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27 de junho de 2016

Envolvimento e alienação: Norbert Elias

Há uma lenda Maia relatando que no final dos tempos potes, panelas e todos os outros utensílios domésticos vingariam as batidas, empurrões e esfregadelas sofridas e, por sua vez, bateriam e empurrariam as pessoas por todos os lados.




Às vezes os membros das sociedades mais desenvolvidas parece acreditar que o âmbito mais amplo, o menor teor de fantasia e o maior realismo de seu conhecimento são devidos não à sua posição na ordem sequencial do desenvolvimento social, mas a certas qualidades pessoais superiores - de "racionalidade", "civilização" ou "autocontrole" - inerentes à sua própria natureza e que os indivíduos das fases primitivas, incluindo seus ancestrais, não possuíam ou não possuem, ou, então, só possuem em pequenas doses.


Problemas e dificuldades também podem ser encontrados em nível e em forma diferente no prolongado debate acerca do relacionamento de "indivíduo" e "sociedade". Mais uma vez parece ter-se ficado diante da escolha entre duas alternativas insatisfatórias. Por mais que se tente alguma espécie de compromisso, no geral as opiniões estão até agora dispostas em dois campos mais ou menos irreconciliáveis. É possível se aproximar daqueles que pensam as sociedades como coleções ou massas de indivíduos e de suas propriedades e de seu desenvolvimento, como mero resultado de intenções e atividades individuais; ou daqueles que pensam as sociedades, os processos sociais em seus vários aspectos, mais ou menos como se, de certa forma, existissem fora e apartados dos indivíduos por que são formados.


Há em todos os grupos um ponto além do qual nenhum de seus membros pode avançar em sua alienação sem parecer e, no que diz respeito ao grupo, sem se tornar um perigoso herético, não importa o quanto as suas ideias ou suas teorias possam ser consistentes, internamente e em relação aos fatos observados, nem o quanto possam estar próximas daquilo que denominamos "verdade".



  A questão que desafia aqueles que estudam algum aspecto dos grupos humanos é a de como manter seus dois papéis, de participantes e de pesquisadores, clara e consistentemente separados e, enquanto grupo profissional, estabelecer em seu trabalho a incontestável predominância do último. 





Este livro focaliza, sobretudo, a sociologia do conhecimento, embora contribua para as teorias do processo civilizatório e da formação dos Estados, além de elucidá-las. O autor, Norbert Elias, apresenta suas reflexões sobre assuntos como a guerra fria e a corrida armamentista, e, acima de tudo, demonstra inequivocamente que a teoria do processo civilizatório não é uma roupagem moderna da teoria do progresso linear.






Norbert Elias

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