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15 de janeiro de 2020

A interpretação dos sonhos: Freud








A Lis no país das ervilhas


Próxima a mim há uma pessoa que odeio, de modo que surge em mim uma moção intensa de me alegrar caso algo lhe aconteça. Porém o aspecto moral de minha natureza não cede a essa moção; não ouso manifestar o desejo que lhe ocorra uma desgraça, e, depois que algo lhe aconteceu sem que ela tivesse culpa, reprimo minha satisfação acerca disso e me obrigo a manifestações e pensamentos de pesar. Todo mundo já passou por uma situação dessas. Mas então acontece que a pessoa odiada atraia sobre si um desgosto bem merecido devido a alguma transgressão; então posso dar curso à minha satisfação por ela ter sido atingida pelo justo castigo, e nisso me exprimo em concordância com muitos outros que são imparciais. Porém, posso observar que minha satisfação é mais intensa do que a dos outros; ela recebeu um reforço oriundo da fonte do meu ódio que até então estava impedido pela censura interior de fornecer afeto, mas que não é mais impedido e fazê-lo nas novas circunstâncias. Isso geralmente ocorre na sociedade quando pessoas antipáticas ou membros de uma minoria malvista cometem algum delito. Assim, sua punição não corresponde habitualmente à sua falta, e sim à falta acrescida da hostilidade, até então sem efeito, dirigida contra elas. Os punidores sem dúvida cometem uma injustiça nesse caso, mas são impedidos de percebê-la devido à satisfação que lhes proporciona o cancelamento de uma repressão longamente mantida em seus íntimos. Nesses casos, o afeto sem dúvida é justificado segundo sua qualidade, mas não segundo suas proporções; e a autocrítica tranquilizada quanto ao primeiro ponto negligencia com muita facilidade o exame do segundo...

Explica-se assim, tanto quanto admite uma explicação psicológica, o traço marcante do caráter neurótico, ou seja, que motivos suscetíveis de afeto provoquem nele um efeito que, qualitativamente legítimo, ultrapassa as medidas do ponto de vista quantitativo. O excesso provém de fontes de afeto que permaneceram inconscientes e até então reprimidas.  (Págs. 504-505)



“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”




Matéria vem de Mater

"Os elementos que são de fato simultâneos nesse todo complexo só podem ser representados sucessivamente em minha descrição deles, ao mesmo tempo que ao expor cada argumento, tenho de evitar precipitar as razões em que ele se fundamenta: dominar essas dificuldades está além de minhas forças. 

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se olharmos para os desejos inconscientes, reduzidos à sua expressão mais fundamental e verdadeira, teremos de concluir, sem dúvida, que a realidade psíquica é uma forma especial de existência que não deve ser confundida com a realidade material.

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No fundo os sonhos nada mais são do que uma forma particular de pensamento, possibilitada pelas condições do sono. É o trabalho do sonho que cria essa forma, e só ele é a essência do sonho - a explicação de sua natureza peculiar. "





"O livro marcou a virada entre os séculos XIX e XX, e foi o mais importante estudo psicanalítico de Freud. É nessa obra que apresenta suas ideias inéditas sobre os sonhos — 'caminho para o conhecimento do inconsciente' — explicando de onde eles vêm, por que ocorrem, como funcionam. Chamou de 'conteúdo manifesto' o que é lembrado de um sonho. Mas é do pensamento do sonho e não do conteúdo manifesto que depreendemos seu sentido. Os sonhos já eram objeto de estudo desde a antiguidade. A pesquisa psicanalítica inovou ao investigar as relações entre conteúdo manifesto e pensamentos oníricos latentes. Os pensamentos do sonho equivalem aos processos inconscientes. O método psicanalítico de interpretação dos sonhos requer, em primeiro lugar, as associações daquele que sonhou. Esse método investiga os processos pelos quais os pensamentos do sonho se transformaram em conteúdos manifestos do sonho. Metaforicamente, podemos dizer que os sonhos abrem uma janela para o inconsciente.
O que Freud observou abalou uma visão centrada na consciência e criou uma nova teoria sobre a natureza humana: o desejo inconsciente, a sexualidade infantil, a metáfora da castração e a retomada de um mito, com o qual elaborou, mais tarde, o conceito de complexo de Édipo. Nos seis primeiros anos, foram vendidos apenas algumas centenas de exemplares. Seus leitores recuaram e o próprio Freud admitiu que suas ideias 'desconcertavam as pessoas'. Ainda assim, defendeu o trabalho com sonhos como sendo o 'alicerce mais seguro da psicanálise'". (Wikipedia)




Nas páginas seguintes demonstrarei que existe uma técnica psicológica que permite interpretar sonhos e que mediante a aplicação desse procedimento todo sonho se mostra como uma formação psíquica de pleno sentido...A interpretação dos sonhos é o trabalho maior de Sigmund Freud, 1856-1939, que inaugurou a era da psicanálise e mudou para sempre a maneira como o ser humano percebe a si mesmo. Além das novíssimas perspectivas lançadas sobre a natureza e os significados dos sonhos, outrora considerados apenas resquícios da vida diurna , neste estudo revolucionário Freud postula uma instância até então desconhecida da psique humana: o inconsciente.Tal pressuposto, o da existência de um continente praticamente inacessado da alma humana, abriu todo um leque de possibilidades de estudos científicos e psicanalíticos para Freud e seus seguidores. Trabalho tão genial hoje quanto à época de sua primeira publicação, em 1899, A interpretação dos sonhos é considerada uma das obras fundadoras da contemporaneidade e que mais influenciaram o pensamento do século XX. 




A dama das Camélias


A Interpretação dos Sonhos



2 comentários:

  1. "O sonhador é um ator que desempenha, a seu bel-prazer, os papéis de loucos e sábios, de carrascos e vítimas, de anões e gigantes, de demônios e anjos." Delboeuf

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  2. “Aprendi a prestar atenção nos meus sonhos, especialmente por causa do meu treinamento como psicólogo clínico. Os sonhos lançam luz nos lugares sombrios que a própria razão ainda tem que conhecer.” Jordan B. Peterson - 12 Regras Para a Vida

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