A elite
paraense queixava-se de não participar das decisões locais e do abandono que
fora relegado o Grão-Pará pelo Rio de Janeiro. Já a população pobre,
constituída de índios, negros (escravos e libertos) e mestiços - os cabanos - clamava
por melhores condições de vida, devido a extrema miséria em que vivia às
margens dos rios, ilhas e igarapés em pequenas cabanas de palha. É nesse quadro
que Bernardo Lobo de Souza é nomeado presidente da província, em dezembro de
1833.
O ano de
1834 seria marcado por hostilidades entre o governo e os cabanos. Tais
hostilidades chegam às margens da intolerância, quando Lobo de Souza, com seu
temperamento autoritário e explosivo, instaura a perseguição e manda prender as
lideranças cabanas. A maior autoridade entre os cabanos, desde a adesão do
Grão-Pará ao Brasil, era o cônego Batista Campos. Para não ser preso, o cônego
se refugia na fazenda de Félix Clemente Malcher, de onde passa a planejar a
tomada do poder junto aos demais líderes. O fazendeiro e dono de engenho Clemente
Malcher fora aprisionado.
O cônego
Batista Campos, entretanto, veio a falecer no dia 31 de janeiro de 1834, dias antes
da eclosão do levante, devido a uma infecção causada por um corte no rosto ao
barbear-se com uma navalha. As forças do governo ainda comemoravam a sua morte,
quando tropas cabanos e da guarda municipal, comandadas por Antônio Vinagre,
iniciam o levante. O presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas,
tenente-coronel Joaquim José da Silva Santiago, são brutalmente assinados e
seus corpos profanados, depois de arrastados para frente do palácio do governo.
A barbárie
toma conta de Belém: os cabanos executam os oficiais e soldados que resistiam
ao levante, apoderando-se das armas e munições. Não obstante a libertação de
Clemente Malcher e sua elevação a presidente da província, os cabanos marcham em
caçadas sangrentas aos portugueses e àqueles que julgavam não “patriotas”. Muitos
prédios comerciais e residenciais são invadidos e saqueados, e as mais terríveis
e repugnáveis atrocidades executadas.
De temperamento
rude, Malcher não consegue controlar a desordem. Também não demora entrar em
conflito com o Comandante das Armas, Francisco Pedro Vinagre. Então, ao acusar
e mandar prender o jovem líder cabano Eduardo Angelim “por conspirar contra o
governo”, Malcher acaba por sucumbir às tropas de Francisco Vinagre, após
intensa batalha que dura todo o dia 19 de fevereiro. Já no dia 20, Malcher é covardemente
assassinado a caminho da prisão, enquanto Francisco Vinagre assume o governo.
Em junho de 1835, após longa pressão do clero paraense, Francisco
Vinagre acaba por renunciar a favor de Manuel Jorge Rodrigues, indicado pela
Regência para presidente e Comandante das Armas. No entanto, Manoel Rodrigues
não consegue pacificar a província, como também deixa de cumprir o acordo de anistia, mandando
prender Francisco Vinagre. No dia 14 de agosto, após nove dias de combate, os
cabanos retomam Belém, sob o comando de Eduardo Angelim e de Antônio Vinagre, este
último morre em combate.
Os cabanos
assumem novamente o governo do Grão-Pará, mas muito sangue ainda seria
derramado, pois o conflito só termina em 1840, cinco anos depois.
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Muito legal aprender história assim, contada de forma dinâmica que nos deixa ansiosos pela continuação. Obrigado pelas lições de nossa história, Wagner!
ResponderExcluirCaríssimo amigo, A segunda parte estarei postando na próxima semana. Cada pesquisa para um novo artigo é também um aprendizado enorme. Bom que não tenhamos desistido de aprender, não é mesmo, Evandro?
ExcluirTeria alguma história pra contar, Wagner, sobre a guerra do Brasil contra a Guiana Francesa?
ResponderExcluirCaríssimo Evandro, Tenho dois artigos sobre a tomada de Caiena. Creio que pelo menos um já publiquei aqui no Blog, com o título de "A tomada de Caiena". Essa investida portuguesa, quando a família real se encontrava no Brasil, foi uma retaliação de D. João a Napoleão Bonaparte pela invasão de Portugal. Naquela época a Guiana se resumia quase que exclusivamente à Caiena, a capital. Sua tomada foi bastante rápida, pela limitação das tropas locais. O tema é realmente muito instigante!
ExcluirEvandro,
ResponderExcluirHá alguns poucos anos tenho trocado os grandes romances pelos livros de História. Muita coisa não é ensinada nas escolas e a descoberta da nossa verdadeira história foi muito importante para mim. Estarei presente aqui, ávida pelos seus conhecimentos. Parabéns.