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15 de janeiro de 2024

"On the Road": geração "beat" no Clube de Leitura Jovem





Constelação da Ursa Maior


Assim, na América, quando o sol se põe, eu me sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey, e consigo sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão, até a costa oeste, e a estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando naquela imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? A estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa, que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia, e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice. Penso então em Dean Moriarty, penso no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, penso em Dean Moriarty.








Fiquei acordado. Os galos começaram a anunciar a chegada da aurora. Mesmo assim, não havia vento, nem brisa, nem orvalho, apenas o peso do próprio Trópico de Câncer, que nos mantinha esmagados na superfície da Terra, onde tremíamos e à qual pertencíamos. Nos céus não havia o menor sinal do alvorecer. De repente, escutei cães latindo furiosamente na escuridão, e ouvi então o débil clip-clop dos cascos de um cavalo. Ele se aproximava cada vez mais. Que doida espécie de cavaleiro noturno era aquele? Então, vislumbrei a seguinte aparição: um cavalo selvagem, branco como um fantasma, surgiu trotando pela estrada direto em direção a Dean. Atrás dele, cães uivavam e latiam. Não conseguia vê-los, eram velhos cães da selva, mas o cavalo era alvo como a neve, e imenso, quase fosforescente e facilmente visível. Não temi por Dean. Ò cavalo o viu, trotou bem ao lado de sua cabeça, passou pelo carro como se ele fosse uma embarcação fenícia, relinchou mansamente e continuou em direção à cidade, perseguido pelos cães, mergulhando outra vez na floresta, e tudo o que pude ouvir foi o som cada vez mais distante de seus cascos, desaparecendo debilmente na mata espessa. Os cães desistiram e se sentaram, lambendo a si próprios. O que era aquele cavalo? Que espírito mítico, que fantasma? Quando Dean acordou, contei-lhe tudo. Ele achou que era apenas um sonho. Então, lembrou-se vagamente de que também havia sonhado com um cavalo branco, e eu lhe assegurei que não fora apenas sonho. 






”— Oh raios, teremos de atravessar essa selva sem faróis, pense no horror que será, só poderei ver alguma coisa quando passar outro carro, mas por aqui simplesmente NUNCA passam carros! portanto, também não há luzes. Oh meu Deus, o que faremos?”

”— Ora, vamos em frente. Ou será que devemos voltar?”

”—Não, jamais, jamais! Vamos em frente! Consigo ver um pedacinho de estrada. Vamos nessa!” Mergulhamos naquele abismo de trevas, a escuridão primordial, entre o estrépito dos insetos, e, então, sentimos um cheiro rançoso, quase podre, e nos lembramos que o mapa indicava que, logo abaixo de Gregória, começava o trópico de Câncer. "Estamos num novo trópico. Não estranhem o cheiro. Respirem fundo." Botei a cabeça para fora da janela; insetos se esborrachavam contra a minha cara; quando coloquei meus ouvidos no vento, ouvi um silvo intenso...





On the Road, livro mais popular do escritor americano Jack Kerouac, será o tema do debate de dezembro do Clube de Leitura Jovem. Conhecida como uma das principais obras do beatnik, a narrativa – que mistura transgressão, lirismo e loucura – tornou-se um clássico contemporâneo e serviu de inspiração para outros movimentos culturais. O evento, que reúne jovens e adolescentes amantes da literatura, ocorre no dia 18, a partir das 18h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói). A entrada é gratuita.
On the Road traz a história de Sal Paradise, que resolve embarcar em uma viagem de carro pelo interior dos Estados Unidos junto com alguns amigos. Os personagens se lançam em uma aventura passando por diversos estados, circulando entre diferentes classes sociais, na busca pelo autoconhecimento e pela liberdade. O grupo vive de forma intensa e sem compromissos, se entregando às drogas e ao sexo, transgredindo as ideias rígidas de moral e do comportamento bem aceito na sociedade americana da década de 1940. Lançado em 1957, o livro marcou uma época e atravessou gerações, se tornando uma das obras mais importantes de contracultura, e a narrativa de Kerouac segue conquistando jovens.

Hipster, geek ou nerd: onde está você na cadeia evolutiva?

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