Fundado em 28 de Setembro de 1998

31 de outubro de 2020

O filho daquela que mais brilha: JP SantSil















As 3 irmãs


Plantadas juntas:
  1. milho fornece a haste para os feijões escalarem;
  2. os feijões fornecem o nitrogênio ao solo para nutrir o milho;
  3. abóbora protege a terra, impedindo a competição da vegetação não desejada e protege as raízes rasas do milho. Também contribui para a preservação da humidade no solo.



     - Ainda em toda essa vida, e em todo esse mundo pelos lugares em que já andei, não encontrei para mim nenhuma mulher perfeita aos meus olhos e ao meu coração... A mulher perfeita é aquela que sabe tudo sobre as coisas dos dois mundos, e deles faz um mundo só. Aquela mulher sábia que sabe todas as coisas do corpo e do coração, do mundo e do espírito, do visível e das coisas que se fazem invisíveis aos nossos olhos... E um dia encontrei uma mulher linda, de beleza simples e singela... Conhecedora dos poderes ocultos que habitam nas ervas, nos metais e nas pedras, ...  (Págs. 48-49)



"De tempos em tempos, no fim e no início de uma nova era, quando uma geração entra em caos, e o povo desta geração está em grande sofrimento e tamanha ignorância do Sagrado e Eterno Contínuo", surge um ... dotado de toda a força, o grande ... que é o filho daquela que ... (Pág. 37) 

"Pois este mundo está com os seus dias contados."


Aquela que mais brilha



30 de outubro de 2020

Hélio Penna comenta "Histórias da Noite" de Carlos Rosa


            Amigo Carlos, 

      O livro História da noite me emocionou profundamente. Foi uma viagem cheia de surpresas, emoções, sustos, reflexões e aprendizados.

            É difícil escolher os contos que mais me impressionaram neste mergulho (ou seria um
passeio numa dessas montanhas-russas?). Mas cometerei o absurdo de destacar alguns. São eles: A viagem; Eugênia, A escapada, Eguinha, Laize e João, O remorso, A casa dos gritos e Uma opinião.

          Fiz muitas anotações durante a leitura. As descobertas, os espantos, estão assinaladas nas páginas do livro, pois não havia tempo para encontrar lugar mais apropriado. Nomes de novos contos estão anotados ali, pois muitas vezes você me despertou a escrita. Também estão lá nomes de contos prontos, pois eu percebia que algo mais podia ser acrescentado, em função do que eu estava lendo.

          Uma riqueza o teu livro. Riqueza humana, artística e profissional.

          Fico a pensar como é o seu interior e suas noites de sono, diante de tantos e complexos personagens e pensamentos... Mas é você mesmo que nos salva ao dizer-nos que “somos um mundo, não temos conhecimento sobre até onde se estendem nossos horizontes.” e que “não devemos nos chocar com as descobertas que fazemos a respeito de nós mesmos.”

          Obrigado, amigo.


(Histórias da Noite: Carlos Rosa Moreira - R$ 25,00 (peça por conciergeclic@gmail.com))



28 de outubro de 2020

Indignation - Philip Roth



Nihao Laowai!

É Indignação o livro do mês de dezembro no Clube de Leitura Icaraí. Indignação conta a estória de Marcus Messner, um destemido e bem intencionado estudante universitário, seus encontros com a vida, e os caminhos que definem seu destino. A obra é de Philip Roth. A estória começa quando Messner vai para a Universidade e seu pai, se transforma em uma ‘máquina de preocupação’, como se tivesse uma premonição, como se subitamente acordasse de um conto de fadas e tivesse consciência do mundo e de todas as maneiras que um jovem rapaz pode ser destruído por ele. Fugindo da proteção opressora de seu pai, o jovem Messner decide realizar seus estudos distante de casa. Messner só desejava fazer tudo certo. Tirar seus A´s, trabalhar, dormir, e não brigar com o pai que tanto amava. Tentava assim, por um bom caminho, evitar a mediocridade, e alcançar o sucesso do qual sua família tanto se orgulharia.

E, nos subterrâneos da relação familiar dedicada e apaixonada, também as obsessões são transmitidas e atingem em cheio o jovem Marcus, dotado de uma perigosíssima ingenuidade e de uma rigidez ética e pessoal que não cabem no mundo.
(Júlio Pimentel Pinto, em Paisagens da Crítica)

Vejo Marcus, mesmo sendo ainda um homem imaturo, procurando através de suas incertezas, ser sujeito, e não sujeitado."

Despreparado para a vida o jovem é vítima de seu senso de ética super desenvolvido, de sua racionalidade (ou irracionalidade) exacerbada, vítima do mundo, dos caprichos da história.

A trama se passa em 1951-52, e tem como pano de fundo a Guerra da Coréia. Em entrevista, o autor comenta que, em Indignação, não teve interesse em escrever alegorias ou metáforas, mas trazer à vida algum momento do passado. Roth diz que ao iniciar o livro não havia estória alguma, mas um período somente em mente, o da Guerra da Coréia:

Qual estória posso contar que possa dar uma idéia deste momento e torná-lo dramático?
(Philip Roth)

Em Indignação, Philip Roth retrata as normas sociais, culturais e sexuais da América da década de 50. Regras tão fortes comparadas às da atualidade, que causam indignação ao jovem herói.



读书俱乐部
Ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45) as forças Aliadas libertaram a Coréia do domínio japonês. Colônia japonesa de 1910 a 1945, a Coréia passou a ser alvo de outro conflito, a Guerra Fria, que levou a divisão da península Han ao longo do paralelo 38 e à formação de dois Estados separados: o do Sul, com administração americana sob direção do general Douglas MacArthur; e do Norte, com ocupação pela, na época, União Soviética, que estabeleceu um regime Stalinista sob o controle de Kim Il-sung. Após anos de incidentes na fronteira, em junho de 1950, a República da Coréia no Sul foi invadida pelas forças armadas do Norte. As primeiras tropas americanas foram então enviadas afim de fortalecer a resistência contra os invasores. Fortemente equipados com tanques russos e artilharia, os norte coreanos avançaram rapidamente em direção ao Sul, com o objetivo de ocupar o estratégico porto de Busan (Pusan). Com o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que enviou reforços de diversas nações dentre britânicos, australianos e milhares de reservistas chamados à ativa, a resistência se manteve forte. Em outubro de 1950, MacArthur encontrou o presidente americano Harry Truman, com a promessa de que a Guerra chegaria ao fim até o Natal. Contudo, após conflito no território norte coreano com vitória das forças das Nações Unidas, lideradas por MacArthur, próxima a fronteira da Manchúria (extremo oeste da China), Pequim (Beijing) deu sinais de que a China comunista interviria em defesa de seu território. Em novembro de 1950, os chineses se uniram ao conflito. Nos dois anos seguintes a região do paralelo 38 foi marcada por violento combate, com os dois lados fortemente armados para impedir o avanço do inimigo e a ocupação de pontos estratégicos. (Acima: Bandeira da República Popular da China em desfile militar no Dia Nacional).

O título, Indignação, refere-se a vários dos personagem, sendo a palavra em si representada por uma canção: o Hino Nacional da República Popular da China: Marcha dos Voluntários (a China foi membro da Aliança Militar dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial, que incluía também União Soviética, Estados Unidos, Império Britânico, Polônia, França, e outros países, incluindo o Brasil). Marcus Messner havia aprendido o hino ainda no colégio, na época da Segunda Guerra. O jovem costumava recitar sua letra silenciosamente, sempre que se sentia zangado, em protesto a atitudes indignantes de opressão e intrusão, tentando, assim, evitar passos em falso, construindo uma ‘grande muralha’ que pudesse protegê-lo. Para ele era a canção do inimigo.



IN - DIG - NA - TION ! ! !
(a mais bela palavra da lingua inglesa para Marcus Messner)

Acima: memorial dos veteranos da Guerra da Coréia - Washington DC, EUA. A placa diz: "Our nation honors her sons and daughters who answered the call to defend a country they never knew and a people they never met." (Nossa nação honra seus filhos e filhas que atenderam ao chamado para defender um país que nunca conheceram e um povo que nunca encontraram). O conflito entre a Coréia do Sul e a Coréia do Norte teve fim com o cessar fogo em julho de 1953, quando uma zona desmilitarizada foi estabelecida na fronteira entre os dois Estados. Ambos os lados abandonaram suas posições e uma comissão das Nações Unidas foi estabelecida afim de supervisionar o armistício. Não há um número oficial de quantos morreram nesta guerra. Dentre americanos, britânicos, chineses, sul e norte coreanos, estima-se mais de 700 mil soldados mortos em combate, 890 mil feridos e mais de 120 mil prisioneiros ou desaparecidos. Ao fim da Guerra, o povo coreano, uma das mais notáveis culturas da Ásia tinha sua dignidade abalada, com duas Coréias em ruínas, uma população desmoralizada levada a mendicância. Desde 1953, as Coréias têm trabalhado na reconstrução de seus territórios. A Coréia do Sul é, hoje, um Estado moderno. A Coréia do Norte tornou-se um dos países mais fechados ao mundo, e grande parte da população é pobre.

Acima, ao fundo: mapa mundial mostrando a superfície da Terra à noite. As luzes revelam áreas urbanizadas, o que possibilita a identificação de países, cidades, e até mesmo alguns rios ou estradas em torno das quais a urbanização ocorre (ex. Nilo e Trans-siberiana). No mapa sobreposto (à direita) vemos com mais detalhes a Península Han. A distinção entre as duas Coréias é marcante à noite. Enquanto a Coréia do Sul é altamente iluminada, o território da Coréia do Norte se encontra às escuras, a exceção da capital PyongYang, e outras poucas cidades. Esta diferença torna nítidas as fronteiras com a China, ao norte, e com a Coréia do Sul, no paralelo 38. A história continua e, ao longo das últimas seis décadas, conflitos de pequena escala, tanto terrestres quanto navais, têm ocorrido repetidas vezes (1999, 2002, 2009 e 2010) ao longo da linha demarcatória entre as duas Coréias. À medida que cada Estado ambiciona re-unificar a Península de acordo com seus próprios termos e sistema de governo, o Mundo lembra a delicada relação entre os dois países e a Guerra, terminou com uma trégua.


Indignação chama atenção pelos pequenos incidentes (familiares, ou do cotidiano) que alcançam conseqüências despropositadas.
.... a forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuitas e até cômicas conduzem a resultados tão desproporcionais”.
E nos faz refletir, dentre outras coisas, sobre nossas escolhas (ou a falta delas). Afinal, até que ponto somos donos de nosso destino ou joguetes do tempo e espaço em que vivemos?

Recomendadíssimo!


26 de outubro de 2020

Relembrando: Pequenos Amores - Gracinda Rosa



"Voltou a chover. O pessoal estava cansado. Eu estava cansada e feliz. O grupo caminhava agora pelo meio das nuvens que, ao se movimentarem, passavam por nós, chegando a nos envolver completamente. Ninguém via ninguém. Depois, parecia que uma fumaceira saía de nossas cabeças, dos braços e das pernas, por todos os lados.

Eu e Alan íamos um pouco atrasados e, no meio do nevoeiro, não podíamos ser vistos pelos demais. Escutei Felipe gritando:

- Rosa! Onde está você?

Respondi, também gritando:

-Estou nas nuvens!"

Nas nuvens, em viagem à Teresópolis, tomando a barca da Praça XV para Niterói. Num passeio pelas areias da praia de Icaraí, para mostrar quem ainda não conhece a cidade a baía de Guanabara. Subindo o morrinho que Leva à Boa Viagem; caminhando muito e chegando ao Gragoatá, onde nos sentamos em um banco da pracinha. Ah! ...é com imenso prazer que somos apresentados ao mundo de Rosa e seus pequenos, médios, grandes e "extra large" amores. Lilo, Mauro, Martim Afonso, um querido trocador, Marcelo, Vicente, Renato, Eduardo, Edson, Alan, são personagem de "Pequenos Amores", ‘obra que nasceu da saudade’. ‘Composição da mulher e da escritora’: Gracinda Rosa.

“A senhora sente saudades?
‘Sim. Saudade de todos os meus amores. Saudade é presença’.”

Dona de uma rica história de dedicação ao magistério e ao estudo, mestra em psicopedagogia, hoje professora aposentada; desde dezembro de 2009, Gracinda Rosa da Costa ocupa a Cadeira no. 31 da Academia Niteroiense de Letras. Honrados, por termos a sábia acadêmica ao nosso lado, sentimo-nos presenteados pela convivência com a pessoa, Gracinda (Cindinha, para os mais íntimos). Serena, de personalidade modesta, Gracinda é dona de uma conversa agradabilíssima, e juventude adorável.

“Conversar com Gracinda Rosa é desvendar e surpreender a criança interior”

Conversar com Gracinda é aprendizado, é viajar com ela, no tempo, nas prateleiras de centenas de livros, nas memórias de cadernos, é estar nas nuvens! O tempo passa rápido!

“Um sonho: ler todos os livros que tenho!”

E são muitos! Fluente na leitura e na escrita, ler Gracinda é como ouvi-la. Uma escrita delicada e feminina. Segundo a autora, "Pequenos Amores" foi escrito com simplicidade e alma. Vale aqui lembrar a frase de Carlos Ruiz Zafón, em "A Sombra do Vento":

“Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele.”
Sabemos que quando se discute um livro em grupo, a verdade na frase acima é notável. Ao ler "Pequenos Amores" refletimos então sobre os significados de nossos próprios amores: os amores de infância, amores platônicos, não correspondidos, passageiros, impossíveis, apaixonados, amores maduros...

"Pequenos Amores" foi o primeiro livro publicado pela autora. Ao terminar a leitura, sentimos falta de um volume II, III, IV. Afinal a vida é cheia de amores. E não haja dúvida que no coração da autora há sempre espaço para mais.

“Vamos fingir que é até logo, que eu vou e volto...

Eles tomaram um táxi e se foram. Dentro de mim, o vazio. Muita dor no coração. Eu não queria chorar, mas não pude evitar as lágrimas que teimaram em vir prestar solidariedade à minha dor. Eu pensava, enquanto retornava ao edifício, naquelas palavras escritas em um papel amassado, rabiscadas por cima, mas nem por isso menos verdadeiras: ‘the impossible is impossible’.

No elevador, limpei bem as lágrimas.”
"Tenho acompanhado algumas colocações, de passagem ou aprofundadas, sobre esses discutíveis "Pequenos Amores", e ora me coloco na posição de mera componente do Clube de Leitura, ora me vejo na posição de autora, que tem que estar sempre preparada para encarar a crítica sobre seu livro. Como leitora de mim mesma, estou encantada com as opiniões, com as conclusões tiradas por uns e outros e até com as hipóteses levantadas sobre a existência ou não da Rosa. Mera ficção? Como autora, não posso antecipar certas respostas, que só deverão aparecer na reunião, ... Certamente, teremos muito que falar sobre esse tema. É verdade que esses "Pequenos Amores" do livro só foram pequenos na duração. Talvez o melhor título para o livro pudesse ter sido: "Pequenos Grandes Amores".

Está aberta a temporada de "Pequenos Grandes Amores", com Gracinda na berlinda!



MÚSICA: NO ONE NEEDS TO KNOW – SHANIA TWAIN

24 de outubro de 2020

Revivendo leituras passadas - "The Picture of Dorian Gray" - Oscar Wilde

As folhas farfalham,
andorinhas esvoaçam,
festa no jardim.

Florezinhas murcham,
revivem depois. E o homem
só uma vez é jovem.


(inspirados  Oscar Wilde-O Retrato de Dorian Gray)
(L-nir)



Beware of your pictures, dear reader! I highly recommend you check out all your pictures to guarantee that nothing wrong is going on.

There have been some comparisons made by some Book Club's participants  between “The Picture of Dorian Gray” and “Death in Venice” by Thomas Mann. Both books approach the subjects of Beauty and Youth. One says that the same fascination provoked by the beauty of Dorian Gray on Basil and Henry, has striked Gustav Aschenbach regarding the beauty of Tadzio. In a passage from the movie, Gustav awakes startled from a nightmare in which he was booed after a concert, and comes to the conclusion that "in all the world, there is no impurity so impure as old age". For this reader, Gustav plays Lorde Henry's role while Tadzio would be Dorian. I would rather say that Tadzio looks much more as Fonchito from "O Elogio da Madrasta" by Mario Vargas Llosa which we have also read in the Club.

Another participant (Rita Magnago) sent us some poetry after reading “The Picture of Dorian Gray” and we would like to share it with everybody:



“Sonhei que nosso rosto era espelho de nossa beleza interior
Recolhi lençóis e andei de olhos fechados cobrindo espelhos
Não fui à rua, com medo de olhares alheios
Como seria o julgamento exterior?

Passei em revista os anos vividos
Ouvidos fechados, língua ferina, nariz empinado
Cabelo prosa, olhar soberbo, sorrisos contidos
E agora, o que restará do encanto forjado?”



Beauty and Youth are coming out from "de profundis" this month in the Book Club.


Na reunião,... cada vez melhor! Ao contrário do retrato de Dorian Gray, a imagem do Clube se torna mais bela. Será nossa consciência?

There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all” (Oscar Wilde)

Seguindo a linha da famosa frase de Oscar Wilde, descobrimos que para apreciar ou compreender completamente uma obra como “O Retrato de Dorian Gray”, é preciso ler tal obra de forma amoral, ou seja, é necessário deixar de lado os conceitos de bem e mal, de certo e errado, de moral e imoral e sentir. Assumir nossas confusões, conflitos e sensações mais íntimos. A partir daí, é possível entender Literatura como arte que nos retorna um universo de sensações. Porém, tal ato nos leva a entender Literatura como um mundo à parte? Uma vez que somos "leitores voluntários que complementam sua experiência de vida com e pela literatura", é necessário nos despirmos de nosso senso crítico? Ou, ao contrário, devemos sempre mantê-lo em nossa companhia?

Em prática, “O Retrato de Dorian Gray” poder ser compreendido a partir de dois pontos de vistas: o da arte (onde não se julga, mas se sente) e um ponto de vista mais 'realista', onde não nos desligamos de nossa bagagem de vida.

É fato, que, uma vez que leitores levam consigo capacidade de interpretação crítica, é possível que vejam um mesmo livro de modos completamente distintos. Como dito anteriormente, ao longo do mês de discussão, diversos participantes discutiram semelhança entre “O Retrato de Dorian Gray” e “Morte em Veneza”, de Thomas Mann. Em “Morte em Veneza” exaltou-se poesia, sensualidade e beleza (que de fato existem!), porém todo esse sentimento prazeroso não poderia ser sufocado por um desconforto trazido pela personalidade aparentemente pedófila do maestro Gustav de Aschenbach? Analogamente, em “Todos os Nomes”, de José Saramago, muitos se emocionaram e viram beleza na parte em que a personagem Sr. José chega aos aposentos da mulher desconhecida. Contudo, é também possível enxergar uma personalidade doentia em alguém que invade os aposentos de uma morta desconhecida, cheira suas roupas, pensa em dormir em sua cama e ter sonhos agradáveis com a mesma. Desta forma, Dorian Gray pode ser visto tanto como um jovem que só almejava o prazer da vida (do ponto de vista amoral) quanto uma 'pessoa ruim', com certo desvio de caráter.

Dorian Gray, o dândi (homem elegante e bem vestido), foi identificado como dono de uma personalidade narcisista, que nos é revelada quando este se depara com seu retrato pela primeira vez. A ausência de uma estrutura familiar também foi exaltada como componente que certamente teria enfraquecido sua capacidade de julgamento e resistência às seduções e influências negativas.


Concluímos que o retrato de Dorian simbolizava sua consciência e nos perguntamos se a imagem no retrato "congelaria" ou voltaria a ficar bela, caso Dorian Gray se tornasse uma pessoa melhor. Reafirmamos que o feio e o belo nada tem a ver com maldade ou bondade (imagem esta provavelmente inserida em nossos subconscientes pela literatura do tipo Contos de Fadas).

Os muitos aforismos (em vários romances, utilizados perigosamente, revelando-se como frases de efeito, completamente ocas), são genialmente utilizados por Oscar Wilde na construção de Henry. Apesar de extremamente danoso, Henry, seduziu os leitores com sua sagacidade e frases imorais (porém sempre verdadeiras, se vistas de certo ponto de vista, ou seja, se encaradas amoralmente). Uma personagem genial!

A opinião sobre Oscar Wilde foi unânime: excelente escritor, que foge as estórias corriqueiras. O autor mudou a visão de vida de alguns leitores (boa parte já havia lido há uns trinta anos atrás, ou mais). Para a maioria, as três personalidades distintas, existentes em Henry, Basil e Dorian eram claramente Oscar Wilde.

Recomendadíssimo!

23 de outubro de 2020

Clube do Conto GR - A menina sem estrela: Nélson Rodrigues

 

Todo amor é eterno e,

se acaba, 

não era amor.



Reunião pelo Google Meet


24/10/2020 - 17h00


Acesse aqui o link


Leia o Texto aqui 



Nem a morte é separação


O amoroso é sincero até quando mente.



18 de outubro de 2020

Me tornei um comalense (ou será comaliano?): Emmanuel Paiva de Andrade


Como acontece uma vez por mês, neste outubro de 2020, o fatídico ano da pandemia, comecei a ler o livro selecionado do Clube de Leitura Icaraí (Clic). O escolhido da vez era o “Pedro Páramo”, do escritor mexicano Juan Rulfo(1). Como um “leitor prático”, à moda dos antigos “práticos” das profissões, ou talvez um “leitor leigo”, daqueles que rondam a periferia da centralidade das coisas, ou qualquer outra classificação que se queira aplicar àqueles que leem apenas por prazer e não por função, embora já tivesse ouvido falar do autor, jamais lera qualquer coisa dele antes.  

A leitura começou difícil, daquelas que você quase para no meio do caminho, encontrando uma desculpa qualquer para tão drástica decisão, seja porque os tempos estão difíceis, muita coisa pra fazer, conflito de prioridades, o tema é muito cavernoso (e bota cavernoso nisso!) ou, last but not least, porque, afinal de contas não gostei. O autor não me cativou e a história não me convenceu. Quer dizer, o repertório de possibilidades pra ficar bem na fita é imenso. Dá pra se safar! 

Mas ao mesmo tempo, vou me dando conta que o autor foi uma referencia importante para Gabriel Garcia Marques, Jorge Luís Borges, Guimarães Rosa e tantos outros ícones da literatura latino americana. Aí entra aquela pulguinha atrás da orelha, que vira um anjo acusador, te dizendo: o errado é você, meu caro, suas referencias intelectuais ainda não te permitem aquilatar o valor estético da obra de arte. 

Nesse momento, o orgulho toma posição e você parte pra luta. Foi o que eu fiz, visitando o Santo Google em busca de referencias que me permitissem compreender um pouco mais do que é que se passava com a minha experiência arrastada de leitura de Juan Rulfo. E toca a baixar resenhas, notícias e discussões sobre o autor e o livro, incluindo aquelas inúmeras curiosidades YouTubianas. 

Pra meu consolo imediato, descubro que a dificuldade inicial da leitura de Pedro Páramo é mais comum do que supunha a minha vã filosofia. Já mais aliviado, continuo a leitura, ao mesmo tempo em que aprofundo um pouco mais o conhecimento das histórias, circunstâncias e perspectivas do autor e do livro. E eis que minha sintonia com o romance vai aumentando, aumentando, aumentando, até virar uma avalanche. Ou talvez, eu é que tenha virado uma daquelas vozes, vindas não se sabe de onde, que atravessam a história o tempo inteiro. Sim! Deve ser isso. Eu virei um dos fantasmas que habitam Comala!  

Dentre todas as descobertas que fui fazendo, a que mais me impressionou foi a de perceber uma história que se conta por si própria. As muitas vozes, os muitos narradores que ali surgem, configuram, na verdade, uma espécie de inexistência de um “dono” único da história, de um narrador-mor. É como se pessoas, vivas ou mortas, lugares, circunstâncias, acontecimentos, valores, pecados, alegrias e tristezas se reunissem e contassem, por si mesmo, como sujeitos de mesma estatura ontológica, tantas histórias quanto são as experiências ancestrais de latino-americanos, submetidos, dominados ou em luta permanente, por um paraíso que não coincide em nada com aquele que os colonizadores quiseram impor ao continente. 

E pra finalizar, em diálogo durante o encontro do clube, nos vem a descoberta de que nessa história que se auto-narra, não adianta repetir a leitura de nenhum trecho, em busca de alguma lógica inteligível. As conexões não se fazem por proximidade, mas por uma espécie de “hipótese Gaia”, de James Lovelock(2), onde humanos e não humanos se falam, se combinam, se articulam e se comovem. Tem que ler a história toda, várias vezes. E isso só pode aumentar em nós a sensibilidade poética que Juan Rulfo tão incrivelmente nos comunica.

(1) RULFO, Juan. Pedro Páramo. Rio de Janeiro: BestBolso, 2020. 

(2) LATOUR, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. São Paulo: Ubu Editora, 2020


17/10/2020


10 de outubro de 2020

Clube do Conto GR - Liliana chorando: Júlio Cortázar


Ai que é triste viver sofrendo

E é triste partir deixando amores

A rotina sabida de cor 

O futuro adivinhado

A vida que continuará sem nós


Ai que é triste deixar os

Braços que queremos para sempre abraçar

A boca que nos dá o beijo milagroso

E faz o dia suportável uma vez mais

O sono que nos faz querer ficar acordado

Só pra ver uma vez mais

Nosso amor dormir 


Penso que dormir em paz

Mas talvez ela já saiba tudo

E quem se engane seja eu 

Ou não haja engano

Não sei de nada

Fantasio dores, sentimentos

Tenho ciúmes do que ainda não aconteceu ou já aconteceu

E choro pela ausência do teu sorriso

Do teu corpo junto ao meu 

Um suspiro de alegria, de vida

Em meio a tanta certeza de morte

É difícil dizer adeus

(Rita Magnago)


* * *


 Debate: 10/10/2020 - 17h00

Google Meet

Link aqui 

Leia o Conto aqui



Em "Liliana Chorando" ... vida e morte se confundem como extremos de um mesmo ciclo. No ... conto, um homem imagina a própria morte e o que restará depois dela, imagina o que os vivos farão quando ele já não estiver mais presente, a vida que não poderá testemunhar: "Liliana chorando era o término, a extremidade de onde ia começar outra maneira de viver". (Bernardo de Carvalho) - Fonte



5 de outubro de 2020

O idiota: Dostoiévski


"A alma é curada no convívio com as crianças"





Haicais de Elenir inspirada no livro "O idiota"

Mulher e poesia.  
Também, beleza e cultura.
Comunhões felizes.

O homem é mais feliz
enquanto aguarda a chegada
do que ao realizá-la

Coisas inefáveis:
O rosto de uma criança,
o nascer do sol...





...O Catolicismo é o mesmo que uma fé não cristã! – acrescentou de repente [o príncipe], com os olhos brilhando, olhando à sua frente e ao mesmo tempo correndo a vista por todos.
-- Ora, isso é demais – proferiu o velhote e olhou surpreso para Ivan Fiódorovitch.
-- Então como é que o Catolicismo é uma fé não cristã?— virou-se na cadeira Ivan Petróvitch. – Então, que fé é?
-- Uma fé não cristã, em primeiro lugar – tornou a falar o príncipe com uma inquietação extraordinária e com uma nitidez fora da medida. – Isso em primeiro lugar; em segundo, o Catolicismo romano é até pior do que o próprio ateísmo, é essa a minha opinião! Sim! É essa a minha opinião! O ateísmo também prega o nada, mas o Catolicismo vai além: prega um Cristo deformado, que ele mesmo denegriu e profanou, um Cristo oposto! Ele prega o anticristo, eu lhe juro, lhe asseguro! Esta é uma convicção minha e antiga, e ela me atormentou... O Catolicismo romano acredita que sem um poder estatal mundial a Igreja não se sustenta na Terra e grita: “Non possumus!” A meu ver, o Catolicismo romano não é nem uma fé mas, terminantemente, uma continuação do Império Romano do Ocidente, e nele tudo está subordinado a esse pensamento, a começar pela fé. O papa apoderou-se da Terra, do trono terrestre e pegou a espada; desde então não tem feito outra coisa, só que à espada acrescentou a mentira, a esperteza, o embuste, o fanatismo, a superstição, o crime, brincou com os próprios santos, com os sentimentos verdadeiros, simples e fervorosos do povo, trocou tudo, tudo por dinheiro, pelo vil e poderoso poder terrestre. Isso não é uma doutrina anticristã?! Como o ateísmo não iria descender deles? O ateísmo derivou deles, do próprio Catolicismo romano! (...)
-- O senhor e-xa-gera muito – arrastou Ivan Petróvitch com um certo tédio e até como que meio envergonhado por algo – na Igreja de lá também há representantes dignos de qualquer respeito e be-ne-méritos...
--Eu nunca falei de representantes isolados da Igreja. Estou falando do Catolicismo romano em sua essência, estou falando de Roma. Por acaso a Igreja pode desaparecer totalmente? Eu nunca disse isso!
-- Concordo, mas tudo isso é sabido e inclusive – desnecessário e... pertence à teologia.
-- Oh, não, oh, não! Não só à teologia, eu lhe asseguro, lhe asseguro que não! Isto nos afeta muito mais de perto do que o senhor imagina. Todo o nosso equívoco está aí, em ainda não conseguirmos perceber que essa questão não é só e exclusivamente teológica! Porque o socialismo é criação do Catolicismo e da essência católica! Ele, como seu irmão o ateísmo, também foi gerado pelo desespero, em contraposição ao Catolicismo no sentido moral, para substituir o poder moral perdido da religião, para saciar a sede espiritual da humanidade sequiosa e salvá-la não por intermédio de Cristo, mas igualmente da violência! (...)

(p. 607)


A senhora leu um número exagerado de poemas e é instruída demais para a sua condição; a senhora é uma mulher livresca e boa vida. (p.633)


Nastácia Filíppovna

"Quem quiser poderá enganá-lo, e quem quer que o engane ele depois perdoará, a todo e qualquer um, e foi por isso que eu o amei." (p. 633)





Nada de ficar perturbado também com o fato de que somos ridículos, não é verdade? Porque é realmente assim, nós somos ridículos, levianos, cheios de maus hábitos, sentimos tédio, não sabemos olhar, não sabemos compreender, ora, todos nós somos assim, nós todos, e tanto os senhores quanto eu, quanto eles! (..) Sabem, eu não compreendo como se pode passar ao lado de uma árvore e não ficar feliz por vê-la! Conversar com uma pessoa e não se sentir feliz por amá-la! Oh, eu apenas não sei exprimir... mas, a cada passo, quantas coisas maravilhosas existem, que até o mais desconcertado dos homens as acha belas? Olhem para uma criança, olhem para a alvorada de Deus, olhem para a relva do jeito que cresce, olhem para os olhos que os olham e os amam..."


"Passe ao largo da gente e nos perdoe pela nossa felicidade"




by MelloRocks
Crianças e pássaros
o mundo enfeitam e alegram,

igualmente; ao príncipe.

Cultura, beleza
e educação ornamentam

a sociedade.

Mulher e poesia
uma feliz comunhão.

Sem falar em dote.

(Elenir)




Você não tem ternura: só verdade, portanto, é injusto.

Aí só há verdade, é até injusto. 




Entretanto a intranquilidade do príncipe crescia de minuto a minuto. Ele andava pelo parque olhando distraído ao redor e parou surpreso quando se aproximou da pista diante da estação e avistou uma série de bancos vazios e as estantes para a orquestra. Ficou admirado com o lugar e algo o fez achá-lo horrível. Tomou o caminho de volta e, seguindo direto por onde passara na véspera com as Iepántchin rumo à estação, chegou ao banco verde que lhe haviam designado para o encontro, sentou-se e súbito deu uma gargalhada, o que de imediato o deixou sumamente indignado. Sua melancolia continuava; estava com vontade de ir a algum lugar... não sabia para onde. Numa árvore, acima dele, cantava um pássaro, e ele ficou a procurá-lo entre as folhas com a vista; súbito o pássaro levantou voo da árvore, e por alguma razão no mesmo instante veio-lhe à lembrança a “mosca” na “réstia quente do sol”, sobre a qual Hippolit escrevera que até “ela conhece o seu lugar e é uma participante do coro geral, ao passo que ele é apenas um aborto”. Essa frase o deixara estupefato ainda há pouco, agora ele a memorizava. Uma lembrança há muito esquecida mexeu-se dentro dele e súbito se esclareceu de uma vez.
Isso havia acontecido na Suíça, no primeiro ano do seu tratamento, até mesmo nos primeiros meses. Naquela época ele ainda era inteiramente como um idiota, não era capaz nem de falar direito, às vezes não conseguia entender o que estavam querendo dele. Uma vez subiu às montanhas em um claro dia de sol, e andou demoradamente com um pensamento angustiante que, todavia, de modo algum se materializou. Diante dele havia um céu brilhante, embaixo um lago, ao redor um horizonte claro a não acabar mais. Ficou muito tempo a olhar e atormentar-se. Agora recordava que havia estendido as mãos naquele azul-claro e sem fim e chorado. Atormentava-o o fato de que ele era totalmente estranho àquilo tudo. Que festim é esse, que grande e sempiterna festa é essa que não tem fim e que há muito o vem arrastando, sempre, desde a infância, e à qual ele não encontra meio de juntar-se. Toda manhã nasce esse mesmo sol claro; toda manhã há arco-íris na cachoeira; toda tarde a montanha nevada, a mais alta de lá, ao longe, nos confins do céu, arde em chama purpúrea; cada “pequena mosca, que zune ao seu lado na réstia quente do sol é uma participante de todo esse coro: conhece o seu lugar, gosta dele e é feliz”; cada pé de relva cresce e é feliz! E tudo tem o seu caminho, e tudo conhece o seu caminho, sai cantando e chega cantando; só ele não sabe de nada, não compreende nada, nem as pessoas, nem os sons, é estranho a tudo e é um aborto. Oh, ele, é claro, não pôde falar naquele momento com essas palavras e externar a sua pergunta; atormentava-se de forma surda e muda; mas agora lhe parecia que dissera tudo e naquela ocasião, todas essas mesmas palavras, e que a respeito daquela “mosca” Hippolit falara com palavras dele mesmo, de suas palavras e lágrimas naquele momento. Ele estava certo disso e, sabe lá, seu coração batia movido por esse pensamento...
Caiu no sono no banco mas a sua inquietação continuou até em sonho. Bem antes de adormecer lembrou-se de que Hippolit iria matar dez pessoas e riu do absurdo da suposição. Ao seu lado fazia um silêncio maravilhoso, sereno, apenas com um farfalhar de folhas que, parece, provoca ainda mais silêncio e solidão ao redor. Teve muitos sonhos e todos sobressaltados, que o fizeram estremecer a cada instante. Por fim uma mulher veio ter com ele; ela a conhecia, e a conhecia a ponto de sofrer; ele sempre foi capaz de dizer seu nome e apontá-la mas - coisa estranha - agora era como se o rosto dela não tivesse nada daquele rosto que ele sempre conhecera, e era com angústia que ele se negava a reconhecer nela aquela mulher. Neste rosto havia tanto arrependimento e horror que, parecia, era uma assassina terrível e acabava de cometer um crime horrendo. Uma lágrima lhe tremia na face pálida; ela o chamou com um aceno de mão e pôs um dedo nos lábios como se o prevenisse para que a acompanhasse em silêncio. O coração dele parou; por nada, por nada ele queria reconhecer nela a criminosa; mas ele sentia que agora mesmo ia acontecer alguma coisa terrível para toda a sua vida. Parecia que ela queria lhe mostrar alguma coisa, ali mesmo perto do parque. Ele se levantou a fim de segui-la, e de súbito ouviu-se ao seu lado um riso radiante e fresco de alguém; súbito a mão de alguém se viu entre as mãos dele; ele agarrou essa mão, apertou-a com força e acordou. Aglaia estava à sua frente e ria alto.



Há muito tempo ela já me havia esclarecido a teu respeito, mas há pouco eu mesmo observei como tu estavas sentado com ela ouvindo música. Ela me jurou por Deus, ontem e hoje, que tu estás apaixonado como um gato por Aglaia Iepántchina. Para mim, príncipe, isso dá no mesmo, e além do mais não é da minha conta: se tu deixaste de amá-la, ela ainda não deixou de te amar. Tu mesmo sabes que ela está querendo te casar forçosamente com a outra, deu essa palavra, eh-eh! Diz ela para mim: “Sem isso eu não me caso contigo, eles na igreja, nós também na igreja”. O que existe aí não consigo compreender e nunca compreendi: ou ela te ama ilimitadamente ou... se ama, então como quer te casar com outra? Diz ela: “Quero vê-lo feliz” - logo, quer dizer que ama.




"Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama"

x

"É possível anunciar a verdade de forma a convencer as pessoas em 15 minutos"


😑😑😑


"Teve um ataque de epilepsia, que há muito tempo o havia abandonado. Sabe-se que os ataques de epilepsia, a própria epilepsia, passam num instante. Nesse momento o rosto e particularmente o olhar sofre uma deformação instantânea e extraordinária. As convulsões e os tremores dominam todo o corpo e todos os traços do rosto. Um lamento terrível, inimaginável e sem semelhança desprende-se do peito; nesse lamento é como se desaparecesse de chofre tudo o que é humano, e é absolutamente impossível, ou pelo menos muito difícil, a um observador imaginar e admitir que esse grito venha do mesmo homem. Imagina-se inclusive que quem está gritando seria um outro qualquer, situado dentro desse homem. Pelo menos foi assim que muitas pessoas explicaram a sua impressão, em muitas pessoas a visão do homem tomado de ataque epiléptico provoca um horror decidido e insuportável, que traz em si até algo místico. [...]"


Hans Holbein “O Corpo de Cristo Morto na Tumba" (1521)

- De quê eu ri? É que me ocorreu que, se não tivesse havido essa desgraça contigo, não houvesse acontecido esse amor, pode ser que viesses a ser tal qual teu pai, e ademais muito em breve. Irias te enclausurar sozinho e em silêncio com a mulher, obediente e muda, falando raro e com severidade, sem confiar numa única pessoa, aliás sem precisar absolutamente disso, e limitando-se a amealhar dinheiro no silêncio e na penumbra. E quando viesses a elogiar livros esses seriam muito, muito velhos, e te interessaria pelos da antiga seita do sinal da cruz com dois dedos, e ainda assim pela antiguidade...


O terceiro selo do apocalipse


De que me serve toda essa beleza quando em cada minuto, em cada segundo eu devo e agora sou forçado a saber que até essa minúscula mosquinha ali, que está zunindo ao meu lado numa réstia de sol, até ela participa de todo esse banquete e desse coro, e conhece o seu lugar, ama-o e é feliz, enquanto eu sou um aborto e só por minha pusilanimidade eu não quis entender isso até hoje! (Dostoiévski, 2002, p. 464).


Perfeita é a tua beleza
Tudo em você é perfeição!

Não te amo por amor, mas por compaixão. 

Ah! Sem dúvida não estava se sentindo bem, hoje, a bem dizer se achando quase no estado em que outrora se sentia quando estava para vir um dos ataques da sua antiga moléstia. Sabia que em tais ocasiões costumava pouco antes se sentir excepcionalmente “ausente” de tudo, e que então confundia coisas e pessoas, caso não se esforçasse por prestar bastante atenção nelas. E havia ainda um outro motivo especial para fazer com que desejasse realmente descobrir se antes tinha estado mesmo diante da tal loja. Entre os artigos expostos na vitrina havia um que ele admirara de modo particular, havendo até calculado que devia valer uns sessenta copeques de prata. Lembrava-se dessa particularidade, não obstante a agitação e seu estado mental. Portanto, se tal loja existisse, se tal artigo lá estivesse mesmo na vitrina, isso confirmava que de fato parara acolá, atraído simplesmente por aquele tal artigo. E por conseguinte tal artigo deveria interessá-lo muito, já que o atraíra messmo estando ele como estava, aborrecidíssimo e confuso por ter saído do trem e abandonado a estação. Enveredou para a direita, olhando para as lojas e eis que, quando mais batia seu coração tomado de impaciência, deu de súbito com a loja! Encontrara-a finalmente!
Estava a quinhentos passos dela, ainda agora, quando lhe veio a vontade irreprimível de voltar. E lá estava o artigo que devia valer uns sessenta copeques. Olhava-o e repetia: “Deve valer uns sessenta copeques, não mais”, e riu. Mas sua risada era histérica.
Sentiu-se indisposto, infeliz, zonzo. Lembrou-se claramente, então, de que quando ali estivera antes, ainda agora mesmo, repentinamente se tinha voltado da vitrina para a rua, como fizera aquela manhã ao descer do trem quando, já na rua, surpreendera os olhos de Rogójin sobre ele. Dando como certo que não se tinha enganado (muito embora antes soubesse que era verdade mesmo), afastou-se da loja e estugou o passo. Urgia dar tudo por acabado. Agora estava mais que ciente de que nem mesmo na estação aquilo fora imaginação sua.
Algo de verídico se passara com ele, ligado à sua inquietação anterior. Mas o subjugou uma intolerável repugnância; resolveu não pensar mais nessas coisas, e conseguiu dar um curso completamente outro às suas cogitações.
Lembrou-se, por exemplo, de que sempre um minuto antes do ataque epilético (quando lhe vinha ao estar acordado) lhe iluminava o cérebro, em meio à tristeza, ao abatimento e à treva espiritual, um jorro de luz e logo, com extraordinário ímpeto, todas as suas forças vitais se punham a trabalhar em altíssima tensão. A sensação de vivência, a consciência do eu decuplicavam naquele momento, que era como um relâmpago de fulguração. O seu espírito e o seu coração se inundavam com uma extraordinária luz. Todas as suas inquietações, todas as suas dúvidas, todas as suas ansiedades ficavam desagravadas imediatamente. Tudo imergia em uma calma suave. cheia de terna e harmoniosa alegria e esperança. Tal momento, tal relâmpago, era apenas o prelúdio desse único segundo (não era mais do que um segundo) com que o ataque começava. Esse segundo era naturalmente insuportável. Ao pensar depois naquele momento, quando outra vez bom, muitas vezes dissera a si próprio que aqueles relâmpagos e fulgores, lhe dando a mais alta percepção de autoconsciência e, por conseguinte, também de vida em sua mais alta forma. Não passavam de doença, isto é, de mera interrupção de uma condição normal. Portanto, não eram absolutamente a mais alta forma de existir e de ser, devendo muito ao contrário ser contada como a mais baixa. E acabava chegando, por último, a uma conclusão paradoxal. Que tem que seja doença? Que mal faz que seja uma intensidade anormal, se o resultado desse fragmento de segundo, recordado e analisado depois, na hora da saúde, assume o valor de síntese da harmonia e da beleza, visto proporcionar uma sensação desconhecida e não adivinhada antes? Um estado de ápice, de reconciliação, de inteireza e de êxtase devocional, fazendo a criatura ascender à mais alta escala da vivência?


Obrigado!

"O traço mais importante de minha vida é enganar-me constantemente com as pessoas" (Lisavieta Prokófievna)


Madona na família do burgomestre Jacob Meyer
Hans Holbein


Somos o virtual mais real do que nunca.


Todos sabem que só dizem a verdade aqueles que não são espirituosos.

Queria ponderar e decidir um passo a ser dado. Mas esse "passo" não era daqueles que se ponderam e sim daqueles que justamente não se ponderam e simplesmente se decide por ele. 



O Círculo Petrashevski foi um grupo de discussão literária
formado por intelectuais progressistas em São Petersburgo,
organizado por Mikhail Petrashevski,
um seguidor do socialista utópico francês Charles Fourier.





A vida é vida em qualquer lugar, a vida está em nós mesmos e não fora. Ao meu lado haverá pessoas, e ser homem entre elas e assim permanecer para sempre, quaisquer que sejam os infortúnios, sem perder a coragem nem cair no desânimo - eis em que consiste a vida, em que consiste o seu objetivo.






Em "O Idiota", Fiódor Dostoiévski constrói um dos personagens mais marcantes da literatura universal. Aos 26 anos de idade, o príncipe Míchkin é um homem de grande bondade e inocência, que mescla traços de Jesus Cristo e Dom Quixote.


(Foto: Eduardo Matysiak)


Leonardo Boff, com 79 anos, teólogo, escritor e professor universitário brasileiro, expoente da Teologia da Libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos, impedido de visitar Lula, afirmou que não sairia até conseguir ver seu amigo, em Curitiba, em 2018.


Boff viajou a Curitiba para fazer um aconselhamento espiritual e entregar a Lula um cachecol vermelho que havia prometido para o ex-presidente, que está isolado em uma cela desde a prisão no dia 7 de abril, praticamente incomunicável.



Junto a ele, Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz, foi impedido. Há tratado internacional que garante aos detentores do Nobel da Paz o direito de inspecionar as condições de prisões. 



Hoje esse direito foi negado.






Pousados na grade, 
riscam, o silêncio, os pássaros.
Embalam meu sono.
(Elenir)