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27 de junho de 2020

Clube das Narrativas Curtas - O Aleph: Jorge Luis Borges


Sobre Dante e seu amor a Beatriz





Silvana no Café Tortoni

Eu adorei o conto pela ironia que contém.  Adoro quando um personagem vai "pensando", "sentindo" e, pela escolha dos termos, dos adjetivos, o leitor pressente o que virá, e não foi dito ainda.  Desculpem se ficou enrolado o que eu disse, mas é como melhor consigo expressar.  Eu já havia pressentido o juízo que Borges faz do Carlos Argentino, antes de que ele o explicitasse.  E gosto demais quando os sentimentos do personagem são muito humanos - entendi que Borges se indigna com a pompa, a vaidade do Argentino,  os neologismos, a chatice dos versos que lê e relê, para em seguida se auto-elogiar...  E depois a decepção por vê-lo premiado e incensado!  Esse personagem se repete em outras obras que admiro, por exemplo no filme Crimes e Castigos do Woody Allen, quando o personagem Cliff, um diretor de documentários, perde a amada para um diretor bobalhão aplaudido por Hollywood.  É a luta do bem contra o mal trazida para a nossa vida cotidiana, em que nos indagamos se o "mal" (o negacionismo, a vaidade, a superficialidade, a falta de solidariedade, etc. etc.) vai acabar prevalecendo.  Foi o que senti.  Agradeço por me apresentarem esse autor, que eu não havia lido, apesar de muito amar Buenos Aires, onde ele nasceu e viveu.  A linda livraria Ateneo tem muitas estantes ocupadas por seus livros, e tenho até uma foto em companhia dele (a escultura dele) no Café Tortoni! (Silvana Weaver)




Existe esse Aleph no íntimo de uma pedra? Vi-o quando vi todas as coisas e o
esqueci? Nossa mente é porosa para o esquecimento; eu mesmo estou falseando e
perdendo, sob a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz.




– Um cálice do falso conhaque – ordenou – e mergulharás no porão. Já sabes, o
decúbito dorsal é indispensável. Também o são a escuridão, a imobilidade, certa
acomodação ocular. Tu te deitas no piso de tijolos e fixas o olhar no décimo nono degrau
da pertinente escada. Saio, baixo o alçapão e ficas sozinho. Algum roedor te mete medo –
não tem importância! Em poucos minutos vês o Aleph. O microcosmo de alquimistas e
cabalistas, nosso concreto amigo proverbial, o multum in parvo!



Duas observações quero acrescentar: uma, sobre a natureza do Aleph; outra, sobre
seu nome. Este, como se sabe, é o da primeira letra do alfabeto da língua sagrada. Sua
aplicação ao cerne de minha história não parece casual. Para a Cabala, essa letra significa
o En Soph, a ilimitada e pura divindade; também se disse que tem a forma de um homem
que assinala o céu e a terra, para indicar que o mundo inferior é o espelho e o mapa do
superior; para a Mengenlehre, é o símbolo dos números transfinitos, nos quais o todo não é
maior que qualquer das partes. Eu queria saber: Carlos Argentino escolheu esse nome, ou
o leu, aplicado a outro ponto para onde convergem todos os pontos, em algum dos textos
inumeráveis que o Aleph de sua casa lhe revelou? Por incrível que pareça, acredito que
exista (ou que tenha existido) outro Aleph, acredito que o Aleph da rua Garay era um falso
Aleph.




Dou minhas razões. Por volta de 1867, o capitão Burton exerceu o cargo de cônsul
britânico no Brasil; em julho de 1942, Pedro Henríquez Ureña descobriu numa biblioteca
de Santos um manuscrito seu que versava sobre o espelho que atribui o Oriente a Iskandar
Zu al-Karnayn, ou Alexandre Bicorne da Macedônia. Em seu cristal refletia-se o universo
inteiro. Burton menciona outros artifícios congêneres – o sétuplo cálice de Kai Josru, o
espelho que Tarik Benzeyad encontrou numa torre (Mil e Uma Noites, 272), o espelho que
Luciano de Samósata pôde examinar na lua (História Verdadeira, I, 26), a lança especular
que o primeiro livro do Satyricon de Capella atribui a Júpiter, o espelho universal de
Merlin, "redondo e oco e semelhante a um mundo de vidro" (The Faerie Queene, 111, 2,
19) – e acrescenta estas curiosas palavras: "Mas os anteriores (além do defeito de não
existirem) são meros instrumentos de ótica. Os fiéis que acorrem à mesquita de Amr, no
Cairo, sabem muito bem que o universo está no interior de uma das colunas de pedra que
rodeiam o pátio central... Ninguém, é claro, pode vê-lo, mas os que aproximam o ouvido
da superfície declaram perceber, em pouco tempo, seu atarefado rumor... A mesquita data
do século VII; as colunas procedem de outros templos de religiões anteislâmicas, pois
como escreveu Abenjaldun: "Nas repúblicas fundadas por nômades, é indispensável o
concurso de forasteiros para tudo o que seja alvenaria".










26 de junho de 2020

4ª reunião do clube das narrativas curtas


Quero me pintar: Rita Magnago





Os laços de família: Clarice Lispector






Dia 27/06/2020 - 17h00 - Sábado

Consultei todos os participantes de nossa última reunião do ‘clube de leitura - romances’ (A morte em Veneza: Thomas Mann)  e por unanimidade concordaram em fazer nossa reunião mensal no terceiro sábado do mês e mais cedo, às 17:00h. A mudança facilita a participação da Solange que nos acompanha da Alemanha já que o fuso horário lá é +5 horas em relação ao nosso aqui, em Icaraí. Assim, o debate sobre “100 anos de solidão” ocorrerá dia 18/07 - sábado, às 17 horas. 


Acesse aqui o Texto dos Contos para lê-los: 




Link para a Reunião pelo Google Meet: https://meet.google.com/kxv-snwy-szn


Ao abrir a página, clique em “pedir p/ participar” ou “participar agora”, dependendo se o acesso for pelo celular ou pela web, respectivamente. 




25 de junho de 2020

Começa o inverno...



Para saudar o inverno (inicio em 20/06), envio-lhes meu Haicai:

No inverno gelado,
a palavra me acompanha
e se faz lareira.

Abraços.
Elenir





.




24 de junho de 2020

A Morte em Veneza: Thomas Mann



Fred: Com relação à nossa última reunião - Como foi comentado na reunião cada obra nos impacta naquilo que reflete em nossa alma. No meu caso, fiquei muito sensibilizado pela extrema solidão e introspeção do personagem. Ele empreende uma corajosa jornada entre o ser anterior muito Apolo para um ser mais Dionísio, com sacrifício da própria vida. A falta de personagens femininas que, ao contrário das masculinas, são mais gregárias contribui para acentuar a solidão do personagem. Talvez fosse essa a intenção do autor, refletindo sua alma...


Ceci: Hoje fiquei pensando como ficou difícil ler o livro sem imaginar o filme que está mto entranhado em mim Deveria ter feito como nosso mestre Emmanoel comentou..anotar. pensar...resumir...mas estava com pouco tempo E qto ao livro. se justamente ele incomoda.é por ter algo que tem um conteúdo importante que desconhecemos.negamos.ocultamos. e quando vem a tona .sai das sombras.traz uma luz incomodativa.....


Eloísa: Realmente foi excelente ter tantos amigos reunidos e nossos grandes leitores tão entusiasmados.  A obra lida, embora curta,  ensejou muitas idéias,  choques com nossos preconceitos ( a educação religiosa tem muito peso). Mas ninguém poderá  negar suas plurissignificações! A cultura pagã infiltrada, misturada à cristã! Deu  margem a  várias visões, remexendo nossas crenças... Há  um lado prazeroso e um lado  bem subterrâneo, desconfortável para muitos.  Sacudiu muita gente. NÃO o colocaria na lista dos preferidos...Perdi um primo que me lembra Tadzio, lindo, sensível, amoroso...muito lindo! Meio parecido com Eduardo Dussek.

CLIc na imagem

"'Sempre, ou pelo menos desde que dispunha dos recursos necessários para valer-se das vantagens da circulação internacional, considerara as viagens apenas como uma medida higiênica que de vez em quando lhe convinha tomar, contrariando assim as suas inclinações e vontades. Por demais absorvido pelos problemas que lhe impunham o próprio eu e a alma europeia, excessivamente amarrado pelo dever de produzir e ainda demasiado avesso a quaisquer distrações para ser capaz de amar o colorido mundo exterior, dera-se por satisfeito com a opinião que cada um, sem jamais se distanciar muito do seu ambiente habitual, pode formar a respeito da superfície da Terra' (MANN, 2015, p. 14).

É interessante esse “provincianismo” de alguns intelectuais e filósofos. Certa vez li, em algum lugar, que Kant, o filósofo, nunca ultrapassou um raio muito pequeno do lugar onde morava. Mas essa foi a primeira vez que vejo atribuir essa visão de mundo ao excesso de atenção e cuidado “ao próprio eu e a alma europeia”. Isso me pareceu uma espécie de narcisismo. 

“ [...] Era perdoável – e no fundo significava um autêntico triunfo do seu procedimento consciencioso – que pessoas mal informadas considerassem produto de concentradas forças e longo fôlego o panorama que ele pintara dos maias ou a vasta epopeia em cujas páginas se desenrolava a vida heroica de Frederico, quando, na realidade, tratava-se de obras elaboradas em minúscula progressão cotidiana, edificadas à base de centenas de inspirações avulsas até tornarem-se grandes, e que somente chegavam a ser magníficas, perfeitas em todos os seus pormenores, porque o autor, com paciência e tenacidade comparáveis àquelas que levaram tal rei à conquista de sua província natal, aguentara por anos e anos a tensão originada por um e o mesmo trabalho, dedicando exclusivamente à própria elucubração os momentos mais lúcidos e mais dignos” (MANN, 2015, p. 19)

Achei muito interessante a atenção que o escritor chama para o trabalho cotidiano do artista, que pode acabar culminando em obras grandiosas mas, no fundo, são sempre “edificadas à base de centenas de inspirações avulsas até tornarem-se grandes”. E que isso exigia do autor “paciência e tenacidade comparáveis àquelas que levaram tal rei (tá se referindo a Frederico) à conquista de sua província natal” e, pra isso, “aguentara por anos e anos a tensão originada por um e o mesmo trabalho, dedicando exclusivamente à própria elucubração os momentos mais lúcidos e mais dignos”.

“[...] Também do ponto de vista pessoal, a arte é uma vida mais intensa. Causa profunda felicidade, porém consome rapidamente. Grava na fisionomia de seu servidor os sinais de aventuras imaginárias e espirituais, e, não obstante a calma monacal da existência exterior, produz no decorrer do tempo um quê de fastio, ultrarrefinamento, cansaço, curiosidade dos nervos, tais como uma vida cheia de orgiásticos prazeres e paixões dificilmente seria capaz de provocar” (MANN, 2015, p. 23).

Interessante a visão da arte como uma forma de vida intensa, que “causa profunda felicidade, porém consome rapidamente”. Ao afirmar que a arte “grava na fisionomia de seu servidor os sinais de aventuras imaginárias e espirituais”, o escritor parece estar emulando com muita antecedência o que vai lhe acontecer no caso Tadzio. 

“Cansado e todavia espiritualmente alerta, distraiu-se durante a demorada refeição, ponderando assuntos abstratos e mesmo transcendentais. Meditou acerca da misteriosa fusão que devia produzir-se entre a norma e a individualidade para que se originasse a beleza humana. Dali, enveredou para problemas gerais da forma e da arte, e por fim constatou que seus pensamentos e achados se pareciam com certas sugestões que nos vêm nos devaneios, insinuações aparentemente felizes, mas que, perante a razão sóbria, revelam sua natureza insípida, totalmente inaproveitável” (MANN, 2015, p. 36).

Nesse trecho, um pouco sinuoso, o autor parece estar contrapondo a “razão sóbria”, que engendra, de certa forma, a norma, com os devaneios do sono, mas também, por semelhança, com os pensamentos e achados do artista em ação. E apesar do seu constrangimento, ele vai reconhecer que isso dá origem, no fundo, à beleza.

“[...] Adorava o mar por profundas razões: o anseio por sossego, bem natural num artista que muito trabalhava e, em face da exaustiva multiplicidade das visões, desejava achar um abrigo no seio da simplicidade desmesurada; a propensão ilícita, precisamente oposta às suas tarefas e por isso tentadora, para tudo quanto fosse desconforme, monstruoso, eterno, a propensão para o nada. Repousar na proximidade da perfeição é o anelo de quem procura aprimorar a sua obra, e não é o nada uma das formas da perfeição?” (MANN, 2015, p. 39).

Lendo prospectivamente o autor, se pode vislumbrar suas “desculpas” antecipadas, ou melhor dizendo, suas “racionalizações”. É o que vejo nesse trecho quando ele fala da “propensão ilícita, precisamente oposta às suas tarefas e por isso tentadora, para tudo quanto fosse desconforme, monstruoso, eterno, a propensão para o nada”. Para em seguida, indagar, quase afirmando, se não é o NADA uma das formas da perfeição.

“[...] Achava-se bem perto de Aschenbach, tão perto que este pela primeira vez teve ensejo de contemplá-lo, não à distância de um ídolo, senão com perfeita nitidez, percebendo todos os pormenores da natureza humana do objeto. Alguém dirigiu a palavra ao garoto, mas Tadzio, apenas respondendo com um sorriso de indescritível doçura, já desembarcou no primeiro andar. Enquanto saía, baixava novamente os olhos. ´A beleza torna as pessoas pudicas´, ponderou Aschenbach, e com certa insistência procurou averiguar por que seria assim. Ao mesmo tempo notara a imperfeição dos dentes de Tadzio. Eram um tanto pontudos e lívidos, sem aquele esmalte que confere a saúde, e de singular transparência e aspereza, tal como frequentemente encontramos entre os anêmicos. ´O rapaz é por demais delicado; é mesmo doentio˜, pensou Aschenbach. ´Provavelmente não viverá muito tempo.´ Mas omitiu de prestar a si mesmo contas por uma pontinha de satisfação ou euforia que acompanhava esse diagnóstico” (MANN, 2015, p. 43).

Que drama vive esse cara! E nada como a proximidade do “idealizado” pra que se perceba os seus defeitos. E mais ainda, pra que se sinta a “pontinha de satisfação” com a percepção, visto que a existência dos defeitos constituem a garantida do real.

“[...] ´Vejam só, o Tadzio também está aí!´. No mesmo instante, porém, notou que a constatação displicente emudecia e esvaía-se perante a verdade de seu coração. Deu-se conta do entusiasmo de seu sangue, da alegria e do pesar de sua alma. Reconheceu que fora por causa de Tadzio que a despedida se tornara tão penosa a ele” (MANN, 2015, p. 48).

Só mesmo um poeta pode exprimir de forma tão delicada a percepção das contradições de Eros agindo em si, dizendo pra si mesmo: “Deu-se conta do entusiasmo de seu sangue, da alegria e do pesar de sua alma”. Muito bacana!

“[...] Quando e onde quer que se tratasse de folgar, de repousar, de levar uma vida ociosa, o enjoo e a inquietude faziam logo – sobretudo nos tempos da sua mocidade – com que ele ansiasse por voltar à sua sublime labuta, ao sagrado e prosaico serviço de todos os dias. Cinicamente esse lugar enfeitiçava-o, enfraquecendo sua energia e tornando-o feliz” (MANN, 2015, p. 51).

Mais uma vez ele traz à tona a natureza rotineira e cotidiana do trabalho do artista. Isso me lembra um autor, também Thomas, só que este é Thomas Kuhn, que faz revelações muito semelhantes sobre o trabalho do cientista como um “fazer” cotidiano e rotineiro, que ele vai chamar de “ciência normal”, contrapondo-a com os momentos em que a ciência, por conta das controvérsias, se torna uma “ciência revolucionária”, rompendo com a normalidade cotidiana, o que ele compara com um quebra-cabeças, onde as coisas podem até estar embaralhadas mas possuem um quadro geral já definido. 

“A felicidade do escritor reside no pensamento que possa ser convertido inteiramente em sentimento e no sentir capaz de se tornar inteiramente pensar” (MANN, 2015, p. 55).

Muito interessante essa perspectiva de que o escritor se realiza ao ser mediação entre pensamento e sentimento. Me parece que o autor está se referindo ao fato de que a alegria do escritor é poder expressar de forma explícita, talvez sob a forma da sua obra, aquilo que ele sente. Isso talvez sinalize a expectativa dele de que o que ocorrera entre ele e Tadzio foi uma expressão dessa mediação. 

“[...] Também ele fora soldado, fora guerreiro, como a maioria da sua estirpe, uma vez que a arte era uma luta, um combate exaustivo, que a essa altura poucas pessoas sabiam aguentar por muito tempo. Uma vida de autodomínio e de obstinação, vida áspera, perseverante, sóbria, transformada por ele em símbolo de delicado e moderno heroísmo. Bem podia ser qualificada de viril e corajosa, e queria parecer a Aschenbach que aquele Eros que se apoderara da sua alma correspondia em certo sentido, mais do que qualquer outro, a esse tipo de vida. Não gozara tal Eros de sumo prestígio entre os povos mais valorosos? Não se afirmava que ele florescera nas cidades antigas, graças, precisamente, ao destemor dos seus habitantes?” (MANN, 2015, p. 65).

Mais uma vez, aqui, o autor vai buscar uma metáfora forte para expressar sua leitura do que é a arte. A impressão que fica é de que toda a novela foi construída como uma forma de dizer o quanto a arte é capaz de mexer com os sentimentos e com a realidade inteira do artista. 

“[...] Nos dois orfanatos já não havia lugar, e um tráfego de espantosa intensidade começava a ligar o cais dos novos alicerces a São Miguel, a ilha dos cemitérios. Mas o medo de um prejuízo geral, a consideração pela recém-inaugurada exposição de pintura nos jardins públicos, o receio de enormes perdas que, no caso de um pânico ou de um descrédito da cidade, sofreriam os hotéis, os lojistas e todos os ramos da exploração do turismo, evidenciou-se mais poderoso do que o amor à verdade e o respeito aos convênios internacionais. Em virtude disso, as autoridades aferravam-se obstinadamente à sua política de silêncio, desmentindo todo e qualquer boato. O diretor do Departamento de Saúde da cidade, homem de grandes méritos, demitira-se, indignado, de seu posto e fora substituído, convenientemente, por uma personalidade mais dócil” (MANN, 2015, p. 74).

Ontem, como hoje, permanece a oposição entre economia e vida. Como se uma pudesse existir sem a outra. E pior ainda, com os agentes do poder, seja ele econômico ou político, cinicamente fazendo a sua escolha pela economia em detrimento da vida, desde que esta não seja a deles próprios." (Emmanuel)






Debate pelo ZOOM: 18/06/2020 - 19h30 

Link pra reunião:

https://us02web.zoom.us/j/81596888989?pwd=NFpEb1E1N3hzSklWaGpOUGI2OUI5dz09












Por que será que Visconti troca o métier do protagonista no filme?

[00:28, 04/06/2020] Eloísa: Já descobri pq escolheu a música.  Para marcar os momentos de maior intensidade dramática e romântica.  Afinal a música  pode penetrar nos sentidos  com maior facilidade, ela é universal. Quando lemos  temos a imaginação, mas o cinema precisa de mais elementos coordenados pra criar um  clima. Com as palavras vc constrói imagens mais reais  que a própria realidade. Borges também sabia disso , óbvio.  Não pense que estou misturando as artes , só  comparando. Quando vc diz que alguém ama, deseja,  cria imagens mais fortes usando metáforas,  alusões.   Mas o cinema necessita de artes auxiliares, além de palavras,  para criar um clima.


Apollo e Hyacinthus






And his heart was stirred, it felt a father's kindness: such an emotion as the possessor of beauty can inspire in one who has offered himself up in spirit to create beauty. 




To leave seemed to the sufferer impossible,
to remain not less so.





Solitude gives birth to the original in us, 
to beauty unfamiliar and perilous 
to poetry.  

But also, 
it gives birth to the opposite: 
to the perverse, 
the illicit, 
the absurd.




the sere and ugly outside, hiding the embers of smouldering fire


Beauty makes people self-conscious.



He is delicate, he is sickly. He will most likely not live to grow old.

Besides, he deeply desired to live to a good old age, for it was his conviction that only the artist to whom it has been granted to be fruitful on all stage of our human scene can be truly great, or universal, or worthy of honour.




Pondered the mysterious harmony that must come to subsist between the individual human being and the universal law, in order that human beauty may result.


20 de junho de 2020

Solstício de Inverno: Eloísa & Elenir



by Eloisa


No inverno gelado,
a palavra me acompanha
e se faz lareira.

Elenir




Solstício de Inverno de 2020

Sábado

20/06/2020 20:18 :44

* * * 

Solstício de Inverno de 2019 - 15:54

sexta-feira


21 de junho



* * * 



Solstício de inverno 2018 - 07:07



quinta-feira


21 de junho

6 de junho de 2020

Bilac vê estrelas: Ruy Castro








Esse é o cara!



Resolvi pentear macaco


A nação tinha que ser parte dessa história





Satânia (...)

Sobe... cinge-lhe a perna longamente; Sobe...- e que volta sensual descreve Para abranger todo o quadril!- prossegue, Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo Da axila, acende-lhe o coral da boca, E antes de se ir perder na escura noite, Na densa noite dos cabelos negros, Pára confusa, a palpitar, diante Da luz mais bela dos seus grandes olhos.
E aos mornos beijos, às carícias ternas, Da luz, cerrando levemente os cílios, Satânia os lábios úmidos encurva, E da boca na púrpura sangrenta Abre um curto sorriso de volúpia...




Dormes

XVIII

Dormes... Mas que sussurro a umedecida
Terra desperta? Que rumor enleva
As estrelas, que no alto a Noite leva
Presas, luzindo, à túnica estendida?

São meus versos! Palpita a minha vida
Neles, falenas que a saudade eleva
De meu seio, e que vão, rompendo a treva,
Encher teus sonhos, pomba adormecida!

Dormes, com os seios nus, no travesseiro
Solto o cabelo negro... e ei-los, correndo,
Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro

Beijam-te a boca tépida e macia,
Sobem, descem, teu hálito sorvendo
Por que surge tão cedo a luz do dia?!




In Extremis

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! De um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! E este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais a morte...

Eu com o frio a crescer no coração, — tão cheio
De ti, até no horror do verdadeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! E eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! A delícia da vida!


Via-Láctea

XIV



Viver não pude sem que o fel provasse

Desse outro amor que nos perverte e engana:

Porque homem sou, e homem não há que passe

Virgem de todo pela vida humana.



Por que tanta serpente atra e profana

Dentro d'alma deixei que se aninhasse?

Por que, abrasado de uma sede insana,

A impuros lábios entreguei a face?



Depois dos lábios sôfregos e ardentes, 

Senti - duro castigo aos meus desejos -

O gume fino de perversos dentes...



E não posso das faces poluídas

Apagar os vestígios desses beijos

E os sangrentos sinais dessas feridas!



VENCENDO O AZUL

"Qu'ils sont drôles, ces brésiliens!"


Confeitaria Colombo da Gonçalves Dias - Centro do Rio

Quem foi José Carlos do Patrocínio? (Campos dos Goytacazes9 de outubro de 1853 — Rio de Janeiro29 de janeiro de 1905) foi umfarmacêuticojornalistaescritororador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravos.

Fonte: Wikipedia





Súplica


Falava o sol. Dizia:

"Acorda! Que alegria

Pelos ridentes céus se espalha agora! 

Foge a neblina fria.

Pede-te a luz do dia,

Pedem-te as chamas e o sorrir da aurora!"



Dizia o rio, cheio

De amor, abrindo o seio:

"Quero abraçar-te as formas primorosas! 

Vem tu, que embalde veio

O sol: somente anseio

Por teu corpo, formosa entre as formosas!



Quero-te inteiramente 

Nua! quero, tremente,

Cingir de beijos tuas róseas pomas, 

Cobrir teu corpo ardente,

E na água transparente

Guardar teus vivos, sensuais aromas!"



E prosseguia o vento:

"Escuta o meu lamento!

Vem! não quero a folhagem perfumada; 

Com a flor não me contento!

Mais alto é o meu intento:

Quero embalar-te a coma desnastrada!"