Por Wagner Medeiros Junior
Ao
contrário dos espanhóis, que na metade do século XVI já haviam dizimado boa
parte do ouro dos Impérios Maias, Incas e Astecas, e começavam a explorar as imensas
minas de prata encontradas em Potosi, na atual Bolívia, os portugueses só acharam
ouro no Brasil, pelas mãos dos bandeirantes paulistas, ao final do século XVII.
Até então, a riqueza extraída da terra exigia muito trabalho e resumia-se quase
que exclusivamente a exploração do Paubrasil e ao plantio da cana de açúcar
para os engenhos.
Nessa
época, o comércio das especiarias na rota do Atlântico para as Índias já se encontrava em pleno declínio e Portugal regressava a condição de um reino
pobre, quase falido. Então, o rei D. Pedro II (1648-1706), de Portugal, para
incentivar a descoberta de pedras e metais preciosos aboliu o monopólio da
Coroa e decretou que “descobrindo uma mina rica, esta caberá ao interventor,
ficando este obrigado a pagar apenas uma quinta parte”, o Quinto, o que
incentivou a corrida em busca de minerais preciosos no Brasil.
A
notícia da descoberta do ouro de aluvião em farta quantidade na região que
viria a ser a capitania de Minas Gerais - criada em 1720 - como também depois
em Goiás e no Mato Grosso, espalhou-se rapidamente. Isto motivou um ciclo
migratório para as regiões auríferas e fomentou um período de grande prosperidade
econômica. Consecutivamente, no reinado de D. João V (1706-1750) a Coroa portuguesa
passou a depender cada vez mais do ouro extraído da América, como atestou o
duque de Cadaval, em 1715, ao dizer que “do Brasil depende hoje absolutamente
muita parte da conservação de Portugal”.
Entretanto,
a cobrança do Quinto e dos demais impostos pela Fazenda Real engendrou a
insatisfação dos mineradores e comerciantes locais, em razão da rigidez dos
controles instituídos para evitar o descaminho. Em 1720, por exemplo, Vila Rica
se levantou contra a criação das casas de fundições, que para inibir a
circulação do ouro em pó e evitar o contrabando, obrigou que todo o metal fosse
fundido. Nesse processo a Fazenda Real retirava o Quinto no momento em que legalizava
o ouro em barra, carimbando-o para livre circulação.
Todo o
Quinto era de propriedade do rei, que bem podia fazer dele o que quisesse, sem
prestar obediência a ninguém. Os outros impostos estabelecidos pela Coroa eram o
Dízimo, que se destinava a manutenção da igreja, e as Entradas, cujo produto
servia a manutenção da máquina de governo, da mesma forma que a taxa de
Passagens. Com freqüência a Coroa ainda lançava outras taxas para a execução
das obras públicas, que não contavam com orçamento específico.
Exceto
o Quinto, a arrecadação dos demais impostos e taxas, inclusive do Dízimo, era
terceirizada pela Fazenda Real aos Contratadores, através de leilões. Aquele
que oferecesse o melhor lance ganhava o contrato, que geralmente valia por três
anos. Ao final desse prazo o Contratador ficava obrigado a repassar à Fazenda
Real o valor combinado, independente de obter lucro ou não. Tal prática visava
evitar o desvio na cobrança dos impostos por agente corruptos.
O
imposto das Entradas era cobrado pelo peso das mercadorias. Desta forma, as
mais valiosas tais como joias e tecidos de luxo pagavam poucos impostos,
enquanto alimentos, ferramentas e utensílios de ferros para a exploração das
minas ficavam demasiadamente majorados. Já o imposto de Passagem incidia sobre
cada pessoa ou animal que transitasse pelos postos fiscais de cobrança. Em cada
um desses pontos a Fazenda Real mantinha a sua fiscalização, para evitar o
descaminho.
Contudo,
não obstante ao policiamento, a pesada burocracia e ao controle ferrenho da
produção do ouro, o contrabando nunca era contido. Os contrabandistas usavam da
criatividade e encontravam sempre um modo de escapar da fiscalização por trilhas
e caminhos alternativos adentrando pelas montanhas mineiras.
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Nesse período surgiu a "corrida do ouro", onde brasileiros de todas as partes, e até mesmo portugueses, passaram a migrar para as regiões auríferas, buscando o enriquecimento rápido. No entanto, A cobrança excessiva de impostos, as punições e a fiscalização severa da coroa portuguesa provocaram reações na população. Várias revoltas ocorreram neste período. Excelente artigo Wagner! Leitura mais que recomendada.
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