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28 de abril de 2016

Contra o Fanatismo: Amós Oz



O fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o Cristianismo, que o Judaísmo, que qualquer estado, governo ou sistema político, que qualquer ideologia ou fé no mundo. O fanatismo é, infelizmente, um componente onipresente da natureza humana, um gene do mal (…) O fanatismo é, com frequência, intimamente relacionado a uma atmosfera de desespero profundo. Num lugar em que as pessoas sintam que não há nada além de derrota, humilhação e indignidade, podem recorrer a várias formas de violência desesperada.” (…) ”O fanatismo está em quase todos os lugares, e suas formas mais silenciosas, mais civilizadas, estão presentes em nosso entorno, e talvez dentro de nós também. Conheço bem os antitabagistas que o queimarão vivo, se você acender um cigarro perto deles! Conheço bem os vegetarianos que o comerão vivo por comer carne! Conheço bem os pacifistas dispostos a atirar na minha cabeça só porque advogo uma estratégia ligeiramente diferente sobre como fazer a paz com os palestinos. (…) A semente do fanatismo brota ao se adotar uma atitude de superioridade moral que não busca o compromisso.


19 de abril de 2016

Quando secar o rio da minha infância: Frei Tito










Em tempos de louvores a torturadores no Congresso Nacional durante votação do Impeachment da Presidenta, um poema de Frei Tito, torturado por Fleury, e depois exilado na França, onde escreveu este poema.  (Antonio)

18 de abril de 2016

As palavras


A eternidade e o desejo: Inês Pedrosa


Na amabilidade das palavras oculto o rumor de desolação que me treme na garganta - mas a cegueira conduziu-me a esse dom que eu não queria, de ver as vozes à transparência das palavras. Não tenho como me distrair: sou inteiramente vulnerável à brutalidade das vozes, aos sentimentos incontrolados que circulam nelas. mordendo como piranhas. Centro-me no sentido específico de cada palavra, tento anular a voz que ouço, transformá-la numa cortina de fundo — mas a palavra dança e decompõe-se,quebra-se em estilhaços de vidro que voam dentro do meu corpo-ouvido,ferindo-o, primeiro, e abrindo-o em chaga, depois, porque dentro do ouvido do que é o meu corpo agita-se uma corrida de criança atraída pelo brilho das coisas perigosas. Palavras estilhaçadas. Despalavradas. Os substantivos abstractos, nenhum sobrevive ao impacto. Amor. Teríamos que inventar uma palavra para cada espécie de amor e para cada amante e para cada instante da experiência física ou metafísica dessa exaltação sem fórmula. Amor, diz-me a vendedora de bugigangas na rua, e quer dizer compra-me qualquer coisa. Ou quer dizer tenho fome. Ou quer dizer ajuda-me. Ou deixa-me em paz. E eu agora sei sempre o que quer dizer— e sei que quase sempre não quer dizer nada. As palavras já nãome protegem, estão todas em cacos.





alarve: que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro, ignorante.

"Escondidas no silêncio da biblioteca, mascaradas pela escura monotonia das capas, todas as palavras estavam lá, esperando que eu as decifrasse. Eu sonhava me enfurnar  naqueles corredores poeirentos
e nunca mais voltar".Simone de Beauvoir.



"Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Poesia Completa'





"A palavra cotidiana, ao mergulhar nas águas da poesia, recupera-se, renova-se. E os leitores de poesia renovam-se com a palavra. Para deixar a palavra em forma, a poesia transforma, altera sentidos, reforça a sonoridade, brinca. Se os dicionários preservam os significados coletivos dos vocábulos, a poesia trabalha com o que há de único  e insubstituível em cada palavra. A palavra sai do reino dos catálogos e, na magia poética, refaz sua música".




Literatura & Educação - Gabriel Perissé

12 de abril de 2016

Da adesão ao Império à tragédia

Por Wagner Medeiros Junior



A adesão do Grão-Pará ao Império do Brasil ocorreu em 15 de agosto de 1823, quase um ano depois de D. Pedro I declarar a independência. Tudo aconteceu muito rápido! Cinco dias antes, desembarcou em terra um oficial brasileiro, sob a escolta de um grupo de fuzileiros navais, procurando o Palácio do Governo. Lá chegando, intimou a junta provisória pela adesão ao Brasil, sob a ameaça de bombardear a cidade de Belém.
Pressionada, a junta provisória se reuniria no dia seguinte com as principais lideranças portuguesas e paraenses. A assembléia dividiu-se em discussões calorosas, mas, por fim, os portugueses foram vencidos. O descontentamento com o radicalismo das Cortes em Portugal foi decisivo para a adesão do Grão-Pará ao Império do Brasil, pois os liberais aspiravam por mais liberdade política e econômica, refutando voltar à condição de colônia.
Após o juramento de fidelidade ao Império aportou em Belém o brigue de guerra Maranhão, de bandeira brasileira, sob o comando do capitão inglês John Pascoe Grenfell. Os portugueses ao perceberem que a “esquadra” brasileira se reduzia a essa única embarcação já não possuíam forças para esboçar qualquer reação. A frota lusa fora toda apreendida e as tropas em terra desagregadas com a prisão do comandante João Pereira Vilaça e de diversos oficiais fiéis a Portugal.
O primeiro governo provisório da província foi de curta duração. Os defensores da união com o Brasil agora clamavam por um governo sem a presença dos portugueses, mesmo daqueles que assentiram fidelidade a D. Pedro I. Então, pela força, os lusitanos foram destituídos e o cônego Batista Campos elevado ao comando do governo. Batista Campos era a principal liderança liberal paraense. Antes de aderir em primeira hora a união com o Brasil, lutara em favor da independência do Grão-Pará e da fundação de uma nova República.
A desordem, entretanto, já estava instalada e a cidade de Belém ardia em chamas. Grupos de populares, chamados de patriotas, juntaram-se às tropas rebeladas e invadiam e saqueavam as casas e os comércios dos portugueses, clamando pela deportação de todos. Então, para conter a desordem o jovem capitão Grenfell manda executar cinco patriotas e prender Batista Campos, depois de acusá-lo de liderar a baderna e amarrá-lo à boca de um canhão. Batista Campos teve a vida poupada pela pressão popular, mas foi mandado como prisioneiro para o Rio de Janeiro.
Toda essa agitação resultaria na prisão de 256 indivíduos e em uma tragédia, que pela historiografia brasileira passaria a ser nominada “A tragédia do brigue Palhaço”.
Pela manhã do dia 21 de outubro os presos foram levados a bordo do brigue Palhaço, sob o comando do tenente Joaquim Lúcio de Araújo, e colocados em um pequeno porão, com intuito de humilhá-los. Amontoados e fatigados pelo intenso calor e pela falta de ar os prisioneiros exasperados começaram a entrar em desespero clamando por água. A disputa pela água suja do rio que lhes eram jogadas provocou um verdadeiro pânico e os mais fracos foram sendo pisoteados na luta pelo espaço, não obstante aos corpos colados.
Então, para conter o mau cheiro que aspergia junto a gritaria e a aflição, o tenente Araújo mandou que borrifassem cal virgem sobre os prisioneiros. No dia seguinte pela manhã, junto ao silêncio jazia um emaranhado de corpos, “com sinais de que tinham expirado na mais longa e penosa agonia”, conforme dizer de Laurentino Gomes. Apenas o preso de nome João Tapuia havia sobrevivido à tragédia!
O comandante Grenfell foi responsabilizado pela tragédia que enterneceu o Grão-Pará, mas acabou por absolvido depois de escapar da ordem de prisão. Os paraenses, entretanto, não esqueceriam o trauma da adesão e em anos mais tarde levantariam as armas contra Império no mais sangrento conflito ocorrido após a independência: A Cabanagem. 

Visite o nosso blog:   Preto no Branco por Wagner Medeiros Junior

2 de abril de 2016

"O lado bom da vida" no Clube de Leitura Jovem

Queridos amigos, lendo o livro "Arte como Terapia", de Alain de Botton e John Armstrong, encontrei uma foto de John Constable, intitulada Estudo de cirros: Um céu azul, com nuvens em profusão, de várias cores e formas diversas e, sob ele, o seguinte texto:

"Os estudos de nuvens de John Constable nos convidam a contemplar, com muito mais atenção do que o normal, as formas e texturas próprias de cada nuvem,  a observar as variações de cor e a maneira como se agrupam. A arte reduz a complexidade e ajuda a nos concentrarmos, mesmo que por pouco tempo, nos aspectos mais significativos. Quando o artista fez os seus estudos das nuvens, a intenção não era que nos interessássemos por meteorologia. Não se trata da natureza exata de um cúmulo-nimbo. O que ele queria era intensificar o significado emocional do espetáculo silencioso que se desenrola diariamente acima de nossas cabeças, aproximando-o de nós e incentivando-nos a lhe conceder a posição  central que merece".

Realmente, ao contemplarmos o céu e as nuvens, admirando a beleza das cores e das formas, tão distantes da agitação de nossas vidas, entregamo-nos mentalmente a elas e nos sentimos, por alguns momentos, aliviados de nossas preocupações. 
Confirma-se, pois, o dizer de Ferreira Gullar. Ou de Fernando Pessoa?
"A arte existe porque a vida só não basta".
 Beijos.
Elenir





"Tudo o que posso lhe oferecer é meu amor, minha bondade e o relacionamento que tenho com você."





"Eu prefiro o Paraíso, isto é, prefiro o amor, a paz, a consciência limpa, mesmo que esta decisão aparentemente não favoreça ter o que tanto desejo. "






Mensagem da Elenir

Amigos, caiu-me nas mãos a excelente revista Vida Simples, cujo texto intitulado "Veja o lado bom da vida", fez-me pensar que ainda é tempo de aprender a viver.

Selecionei alguns parágrafos:

"Perceber os momentos de beleza e magia no dia a dia é essencial para ser feliz  com você mesmo e com o mundo. É reconhecer o que é verdadeiramente perfeito em sua vida." 

"Para ser feliz e ir ao encontro dos momentos mágicos  e perfeitos, o melhor que temos a fazer é nos tirar, junto com nossos pesos e reclamações, de nossa própria frente. Dar licença para o inesperado chegar, dar boas-vindas ao não programado."

"De uma certa forma, temos de estar livres do peso do nosso angustiado mundo interno para que nossa criança,ou estado de puro ser possa surgir. Mas porque será que somos tão apaixonados pela perfeição? Por que ela é uma meta?."

E assim, com essas perguntas e colocações, a autora, Liane Alves, leva-nos a refletir e a tentar ver a vida de outra forma. Diz ela que acreditava que só seria  amada se fosse perfeita. Hoje sabe que os relacionamentos não têm nada a ver com a perfeição. E, assim por diante.

Gostei e sentí vontade de compartilhar com vocês.

Abraços.



É bom ler livros que foram filmados para a gente constatar o quanto Holywood fantasia!



O Manifesto

da The Cloud Appreciation Society


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Acreditamos que as nuvens vêm sendo injustamente caluniadas e que a vida sem elas seria imensamente mais pobre. 

Achamos que as nuvens são a poesia da Natureza, e o mais igualitário dos espetáculos por ela proporcionados, já que todos podem desfrutar de uma visão fantástica das nuvens.
 

Comprometemo-nos a combater a "mentalidade céu-azul" sempre que a encontrarmos. A vida seria tediosa se tivéssemos de encarar - dia após dia - a monotonia de um céu sem nuvens.
 

Procuramos lembrar às pessoas que as nuvens são expressões de estados de espírito da atmosfera e podem ser lidas da mesma forma que as expressões no rosto de alguém.
 

Acreditamos que as nuvens são para os sonhadores e que sua contemplação é benéfica para a alma. Na realidade, todos os que refletem sobre as formas que elas abrigam economizarão na conta do psicanalista.
 Assim, dizemos a todos os que se dispõem a escutar:

Ergam os olhos e maravilhem-se com a beleza efêmera, e levem sua vida com a cabeça nas nuvens.

(Guia do Observador de Nuvens, de Gavin Pretor-Pinney - Editora Intrínseca)





"Sabe, costumava pensar que você era a melhor coisa que me aconteceu mas acho agora que talvez tenha sido a pior e sinto muito por já ter te conhecido"

"A vida raramente te dá momentos como esse, e é um pecado não aproveitá-los."

"Eu te amo. Soube no momento que te conheci. Lamento ter levado tanto tempo pra entender, apenas estava emperrado"

“Se as nuvens estão bloqueando o sol, sempre tento ver aquela luz por trás delas, o lado bom das coisas, e lembro de continuar tentando.”

"Eu ainda o amo, do meu jeito maluco, mas amo."

"Quem disse que você não pode ser feliz?"

"A maioria das pessoas perdeu a habilidade de ver o lado bom das coisas."




— Eu preciso de você, Pat Peoples, eu preciso de você para caralho.
Então, ela começa a chorar lágrimas quentes sobre minha pele
enquanto beija meu pescoço e funga suavemente.
É estranho ouvi-la dizer aquilo, tão distante do “eu amo você” de uma mulher comum e,
no entanto, provavelmente mais verdadeiro.
Dá uma sensação boa ter Tiffany perto de mim, e eu me lembro do que minha mãe disse quando tentei me livrar de minha amiga ao pedir que ela saísse para jantar comigo.
Minha mãe disse: “Você precisa de amigos, Pat.
Todo mundo precisa.”
Lembro também que Tiffany mentiu para mim durante várias semanas;
me lembro da história terrível que Ronnie me contou sobre a demissão da Tiffany
e o que ela admitiu em sua carta mais recente; eu me lembro de quão bizarra tem sido
a minha amizade com ela — mas então lembro que ninguém além da Tiffany poderia realmente chegar perto de entender como eu me sinto depois de ter perdido Nikki para sempre.
Lembro que o tempo separados finalmente acabou, e que, embora Nikki tenha ido embora para sempre, eu ainda tenho uma mulher em meus braços que sofreu muito e precisa desesperadamente
acreditar que é linda outra vez.
Em meus braços está uma mulher que me deu uma Tabela de Nuvens do Observador do Céu,
uma mulher que sabe todos os meus segredos, uma mulher que sabe quão problemática é a minha mente, quantos comprimidos eu tomo, e que ainda assim permite que eu a abrace.
Há algo de honesto em tudo isso, e eu não consigo imaginar nenhuma outra mulher deitada comigo
no meio de um campo de futebol congelado, no meio de uma tempestade de neve,
até impossivelmente esperando uma nuvem soltar-se de um nimbo-estrato.
Nikki não teria feito isso por mim, nem mesmo em seus melhores dias.
Então puxo Tiffany mais para perto,
beijo o ponto rígido entre suas sobrancelhas perfeitamente bem-feitas e,
depois de inspirar profundamente, digo:
— Acho que também preciso de você.





O encontro de abril do Clube de Leitura Jovem traz um livro que foi adaptado com sucesso para o cinema em 2013: O lado bom da vida, de Matthew Quick. A obra segue a história de Pat, um homem que busca restabelecer sua vida após uma internação psiquiátrica. O evento ocorrerá no próximo dia 30, a partir das 18h, na Livraria Icaraí (Rua Miguel de Frias, 9, em Niterói), com entrada gratuita.




O livro é narrado por Pat Peoples, o protagonista da história. Pat acaba de sair de uma instituição psiquiátrica, mas não se lembra de quanto tempo passou lá ou o que o levou à internação. Ainda frágil, ele tenta restabelecer seus relacionamentos com a família, amigos e, principalmente Nikki, sua esposa, que se afastou dele. Com todos esses desafios para voltar à vida anterior à crise, Pat busca não se deixar abater pelas dificuldades e procura olhar sempre o lado positivo da vida.





Hemingway mentiu



Você precisa fazer tudo o que pode e se se mantiver positivo, você terá uma chance.

O tempo cura todas as feridas, pelo menos a gente espera que sim.





Praticando ser gentil ao invés de querer ter razão.