"É pecado pensar mal dos outros, mas raramente é engano."
Em meu livro "Outras inquisições", eu, Jorge Luis Borges, escrevi o que chamei de "pudor da história". Indicado nos anos de 1956, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1966, mas nunca contemplado até então, defendi que os eventos secretos, furtivos e contingentes não considerados e que nem tiveram influência na escrita dos livros "oficiais" de história, foram aqueles que de fato determinaram o curso dos acontecimentos. A verdadeira e inacessível história é aquela relegada e varrida para debaixo do tapete. Proscrita e reinterpretada pela voz e pelo canto dos vencedores. (p.79)
"Questionado sobre se beijar uma aluna nos lábios era um comportamento aceitável para um professor, afirmou categórico e ofendido: 'A maneira como os poetas, dramaturgos e escritores de ficção ensina é inteiramente diferente da maneira que se ensina matemática.' Os ósculos de Walcott, senhores, faziam parte do programa, do syllabus, de suas disciplinas.
- Eu estava preocupado com o nosso relacionamento. Havia sempre muitas mulheres ao redor. Em geral, os homens caribenhos gostam e precisam de saltar de flor em flor. E o Nobel catalisou esse processo."
Quando chegamos a um certo momento da vida, há mais prazer em dizer a verdade do que coisas para impressionar. (p.61)
"O mais próximo que temos da poesia é o amor. O amor deixa-nos num estado de alheamento e um poema, nos seus melhores momentos, faz o mesmo." (Walcott)
by Frank Dicksee |
Eu, que sempre fui avesso aos jogos eletrônicos, gastei todo o meu cachê nas máquinas que vendiam roupas íntimas e usadas as ninfetas japonesas. Que delícia aquele odor de sashimi nas lingeries - essa é minha verdadeira madeleine. Acreditem - e sintam a fragrância das raparigas e cerejeiras em flor - senhores: estou trajando uma dessas calcinhas. Virou meu objeto de sorte. Do Japão conservo o aroma e o sabor das mulheres que nunca vi.
A laureada fez da morte — “o principal mistério da vida” — matéria para projetos e reflexões literárias. Um motivo de estranhamento, de apavoramento, de arroubamento. Para ela, as mulheres eram as únicas narradoras confiáveis de qualquer guerra. As verdadeiras responsáveis por fazer emergir o discurso do esquecido e do desprezado. Só elas podem resgatar a narrativa oficial repousada na dor da incompreensão. Somente as mulheres são capazes de narrar e enfrentar o paradoxo de “dar a vida” e de “receber diariamente a visita da morte”. Nas palavras de Svetlana: “Quem conta a guerra são as mulheres. Choram. Cantam enquanto choram”. Assim, uma tentativa de compreensão do ocaso vem das lágrimas, do sofrimento e do resgate do discurso “delas”. Bravo! Os homens — malditos sejam! — adulteram as narrativas das guerras. São os responsáveis por criar heróis, mitos e mentiras. E muitos deles até inventam alguns momentos de felicidade: “As pequenas e grandes, famosas e desconhecidas (guerras) foram escritas por homens sobre homens”.
Leia Mulheres |
“What is hell? Hell is oneself.
Hell is alone, the other figures in it
Merely projections. There is nothing to escape from
And nothing to escape to. One is always alone.”
O que um poeta não vê, não aconteceu.
Transfiguração desse meu eu, real e biográfico, em um eu ficcional e ventríloquo da memória e da obra dos outros.
Tudo o que não seja Literatura me aborrece e eu detesto, pois distrai-me e faz-me mal, ainda que sejam só imaginações minhas.
Escrever significa abrir-se em demasia.
Eu gostei demais do livro, Nobel, de Jacques Fux! E se pesquisarmos mais um pouco vamos encontrar algumas mazelas na Academia Sueca de Literatura, coisas humanas, casos supostamente reais e alvo de investigação. Mas, deixando isso de lado, acho que mais pessoas ficaram apaixonadas pelos poemas de Derek Walcott:
ResponderExcluirDerek Walcott - Nobel de Literatura 1992
Pleno verão, Tobago
tradução de Fabio Malavoglia
.
Pleno verão, Tobago
Amplas praias chapadas de sol.
Calor branco.
Um rio verde.
Uma ponte,
palmeiras de ouro queimado
da sonada casa de veraneio
cochilando nesse Agosto.
Dias que tive,
dias que perdi,
dias que, feito filhas, cresceram além
de meus braços de mar.
Dias que tive,
ResponderExcluirDias que perdi,
dias que, feito filhas, cresceram além
de meus braços
Ponto.
Muito lindo!
ResponderExcluirPassei um dia inteiro a procurar uma linda poesia que decorei e, vez em quando, repito para mim. Não lembrava mais a autora, apenas sei que a igualmente linda, transcrita aqui, me conduziu para o mesmo estado de espírito e encantamento da primeira.
ResponderExcluirA autora Hilda Hilst. O nome do livro, Da morte, Odes mínimas. Divido com vocês:
- Um peixe raro de asas
As águas altas.
Um aguado de malvas
Sonhando o Nada.
Creio que muitos aqui, como eu, já se deliciaram em águas altas.
Hoje a contentar-se com um aguado o sutil perfume das malvas deve ser aspirado bem forte. Quem sabe? Recordar não é viver?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFiz uma retificação, não dei enter nela, dei no texto e saiu em duplicidade.
ResponderExcluirDifícil as aventuras em águas altas. Perdão.
Leia-se:
a contentarem-se...
Lindo, Elvira!
ResponderExcluirTambém achei!
ResponderExcluirMelhor sonhar o Nada depois da terceira idade. Experimentei, tipo uma meditação, apenas ouvir a água a cair na cisterna, o trinado dos pássaros e deixar a vida fluir apenas fuir, sonhando o nada.
Também amei a poesia de Derek Walcott mas para iniciar o meu "mantra" e ser fiel a minha verdade eliminei a palavra mar. Cá para nós, Sonia, os meus braços andam meio frágeis. rs
Suas palavras soam como uma canção a nos embalar. Você é maravilhosa, Elvira!
ResponderExcluirObrigada. Bondade sua.
ResponderExcluirFelz Dia das Mães às mamães do CLIc e suas famílias.
Fraterno abraço a todos.