Amei-te sem Saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
Eu era tua poesia
És parecida com a Terra.
Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias.
E quando nos beijávamos e eu
perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que
dia nasceste?
E me respondias, voz trémula:
estou nascendo agora.
E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde
nasceste?
E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.
Era assim que dizias.
Tu eras um poeta
Eu era a tua poesia.
ResponderExcluirNossa, que coisa mais LINDA!
Haja sentimento!
Beijos ternos,
Vera.
Lindo!
ResponderExcluirLinda poesia do nosso grande António Emílio Leite Couto, Mia Couto! Acrescento mais um pouquinho: Entrevistado, assim respondeu à pergunta: ---" Por que o senhor escreve?" --- "Para responder a essa pergunta, sempre crio uma razão diferente, pois não existe uma razão para escrever. A escrita não é uma função, nem uma missão. Escrevo para ser feliz. A poeta portuguesa Sophia de Mello Brayner contava histórias para que seus filhos doentes adormecessem. Escrevo para adormecer o mundo que me parece doente. E assim invento histórias." (Época).Quanta sensibilidade!
ResponderExcluirAbraços.
Elenir