Fundado em 28 de Setembro de 1998

10 de abril de 2018

Suor: Rita Magnago




Uma pequena ostra
uma pequena abertura na ostra pequena.
Vejo o macio
sinto o escuro, o sinistro
o oco e a possível, improvável pérola.

Não posso pensar em caçar se quero encontrar.
O encontro é um acaso
ocaso.
Quero a aurora.
Não sei nada
e isso é tudo.

Incognoscível é a palavra que escolho
porque todas são nenhuma.
Não há letra nem sílaba
nem combinação que traduza a palavra não dita
a palavra que não se sabe, mas está lá
latente, latindo, mordendo a ponta da ostra
cansada de ser osso
ansiosa da carne rósea e macia
do lábio que não se diz.
Ainda.
Pra dentro da boca me levo
me engulo, engasgo
regurgito a palavra trabalhada 
por dentro da alma condoída, corroída.

Não é fluxo, é re-fluxo.
Não é poema, é floema.
É na troca que me faço orgânica.
Desfaço pesticidas de pele.
Sem superfície. 
A endoderme à mostra
Amostra de dentro da ostra
da dor, do re-torcer, do re-fletir.

Quem vai parir a pérola?

2 comentários:

  1. A formação da ostra demanda tempo, algo precioso nos dias atuais.
    Lindo poema, Rita Magnago! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Amei ❣️, Rita Magnago❗

    Que poema falante, gritante e penetrante, compartilhou.
    Desses que fazem o nosso ser refletir e lembrar que já amou.

    Que derramar da alma fascinante, Rita, você fez.
    Parabéns outra vez.

    Eu sou uma admiradora de bons textos.
    E os que cantam então
    São minha paixão.

    Estou longe de saber escrever e ler,
    Mas sou atrevida, acho que já deu para ver.

    A crente de Fortaleza
    03/06/22

    ResponderExcluir

Prezado leitor, em função da publicação de spams no campo comentários, fomos obrigados a moderá-los. Seu comentário estará visível assim que pudermos lê-lo. Agradecemos a compreensão.