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23 de maio de 2015

Clube Jovem - A letra escarlate: Nathaniel Hawthorne



Participantes do Clube Jovem, fora a letra A

A humanidade tem uma propensão de denunciar o pior de si mesma quando esse pior está personificado em outra pessoa. 


Considerado um dos maiores romances da literatura norte-americana, A letra escarlate, de Nathaniel Hawthorne, é o tema do debate da edição de maio do Clube de Leitura Jovem. O evento acontece na quinta-feira, dia 21, a partir das 18h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói). A entrada é gratuita.
Lançada em 1850, a obra explora questões como o preconceito, a intolerância e o moralismo. A história se passa em Boston, no século XVII, em uma comunidade puritana e tem como foco a narrativa de Hester Prynne. Enquanto seu marido estava desaparecido, Hester engravida e tem uma filha ilegítima, Pearl. Pelo relacionamento extraconjugal, ela é julgada e condenada por todos na cidade, que passam a desprezá-la. Como forma de marcá-la por sua traição, ela é obrigada a usar sempre a letra A, bordada em escarlate em suas roupas, para que todos a identifiquem como adúltera.
Apesar de ser questionada diversas vezes sobre o pai da criança, Hester não revela quem é o homem com o qual teve um relacionamento. Após o julgamento, seu marido reaparece na cidade e assume uma nova identidade, como Roger Chillingworth, para não ser associado ao adultério da esposa. No entanto, Roger não perdoa a traição de Hester, e busca descobrir quem é seu ex-amante e se vingar dele.


Que direito tem um fraco de se sobrecarregar com um crime? O crime é para os que possuem nervos de aço, para os que podem escolher entre suportar-lhe as consequências ou, se elas lhe pesam demasiado, devotar energias rígidas e bravias a um bom propósito, enxotando assim o remorso.





A indizível desventura numa vida falsa como a sua é que ela rouba a seiva e a substância das realidades que nos cercam, e o Céu destinou à alegria e à nutrição do espírito. Para o homem insincero, todo o universo é abstrato - é impalpável -, míngua-lhe nas mãos até desaparecer. E ele próprio - à medida que se mostra por esse prisma mentiroso - torna-se sombra, ou mesmo, deixa de existir. Os únicos elementos que continuavam lhe proporcionando uma existência real neste mundo eram a angústia do mais fundo da sua alma e o seu indisfarçável reflexo no organismo físico. 


Num campo severo
imenso
negro e triste
gravada a vermelho
a letra A subsiste!





O ambiente não deixava de refletir o respeito que sempre envolve o espetáculo da culpa e da degradação de um semelhante, enquanto a sociedade não estiver bastante corrupta para sorrir em vez de tremer diante dele. 






“Sem dúvida, alguns desses austeros e carrancudos puritanos devem ter pensado que seria mais que suficiente castigo de seus pecados que, com o rodar dos anos, o velho tronco da árvore familiar, coberto de respeitável camada de musgo, houvesse de produzir, na extremidade do seu ramo mais elevado, um preguiçoso como eu. Nenhuma das aspirações, que eu tenha acariciado, eles a teriam reconhecidas como digna de louvor. Nenhum êxito da minha existência - se, além do campo doméstico, ela algum dia brilhou num sucesso - seria por eles considerados senão como desprezível ou mesmo positivamente vergonhoso. 'Quem é ele?' - murmura uma sombra cinzenta de antepassado para a outra. 'Um escritor de novelas! Que espécie de ocupação na vida, que maneira será essa de glorificar Deus, ou de ser útil à humanidade dos seus dias e de sua geração?'"





RECOMENDAÇÃO PEDAGÓGICA

"Os brinquedos devem ser proibidos em todas as suas modalidades. As crianças devem ser doutrinadas neste assunto de tal maneira que se lhes mostre o que todos os divertimentos representam como perda de tempo e futilidade. Devem ser levadas a ver que os brinquedos distrairão de Deus os seus corações e as suas almas e não farão mais do que prejudicar a sua vida espiritual".






Nas ruas relvadas ou nas portas das casas, encontrava as crianças da colônia brincando dos brinquedos soturnos que o puritanismo permitia: ir à igreja, flagelar quacres, escalpar índios em combates simulados, ou apavorarem-se mutuamente imitando esgares de feitiçaria. 




Na rígida comunidade puritana de Boston do século XVII, a jovem Hester Prynne tem uma relação adúltera que termina com o nascimento de uma criança ilegítima. Desonrada e renegada publicamente, ela é obrigada a levar sempre a letra “A” de adúltera bordada em seu peito. Hester, primeira autêntica heroína da literatura norte-americana, se vale de sua força interior e de sua convicção de espírito para criar a filha sozinha, lidar com a volta do marido e proteger o segredo acerca da identidade de seu amante.




Aclamado desde seu lançamento como um clássico, A letra escarlate é um retrato dramático e comovente da submissão e da resistência às normas sociais, da paixão e da fragilidade humanas, e uma das obras-primas da literatura mundial.








Uma característica — que, acredito, pode-se observar mais ou menos em todo indivíduo num cargo público — é que, valendo-se do poderoso braço da República, torna-se desprovido de vigor  próprio. Perde, proporcionalmente à fraqueza ou à força que tivesse por natureza, a capacidade de se autossustentar. Se possui uma quantidade incomum de energia inata ou se a enervante magia da posição que ocupa não consegue encantá-lo por muito tempo, talvez recupere o poder que lhe foi   confiscado. O funcionário demitido — um privilegiado, mesmo que vítima do grosseiro empurrão que o atira cedo às batalhas de um mundo hostil — pode chegar a retornar a si e se tornar aquilo que nunca foi. Mas isso raramente ocorre. Geralmente, o sujeito finca pé o maior tempo possível até a própria ruína, e então é descartado, completamente sem estrutura, e sai cambaleante pelos difíceis caminhos da vida, fazendo o melhor que pode. Consciente da própria enfermidade — de que perdeu a têmpera de aço e a capacidade de adaptação —, dali em diante e para sempre, ele passa a olhar melancolicamente à sua volta em busca de ajuda externa. Sua esperança difusa e persistente — uma alucinação que, em face de todo o desânimo e da revelação de algumas claras impossibilidades, vai assombrá-lo enquanto viver e, imagino, como a agonia convulsiva da cólera, atormentá-lo até mesmo por um breve período depois da morte — é a de que, finalmente e sem muita demora, por alguma feliz conjunção de circunstâncias, possa ser reabilitado em sua função. Essa crença, mais do que qualquer outra coisa, é o que lhe rouba a energia e a disposição para qualquer empreendimento que talvez sonhasse em levar a cabo. Por que deveria trabalhar duro e mourejar, e dar-se a tamanho incômodo para se levantar da lama, se, não demoraria muito, o braço forte de seu Tio viria erguê-lo e ampará-lo outra vez? Por que tentaria ganhar a vida aqui ou achar ouro na Califórnia quando logo voltaria a ser feliz todo final de mês, com uma pequena pilha de moedas reluzentes saídas do bolso daquele mesmo Tio? É tristemente curioso observar como apenas um gostinho da repartição já chega para contaminar um pobre sujeito com essa singular doença. O ouro do Tio Sam — com todo respeito a esse valoroso senhor — tem, nesse aspecto, a capacidade de encantamento de um pacto com o Diabo. Quem quer que toque nessa riqueza deve ter cuidado ou pode acabar sendo engolido pela barganha, o que custará, senão sua alma, ao menos muitos de seus melhores atributos; sua tenacidade, sua coragem e sua obstinação, sua verdade, sua autoconfiança e tudo o mais que conforma o caráter de um autêntico homem.

Fonte

2 comentários:

  1. Ótimo livro, terminando de ler para ir ao meu primeiro encontro. Olha, na revistinha de cultura niteroi de maio, o dia do encontro esta marcado errado: 19/quinta. Pode causar confusão! Até quinta.

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