O conselho poderia ter sido dado a John Steinbeck, autor de Ratos e Homens. Parte importante de seu manuscrito foi literalmente comido por Toby, seu cachorro, em uma noite em que Steinbeck o deixou sozinho em casa. Em telefonema a seu agente o escritor disse: “Eu fiquei bem irritado, mas o pobrezinho deve ter feito isso em um momento crítico".
Se você conhece alguma curiosidade literária interessante, compartilhe com a gente escrevendo-a no campo "Comentários".
Fundado em 28 de Setembro de 1998
30 de setembro de 2013
O que leem outros Clubes de Leitura? (Bel-CLIc nº 006 de 01/10/2013)
Abaixo a relação de livros lidos este ano pelo Clube da Travessa (7 de Setembro)
- Flores Azuis: Carola Saavedra - 29/01/2013
- O Professor do Desejo: Philip Roth - 26/2/2013
- O Jantar Errado: Ismail Kadaré - 26/3/2013
- Se um viajante numa noite de inverno: Italo Calvino - 30/04/2013
- Uma solidão ruidosa: Bohumil Hrabal - 28/05/2013
- Hotel mundo: 25/6/2013
- Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra: Mia Couto - 30/07/2013
- Alta Fidelidade: Nick Hornby – 27/08/2013
- O amante do vulcão: Susan Sontag – 24/09/2013
Se você já leu algum destes livros, dê sua opinião no campo "comentários"
24 de setembro de 2013
Ah, você numa tarde em Itapuã...: Carlos Rosa Moreira
Itapuã Beach by Anna Brazão |
O calção de banho não era velho, foi
presente seu, mas a conversa dos coqueiros era macia, lembra? Acho que não
lembra, não é chegada a essas recordações, pensa que isso é nostalgia. Não é
não, boba, sinto dor não, nem saudade; sinto felicidade por ter visto você
naquela praia longa e deserta, numa tarde perdida de nossas vidas. Você
caminhava pela areia seca e às vezes deixava as águas tépidas do mar de Itapuã
molharem seus pés. Eu vigiava você com seu biquíni azul-marinho à procura de
búzios na areia. Os mesmos búzios com os quais os babalorixás consultam seus
deuses e que também enfeitavam seu biquíni. Todo homem deveria apreciar a amada
vindo de longe, imersa em distrações, sem se perceber observada. Mas tem de ser
a mulher amada, aquela amada pra valer,
à qual dedicamos todos os tempos e espaços, pelo menos naquele instante da
vida. Era assim que você vinha, com suas distrações, solta, livre, tornando-se
para sempre uma doçura em minhas lembranças. Eu a olhava embevecido, orgulhoso
por tê-la, cheio de intenções por sabê-la minha. Meu olhar a atraiu, você
sorriu e eu vi seus dentes pequenos e perfeitos, e desejei que voltasse logo
para perto de mim, para abraçá-la e sentir seus dentes em minha boca. À noite,
em nossa casinha de pano, falávamos de amor enquanto ouvíamos os coqueiros
dizerem coisas entre si, e eu cuidava de sua pele branca de carcamana que ardeu
ao sol de Itapuã. Cedinho, você sempre dormia. Eu caminhava até a água, bem
ali, a poucos passos da nossa casa. Recebia aquele afago morno das ondas
mansas, depois me sentava na areia, diante do mar que inaugurava um verde novinho todas as manhãs. E me sentia um
rei só por ter você, e, sem saber, por não ter passado. Tínhamos apenas o
desconhecido. Você logo acordaria para viver junto comigo esse desconhecido,
tão sem tamanho quanto o mar de Itapuã.
Hoje, sou um homem feio, cheio de
cicatrizes que desfiguram minha face. Aquela jovem de corpo perfeito e olhos
brilhantes não olharia para mim. Tenho um passado e espero por algum futuro,
mais um pouco pelo menos. Disseram-me que já não existem os serenos coqueirais
nos longos espaços da praia de Itapuã. E a igrejinha da Praça Caymmi,
referência naqueles tempos, é hoje humilde alegoria do passado. O desconhecido
tornou-se conhecido. Mas isso não importa, também não ligo se me considera um
nostálgico e não dê importância a essas lembranças. Saiba que ainda percebo o
arrepio em nossa pele queimada pelo sol daquelas tardes, pois havia sempre um
friozinho gostoso trazido pelo vento do mar. Do mar que Vinícius cantou e
contou que se encontrava com o céu, onde até hoje meus olhos se esquecem, e se
lembram de que a Terra toda rodava enquanto eu adormecia em seus braços, sob a
Lua morena de Itapuã.
20 de setembro de 2013
Entrevista em dose dupla: Elenir Teixeira & Sonia Salim
Escritoras
de várias antologias poéticas, Elenir e Sonia, ambas integrantes do Clic, nos
brindaram com uma entrevista-desafio. As perguntas foram formuladas por elas
próprias, sendo que a entrevistadora também tinha que responder à própria pergunta e à da colega. Vejam o
resultado e deem continuidade à entrevista utilizando o
campo “Comentários”.
Elenir Teixeira Sonia Salim
Que emoção você gostaria de despertar em um leitor de seus
textos?
Elenir: Que eu
despertasse nele as mesmas emoções e sentimentos que me levaram a escrever. Se
eu trouxer lembranças de minha infância, que ele consiga,
também, trazer as suas ao presente. Se houver carência e angústia no meu
texto, que ele, igualmente, as sinta comigo. Se eu falar de amor, que ele
se lembre dos amores vividos. Que ele sinta em seus cabelos a carícia da
brisa, se ela afagar os meus no meu verso. Esta é a relação idealizada por
mim entre autor e leitor.
Sonia: Quando eu escrevo, pretendo levar o
leitor a uma cadência nas palavras fazendo com que ele entre nas emoções
contidas no poema de maneira dançante, onde as letras e palavras brincam.
Como ou em quê, você se inspira para escrever seus poemas,
haicais, trovas?
Elenir: Quando
faço Haicais, inspiro-me na natureza. As paisagens, as flores, os
rios, o mar, as montanhas, me extasiam. Ando, sempre, com um caderninho e sob o
efeito desse arrebatamento escrevo meu HAICAI. Há textos que trazem aos
meus olhos lindas paisagens, descritas com muita sensibilidade,
como os da grande escritora Virgínia Woolf, inspirando-me um Haicai. Mas,
algumas vezes, faço-os sentimentais. Como os dedicados à minha bisnetinha ao
saber que estava a caminho. Quanto aos poemas e trovas, são,
geralmente, inspirados na própria vida; no meu quotidiano; nas minhas memórias,
nas minhas leituras.
Sonia: Às vezes
me inspiro em conversas com amigos, outras em fotos ou imagens que vejo pelas
redes sociais. Também me inspiro nas leituras diárias, alguns personagens tocam
a minha alma e impulsionam a imaginação. Sem contar dos momentos em que
preciso sair correndo para escrever as palavras que fluem e já está pronto o
poema, é só fazer pequenos acertos.
O que desencadeou ou concorreu para que você entrasse pelo
caminho da poesia?
Elenir: Sempre gostei de poesia. Quando menina,
gostava de recitar versos nas festinhas familiares e na escola. E, como todo jovem.
rabiscava minhas poesias. Mas, se as palavras me eram apaixonantes, os
números e as contas também me atraiam. Assim, a vida me levou
para esse lado. Trabalhei com cálculos e cifras por mais de quarenta anos. Ao
aposentar-me, dediquei-me à antiga paixão. Fiz várias Oficinas de
Literatura, dinamizadas pelos grandes escritores e amigos Wanderlino T. Leite
Netto e Lena de Jesus Ponte. Com ela, também, um Curso de Haicais, na Estação
das Letras. Fiz o Curso de Arte de Dizer, "Via Látea", com Marly
Prates. Dessa forma, novamente seduzida pela palavra, rendi-me de vez à
poesia.
Sonia: Eu já havia iniciado um blog, mas estava meio
paralisado até que um dia eu fiz uma conta no Twitter e conheci muitos amigos.
Meu primeiro poema "insensatez", surgiu em conversa com um deles,
desse dia em diante fui registrando tudo que eu escrevia no blog que tornou-se
mais e mais visitado. Então, eu diria que fui impulsionada para o mundo da
poesia através da interação com as pessoas.
Quais são seus autores preferidos? Nacionais e estrangeiros?
Elenir: São tantos que me é difícil
relacioná-los. Vou fazê-lo por gêneros.
Poesia: Cecília Meirelles; Carlos Drummond de Andrade;
Adélia Prado; Mário Quintana; Fernando
Pessoa. Haicais: Luiz
Antônio Pimentel e Lena de Jesus Ponte.
Contos e Crónicas: Clarice Lispector;
Machado de Assis; Chico Lopes; Eduardo Galeano; Rubem Fonseca; Ondjaki; Rubem
Braga...
Romances: Machado de Assis; Graciliano Ramos; Guimarães Rosa; Milton Hatoum;
José Saramago; Mia Couto; Camus, Dostoiévski...
Sonia: Eu caminhei
pouco no mundo da literatura e penso que não dê para falar muito. Acho
importante ser sincera porque os amigos ao tomarem conhecimento poderão ajudar
nas indicações do que eu preciso ler, do que é imprescindível para o
conhecimento. Deixarei alguns nomes, sem fazer distinção: Rubem Alves, Mario Sergio Cortella, Mario Vargas
Llosa, Arthur Schopenhauer,
Dostoiévski, Mia Couto, Eduardo Galeano.
16 de setembro de 2013
O que é viver bem, segundo Cora Coralina?
“Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo pra você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando velha. Eu não digo.
Eu não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a
vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.
O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica
mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre:estou ótima.
Eu nunca digo que estou cansada. Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros.
Então silêncio! Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades,
mas não sei se sou velha não. Você acha que eu sou?
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias
minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é
velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e
determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço,com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”
6 de setembro de 2013
CLIc e ANE marcam presença na 16ª Bienal do Livro (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)
Um ônibus
com integrantes do Clube de Leitura Icaraí (Dília, Cristiana, Gracinda, Elenir,
Adelina, Niza, Carmen Sá, Sissa e Cyana) e da Associação Niteroiense de
Escritores, atualmente presidida por Sissa Schultz, também do CLIc, partiu de
Niterói às 13 h de ontem, 5 de setembro, em direção ao Riocentro.
No
cardápio, um dia de celebração aos autores brasileiros, como nos conta Dília
Gouvea, uma das idealizadoras do tour literário:
“Planejamos
ir na segunda semana e em dia útil para fugir um pouco do tumulto, e acabou
sendo maravilhoso porque pudemos assistir ao debate sobre Clarice Linspector,
no Mulher e ponto, às 17:30h. A Beth
Goulart, que faz a peça “Simplesmente Clarice” estava lá, junto com a Teresa
Montero, que é uma biógrafa da escritora e a mediadora foi a jornalista da Globo
News Bianca Ramoneda. Excelente. Ainda deu para participar do sarau de poesias
no Café Literário às 20h, com a
Viviane Mosé, Alberto Pucheu, Antonio Calloni e Paulo Britto, mediados pelo
Ítalo Moriconi. Só faltou mesmo o painel sobre o Leminski, que infelizmente era
no mesmo horário do da Clarice”.
Sissa
também destacou a qualidade da palestra sobre Clarice, mas lamentou a
organização da festa literária e o excesso de barulho de crianças e
adolescentes, muitos em turmas escolares. Esse, aliás, foi também um ponto
negativo destacado por Eloisa Helena, que esteve na Bienal antes, no sábado, 31
de agosto:
“O que mais me surpreendeu foram os gritos de adolescentes e
sua alegria com a presença de seus ídolos atuais. Livros não combinam com
gritos, mas o que me encantou foi encontrar, na Companhia das Letras, a luxuosa
presença de todos os livros de Philip Roth. Isso me fez acariciar, mais uma
vez, o sonho de ler esse autor completamente. Comprei e vi livros que paquero
faz tempo: segui uma recomendação do Alfredo Monte e adquiri A verdadeira vida de Sebastian Knight,
de Vladimir Nobokov - pelo que já folheei e li, vou amar; adquiri Memória de elefante, António Lobo
Antunes; como assisti ao filme O Clube de Leitura de Jane Austen, resolvi
comprar Persuasão. Guiada ainda por
um comentário antigo de Graciliano Ramos, que considerava Tolstói o maior
escritor do mundo, comprei A Morte de
Ivan Ilitch. Mais um de Dostoiévski ....Mais Graciliano. Quase comprei A Marca Humana, de Phlip Roth, mas
estava já com a sacola cheia, mas alisei, alisei, rsrs. Em breve vou adquirir mais esse”.
E você
também foi à Bienal? O que achou? O que comprou? Pegou autógrafo? Compartilha
com a gente através do campo "Comentários"
Vale-cultura poderá ser usado para livros (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)
Vem aí o
vale-cultura, benefício no valor de R$ 50,00 com uso polêmico: de livros a
festas populares, passando por cinema, CDs, DVDs, cursos de arte, exposições,
etc, etc, etc. A portaria que estabelece as condições de uso será publicada
hoje, 6 de setembro, pelo Ministério da Cultura e, a princípio, o vale será concedido por todas
as estatais.
Ainda em setembro terá início uma campanha visando estimular as empresas a aderir, com o incentivo de deduzir até 1% no seu IR. O que você acha deste programa? Dê sua opinião no campo "Comentários".
Ainda em setembro terá início uma campanha visando estimular as empresas a aderir, com o incentivo de deduzir até 1% no seu IR. O que você acha deste programa? Dê sua opinião no campo "Comentários".
Aluguel de livros, você já experimentou? (Bel-CLIc nº 005 de 06/09/2013)
Além das
tradicionais livrarias e dos sebos, físicos ou virtuais, e do gostoso empréstimo
entre amigos, outra forma de ler livros, especialmente útil para quem lê muito,
é o aluguel.
No Rio e em Niterói há lojas especializadas na modalidade, algumas
funcionam com uma mensalidade e a pessoa lê quantos livros conseguir, sendo um
por vez; outras cobram um valor por livro, dando o prazo de uma a duas semanas,
dependendo do nº de páginas do exemplar. Em geral há também opção de entrega.
Se você se interessou, é só pesquisar as lojas na internet. Depois de usar, conta pra
gente o que achou através do campo "Comentários".
Momento poético: Helene Camille
Platão, o Amor, o Êxtase e os Cavalos Alados
Dois são os cavalos
que deveriam nos conduzir
ao êxtase supremo.
Um dos cavalos nos impele aos céus
o outro a fincar-se à Terra
O embate é ferrenho,
a alma se divide e titubeia
ante que direção tomar
nessa incrível disputa.
Corpo e alma
e uma única dúvida:
seguir o puro sangue
ou o cavalo mestiço?
A batalha dura
uma eternidade.
Defesas caídas,
o mestiço assume o controle
Já não ouço mais o puro.
Deixo o mestiço conduzir-me.
A luta agora é outra.
Apelos incontroláveis e
um só desejo: pequenas mortes
Corpo exausto,
abrupto silêncio,
o coração ainda bate forte
depois... paz.
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