Helô... Queria estar de mãos dadas com você, mas não aqui.
Queria estar aí, na nossa praia. Ah, Helô, por que não escolhi
você a nossa praia? Por que não fiquei mais tempo, mais dias?
Aquelas sextas-feiras de despedidas... por que não fiquei de vez! É
tão difícil escolher ser feliz... Acho que fui ensinado a não ser
feliz. Tenho o vento. O vento que começou a soprar sobre nós
naquele início dos setenta. E sinto sua mão macia apertando a
minha, a areia rangendo sob os nossos pés. O vento que não para, e
leva seus cabelos castanhos de índia, misturando o sal ao perfume do
seu xampu. É tão bom o sabor do seu corpo moreno e salgado. Que
coisa estranha, Helô, sinto o cheiro do tempo... Por que não vivi o
tempo todo? Por que escolhi não ficar? Helô, eu amo você. Percebo
o aroma da sua casa... Deus, que saudade! O sofá da sala, coberto
por aquela rede velha, a janela sempre aberta deixando entrar o leste
que zunia em seus cabelos, nas casuarinas e trazia o perfume do mar.
Tudo o que eu gosto está aí, esteve sempre, desde a primeira vez
que vi. Ai, Helô, por que não juntei minha vida à sua? Você
queria tanto que eu ficasse... que eu não fosse embora nas sextas...
Você foi tão honesta! Eu não tive coragem. Será que eu te fiz
feliz? Lembro de tantas coisas que faltaram dizer a você... E
naquele dia eu poderia ter ido no dia seguinte. Por que não fui? Por
que não fiquei? Como lembro de tudo... seus passos na rua de terra,
o trinco do portão quando eu chegava, suas roupas... Queria voltar,
Helô, queria tanto voltar!
‒ Doutor, rápido!
Vejo você num filme antigo, como as fotos coloridas esmaecidas pelo
tempo. Engraçado... Por que a vejo tão longe, lá atrás nos
setenta, se tínhamos as nossas semanas?
‒ Enfermeira, vá chamar o filho e a esposa.
Será que você sabe de mim? Ou se pergunta por que não cheguei
para almoçar na terça-feira? É tão bom sentir seu cheiro...
cheiro de mar, de cabelo cheiroso. Como você me olha, Helô, que
luz! Que olhos castanhos brilhantes de mar... Ah...
‒ Doutor? Doutor! Meu Deus...
‒ Senhora, sinto muito, fizemos tudo... Não foi possível.
Deveras, um homem comum!
ResponderExcluirApoiado, Evandro!Amei, ainda mais com minha xará sendo personagem...Carpe diem! Muito bom, Carlos.
ResponderExcluirElô, sem h rsrs
Nesse você se superou, parceiro! Suas crônicas são simplesmente deliciosas. Prende do começo ao fim. Abração. Luiz R. Bodstein
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