIVREIRO ROBERTO PEDRETTI DA LIVRARIA DA TRAVESSA EMITIDA EM 18 DE AGOSTO DE 2014.



"Adotar Ulisses como nossa leitura de 4 de dezembro de 2014 consiste em dizer que, a partir de hoje, temos 108 dias para, se não o lermos integralmente, ao menos o bastante para tornar a reunião proveitosa.

Não é um feito inédito: nas reuniões dos clubes de todo o Brasil, conheci mediadores de 3 clubes que o tinham adotado - dois em São Paulo e um em Florianópolis. O ponto comum entre as impressões dos mediadores destes clubes foi de que as reuniões foram... inesperadas. O que quer dizer que levaram a caminhos muito distantes do que se poderia esperar da usual fortuna crítica solene que se agarrou ao romance feito craca e que não nos deixa fruir dele livemente, mas apenas pelo filtro de interpretações já consagradas. Ou seja: as reuniões foram boas porque as pessoas miraram "o livro" e não "a crítica". 


Há cerca de dois anos, Paulo Coelho disse numa entrevista que "Ulisses" tinha sido mais danoso que benéfico para a literatura universal. Acho um ponto de vista filistino um pouquinho exagerado, ainda mais partindo de alguém que se esbalda em ser o mais traduzido escritor brasileiro. Mas eu entendo o que ele quis dizer, e não está de todo errado: a unanimidade sacralizante que caiu sobre James Joyce (assim como sobre Shakespeare, Faulkner, Beckett, Proust e toda a literatura russa do século XIX) criou uma barreira quase intransponível para aqueles que quisessem fazer a coisa mais prosaica para as quais aqueles textos tinham sido pensados: lê-los. Não se imagina o ser humano civilizado e artistizado sentando confortavelmente em sua poltrona no fim do dia, tirando os sapatos, e entregando-se à leitura de um dos volumes de "Em Busca do Tempo Perdido" - ele precisa sentar-se, isso sim, à escrivaninha, cercado por notas e literatura de referência às pilhas, para começar o "estudo", e não a leitura. Assistir a uma peça de Shakespeare virou, no nosso tempo, um marco de solenidade esnobista tão consagrado que praticamente ninguém mais sabe o que está acontecendo no palco (às vezes nem os atores) - todos estão ali sentados na plateia "pelo significado cultural do evento", decorando frasezinhas aqui, citando outros autores ali, até o ponto de não nos permitirmos mais rir em suas comédias ou chorar em suas tragédias.



(Não sou fã do filme "Shakespeare Apaixonado", de 1998, que no geral é meio bobo e desperdiça um trabalho de produção sensacional, mas tenho que admitir que a tomada da estreia de Romeu e Julieta no Globe Theatre é matadora: ali, gente muito simples, alguns sujos do trabalho nas granjas, outros inclusive com animais domésticos no colo, assistia à peça pela "história que era contada", e se emocionavam. Sugiro a todos rever estas cenas e refletir sobre o que sobrava em um trabalhador rural analfabeto do seculo XVI que nos falta hoje). 



Acho que esse é o tipo de trabalho de desprendimento que podemos aplicar a Ulisses. Esqueçamos, ao menos num primeiro momento, sua fama de difícil. seus meandros criptografados, suas sutilezas intransponíveis. Acho que devemos, ao menos para esta reunião, seguindo o exemplo dos grupos que discutiram-no, abri-lo como abriríamos qualquer livro quando "lhe damos uma chance". "Vamos ver se vou gostar desse aqui..." é o que dizemos geralmente quando nos deparamos com um autor desconhecido ou com recepções mistas. E todo autor, até onde sei, gosta de pensar em seu leitor fazendo este movimento, rumo ao desconhecido, com o benefício de parar e chamá-lo de insuportável quando bem entender.



Na minha visão muito particular sobre Literatura, acho que uma obra de ficção deve bastar-se a si mesma para engajar o leitor. Ela pode ultrapassar este momento, ser muito mais significativa que ele, e isso faz os "bons" livros passarem a ser "grandes" livros. Mas entre o prazer do leitor e o labor do estudioso não deveria haver descontinuidade."







E DEPOIS... JUNTE-SE A NÓS!!!




NO

BLOOMSDAY

16 DE JUNHO DE 2015

18:00 h




R. Sete de Setembro, 54 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20050-009
Telefone:(21) 3231-8015


Contato: Roberto Pedretti

2 comentários:

  1. Evandro, espero estar comemorando com este pequeno grupo (quiçá vá crescendo bastante) em 2015. Estou lá pela página 200 de Ulysses e dessa vez a leitura é agradável. Quando me cansa, eu paro. Há muitos trechos bonitos e outras grotescos mas ricamente descritos. Espero ter fôlego para chegar ao fim.

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  2. "Esta obra representa o apogeu do foco moderno na vida interior e não em ações exteriores - em 260.000 palavras Joyce descreve um único dia na vida dos dublinenses Stephen Dedalus e Leopold Bloom, que no decorrer do dia fazem... bem, nada de mais, afinal" (Yuval Harari)

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